sábado, 3 de junho de 2023

O Senhor foi prefigurado na pessoa de Jó

O Senhor foi prefigurado na pessoa de Jó

O Bispo São Zeno de Verona (séc. IV) nos fala em seu Tratado sobre a prefiguração de Cristo na figura de Jó.

“Tanto quanto se pode entender, irmãos caríssimos, Jó prenunciava a figura de Cristo, o que é provado por uma comparação:

Jó é chamado de justo por Deus. Ora, Cristo é a Justiça de cuja fonte bebem todos os bem-aventurados. Dele se disse: Levantar-se-á para vós o Sol da Justiça.

Jó é dito veraz. O Senhor, que declara no Evangelho: Eu sou o Caminho e a Verdade, é a própria Verdade.

Jó foi rico. E quem mais rico do que o Senhor? D’Ele são todos os servos ricos, d’Ele o mundo inteiro e toda a natureza, no testemunho do Santo Davi: Do Senhor é a terra e sua plenitude, o orbe da terra e todos quantos nele habitam.

O diabo tentou Jó por três vezes. De modo semelhante, narra o Evangelista, por três vezes o mesmo diabo esforçou-se por tentar o Senhor.

Jó perdeu os bens que possuía. O Senhor, por nosso amor, abandonou os bens celestes e fez-Se pobre para enriquecer-nos.

O diabo, furioso, matou os filhos de Jó. E aos profetas, filhos de Deus, o louco povo fariseu assassinou.

Jó manchou-se pelas úlceras. O Senhor, assumindo a carne de todo o gênero humano, apareceu manchado com as sujeiras dos pecadores.

Jó foi instigado pela esposa a pecar. A sinagoga quis obrigar o Senhor a seguir a depravação dos anciãos.

Apresentam-se os amigos de Jó a insultá-lo. E ao Senhor insultaram os sacerdotes que deviam cultuá-Lo.

Jó senta-se no monturo coberto de vermes. Também o Senhor no verdadeiro monturo, isto é, na lama desse mundo se demorou rodeado de homens estuantes de crimes e paixões, os verdadeiros vermes.

Jó recuperou tanto a saúde quanto a riqueza. E o Senhor, ressuscitando, concedeu não só a saúde, mas a imortalidade aos que n’Ele creem e recuperou o domínio sobre toda a natureza, segundo Suas próprias palavras: Tudo me foi dado por meu Pai.

Jó teve filhos em substituição aos primeiros. O Senhor também gerou, depois dos filhos dos Profetas, os Santos Apóstolos.

Jó, feliz, descansou em paz. O Senhor, porém, permanece o Bendito eternamente, antes dos séculos, nos séculos e por todos os séculos dos séculos”.

Muitas vezes lembrando os sofrimentos dos justos, vem-nos vem imediatamente à lembrança Jó; mas quantos de nós fizemos um paralelo entre Jó e o Senhor?

Jó no seu tempo, fidelidade inquestionável a Deus.
O Servo Sofredor, no seu tempo, Amor que ama até o fim.

Quão belas lições podemos tirar deste Tratado, para fortalecimento de nossa espiritualidade na fidelidade ao Senhor!

Como Discípulos Missionários do Senhor,
trilhemos mesmo caminho,
Nutridos pelo Sagrado Pão, inebriados e
redimidos pelo Sagrado Vinho!


PS: Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 252-253.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Em poucas palavras...

 


“Maravilhosa aventura da oração e da fé”

“Para que a oração possa obter os resultados surpreendentes da fé, é necessário que, antes, se perdoe aos inimigos; caso contrário, a oração não será ouvida.

Israel perdera a sua fecundidade religiosa porque, explorando o povo simples no templo de Deus, não amava a humanidade e não podia, por conseguinte, correr o risco da maravilhosa aventura da oração e da fé.” (1)

(1) Comentários à B´blia Litúrgica – Editora Gráfica Coimbra 2 – Editora Paulus – Palheira – pp.1008-1009 – sobre a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 11,11,-26)

Produzamos os frutos do Espírito

 


Produzamos os frutos do Espírito

Assim lemos no Lecionário Comentado, sobre a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 11,11-26):

“Perante a figueira que secara, Jesus pronuncia depois palavras sobre a fé (vv.22-33), sobre a oração (vv.24-25) e sobre o perdão (v.25)...

