domingo, 15 de setembro de 2024

A dimensão ilimitada do perdão (XXIVDTCA)

 


A dimensão ilimitada do perdão

Sejamos enriquecidos pelo Sermão n.139 escrito por São Pedro Crisólogo (séc. V), bispo e doutor da Igreja.

“Assim como o ouro fica escondido na terra, assim também o sentido divino se oculta nas palavras humanas. Por isso, sempre que nos é proclamada a palavra evangélica, a mente deve colocar-se alerta e o espírito deve prestar atenção, para que o entendimento possa penetrar o segredo da ciência celeste.

Digamos por que o Senhor começa hoje com estas palavras: Tenham cuidado, se teu irmão te ofende, repreende-o, se ele se arrepende, perdoa-o.

Coragem, irmão! Deus te ordena: perdoa, perdoa os pecados; sê misericordioso frente ao delito, perdoa as ofensas de que fostes objeto, não percas agora os poderes divinos que tens; tudo o que tu não perdoares em outro, o negas a ti mesmo.

Repreende-o como juiz, perdoa-o como irmão, pois a caridade unida à liberdade e a liberdade fundida com a caridade expele o terror e anima ao irmão.

Quando o irmão te fere está exaltado, quando comete um delito, está enfurecido, está fora de si, perdeu todo sentimento de humanidade; quem não o socorre pela compaixão, quem não lhe cura mediante a paciência, quem não lhe sara perdoando-o, não está são, está mal, enfermo, não tem comiseração, demonstra ter perdido os sentimentos humanitários.

O irmão está furioso, atribui à enfermidade: tu, ajuda-o como a um irmão; tudo o que ele faça em semelhante situação atribui à sua perturbação, e o ocorrido não poderás imputá-lo ao irmão; e tu prudentemente lançarás a culpa à enfermidade, e ao irmão, o perdão; desta forma, sua saúde redundará em tua honra e o perdão te acarretará o prêmio.

Se teu irmão te ofende, repreende-o; se ele se arrepende, perdoa-o. Perdoa ao que peca, perdoa ao que se arrepende, para que, quando tu, por sua vez, pecares, o perdão te seja concedido como compensação, não como doação.

Sempre é bom o perdão, porém quando é devido, torna-se duplamente doce. Aquele que, perdoando, já se assegurou o perdão antes de pecar, evitou o castigo, tem inclinado ao juiz em seu favor, enganou o juízo.

Se te ofende sete vezes em um dia, e sete vezes volta a dizer-te: “sinto muito”, o perdoarás. Por que constrange com a lei, reduz no número e coloca um limite de perdão Aquele que tanto nos favorece pela misericórdia e que tão facilmente concede pela graça? E se em lugar de sete te ofende oito vezes? Vai prevalecer o número sobre a graça? Pode contrapor-se o cálculo à bondade? Pode uma só culpa condenar ao castigo a quem sete vezes consecutivas obtém o perdão? De jeito nenhum. Se é proclamado feliz aquele que perdoou sete vezes, muito mais feliz será aquele que perdoa setenta vezes sete.

Esquecido deste mandato, Pedro interroga ao Senhor, dizendo: Se meu irmão me ofende, quantas vezes devo perdoá-lo? Até sete vezes? Jesus lhe responde: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Portanto, o número prescrito não limita, mas amplia o perdão, e ao que o preceito coloca um limite, o assume ilimitadamente a livre vontade; de maneira que se perdoares até o limite do que ordena o preceito, outro tanto te será contado à obediência, te será contado ao prêmio. E se o número sete setuplicado por dias, meses e anos implica a concessão da totalidade do perdão, calcule o cristão e julgue o ouvinte que cotas não alcançará o número sete setuplicado setenta vezes sete.

Então realmente vai cessar toda forma contratual de débitos e créditos; então se abolirá de verdade qualquer condição servil; então chegará àquela liberdade sem fim; então será recuperado o campo eterno e imortal; então chegará o verdadeiro perdão quando será inclusive abolida a própria necessidade de pecar, quando, cancelada toda imundície, o mundo deixará de ser imundo, quando com o retorno da vida deixará de existir a morte, quando estabelecido o reinado de Cristo, o diabo perecerá definitivamente.

Orai, irmãos, para que o Senhor aumente em nós a fé e possamos finalmente crer, ver e possuir estes bens.”(1)

Como afirmou o bispo, o número prescrito não limita, mas amplia o perdão: o perdão tem dimensão universal e infinita, porque assim é o amor de Deus: verdadeiramente indizível.

Também nós somos chamados a viver a graça do perdão, não apenas pedir perdão a Deus, mas viver sua prática em relação ao nosso próximo, assim como rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou – “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Cf. Mt 6,11).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 - pág. 213-214

“Entremos na Alegria do Pai” (Homilia XXIVDTCC)

“Entremos na Alegria do Pai”

Com a Liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C), somos convidados a contemplar a face misericordiosa de Deus, que se revela num Amor infinito e incondicional pela humanidade, de modo especial pelos pecadores e excluídos.

A primeira Leitura (Ex 32,7-11.13-14) retrata um momento fundamental na História do Povo de Deus. Moisés está no Monte Sinai, e lá Deus Se manifesta com Ele dialoga, mais ainda, ora e intercede pelo povo que, infringindo os termos da Aliança, faz um bezerro de ouro para ser adorado.

A mensagem fundamental é o retratar do compromisso de amor e comunhão de Israel com Deus, sem o que cairá em nova escravidão, da qual Javé os libertou. Sem fidelidade e adoração a Javé não há vida, liberdade e felicidade.

Ressalta-se a intercessão de Moisés e a ação misericordiosa de Deus, que se expressa em ternura e bondade. O Amor infinito de Deus pelo Seu Povo sempre fala mais alto que Sua vontade de castigar por causa dos desvios e infidelidades cometidas. A lealdade e o infinito Amor de Deus são notáveis e incontestáveis.

A atitude de Moisés é questionadora: face à indignação de Deus, intercede pelo Povo e não deixa que a ambição pessoal se sobreponha ao interesse do Povo – “deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua; de ti farei uma grande nação”. Moisés não aceitou a proposta, mas intercede em favor do povo. Moisés nada pede para si e questiona a tantos que sacrificam tudo pelo status, poder e acúmulo de bens...

Reflitamos:

- Quais são as infidelidades que cometemos contra Deus?
- Como corresponder melhor ao infinito e incondicional Amor de Deus por nós?
- Quais lições temos a aprender com Moisés nesta passagem bíblica?

A passagem da segunda Leitura é uma passagem da Carta de Paulo a Timóteo (1 Tm 1,12-17) que retrata o ministério do Apóstolo e os efeitos da misericórdia de Deus em sua vida.

A Carta aborda três temas:

- A organização da comunidade;
- Como viver a fé e combater as heresias;
- A vida cristã dos fiéis.

O Apóstolo vê seu ministério como ação da misericórdia e da magnanimidade divinas. Com isto, somos convidados a tomar consciência do Amor que Deus a todos oferece, sem exceção, sejam quais forem as faltas cometidas. É este Deus misericordioso que Paulo conheceu e testemunhou, e que também devemos conhecer e testemunhar.

Como o Apóstolo, viver a gratidão para com o Amor de Deus, que é irrestrito e incondicional, e questionar qual o amor que vivemos para com Deus e para com o nosso próximo.

A passagem do Evangelho (Lc 15, 1-32) é apresentada no contexto do caminho de Jerusalém, onde Jesus consumará a Sua missão, Paixão, morte e Ressurreição. 

As três Parábolas comunicam ao Amor de Deus derramado sobre os pecadores, sendo a segunda e terceira exclusivas do Evangelista Lucas, e não por acaso, o Evangelho de Lucas é chamado de “Evangelho da ternura divina”, como bem cita o Missal Dominical:

“Lucas, o evangelista da ternura divina multiplica as narrativas que mostram Jesus em busca dos mais abandonados, dos pobres, dos pecadores, realçando assim o próprio fundamento da nossa religião, que é a atitude dos que são arrebatados pelo abismo do Amor de Deus”. (1)

As Parábolas são apresentadas num contexto muito concreto, em que Jesus é questionado pelos fariseus e escribas pelo fato de andar e comer com os pecadores.

Elas revelam a misericórdia divina, que tem uma lógica diferenciada dos fariseus e escribas (lógica da intolerância e exclusão), pois a misericórdia divina faz novas as criaturas.

Normalmente, são conhecidas como Parábolas da “ovelha perdida”, “moeda perdida” e “filho pródigo”, mas poderiam ser apresentadas de outra forma: a misericórdia e alegria de Deus pelos pecadores que se convertem.

Deus jamais rejeita e marginaliza, ama-nos com Amor de Pai, e esta há de ser a atitude dos discípulos para com os pecadores: amor que vai ao encontro, acolhe e perdoa:

“Não existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre” (2)

Um amor que reintegra e celebra com alegria a volta daquele que estava perdido, morto, e encontrado voltou a viver.

As Parábolas expressam a ação divina que abomina o pecado, mas ama o pecador. A comunidade é chamada a ser testemunha da misericórdia divina e jamais compactuar com o pecado.

Amar como Deus ama, um amor incompreendido e que nos dá vertigem.

Os seguidores de Jesus, que se põem a caminho com Ele, farão sempre uma caminhada de penitência e conversão, sem recriminar e excluir, mas acolhendo os pequenos, pecadores, e também se deixando ser acolhido pelo Amor de Deus.

Amados, acolhidos e perdoados por Deus tornamo-nos acolhedores e sinais do Seu Amor e do Seu perdão, que recria e faz novas todas as coisas. Verdadeiramente, a misericórdia divina vivida nos faz novas criaturas.

As Parábolas revelam que o Amor divino vai até o fim. Como não transbordar de alegria diante deste Amor que nos ama e nos ama até o fim?

Entremos na alegria de Deus, revelada a nós por Jesus, acolhendo e nos deixando conduzir pela ação do Espírito Santo.

Redimidos pelo Amor Trinitário, preenchidos deste Amor, seremos dele comunicadores, transbordando o mesmo Amor para com o outro, na alegria do perdão dado e recebido.

Reflitamos:

- Sinto este Amor incondicional, irrestrito e eterno de Deus?
- De que modo rejeitar o pecado e não o pecador?

- O que as Parábolas da misericórdia divina nos ensinam?
- Como vivemos a fidelidade e correspondência ao Amor divino?

- Entramos na alegria de Deus, na festa dos reconciliados, dos que estavam perdidos e foram encontrados, dos que estavam mortos e voltaram a viver?

- Em que nos assemelhamos aos fariseus e escribas e sua lógica de recriminação e exclusão?

- Sentimo-nos acolhidos, amados e perdoados por Deus?
- Somos instrumentos de acolhida, amor e perdão divinos?

Finalizando, “Cristo nos revelou um Deus como desejamos. Um Deus que é Amor e misericórdia.“ (3)



(1) (2) (3) - Missal Dominical pág. 1236. 

O amor e o perdão divino (XXIVDTCC)

O amor e o perdão divino

“Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre
os Anjos de Deus por um só pecador que se converte”.

Um pouco mais sobre o Amor de Deus contemplo, envolvo-me:
Um amor solícito, um amor invencível.

Deus está sempre procurando obstinadamente cada um de nós,
Quão abrangente e indescritível é a Sua alegria quando nos encontra.

Sempre pronto para acolher, perdoar, reconciliar, renovar a criatura,
Obra de Sua mão, como a fina expressão de Seu sonho e Projeto.

Alegra-se com nosso retorno, com nossa fragilidade assumida,
Sem máscaras, desculpas, culpabilizações, disfarces, mentiras.

É próprio do Amor de Deus ser incondicionalmente acolhedor,
Para que sejamos melhores, aperfeiçoados, lapidados...

Expressa para conosco uma relação de amor e gratuidade,
Que não há nada e ninguém que se possa comparar.

Que a alegria transborde em nosso coração, estampada
Na expressão de nosso simples olhar, no menor gesto que façamos,

Alegria de sermos por Deus amados e perdoados, sem méritos,
Para o mesmo fazermos em relação ao próximo, sem créditos.

O misericordioso, compassivo e amigo dos homens,
Senhor nosso Deus que tirais o pecado do mundo,

Aceitai a penitência dos Vossos servos e das Vossas servas,
E fazei resplandecer sobre eles a luz da vida eterna.

Perdoai-lhes, Senhor, todos os seus pecados,
Porque Vós sois bom e amigo dos homens.

Senhor nosso Deus, compassivo, lento para a ira,
Rico de misericórdia e justo, perdoai-me os meus pecados”  (1)



(1) “Da Liturgia Etíope” – cf. Leccionário Comentado – p. 725-726
Evangelho de Lucas 15,1-10

A Misericórdia de Deus nos faz novas criaturas! (XXIVDTCC)

A Misericórdia de Deus nos faz novas criaturas!

Caminhando com Jesus para Jerusalém, na Liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum (ano C), aprendemos mais uma lição fundamental: a lógica do Amor de Deus é a lógica do Amor incondicional, Amor sem restrições, Amor sem fim, indefectível e se estende sobre bons e maus, sem exceções...

Ela é incomparavelmente diferente da lógica humana que às vezes se pauta pela prática da exclusão, do rancor, da indiferença, da não acolhida aos pecadores, do não acreditar na conversão do outro...

Na proclamação da Palava de Deus (Ex 32,7-11.13-14; 1Tm 1,12-17; Lc 15, 1-32), numa perfeita sintonia, contemplamos a atitude misericordiosa de Deus, ouvimos Sua voz como grande sinfonia de Amor pela humanidade, um Amor absoluto, gratuito, inesgotável, irrevogável.

São páginas da misericórdia, do Amor, da bondade, da ternura, da magnanimidade divina para conosco!

O Amor e o perdão divinos têm sempre a última palavra. Seu Amor fala mais alto, paradoxalmente a nossa surdez a Sua Palavra.

A lealdade de Deus para com Seu povo é incontestável, infinitamente além de nossas infidelidades, não correspondência ao Seu Projeto de vida, fraternidade e paz!

Deus é incapaz de deixar de nos amar, porque somos obra de Suas mãos; inacabadas, portando limitações que somente o amor é capaz de aprimorar.

O Amor de Deus é a possibilidade de nos aprimorarmos, para que sejamos o que devemos ser, para que mais verdadeiramente, imagem d’Ele, o sejamos. Por isto Seu amor jamais nos falta!

O amor vai ao encontro, acolhe, perdoa, reintegra, “carrega nos ombros do coração”, celebra com alegria inexpressível a volta de quem estava perdido e foi encontrado, estava morto e voltou a viver.

Reflitamos:

- Deus abomina o pecado, mas ama sem medida o pecador. Qual é minha atitude diante do pecador?

Entretanto, testemunhar a misericórdia jamais significa fazer pacto com o pecado.

“O Amor de Deus causa vertigem”, se não entramos em Sua dinâmica, Seu modo de ser e de amar!

Como não transbordar de alegria diante de um Deus que não pensa e não faz outra coisa, senão nos amar e querer o melhor para nós!?

Deus é irredutível em nos amar, porque jamais desiste de nós. Muito diferente foi a atitude do irmão mais velho na Parábola, que recriminou, não se alegrou, bem provavelmente, a festa não celebrou!

Somente quem ama é capaz de entrar na alegria de Deus! Na reflexão do Missal deste domingo encontramos uma afirmação de extrema beleza e profundidade: não sentirá necessidade alguma de ser perdoado quem não tiver consciência de ter traído alguém a quem ama!

Infelizmente, na cidade é grande o número dos que não são amados por ninguém, para os quais não se tem um olhar a não ser o olhar da eficiência econômica, do quanto é capaz de gerar riquezas.

Vivemos na sociedade da descartabilidade – “... só pode ser feliz quem é reconhecido, estimado, apreciado, sobretudo amado. Não existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre”.

O que é belo nos leva a querer  sempre mais:

“Quando percebemos que Deus nos ama assim, então sentimos que estar longe d’Ele e dos outros por razões humanas é perder  tempo, e perder Deus. Então nasce espontaneamente a necessidade de pedir perdão”.

Enquanto o mal existir haverá a emergência e a necessidade do amor a ser vivido para que o bem e a vida prevaleçam, a comunhão aconteça!

Moisés confiante na misericórdia de Deus não tem outra atitude senão suplicá-la para com o povo; nada quis para si, a não ser o bem daqueles que o Senhor lhe confiou

Paulo, por exemplo, foi alguém precioso para Deus. Não houvesse Deus o amado; não fosse a misericórdia de Deus, jamais ele seria o que foi, jamais seria para nós quem ele é. 

Assim é o amor: ajuda o outro a ser o que deve ser. Por isto o Mandamento do Amor é imperativo: amar e ser amado nos torna semelhante a Ele, o Amor, porque Deus é Amor (1Jo).

Lucas é, por excelência, o evangelista da ternura, 
por isto podemos afirmar: 
Verdadeiramente e continuamente, 
a Misericórdia de Deus nos recria, 
nos aperfeiçoa e nos faz novas criaturas.

Amar no amor, amar na esperança..(XXIVDTCC)

Amar no amor, amar na esperança...

A título de enriquecimento, ofereço parte de uma  reflexão sobre a passagem do Evangelho (Lc 15, 1-32)

“... Por que então uma ovelha vale noventa e nove ovelhas e, sobretudo, porque passa a valer mais exatamente aquela que tinha escapado que era a que valia menos? Não é um pouco forte tudo isto e até escandaloso?

A resposta mais bonita e mais convincente a esta interrogação não a encontrei nos comentários exegéticos do Evangelho, mas no poeta-teólogo Charles Péguy. 

Perdendo-se – diz – a ovelha, como também o filho menor, fez estremecer o coração mesmo de Deus; Deus teve medo de perdê-la para sempre, de ser obrigado a condená-la e ficar sem ela pela eternidade; tremeu por causa disso (tinha-se verificado o risco ao qual Deus Se havia exposto o dia em que criou o homem livre e, ainda mais, Se afeiçoou perdidamente a esta criatura).

Este medo fez desabrochar a esperança no coração de Deus e a esperança, verificada, provocou a alegria e a festa: ‘O fato é que uma penitência do homem é a coroação de uma esperança de Deus.

A espera desta penitência fez eclodir a esperança no coração de Deus, fez surgir um sentimento novo, fez germinar um sentimento novo, dir-se-ia desconhecido, no coração do mesmo Deus, de um Deus eternamente novo. E esta mesma penitência foi para Ele, n’Ele, a coroação de uma esperança. Porque todos os outros, Deus os ama no amor. Mas aquela ovelha Jesus a amou também na esperança’”.  (1)

Amar como Deus nos ama é, portanto, amar no amor a uns e amar na esperança a outros, mas sempre o mesmo Amor que Deus tem por todos nós.

Assim se ama na família: a alguns se ama no amor, pois não dão tantas preocupações; a outros se ama na espera de uma mudança de atitude, de um retorno, da libertação de uma possível dependência. Amar na esperança de uma conversão necessária.

Assim se ama na comunidade em que vivemosa fé professamos: alguns amamos no amor, e a outros amamos na esperança de que reencontrem o caminho da fé luminosa, esperança por vezes perdida e caridade pouco inflamada.

Amar na esperança não nos imobiliza, ao contrário, desafia nossa prática pastoral em buscar caminhos e saídas para o retorno daqueles que precisam de maior cuidado, maior atenção. A prática pastoral é sempre desafiada à solicitude com estes, procurando ser uma "Igreja em saída" como nos fala o Papa Francisco.

Não basta amar no amor os que dentro dela estão, mas num amor ativo, como é próprio do Amor Deus, amar na esperança, entrando na alegria do Banquete de Deus que se alegra com a conversão de um pecador apenas, como tão fortemente insiste Jesus nas Parábolas da misericórdia (Lc 15,1-32).

Jamais desistamos de amar como Deus nos ama: amar no amor, amar na esperança, sem perder para sempre aqueles que Deus criou tão apenas por Amor, afeiçoando-Se perdidamente por Sua criação, feita à Sua imagem e semelhança: cada um de nós.

Deste modo, jamais desistamos de amar na esperança de que o outro possa se converter, porque também Deus nos ama no Amor e nos ama na esperança de que sejamos melhores.



(1) Raniero Cantalamessa – O Verbo se faz carne – Editora Ave Maria – 2013- pp. 728-729.

Supliquemos a Misericórdia Divina (XXIVDTCC)

 


Supliquemos a Misericórdia Divina
 
No 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C), ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 15,1-3.11-32), e é oportuno rezarmos esta Oração escrita por Santa Faustina Kowalska, escrita por ela em 1937, e que se encontra em seu Diário (p.163 - Caderno I), que muito nos ajuda na compreensão do que consiste a misericórdia para um cristão, e o que ela exige, para que seja autêntica e agradável a Deus.
 
Sejamos misericordiosos como o Pai! E somente seremos, se nos configurarmos decididamente a Jesus, que nos revela a Face misericordiosa do Pai, na plena comunhão com o Espírito Santo, o Amor.
 
Oremos:
 
Ajudai-me, Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos, de modo que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajudá-los.
 
Ajudai-me, Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos, de modo que eu esteja atenta às necessidades dos meus irmãos e não me permitais permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas.
 
Ajudai-me, Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal dos meus irmãos; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão.
 
Ajudai-me, Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras, nem se cansem jamais de fazer o bem aos outros, enquanto, aceite para mim as tarefas mais difíceis e penosas.
 
Ajudai-me, Senhor, para que sejam misericordiosos também os meus pés, para que levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço; o meu repouso esteja no serviço ao próximo.
 
Ajudai-me, Senhor, para que o meu coração seja misericordioso e se torne sensível a todos os sofrimentos do próximo; ninguém receba uma recusa do meu coração. Que eu conviva sinceramente mesmo com aqueles que abusam de minha bondade. Quanto a mim, me encerro no Coração Misericordiosíssimo de Jesus, silenciando aos outros o quanto tenho que sofrer.
 
Vós mesmo mandais que eu me exercite em três graus da misericórdia; primeiro: Ato de misericórdia, de qualquer gênero que seja; segundo: Palavra de misericórdia – se não puder com a ação, então com a palavra; terceiro: Oração. Se não puder demonstrar a misericórdia com a ação nem com a palavra, sempre a posso com a oração. A minha oração pode atingir até onde não posso estar fisicamente.
 
Ó meu Jesus, transformai-me em Vós, porque Vós tudo podeis”. Amém.
 
 

Ensina-me, Senhor, a perdoar! (XXIVDTCA)


Ensina-me, Senhor, a perdoar!

Ensina-me, Senhor, a perdoar como Vós perdoastes,
Somente assim retomo as rédeas da minha existência,
Sem ficar à deriva de sentimentos que fragilizam,
Porque corroem, destroem novos relacionamentos.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes,
Pois tão somente assim reencontro a saúde;
Não tão apenas do corpo, mas da alma, em paz de espírito.
Serenidade alcançada, passos firmes sem vacilar.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes,
Para não cultivar comportamentos negativos e impróprios,
Nem simular uma falsa paz, em que tudo parece bem,
Mas inquieto e consumido no mais profundo, tristemente.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes,
Compreendendo as causas profundas do coração
De quem me ofendeu: seus problemas, limitações,
E, de sua inconsequente atitude, primeiro perdedor.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes.
Derrama em mim as Vossas copiosas Bênçãos,
Mas antes sobre aqueles que me feriram
E, se preciso, minhas mãos a estes, para curar, estender.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes.
Quero tornar minhas Vossas dulcíssimas Palavras:
“Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem”.
Que, por Vós, amado e perdoados, amemos e perdoemos.
Amém!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG