terça-feira, 17 de junho de 2025

Oração: diálogo íntimo com o Senhor

                                                       

Oração: diálogo íntimo com o Senhor

“... quando você rezar, entre no seu quarto,
feche a porta, e reze ao seu pai ocultamente;
e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.”
(Mt 6, 6)

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 6,1-6.16-18), Jesus nos orienta sobre a autêntica prática da oração, jejum e esmola.

Sobre a oração especificamente, mostra-nos que esta se constitui num dos elementos essenciais para o processo de conversão e sintonia com Deus (Mt 6,5-8).

Para que nossa oração chegue até Deus, ela precisa brotar da sinceridade de um coração sedento de contínua conversão; ser oculta, “no silêncio do quarto”, de portas fechadas e a sós com Deus.

Neste espaço do recolhimento e na intimidade, diante d’Ele, a sós, não há necessidade de usar máscaras e representar papéis, e assim nos colocamos diante do Pai com alma e o coração nus, sem querer encobrir erros, falhas e pecados, revelando a sinceridade do coração e das intenções, porque Deus sabe quem cada um é e o que pretende:

“Javé, Tu me sondas e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar, de longe penetras o meu pensamento. Examinas o meu andar e o meu deitar, meus caminhos são todos familiares a Ti. A palavra ainda não me chegou à língua, e Tu, Javé, já a conheces inteira. (Sl 138,1-4).

Ponhamo-nos diante de Deus, abrindo a Ele nosso coração, numa relação sincera, íntima, confiante.

Oremos ocultamente, no silêncio do quarto, que é o nosso coração, onde Deus habita, onde podemos encontrá-Lo, então sal da terra e luz do mundo, de fato seremos.

Oração para a Comunhão Espiritual (2)

                                   

                     Oração para a Comunhão Espiritual

“Aos Vossos pés, ó meu Jesus, me prostro e Vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito que mergulha no Vosso e na Vossa santa presença. Eu Vos adoro no Sacramento do Vosso amor, desejo receber-Vos na pobre morada que meu coração Vos oferece.

À espera da felicidade da comunhão sacramental, quero possuir-Vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a Vós. Que o Vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em Vós, espero em Vós. Eu vos amo. Assim seja”. (1)


(1) Cardeal Rafael Merry del Val

Eucaristia e caridade (Corpous Christi)

                                                      

Eucaristia e caridade

“Jesus Cristo: de rico que era, tornou-Se pobre por causa
de vós para que vos torneis ricos, por sua pobreza”
(2 Cor 8,9).

Assim nos falou Paulo na Segunda Carta aos Coríntios: “Jesus Cristo: de rico que era, tornou-Se pobre por causa de vós para que vos torneis ricos, por sua pobreza” (2 Cor 8,9).

Vejamos o que nos diz o Comentário do Missal Cotidiano, sobre a coleta e a solidariedade exortadas pelo Apóstolo à comunidade de Corinto que tinha tudo em abundância; fé, eloquência, ciência, zelo para tudo e a generosa expressão da caridade que receberam dele como exemplo.

“Das ‘coletas’ na Igreja às grandes campanhas de solidariedade para com as populações que sofrem fome, ou cataclismos, uma longa série de solicitações empenha nossa atenção.

A mão que oferece é um gesto, e todo gesto é um sinal. De quê? Um gesto ‘grande’ (quantitativamente) pode ter pequena motivação. E vice-versa” . (1)

A solidariedade é motivada a partir do próprio Cristo, o dom de Deus que Se encarna, Ele que não deu, mas “Deu-Se”, deste modo:

“Se dentro do nosso dom não estivermos nós próprios, mas apenas algo nosso, não estamos na linha de Cristo. A caridade é a mais alta forma do amor. Fazer de cada dom, mesmo pequeno, um gesto de amor é dar-lhe uma dimensão cristã.

A comunhão na caridade é o necessário complemento da comunhão eucarística. Claudel chama a hóstia 'branca moeda para a eternidade'. Eucaristia e caridade são as duas faces da mesma moeda”. (2)

A comunidade que professa a fé no Senhor deve expressar o amor que se concretiza na caridade e na solidariedade, efetivamente, através de seus trabalhos, pastorais e serviços, e tantos outros compromissos.

Celebrando a Eucaristia, também precisamos viver a comunhão na caridade, pois a “Fração do Pão” não pode se separar da “Comunhão Fraterna”, como nos ensina Lucas no Livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47).

Se verdadeiramente a Eucaristia for a “branca moeda para a eternidade”, jamais nos omitiremos diante da missão de construir um novo céu e uma nova terra, dando o melhor de nós em favor de nossos irmãos, de modo especial dos que mais precisam, na prática das obras de misericórdia corporais, e espirituais, e tão somente assim a Eucaristia e a caridade serão as faces de uma mesma moeda.


(1) (2) Missal Cotidiano, Editora Paulus – pág. 905 
Passagem bíblica: 2 Cor 8,1-9

segunda-feira, 16 de junho de 2025

A escada que nos leva aos céus

                                                  


A escada que nos leva aos céus
 
Acolhamos o Sermão de São Cromácio de Aquileia (séc. V), em que nos apresenta os oito degraus do Evangelho (Mt 5,38-42) para chegarmos à glória dos céus.

"'Bem-aventurados sereis, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem de vós todo tipo de mal por causa da justiça.
 
Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Assim perseguiram aos Profetas que vieram antes de vós’. É virtude perfeita, irmãos, após as obras da grande justiça, serem ultrajados pela verdade, serem afligidos com tormentos e, ao fim, feridos de morte sem deixar-vos aterrorizar, seguindo o exemplo dos Profetas que, atormentados de muitas formas por causa da justiça, mereceram ser assimilados aos sofrimentos e galardão de Cristo.

Este é o mais alto degrau, no qual Paulo, contemplando a Cristo, dizia: minha única meta é, esquecendo as coisas passadas, e fixando-me somente nas que virão, correr até a meta, para ganhar o prêmio ao qual Deus chama desde o alto por Jesus Cristo.
 
E a Timóteo diz ainda mais claramente: ‘combati o bom combate, terminei minha carreira’. E como quem subiu todos os degraus, acrescenta: ‘guardei a fé. Já me está preparada a coroa da justiça’.
 
Terminada a carreira, a Paulo não lhe restava mais que alcançar glorioso, através de tribulações e dos sofrimentos, o mais alto degrau do martírio.
 
A Palavra do Senhor nos exorta, pois, oportunamente: ‘alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus’; e Ele demonstra com clareza que esta recompensa aumenta na medida das perseguições.
 
Irmãos, diante de vossos olhos estão estes oito degraus do Evangelho, construídos, como dizia, com pedras preciosas. Eis aqui essa escada de Jacó que começava na terra e cujo cume atingia o céu.
 
Aquele que a sobe encontra a porta do céu e, tendo entrado por ela, estará com alegria sem fim na presença do Senhor, louvando-lhe eternamente com os santos Anjos. Este é o nosso comércio, este é o nosso mercado espiritual. 
 
Demos, benditos de Deus, o que temos; ofereçamos a pobreza de espírito para receber a riqueza do Reino dos Céus  que nos foi prometida; ofereçamos nossa mansidão, para possuir a terra e o paraíso; choremos os nossos pecados e os alheios, para merecer o consolo da bondade do Senhor; tenhamos fome e sede de justiça, para sermos saciados mais abundantemente; ofereçamos misericórdia, para receber verdadeira misericórdia; vivamos como benfeitores da paz, para sermos chamados filhos de Deus; ofertemos um coração puro e um corpo casto, para ver a Deus com consciência límpida; não temamos as perseguições por causa da justiça, para sermos herdeiros do Reino dos Céus, acolhamos com alegria e gozo os insultos, os tormentos, a própria morte – se chegasse a sobrevir – pela verdade de Deus, a fim de receber no céu uma grande recompensa com os Apóstolos e os Profetas.
 
E para que o final de meu discurso concorde com o princípio: se os comerciantes se alegram pelas frágeis ambições do momento, quanto mais temos de alegrar-nos e felicitar-nos todos juntos por ter encontrado hoje estas pérolas do Senhor, com as quais não se pode comparar nenhum bem deste mundo.
 
Para merecer comprá-las, obtê-las e possuí-las, temos de pedir o auxílio, a graça e a fortaleza ao próprio Senhor. A Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.”  (1)
 
Retomemos os oito degraus da escada que nos conduz ao céu:
 
1 - Ofereçamos a pobreza de espírito para receber a riqueza do Reino dos Céus que nos foi prometida;
 
2 - Ofereçamos nossa mansidão, para possuir a terra e o paraíso;
3 - Choremos os nossos pecados e os alheios, para merecer o consolo da bondade do Senhor;
 
4 - Tenhamos fome e sede de justiça, para sermos saciados mais abundantemente;
5 - Ofereçamos misericórdia, para receber a verdadeira misericórdia;
 
6 - Vivamos como benfeitores da paz, para sermos chamados filhos de Deus;
7 - Ofertemos um coração puro e um corpo casto, para ver a Deus com consciência límpida;
 
8 - Não temamos as perseguições por causa da justiça, para sermos herdeiros do Reino dos Céus, acolhamos com alegria e gozo os insultos, os tormentos, a própria morte – se chegasse a sobrevir – pela verdade de Deus, a fim de receber no céu uma grande recompensa com os Apóstolos e os Profetas.
 
Evidentemente, uma escada que somente poderemos subir degrau por degrau, com a cruz carregada, precedida de necessárias renúncias, cotidianamente, fazendo todo o esforço para entrarmos pela porta estreita que nos conduz aos céus.
 
Roguemos a Deus para que enriquecidos por sua graça, força e bondade, vivamos na mansidão, e tendo a pureza de coração, sejamos promotores da paz, tendo plena confiança de que tão somente Deus pode saciar plenamente nossa sede de justiça, amor, vida e paz.
 
Verdadeiramente, estes oito degraus são imprescindíveis no nosso itinerário de fé, para que vivamos a santidade como sinônimo de felicidade, que não dispensa sacrifícios, empenhos e renovados compromissos com a Boa-Nova do Reino. Tão somente assim estaremos com os pés nos chãos duro e sofrido da realidade, e buscando as coisas do alto onde habita Deus (Cl 3,1)
 
Sejamos, portanto, promotores da cultura da vida e da paz, em todo o tempo e em todas as situações.
 
 
 
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.126-127 
 

A mais bela Oração o Senhor nos ensinou

                                                            

A mais bela Oração o Senhor nos ensinou

Refletir o Tratado sobre a Oração do Senhor, do Bispo e Mártir São Cipriano (Séc. III), muito nos enriquece, para que melhor rezemos e vivamos a Oração que o Senhor nos ensinou, o "Pai-Nosso".

“Antes do mais, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que cada um orasse sozinho e em particular, como rezando para si só. De fato, não dizemos: Meu Pai que estais no céu; nem: Meu pão dai-me hoje.

Do mesmo modo, não se pede só para si o perdão da dívida de cada um ou que não caia em tentação e seja livre do mal, rogando cada um para si.

Nossa Oração é pública e universal e quando oramos não o fazemos para um só, mas para o povo todo, já que todo o povo forma uma só coisa.

O Deus da paz e Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que assim orássemos um por todos, como Ele em Si mesmo carregou a todos.

Os três jovens, lançados na fornalha ardente, observaram esta lei da Oração, harmoniosos na prece e concordes pela união dos espíritos.

A firmeza da Sagrada Escritura o declara e, narrando de que maneira eles oravam, apresenta-os como exemplo a ser imitado em nossas preces, a fim de nos tornarmos semelhantes a eles.

Então, diz ela, os três jovens, como por uma só boca, cantavam um hino e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só boca e Cristo ainda não lhes havia ensinado a orar.

Por isto a Palavra foi favorável e eficaz para os orantes. De fato, a Oração pacífica, simples e espiritual, mereceu a graça do Senhor.

Do mesmo modo vemos orar os Apóstolos e os discípulos, depois da Ascensão do Senhor. Eram perseverantes, todos unânimes na Oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e Seus irmãos.

Perseveravam unânimes na Oração, manifestando tanto pela persistência como pela concórdia de sua Oração, que Deus que os faz habitar unânimes na casa, só admite na eterna e divina casa aqueles cuja Oração é unânime.

De alcance prodigioso, irmãos diletíssimos, são os Mistérios da Oração dominical! Mistérios numerosos, profundos, enfeixados em poucas palavras, porém, ricas em força espiritual, encerrando tudo o que nos importa alcançar!

