terça-feira, 19 de setembro de 2023

“Para vós sou bispo, convosco, sou cristão”

                                                           

“Para vós sou bispo, convosco, sou cristão”

Um memorável Sermão do Bispo Santo Agostinho (Séc. V), em que reflete a graça de ser cristão e bispo da Igreja:

“Desde que este encargo, do qual tenho de dar tão apertadas contas, me foi posto sobre os ombros, sempre me perturba a preocupação com esta dignidade.

Que se há de temer neste cargo, a não ser que mais nos agrade aquilo que é arriscado para nossa honra do que aquilo que é frutuoso para vossa salvação?

Aterroriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou bispo; convosco, sou cristão. Aquele é nome do ofício recebido; este, da graça; aquele, do perigo; este, da salvação.

Enfim, somos sacudidos, como por mar encapelado, na tempestade das decisões a tomar; mas, recordando-nos d’Aquele por cujo sangue fomos remidos, entramos no porto da tranquila segurança deste pensamento; e trabalhando sozinhos neste ofício, descansamos no comum benefício. Se, portanto, mais me alegra ter sido remido convosco do que ser vosso prelado, então, como o Senhor ordenou, serei ainda mais vosso servo, para não me mostrar ingrato diante do preço pelo qual mereci ser vosso companheiro de serviço. Tenho de amar o Redentor e sei o que disse a Pedro:

Pedro, tu me amas? Apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21,17). E isto uma vez, duas vezes, três vezes. Questionava-se o amor e impunha-se o trabalho, porque onde é maior o amor, menor o trabalho.

‘Que retribuirei ao Senhor por tudo quanto me concedeu?’ (Sl 115,12). Se eu disser que retribuo por apascentar Suas ovelhas, também isto faço, ‘não eu, mas a graça de Deus comigo’ (1Cor 15,10). Onde então serei retribuidor, se em toda parte me antecipam?

No entanto, porque amamos gratuitamente, porque pastoreamos as ovelhas, queremos a paga. Como se fará isto? Como podem combinar-se? Amo gratuitamente para apascentar, e: Peço a recompensa porque apascento? De modo nenhum! De modo nenhum pediria o pagamento daquele que é amado gratuitamente, a não ser porque o pagamento é Aquele mesmo que é amado. Se retribuímos a quem nos remiu, apascentando Suas ovelhas, que retribuição lhe daremos por nos ter tornado pastores?

Pois maus pastores, livre-nos Deus, infelizmente o somos; bons, valha-nos Deus, só o podemos com a Sua graça. Por isto também a vós, meus irmãos, ‘prevenimos e rogamos a que não recebais em vão a graça de Deus ‘(2Cor 6,1).

Tornai frutuoso nosso ministério. Sois plantação de Deus’ (1Cor 3,9). Recebei de fora quem planta e quem rega; por dentro, Aquele que dá o incremento. Ajudai-nos não só rezando, mas obedecendo; para que nos maravilhe não tanto estar à vossa frente quanto o vos ser útil”.

Destaco duas afirmações:

- “Aterroriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou bispo; convosco, sou cristão. Aquele é nome do ofício recebido; este, da graça; aquele, do perigo; este, da salvação”;

- “Tenho de amar o Redentor e sei o que disse a Pedro: ‘Pedro, tu me amas? Apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21,17). E isto uma vez, duas vezes, três vezes. Questionava-se o amor e impunha-se o trabalho, porque onde é maior o amor, menor o trabalho”.

Roguemos a Deus por todos os Bispos, para que vivam a graça do batismo e vivam com solicitude a missão de bispos, como zelosos pastores do rebanho pelo Senhor confiado, contando sempre com a ação e assistência do Espírito Santo.

Roguemos, também, para que seja transbordante, no coração de cada Bispo, o amor pelo Senhor, para que cuide do rebanho com incansável empenho e dedicação, no tríplice múnus de ensinar, santificar e governar a Igreja que lhe foi confiada, pois onde é maior o amor, menor o trabalho”. Amém.

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG