domingo, 15 de setembro de 2024

“Entremos na Alegria do Pai” (Homilia XXIVDTCC)

“Entremos na Alegria do Pai”

Com a Liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C), somos convidados a contemplar a face misericordiosa de Deus, que se revela num Amor infinito e incondicional pela humanidade, de modo especial pelos pecadores e excluídos.

A primeira Leitura (Ex 32,7-11.13-14) retrata um momento fundamental na História do Povo de Deus. Moisés está no Monte Sinai, e lá Deus Se manifesta com Ele dialoga, mais ainda, ora e intercede pelo povo que, infringindo os termos da Aliança, faz um bezerro de ouro para ser adorado.

A mensagem fundamental é o retratar do compromisso de amor e comunhão de Israel com Deus, sem o que cairá em nova escravidão, da qual Javé os libertou. Sem fidelidade e adoração a Javé não há vida, liberdade e felicidade.

Ressalta-se a intercessão de Moisés e a ação misericordiosa de Deus, que se expressa em ternura e bondade. O Amor infinito de Deus pelo Seu Povo sempre fala mais alto que Sua vontade de castigar por causa dos desvios e infidelidades cometidas. A lealdade e o infinito Amor de Deus são notáveis e incontestáveis.

A atitude de Moisés é questionadora: face à indignação de Deus, intercede pelo Povo e não deixa que a ambição pessoal se sobreponha ao interesse do Povo – “deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua; de ti farei uma grande nação”. Moisés não aceitou a proposta, mas intercede em favor do povo. Moisés nada pede para si e questiona a tantos que sacrificam tudo pelo status, poder e acúmulo de bens...

Reflitamos:

- Quais são as infidelidades que cometemos contra Deus?
- Como corresponder melhor ao infinito e incondicional Amor de Deus por nós?
- Quais lições temos a aprender com Moisés nesta passagem bíblica?

A passagem da segunda Leitura é uma passagem da Carta de Paulo a Timóteo (1 Tm 1,12-17) que retrata o ministério do Apóstolo e os efeitos da misericórdia de Deus em sua vida.

A Carta aborda três temas:

- A organização da comunidade;
- Como viver a fé e combater as heresias;
- A vida cristã dos fiéis.

O Apóstolo vê seu ministério como ação da misericórdia e da magnanimidade divinas. Com isto, somos convidados a tomar consciência do Amor que Deus a todos oferece, sem exceção, sejam quais forem as faltas cometidas. É este Deus misericordioso que Paulo conheceu e testemunhou, e que também devemos conhecer e testemunhar.

Como o Apóstolo, viver a gratidão para com o Amor de Deus, que é irrestrito e incondicional, e questionar qual o amor que vivemos para com Deus e para com o nosso próximo.

A passagem do Evangelho (Lc 15, 1-32) é apresentada no contexto do caminho de Jerusalém, onde Jesus consumará a Sua missão, Paixão, morte e Ressurreição. 

As três Parábolas comunicam ao Amor de Deus derramado sobre os pecadores, sendo a segunda e terceira exclusivas do Evangelista Lucas, e não por acaso, o Evangelho de Lucas é chamado de “Evangelho da ternura divina”, como bem cita o Missal Dominical:

“Lucas, o evangelista da ternura divina multiplica as narrativas que mostram Jesus em busca dos mais abandonados, dos pobres, dos pecadores, realçando assim o próprio fundamento da nossa religião, que é a atitude dos que são arrebatados pelo abismo do Amor de Deus”. (1)

As Parábolas são apresentadas num contexto muito concreto, em que Jesus é questionado pelos fariseus e escribas pelo fato de andar e comer com os pecadores.

Elas revelam a misericórdia divina, que tem uma lógica diferenciada dos fariseus e escribas (lógica da intolerância e exclusão), pois a misericórdia divina faz novas as criaturas.

Normalmente, são conhecidas como Parábolas da “ovelha perdida”, “moeda perdida” e “filho pródigo”, mas poderiam ser apresentadas de outra forma: a misericórdia e alegria de Deus pelos pecadores que se convertem.

Deus jamais rejeita e marginaliza, ama-nos com Amor de Pai, e esta há de ser a atitude dos discípulos para com os pecadores: amor que vai ao encontro, acolhe e perdoa:

“Não existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre” (2)

Um amor que reintegra e celebra com alegria a volta daquele que estava perdido, morto, e encontrado voltou a viver.

As Parábolas expressam a ação divina que abomina o pecado, mas ama o pecador. A comunidade é chamada a ser testemunha da misericórdia divina e jamais compactuar com o pecado.

Amar como Deus ama, um amor incompreendido e que nos dá vertigem.

Os seguidores de Jesus, que se põem a caminho com Ele, farão sempre uma caminhada de penitência e conversão, sem recriminar e excluir, mas acolhendo os pequenos, pecadores, e também se deixando ser acolhido pelo Amor de Deus.

Amados, acolhidos e perdoados por Deus tornamo-nos acolhedores e sinais do Seu Amor e do Seu perdão, que recria e faz novas todas as coisas. Verdadeiramente, a misericórdia divina vivida nos faz novas criaturas.

As Parábolas revelam que o Amor divino vai até o fim. Como não transbordar de alegria diante deste Amor que nos ama e nos ama até o fim?

Entremos na alegria de Deus, revelada a nós por Jesus, acolhendo e nos deixando conduzir pela ação do Espírito Santo.

Redimidos pelo Amor Trinitário, preenchidos deste Amor, seremos dele comunicadores, transbordando o mesmo Amor para com o outro, na alegria do perdão dado e recebido.

Reflitamos:

- Sinto este Amor incondicional, irrestrito e eterno de Deus?
- De que modo rejeitar o pecado e não o pecador?

- O que as Parábolas da misericórdia divina nos ensinam?
- Como vivemos a fidelidade e correspondência ao Amor divino?

- Entramos na alegria de Deus, na festa dos reconciliados, dos que estavam perdidos e foram encontrados, dos que estavam mortos e voltaram a viver?

- Em que nos assemelhamos aos fariseus e escribas e sua lógica de recriminação e exclusão?

- Sentimo-nos acolhidos, amados e perdoados por Deus?
- Somos instrumentos de acolhida, amor e perdão divinos?

Finalizando, “Cristo nos revelou um Deus como desejamos. Um Deus que é Amor e misericórdia.“ (3)



(1) (2) (3) - Missal Dominical pág. 1236. 

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