A imagem da figueira, cheia de folhas mas estéril, é a imagem de um povo que frequenta o Templo, fazendo florescer nele um comércio exuberante, em vez da oração feita com fé e com a disposição para o perdão.

 A fé em Deus e o perdão oferecido ao próximo são as condições e a marcas distintivas da verdadeira oração. O Templo não pode ser um espaço de negócio, mas casa de oração desejada por Deus para todos os povos” (1).

E no Missal Quotidiano, assim lemos:

“Israel não reconheceu a visita do Senhor nem produziu o fruto esperado. Possuía a casa da oração, porém não mais a fé em Deus e em seu amor e o perdão dos inimigos, que tornam aceita a oração.” (2)

Concluindo, acolhamos alguns questionamentos que o Missal nos apresenta, e que são fundamentais para revermos nossa fidelidade no discipulado, a fim de que nossa ação evangelizadora seja autêntica e produza os frutos por Deus esperados:

“Mas sabemos hoje reconhecer ‘quem é Jesus’ para nós?

Produzimos os frutos que Ele espera?

E nossa vida de igreja não se limita a um estéril aparato exterior?

Onde estão em nossas comunidades a fé viva, a fraternidade, o perdão, os frutos do Espírito, como verdadeiros sinais da presença e do reconhecimento de Cristo?”

E podemos completar esta reflexão, retomando a passagem da Carta de Paulo aos Gálatas (Gl 5,16.22a-23a.25), sobre os frutos do Espírito.

“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis...”

  

(1) Lecionário Comentado – Volume I - Tempo Comum – Editora Paulus – pág.394-395

(2)Missal Quotidiano – Editora Paulus- pág. 839

Fidelidade ao Senhor, frutos abundantes


Fidelidade ao Senhor, frutos abundantes

À luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 11,11-26), refletimos sobre a missão da Igreja, mais precisamente, como favorecemos ou enfraquecemos esta missão.

Como discípulos missionários do Senhor, elevemos a Deus esta Oração, renovando a graça de sermos Igreja e a ela pertencermos, para que, na vivência do Novo Mandamento do Amor que Ele nos deu, possamos produzir os frutos esperados.

Oremos:

Senhor, que a Vossa Igreja, por Vós edificada, seja para nós um local privilegiado para o encontro pessoal com o Vosso Pai, envolvidos pelo Vosso Espírito Santo de Amor, de modo que possamos fazer progressos na fé, sempre revigorados na esperança e reavivados na prática da caridade, e assim viver maior comunhão e verdadeiro amor fraterno, correspondendo, de maneira sublime, ao Projeto do Reino por Vós inaugurado.

Senhor, livrai-nos da tentação de fazer da Vossa Igreja lugar de posturas e práticas que têm por finalidade, tão somente, a promoção pessoal, o lucro, a competição e a concorrência entre as pessoas, a busca do prestígio, da fama; pouco importando se fazemos multiplicar  sentimentos que não estão em sintonia com o Vosso Evangelho, como ciúmes, rancor, raiva, ira, inveja...

Senhor, afastai de nós tudo que seja contrário aos Vossos ensinamentos, proclamados no Sermão da Montanha, na Oração do Pai Nosso, e em outros momentos memoráveis, que nos fazem iluminados e iluminantes, comunicadores de Vossa Divina Luz, num mundo tão marcado por sombras e escuridão, como expressão do pecado e morte, que teimosamente insistem em sobreviver. Amém. 

Vivamos a caridade, a plenitude da Lei

 


Vivamos a caridade, a plenitude da Lei

Sejamos enriquecidos pelos escritos do Papa São Gregório Magno (séc. VI) sobre o Jó, e assim aprofundemos sobre a Lei do Senhor que é múltipla.

“Nesta passagem, o que se deve entender por lei de Deus a não ser a caridade? Pois por meio dela sempre se pode encontrar na mente como traduzir na prática os preceitos de Deus. Sobre esta lei de Deus, é dito pela palavra da Verdade: Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros. Desta lei fala Paulo: A plenitude da lei é o amor. E ainda: Carregai os fardos uns dos outros e cumprireis assim a lei de Cristo. O que de melhor se pode entender por lei de Cristo senão a caridade, vivida na perfeição, quando suportamos os fardos dos irmãos por amor?

No entanto, esta mesma lei pode-se dizer ser múltipla, porque com zelosa solicitude a caridade se estende a todas as ações virtuosas.

Começando por dois preceitos, ela vai atingir muitos outros. Paulo soube enumerar a multiplicidade desta lei ao dizer: A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não se ensoberbece, não age mal; não é ambiciosa, não busca o que é seu, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a iniquidade, mas rejubila com a verdade.

Na verdade é paciente a caridade, pois tolera com serenidade as afrontas recebidas. É benigna porque retribui os males com bens generosos. Não é invejosa porque, nada cobiçando neste mundo, não tem por onde invejar os êxitos terrenos. Não se ensoberbece; deseja ansiosamente a retribuição interior, por isso não se exalta com os bens exteriores. Não age mal, pois somente se dilata com o amor a Deus e ao próximo, por isto ignora tudo quanto se afasta da retidão.

Não é ambiciosa porque, cuidando ardentemente de si no íntimo, não cobiça fora, de modo algum, as coisas alheias. Não busca o que é seu, pois tudo quanto possui aqui considera-o transitório e alheio, sabendo que nada lhe é próprio a não ser aquilo que permanece sempre com ela.

Não se irrita, pois, quando insultada, não se deixa levar por sentimentos de vingança, já que por grandes trabalhos espera prêmios ainda maiores. Não pensa mal, porque, firmando o espírito no amor da pureza, arranca pela raiz todo ódio e não admite na alma mancha nenhuma.

Não se alegra com a iniquidade: o seu único anseio consiste no amor para com todos sem se alegrar com a perda dos adversários. Rejubila, porém, com a verdade porque, amando os outros como a si próprio, enche-se de gozo ao ver neles o que é reto como se se tratasse do progresso próprio. É múltipla, portanto, a lei de Deus.” (1)

De fato a Lei do Senhor é múltipla, e a vivência do amor se expressa de múltipla formas, como vemos aprofundando à luz da passagem da Carta de Paulo aos Coríntios (1 Cor 13,1-13).

 

Há sinais de luz na escuridão da noite!

                                                   


Há sinais de luz na escuridão da noite!

Esta reflexão foi inspirada no Livro Sabedoria (Sb 18,6-9), quando o autor fazia memória da Noite da Libertação em que Deus interveio, libertando-os da escravidão do Egito.

Continuamos resgatando a memória desta noite...

Quando celebramos a Eucaristia: Memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando cremos na força interventora de Deus na história

Quando cremos num Deus aliado e apaixonado pela vida dos pobres!

Quando cremos em Deus que suscitou e suscita Profetas e Profetizas de um novo tempo!

Quando cremos que o Verbo Se fez e Se faz Carne, não mais no ventre de Maria, mas no nosso coração e na carne da História. O Verbo Se faz Carne na História para o seu resgate!

Quando amarmos Cristo em nossa vida e o imitarmos em Sua morte como fez e faz nossos mártires de ontem e de hoje!

Quando sacrários vivos do Senhor se dobram silenciosamente e em adoração diante do Sacrário. Silêncio não como ausência de sons, mas com o ressoar do Verbo-Palavra que habitou entre nós!

Quando o povo simples calcula suas dívidas e contas e se refaz nas contas de um terço!

Quando acreditamos na missão da Igreja que é Evangelizar, ajudando a construir comunidades mais perseverantes na Doutrina dos Apóstolos, na Fração do Pão, na Comunhão Fraterna e na Oração!

Quando juntos, homens e mulheres, numa autêntica e madura relação de gênero sabem viver a complementaridade e subsidiariedade!

Quando somamos e multiplicamos nossas forças para que nossas lutas, sonhos e compromissos saiam da tinta da caneta para a prática expressiva e concreta!

Quando sabemos romper toda barreira de preconceitos raciais, sexuais e sociais que ainda nos dividem e nos empobrecem (muitas vezes dentro da própria Igreja).

Quando há aqueles que se organizam para defender o espaço, a ecologia, o kosmos, o homem e a mulher, a criação num compromisso com o Criador...

Quando vivemos a necessária intervenção de Deus na vida de nosso povo, conduzindo-o à Terra Prometida, da partilha, da saciedade de toda e qualquer fome e sede de amor, vida em abundância e paz, sobretudo se considerarmos a realidade de fome e miséria crescente que estamos vivendo.

Quando passamos de uma devoção estéril à Maria a uma prática e imitação de suas virtudes: Confiança, disponibilidade, serviço, alegria, profetismo, esperança...

Quando percebemos a intervenção de Deus, a luz aparece na escuridão da noite de nosso tempo. O “Kairós” anseia pela Luz Divina.

Há sinais de luz na escuridão da noite!

Há sinais de luz na escuridão da noite, porque sinto que disse muito, mas ainda não disse nada! Porque como disse São Francisco: “Deus é o nunca bastante”, ou ainda como disse Santo Agostinho: “Deus é um Mistério tão inextinguível que uma vez encontrado ainda falta tudo para encontrá-Lo”.

Há sinais de luz na escuridão da noite de nosso tempo, porque acredito que muitos poderão me ajudar a completar e enriquecer esta reflexão...

 “A nós descei divina luz...
Em nossas almas acendei o Amor de Jesus”

“O sábado foi feito para o homem...” (IXDTCB) (01/06)


 “O sábado foi feito para o homem...”

A Liturgia do 9º Domingo do Tempo Comum (Ano B) nos convida a refletir sobre o Dia do Senhor (sábado para os judeus, domingo para os cristãos), que devemos guardar a fim de fazer memória da ação criadora e redentora de Deus com Seu Povo que somos.

A passagem da primeira Leitura (Dt 5,12-15) nos recorda o preceito do terceiro Mandamento, de guardar o sábado para santificá-lo, sugerindo que seja um dia que exprime a unidade do Povo que celebra a ação libertadora de Deus, sem qualquer tipo de desigualdades.

Temos a enunciação do Mandamento, uma explicação didática de como devemos praticá-lo e uma fundamentação teológica para essa mesma prática.

O referido Mandamento funciona como um símbolo dos deveres para com Javé (Dt 5,6.15) e para com o próximo (Dt 5,14.21).

Somos convidados a regressar aos fundamentos da celebração do Dia do Senhor, tomando a sério o valor do verbo “santificar”.

Santificar o Dia do Senhor implica em adorá-lo, acima de tudo e de todos, mas também implica em viver relações mais justas e fraternas com o próximo, para não incorrermos em nova escravidão.

Voltando aos fundamentos da celebração do Dia do Senhor, viveremos o sábado (ou Domingo), como memorial da libertação do Pecado na Páscoa de Cristo, que atualiza a obra libertadora de Deus da escravidão do Egito.

A celebração do Dia do Senhor tem uma grande dimensão social, sendo dia de descanso para todos, garantindo esse direito, sobretudo aos pobres que se veem assim protegidos pela Lei divina, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

“O agir de Deus é o modelo do agir humano. Se Deus ‘descansou’ no sétimo dia, o homem deve também ‘descansar’ e deixar que os outros, sobretudo os pobres, ‘tomem fôlego’. O sábado faz cessar os trabalhos quotidianos e concede uma folga. É um dia de protesto contra as servidões do trabalho e o culto do dinheiro” (n. 2172).

O Papa nos ajuda a compreender a importância do Domingo para os cristãos:

“Precisamos do pão da vida para enfrentar as fadigas e o cansaço da viagem. O Domingo, Dia do Senhor, é a ocasião propícia para haurir a força d'Ele, que é o Senhor da vida.

Por conseguinte, o preceito festivo não é um dever imposto pelo exterior, um peso sobre os nossos ombros. Ao contrário, participar na Celebração dominical, alimentar-se do Pão eucarístico e experimentar a comunhão dos irmãos e irmãs em Cristo é uma necessidade para o cristão, é uma alegria, e assim pode encontrar a energia necessária para o caminho que devemos percorrer todas as semanas.

Um caminho, aliás, não arbitrário: a via que Deus nos indica na sua Palavra vai na direção inscrita na própria essência do homem, a Palavra de Deus e a razão caminham juntas. Seguir a Palavra de Deus e caminhar com Cristo significa para o homem realizar-se a si mesmo; perdê-la equivale a perder-se a si próprio” (1)

Na passagem da segunda leitura (2 Cor 4,6-11), encontramos o modelo de evangelizador que devemos ser, a partir do exemplo de ardor apostólico de São Paulo.

Com ele, aprendemos que o evangelizador é portador de um tesouro precioso e a obra evangelizadora é obra do poder de Deus.

Deste modo, o Apóstolo, por sua vida, foi um prolongamento da vida de Cristo, apesar das fragilidades próprias, de modo que podemos afirmar: a mensagem evangélica não fica comprometida mesmo com nossas fragilidades.

A grande mensagem da passagem está nas frases de abertura e de conclusão, que servem de moldura a esta descrição autobiográfica de Paulo: ele não se anuncia a si mesmo (v. 5), mas anuncia “a glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo” (v. 6), e que Deus, autor da luz na criação do mundo, fez brilhar como luz no seu coração:

"O objetivo de Paulo é demonstrar que Cristo está vivo no seu ministério apostólico, mesmo a partir da fragilidade que se manifesta na forma como é perseguido e entregue à morte em nome de Cristo (v. 11).” (2)

Como vemos, o Apóstolo Paulo é um modelo de servidor do Evangelho para todos os que, na Igreja, se posicionam ao serviço humilde do Povo de Deus:

“Dele aprendemos que a grande característica do apostolado, mais que as ações pastorais inovadoras ou não, é a relação com Cristo, a ponto de trazer na própria vida as marcas dessa união, seja nas tribulações que se sofre por causa de Cristo e do Evangelho, seja porque se incarna na própria vida aquilo que se ensina”. (3)

Com Paulo, aprendemos que “...a  vida do evangelizador deve conformar-se cada vez mais à vida de Cristo a ponto de se tornar um espelho de Cristo, um livro aberto do Evangelho, onde se pode ler os sinais da vida oferecida de Jesus. Só uma grande intimidade com Jesus Cristo, como a que teve Paulo, poderá dar-nos a possibilidade de sermos pessoas identificadas com o Evangelho que anunciamos”. (4)

A passagem do Evangelho (Mc 2,23–3,6) retoma a temática do terceiro preceito do Decálogo, nos episódios em que os discípulos colhem espigas para comer e um homem com uma mão atrofiada curado - ambos os episódios em dia de sábado.

O texto evangélico conclui a primeira secção do Evangelho de Marcos, que descreve a fase inicial do Ministério de Jesus (cf. 1,14-3,6).

A mensagem central: quando se faz uma interpretação demasiado rigorista dos preceitos da Lei, esta deixa de cumprir a sua missão de estar ao serviço do homem em cada tempo.

Jesus nos convida, por isso, a posicionar-nos ao serviço dos necessitados, tendo em conta que o Dia do Senhor foi feito para o homem, não para fazer do homem um escravo.

Jesus Se confronta com os fariseus sobre o respeito pelo dia de sábado em dois episódios (2,23-28; 3,1-6), sendo que, neste último, pela primeira vez, os seus opositores se reuniam com os herodianos para encontrar uma maneira de condenar Jesus à morte (3,6), funcionando esta decisão como conclusão de todos os confrontos.

O Evangelista Marcos nos convida a centrar nas palavras de Jesus que ajudam a interpretar a sua liberdade diante da instituição do sábado judaico:

O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado” (Mc 2,27-28); “Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?” (Mc 3,4):

“Diante do poder de Jesus e das necessidades humanas, as coisas sagradas não têm um valor próprio (nem o pão do santuário, no caso de David, nem o sábado, no caso dos discípulos de Jesus ou do homem com a mão atrofiada), mas existem para o bem da humanidade (os pães da proposição para alimentar David e os seus homens, o sábado para o homem e para Jesus); na interpretação de Jesus, é fundamental que o que é sagrado esteja ao serviço do homem...

Jesus escolheu fazer o bem e colocar-Se ao serviço das necessidades humanas, satisfazendo-as, mesmo se isso lhe acarreta a decisão do conluio das autoridades políticas e religiosas contra Ele, para O condenarem à morte (5)

Não se trata, portanto, da interpretação libertina ou relativista do sábado, mas de fazer dele o dia da relação com Deus, que vem em auxílio de quem está em necessidade.

As interpretações rigoristas da Lei – como são as dos fariseus no nosso texto – cegam e não deixam ver as necessidades humanas que, na perspectiva de Jesus, são o verdadeiro critério para manter uma atitude livre diante da Lei, sendo assim o cristão prolonga a existência da vida de Cristo, e no Dia Maior, o Domingo, a Ele consagrado, não pode perder de vista os que foram os Seus prediletos, com gestos de amor, solidariedade e partilha.

Por fim, concluímos que todas as instituições, sejam elas religiosas ou civis, devem estar ao serviço da vida humana, para que possam realizar a missão para a qual nasceram, do contrário, perderão a razão de existir.


PS: Citações extraídas de www.Dehonianos.org/portal

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