“Três
dias e três noites”
“Jonas esteve por
três dias e três noites no ventre de um peixe; assim também o Filho do Homem
ficará no coração da nossa terra.” (1)
Antífona do Cântico Evangélico das Vésperas – 1ª Quarta-feira da
Quaresma
“Três
dias e três noites”
“Jonas esteve por
três dias e três noites no ventre de um peixe; assim também o Filho do Homem
ficará no coração da nossa terra.” (1)
Antífona do Cântico Evangélico das Vésperas – 1ª Quarta-feira da
Quaresma
“–1 Do mestre de
canto, Sobre ‘a corça da manhã’. Salmo. De Davi.
–2 Meu Deus, meu
Deus, por que me abandonastes?
E ficais longe de meu grito e minha prece?
–3 Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis,
clamo de noite e para mim não há resposta!
–4 Vós, no entanto, sois o Santo em Vosso Templo,
que habitais entre os louvores de Israel.
–5 Foi em Vós que esperaram nossos pais;
esperaram e Vós mesmo os libertastes.
–6 Seu clamor subiu a Vós e foram salvos;
em Vós confiaram e não foram enganados.
–7 Quanto a mim, eu sou um verme e não um homem;
sou o opróbrio e o desprezo das nações.
–8 Riem de mim todos aqueles que me veem,
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
–9 'Ao Senhor se confiou, Ele o liberte
e agora o salve, se é verdade que Ele o ama!'
–10 Desde a minha concepção me conduzistes,
e no seio maternal me agasalhastes.
–11 Desde quando vim à luz Vos fui entregue;
desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus!
–12 Não fiqueis longe de mim, porque padeço;
ficai perto, pois não há quem me socorra!
–13 Por touros numerosos fui cercado,
e as feras de Basã me rodearam;
–14 escancararam contra mim as suas bocas,
como leões devoradores a rugir.
–15 Eu me sinto como a água derramada,
e meus ossos estão todos deslocados;
– como a cera se tornou meu coração,
e dentro do meu peito se derrete.
=16 Minha garganta está igual ao barro seco,
minha língua está colada ao céu da boca,
e por Vós fui conduzido ao pó da morte!
–17 Cães numerosos me rodeiam furiosos,
e por um bando de malvados fui cercado.
– Transpassaram minhas mãos e os meus pés
18 e eu posso contar todos os meus ossos.
= Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam!
19 Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.
–20 Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,
ó minha força, vinde logo em meu socorro!
–21 Da espada libertai a minha alma,
e das garras desses cães, a minha vida!
–22 Arrancai-me da goela do leão,
e a mim tão pobre, desses touros que me atacam!
–23 Anunciarei o Vosso nome a meus irmãos
e no meio da assembleia hei de louvar-Vos!
=24 Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores;
glorificai-O, descendentes de Jacó,
e respeitai-O toda a raça de Israel!
–25 Porque Deus não desprezou nem rejeitou
a miséria do que sofre sem amparo;
– não desviou do humilhado a sua face,
mas o ouviu quando gritava por socorro.
–26 Sois meu louvor em meio à grande assembleia;
cumpro meus votos ante aqueles que vos temem!
=27 Vossos pobres vão comer e saciar-se,
e os que procuram o Senhor O louvarão:
'Seus corações tenham a vida para sempre!'
–28 Lembrem-se disso os confins de toda a terra,
para que voltem ao Senhor e se convertam,
– e se prostrem, adorando, diante d’Ele,
todos os povos e as famílias das nações.
–29 Pois ao Senhor é que pertence a realeza;
Ele domina sobre todas as nações.
–30 Somente a Ele adorarão os poderosos,
e os que voltam para o pó O louvarão.
– Para Ele há de viver a minha alma,
31 toda a minha descendência há de servi-Lo;
– às futuras gerações anunciará
32 o poder e a justiça do Senhor;
– ao povo novo que há de vir, ela dirá:
'Eis a obra que o Senhor realizou!'”
Com o Salmo 21(22) refletimos sobre a aflição do justo e a
súplica confiante a Deus por libertação. Temos a lamentação e a prece de um
inocente perseguido, e que é concluída com uma ação de graças pela libertação
esperada.
Lido na perspectiva da fé, vemos a Pessoa de Jesus ao morrer na Cruz,
quando deu um forte grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt
27,46):
“Próximo
do poema do Servo sofredor (Is 52,13-53,12), este Salmo, cujo início Cristo
pronunciou sobre a Cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos
episódios da Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico.” (1)
Também
nos enriquece esta nota sobre este Salmo:
“Oração
pessoal de súplica. O inocente perseguido, vivendo profunda experiência de
abandono sente-se esquecido pelo próprio Deus (cf. Mt 27,46). Na angústia, faz
memória dos fatos e recorda a presença de Deus na vida dos antepassados. O fiel
sente-se longe de tudo e de todos. Será que até Deus se afastou? Ele que
socorre sempre quem vive à margem de tudo? Onde está a face de Deus, nessas
horas angustiantes? Mas da oração suplicante brota a certeza de que Deus na
realidade está presente e vai socorrer o fiel contra os inimigos violentos; vai
lhe fazer justiça e devolver-lhe a tranquilidade. Javé ouve o grito do pobre e
lhe revela sua face libertadora. A oração ensina a confiar, mesmo quando as
trevas da injustiça parecem triunfar. Pregado na cruz, Jesus rezou este Salmo
(cf. Mc 15,34).” (2)
Também nós, em momentos de provações e dificuldades, podemos e
devemos rezar este Salmo, sobretudo neste tempo da Quaresma, tempo favorável de
graça e salvação. Tempo de renovarmos nossa confiança incondicional em Deus, e
mais perfeitamente configurados a Jesus, no Seu Mistério de Paixão, Morte e
Ressurreição. Ou rezá-lo na comunhão com alguém que esteja vivendo tal
realidade. Amém.
(1) Bíblia de Jerusalém – Editora Paulus
(2)Bíblia Edição Pastoral – Editora Paulus
O Papa Francisco
nos agraciou, mais uma vez, com uma mensagem para a quaresma deste ano (2025),
à luz do Jubileu que estamos vivendo, com o
lema – “Peregrinos de Esperança”
– “A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
As cinzas sobre
nossas cabeças, marcam o início da caminhada quaresmal, que iniciamos com fé,
esperança, na peregrinação anual da santa quaresma, para que celebremos com
júbilo o triunfo pascal de Cristo – Sua Ressurreição.
Deste modo,
oferece-nos algumas reflexões sobre o que significa caminhar juntos na esperança, evidenciando
os apelos à conversão que a misericórdia
de Deus dirige a todos nós, enquanto indivíduos e comunidades.
Apresenta-nos 3 apelos de conversão:
1º apelo - conversão para o caminhar:
“Aqui, surge um primeiro
apelo à conversão, porque todos nós somos peregrinos na vida, mas cada um pode
perguntar-se: como me deixo interpelar por esta condição? Estou realmente a
caminho ou estou paralisado, estático, com medo e sem esperança, acomodado na
minha zona de conforto? Busco caminhos de libertação das situações de pecado e
falta de dignidade? Seria um bom exercício quaresmal confrontar-nos com a
realidade concreta de algum migrante ou peregrino e deixar que ela nos
interpele, a fim de descobrir o que Deus pede de nós para sermos melhores
viajantes rumo à casa do Pai. Esse é um bom “exame” para o viandante.”
2º apelo –
conversão a uma “viagem juntos”:
Caminhar juntos,
ser sinodal, é esta a vocação da Igreja. Portanto, os cristãos são chamados a
percorrer o caminho em conjunto, jamais como viajantes solitários:
“...caminhar lado a lado, sem pisar ou subjugar o
outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para
trás ou se sinta excluído. Sigamos na mesma direção, rumo a uma única meta,
ouvindo-nos uns aos outros com amor e paciência.”
Para tanto,
afirma o Papa, Deus nos pede que verifiquemos se nas nossas vidas e famílias,
nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, se somos
capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos
entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as
nossas próprias necessidades.
Ajuda-nos com
estes questionamentos:
“Perguntemo-nos diante do Senhor se somos capazes de
trabalhar juntos ao serviço do Reino de Deus, como bispos, sacerdotes, pessoas
consagradas e leigos; se, com gestos concretos, temos uma atitude acolhedora em
relação àqueles que se aproximam de nós e a quantos se encontram distantes; se
fazemos com que as pessoas se sintam parte da comunidade ou se as mantemos à
margem.”
3º apelo –
conversão à “esperança”:
Caminhar juntos
na esperança de uma promessa, a
vida eterna, e a esperança não decepciona (cf. Rm 5, 5), porque cremos que Jesus,
nosso amor e nossa esperança, ressuscitou e, vivo, reina glorioso, e a
sua morte foi transformada em vitória. Nossa fé e grande esperança como
cristãos está na Ressurreição de Jesus Cristo.
O Papa mais uma
vez nos questiona:
“... estou
convicto de que Deus me perdoa os pecados? Ou comporto-me como se me pudesse
salvar sozinho? Aspiro à salvação e peço a ajuda de Deus para a receber? Vivo
concretamente a esperança que me ajuda a ler os acontecimentos da história e me
impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum,
garantindo que ninguém seja deixado para trás?
Cita Paulo em sua Carta aos Romanos (Rm 5,5) e a
Timóteo - a esperança é “a âncora da alma”, inabalável e
segura, e nela, a Igreja reza para que «todos os homens sejam salvos» ( 1Tm 2, 4).
Também nos lembra
as palavras de Santa Teresa de Jesus: “Espera,
espera, que não sabes quando virá o dia nem a hora. Vela com cuidado, que tudo
passa com brevidade, embora o teu desejo faça o certo duvidoso e longo o tempo
breve”. ( Exclamações, XV, 3).
Finaliza a mensagem pedindo a intercessão da Virgem Maria, Mãe da Esperança, para que nos acompanhe no caminho quaresmal.
PS: Se desejar, leia na íntegra
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/lent/documents/20250206-messaggio-quaresima2025.html