Rezai assim, diz Ele: Pai nosso, que estais nos céus

O homem novo, renascido e, por graça, restituído a seu Deus, diz, em primeiro lugar, Pai!, porque já começou a ser filho. Veio ao que era Seu e os Seus não O receberam. A todos aqueles que O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aqueles que creem em Seu nome. Quem, portanto, crê em Seu nome e se fez filho de Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar graças e por confessar-se filho de Deus ao declarar ser Deus o seu Pai nos céus.” (1)

O “Pai-Nosso”, a Oração que o Senhor nos ensinou, e que em todas as Missas rezamos. E como são belas as opções de motivações proferidas pelo Sacerdote antes de rezá-lo:

- “Rezemos, com amor e confiança, a Oração que o Senhor Jesus nos ensinou: Pai nosso...”

- "Somos chamados filhos de Deus e realmente o somos, por isso, podemos rezar confiantesPai nosso..."

- “O Senhor nos comunicou o Seu Espírito. Com a confiança e a liberdade de filhos e filhas, digamos juntos: Pai nosso...”

- O banquete da Eucaristia é sinal de reconciliação e vínculo de união fraterna. Unidos como irmãos e irmãs, rezamos, juntos, como o Senhor nos ensinou: Pai nosso..."

- “Guiados pelo Espírito de Jesus e iluminados pela Sabedoria do Evangelho, ousamos dizer: Pai nosso...”

- "Guiados pelo Espírito Santo, que ora em nós e por nós, elevemos as mãos ao Pai e rezemos juntos a oração que o próprio Jesus nos ensinou: Pai nosso..."

“Obedientes à Palavra do Salvador e formados por Seu divino ensinamento, ousamos dizer: Pai nosso...”

Como vemos, a Oração do "Pai-Nosso" é pública e universal, de modo que, ao rezá-la, aprofundamos nossa relação de comunhão com Deus e com o próximo.

Sendo assim, seja a nossa Oração a Deus elevada pacífica, simples e espiritual, bem como sejamos perseverantes na Oração como eram os Apóstolos(At 2,42-47).

Todas as motivações nos levam a rezar com a alma, com o coração, com a vida, em plena comunhão com o Espírito, na fidelidade ao que o Senhor Jesus nos ensinou, para a vontade do Pai, na terra e nos céus, realizar, em tudo e acima de tudo. Amém. 


(1) Liturgia das Horas - Vol. III - Tempo Comum - pág. 320-321

Em poucas palavras...

                                         


A aventura da caridade

“Com o Evangelho, estamos em plena pedagogia da criatividade. Requer-se muito esforço de imaginação. Jesus pede respostas novas para as situações sempre novas.

A caridade é uma aventura que leva de descoberta em descoberta. É um clima de atenção a Deus no irmão, que é fortemente inventivo, como toda atenção de amor.” (1)

 

 

(1) Comentário do Missal Cotidiano sobre a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,38-42) - pág. 904

Por uma cultura de vida e paz

                                                          

Por uma cultura de vida e paz

Na segunda-feira da 11ª Semana do Tempo comum, ouvimos a passagem do Evangelho (Mt 5,38-42), e vemos que cabe ao cristão quebrar a “espiral da violência” com atitudes sempre novas, com espírito profundo e novo da fraternidade.

Oportuno o comentário do Missal Cotidiano:

“Com o Evangelho, estamos em plena pedagogia da criatividade. Requer-se muito esforço de imaginação. Jesus pede respostas novas para as situações, sempre novas.

A caridade é uma aventura que leva de descoberta em descoberta. É um clima de atenção a Deus no irmão, que é fortemente inventivo, como toda atenção de amor.” (1)

Eis o grande desafio para nós discípulos missionários do Senhor, que vivemos um contexto acentuado pela violência de múltiplas formas (verbais ou físicas; virtuais ou reais; pequenas ou de dimensões indizíveis).

Somente com a assistência do Espírito Santo, e com o Seu amor derramado em nossos corações (Rm 5,5), é que conseguiremos viver uma “pedagogia da criatividade” que põe fim a espiral da violência, instaurando relações novas, marcadas pela amizade, fraternidade e respeito ao outro.

Invoquemos a sabedoria do Espírito, a mansidão necessária, para que esta pedagogia vivamos: na  família, na  comunidade e em todo lugar.

Concluindo, reportemo-nos à Bem-Aventurança: “Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9), que Jesus nos apresentou no Sermão da Montanha (Mt 5,1-12).

(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.902

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