As duas naturezas do Senhor no ventre de Maria
“Uma virgem [...]; iria conceber um filho, Deus e homem,
primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo”.
Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo Papa São Leão Magno (séc. V):
“Uma virgem da descendência real de Davi foi escolhida para a sagrada maternidade; iria conceber um filho, Deus e homem, primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo.
E para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, ela se perturbasse perante efeitos tão inesperados, ficou sabendo, no colóquio com o Anjo, que era obra do Espírito Santo o que nela se realizaria.
Maria, pois, acreditou que, estando para ser em breve Mãe de Deus, sua pureza não sofreria dano algum. Como duvidaria desta concepção tão original, aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo?
A sua fé e confiança são ainda confirmadas pelo testemunho de um milagre anterior: a inesperada fecundidade de Isabel. De fato, quem tornou uma estéril capaz de conceber, pode também fazer com que uma virgem conceba.
Portanto, a Palavra de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem ela nada se fez (cf. Jo 1,2-3), a fim de libertar o homem da morte eterna, Se fez homem.
Desceu para assumir a nossa humildade, sem diminuir a Sua majestade. Permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a verdadeira condição de escravo à condição segundo a qual Ele é igual a Deus; realizou assim entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que, nem a inferior foi absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta elevação.
Desta forma, conservando-se a perfeita propriedade das duas naturezas que subsistem em uma só Pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade.
Para pagar a dívida contraída pela nossa condição pecadora, a natureza invulnerável uniu-se à natureza passível; e a realidade de verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na única pessoa do Senhor.
Por conseguinte, Aquele que é um só mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), como exigia a nossa salvação, morreu segundo a natureza humana e ressuscitou segundo a natureza divina.
Com razão, pois, o nascimento do Salvador conservou intacta a integridade virginal de sua mãe; ela salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.
Tal era, caríssimos filhos, o nascimento que convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus. Por este nascimento, Ele é semelhante a nós pela sua humanidade, e superior a nós pela Sua divindade. De fato, se não fosse verdadeiro Deus, não nos traria o remédio; se não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.
Por isso, quando o Senhor nasceu, os Anjos cantaram cheios de alegria: 'Glória a Deus no mais alto dos céus, e anunciaram paz na terra aos homens por Ele amados'(Lc 2,14).
Eles veem, efetivamente, a Jerusalém Celeste ser construída pelos povos do mundo inteiro. Por tão inefável prodígio da bondade divina, qual não deve ser a alegria da nossa humilde condição humana, se até os sublimes coros dos Anjos se rejubilam?”
Contemplemos Maria, que concebeu o Verbo, primeiro em seu espírito e depois em seu corpo. Que também nós saibamos formar e gerar Cristo em nós, em nosso coração, para que d’Ele sejamos testemunhas credíveis e agradáveis ao Senhor.
Maria, a mãe de Jesus, a mãe da Igreja e nossa, nos ajuda a colocar em prática a Palavra do seu Filho, para que tão somente assim desta família façamos parte, pois a família de Jesus não se limita aos laços consanguíneos, mas à acolhida e prática de Sua Palavra, e do Seu Mandamento: “amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei”, somente assim seremos Seus discípulos.
Cremos que Deus quis o Salvador da humanidade, de natureza invulnerável, incapaz de sofrer qualquer desgaste, prejuízo, demérito, viesse ao mundo e Se encarnasse no ventre de uma Virgem.
Assim aconteceu. Encarnando-Se assume uma natureza passível, ou seja, capaz de sofrer as realidades temporais.
Ele que era de condição divina de tudo Se desapegou e aceitou a morte humilhante na Cruz. Lágrimas, choro, pranto, fome, abandono, indiferença, humilhação, escárnio, morte... como vemos abundantemente nos Evangelhos, Hebreus, Cartas Paulinas.
Reflitamos como o "Sim" de Maria a Deus aponta quatro belos propósitos, que devem estar no coração de todos aqueles que amam e querem seguir e servir seu Filho:
- Imitá-la, sobretudo nas suas virtudes, qualidades incontáveis;
- Ser contemplativo como Maria, cantora da esperança dos pobres. Pés no chão, coração voltado para Deus e olhos plenamente abertos para a sede do povo, como cantamos;
- Fazer a vontade do Pai sempre e acima de tudo;
- Colocar-se numa incansável atitude de conversão, para que tenhamos um coração atento e fiel ao Projeto de Deus, para que o nosso coração seja semelhante ao Coração de Jesus.
Maria não nos salva, mas melhor do que ninguém nos aponta Àquele que é Oo Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,6), Aquele que nos alcança a Salvação.
Reflitamos sobre o papel de Maria em nossa caminhada de fé, como peregrinos da esperança, e nos perguntemos, quem melhor do que Maria para nos:
- Ajudar a construir na terra o céu?
- Apontar o caminho que nos leva ao céu?
- Ensinar a crer na invulnerabilidade divina e passibilidade humana do Seu Filho?
Em Maria, no seu ventre:
- A natureza divina e a natureza humana encontraram-se, como que num abraço, para que ao tornar-se visível na forma de uma criança, toda a humanidade fosse abraçada;
- E desde o seu ventre, a nossa humanidade na Encarnação do Filho, para sempre foi redimida, resgatada.
Consagremo-nos a Maria, pois quanto mais consagrados a Ela, mais fiéis e próximos seremos do seu Amado Filho, e O adoraremos em espírito e verdade.
“Ó minha Senhora, e também minha mãe,
Eu me ofereço inteiramente todo a vós...”
Ave Maria cheia de graça...
PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 1,26-38) e também ao celebramos a Festa de Nossa Senhora do Carmo (16 de julho)
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