terça-feira, 11 de março de 2025

Peregrinando na esperança, supliquemos ao Bom Pastor

 


Peregrinando na esperança, supliquemos ao Bom Pastor

Sejamos enriquecidos pelo comentário sobre o Cântico dos Cânticos escrito por São Gregório de Nissa (séc. IV):

“Onde pastoreias, ó Bom Pastor, Tu que carregas sobre Teus ombros a toda a grei? Toda a humanidade, que carregaste sobre os Teus ombros, é, de fato, como uma só ovelha.

Mostra-me o lugar de repouso, guia-me até o pasto nutritivo, chama-me por meu nome para que eu, Tua ovelha, escute a Tua voz, e Tua voz me conceda a vida eterna: Avisa-me, amor de minha alma, onde pastoreias.

Chamo-Te deste modo, porque Teu nome supera qualquer outro nome e qualquer entendimento, de tal forma que nenhum ser racional é capaz de pronunciá-lo ou de compreendê-lo. Este nome, expressão de Tua bondade, expressa o amor de minha alma por Ti.

Como posso deixar de Te amar, a Ti que me amaste tanto, apesar de minha escuridão, que entregaste a Tua vida pelas ovelhas de Teu rebanho? Não se pode imaginar um amor superior a este, o de dar a Tua vida por minha salvação.

Ensina-me, portanto - diz o texto sagrado -, onde pastoreias, para que possa encontrar os pastos saudáveis e saciar-me do alimento celestial que é necessário comer para entrar na vida eterna; para que possa ainda acorrer à fonte que proporcionas aos sedentos com a água que brota de Teu lado, manancial de água aberto pela lança, que se torna para todos os que dele bebem uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

Se me pastoreias desta forma, me farás recostar ao meio-dia, sestearei em paz e descansarei sob a luz sem mistura de sombra. Durante o meio-dia não existe sombra alguma, já que o sol está a cimo; sob esta luz meridiana fazes recostar aos que pastoreaste, ao pores Teus ajudantes contigo em Teu quarto.

Ninguém é considerado digno deste repouso meridiano se não é filho da luz e filho do dia. Mas aquele que se afasta das trevas, tanto das vespertinas como das matutinas, que simbolizam o começo e o fim do mal, é colocado pelo sol de justiça na luz do meio-dia, para que repouse debaixo dela.

Ensina-me, pois, como devo recostar-me e pastar, e qual seja o caminho do repouso meridiano, não aconteça que por ignorância me afaste de Tua direção e me junte a um rebanho estranho ao Teu.

Isto diz a esposa do Cântico, solícita pela beleza que lhe vem de Deus e com o desejo de saber como alcançar a felicidade eterna.” (1)

Como Igreja sinodal, caminhando sempre juntos, façamos nossa esta oração ao Bom Pastor em todos os momentos, sobretudo nos mais adversos.

Grandes são as dificuldades e desafios, maior é a força e onipotência divina que vêm em socorro de nossas fraquezas.

Como peregrinos da esperança, precisamos contar com a presença e a ajuda do Bom Pastor, Jesus, que caminha conosco, e nos convida - “Vinde a mim vós que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso” (Mt 11,28).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 433-434

Os raios do Sol da justiça nos iluminam

                                              

Os raios do Sol da justiça nos iluminam
 
 “Os raios do Sol da Justiça são as virtudes
que d’Ele emanam para iluminar-nos,
 para que rejeitemos as obras das trevas
e caminhemos nobremente como
em pleno dia (cf. Rm 13,13)”
 
Sejamos enriquecidos por esta passagem do Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, do Bispo São Gregório de Nissa (Séc. IV).

“É Ele nossa paz, Ele que de duas coisas fez uma só (Ef 2,14). Ao refletirmos que Cristo é a paz, mostraremos qual o verdadeiro nome do cristão, se pela paz que está em nós expressarmos Cristo por nossa vida. 

Ele destruiu a inimizade (cf. Ef 2,16), como diz o Apóstolo. Não consintamos de modo algum que ela reviva em nós, mas declaremo-la totalmente morta.
 
Não aconteça que, maravilhosamente destruída por Deus para nossa salvação, venhamos, para ruína de nossa alma, cheios de cólera e de lembranças das injúrias, a reerguê-la, quando jazia tão bem morta, chamando-a perversamente de novo à vida.
 
Tendo nós, porém, a Cristo que é a paz, matemos igualmente a inimizade, para que testemunhemos por nossa vida aquilo que cremos existir n’Ele.
 
Se, derrubando a parede intermédia, dos dois criou em Si mesmo um só homem, fazendo a paz, assim também nós, reconciliemo-nos não apenas com aqueles que nos combatem do exterior, mas ainda com os que incitam sedições dentro de nós mesmos.
 
Que a carne não mais tenha desejos contrários ao espírito, nem o espírito contra a carne. Mas submetida a prudência da carne à Lei divina, reedificados como um homem novo e pacífico, de dois feitos um só, tenhamos a paz em nós. 
 
Na paz se define a concórdia dos adversários. Por isto, terminada a guerra intestina de nossa natureza, cultivando a paz, tornamo-nos paz e manifestamos em nós este verdadeiro e próprio nome de Cristo. 
 
Cristo é ainda a luz verdadeira, totalmente estranha à mentira; sabemos então que também nossa vida tem de ser iluminada pelos raios da verdadeira luz.
 
Os raios do Sol da Justiça são as virtudes que d’Ele emanam para iluminar-nos, para que rejeitemos as obras das trevas e caminhemos nobremente como em pleno dia (cf. Rm 13,13).
 
Pelo repúdio de toda ação vergonhosa e escusa, agindo sempre na claridade, tornamo-nos nós também luz e, o que é próprio da luz, resplandeceremos para os outros pelas obras. 
 
Considerando Cristo como santificação, se nos abstivermos de tudo quanto é mau e impuro, seja nas ações, seja nos pensamentos, apareceremos como verdadeiros participantes deste Seu nome, uma vez que, não por palavras, mas pelos atos de nossa vida, manifestamos o poder da santificação.”
 

Oportuna reflexão para o fortalecimento de nossa Fé e a renovação da alegria de sermos batizados, na certeza de que somos moradas do Espírito Santo, e por isto portadores de mensagem de paz e luz.

Bem profetizou Malaquias: “Mas vós que temeis o meu nome, brilhará o Sol de Justiça, que tem a cura em seus raios” (Mal 3,20).
 
Este Sol Nascente (Lc 1,78-79), Sol de Justiça é Cristo Jesus, e somos por Ele enviados a comunicar Sua luz no mundo, porque somos a luz do mundo –“Vós sois a luz do mundo... Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,14.16).
 
Renovemos a alegria pela graça de sermos portadores e comunicadores da luz divina a quantos precisarem, sobretudo nas situações mais adversas e sombrias.
 
Quando a fé é vivida em sua autenticidade, tornamo-nos como que um farol a iluminar não somente nosso caminho, mas o caminho de quantos conheçamos e desta luz precisem e comuniquem.
 
Caminhar sozinhos nos tornaria cegos da luz divina, que se comunica a todos, e nos quer caminhando juntos, solidários, ajudando-nos mutuamente rumo à plenitude da luz divina: céu.

Oremos:

"Deus eterno e todo-poderoso, sobre os povos que vivem na sombra da morte fazei brilhar o Sol da justiça, que nos visitou nascendo das alturas, Jesus Cristo Nosso Senhor, que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo. Amém."
 

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia

                                                    

 

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia
 
Sejamos iluminados pelo Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, escrito pelo bispo São Gregório de Nissa (séc. IV).
 
“São três as coisas que manifestam e distinguem a vida cristã: a ação, a palavra e o pensamento. Das três, tem o primeiro lugar o pensamento. Em seguida, a palavra, que nos revela o pensamento concebido e impresso no espírito.
 
Depois do pensamento e da palavra vem, na ordem, a ação, realizando por fatos o que o espírito pensou.
 
Portanto, se alguma coisa na vida nos induz a agir ou a pensar ou a falar, é necessário que o nosso pensamento, a nossa palavra e a nossa ação sejam orientadas para a regra divina daqueles nomes que descrevem a Cristo, de modo a nada pensarmos, nada dizermos e nada fazermos que se afaste do seu alto significado.
 
Então, o que terá de fazer aquele que se tornou digno do grande nome de Cristo, a não ser examinar diligentemente os próprios pensamentos, palavras e ações, julgando se cada um deles tende para Cristo ou se lhe são estranhos?
 
De muitas maneiras operamos este magnífico discernimento. Tudo quanto fazemos, pensamos ou falamos com alguma perturbação, de nenhum modo está de acordo com Cristo, mas traz a marca e a figura do inimigo, que mistura a lama das perturbações à pérola da alma para deformar e apagar o esplendor da joia preciosa.
 
O que, porém, está livre e puro de toda afeição desordenada, relaciona-se com o Autor e Príncipe da tranquilidade, o Cristo.
 
Quem d’Ele bebe, como de Fonte pura e não poluída, as suas ideias e os seus sentimentos, revelará em si a semelhança com o princípio e a origem, tal como a água na própria fonte é igual a que corre no límpido regato e á que brilha na jarra.
 
De fato, é uma só e mesma a pureza de Cristo e a que se encontra em nossos espíritos. Mas a pureza de Cristo brota da fonte, enquanto a nossa dela flui e chega até nós, trazendo consigo a beleza dos pensamentos para a vida.
 
Portanto, a coerência do homem interior e do exterior aparece harmoniosa, quando os pensamentos que provêm de Cristo guiam e movem a modéstia e a honestidade de nossa vida”. (1)
 
Reflitamos sobre a nossa vida cristã autêntica, para encontramos a perfeita sintonia entre pensamento, palavra e ação, de tal modo que reavivemos e consolidemos nossa vocação e eleição.
 
Procuremos sempre esta perfeita sintonia, de tal modo que quanto maior for, mais autêntica vida cristã, e ressoando as palavras do Bispo, que a “lama das perturbações” não se misture à pérola de nossa alma, apagando o esplendor divino que em nós habita.

O Cardeal Martini (Vida Pastoral nº 266) nos apresenta quatro atitudes que, se verdadeiramente vividas, realizarão a premente necessidade de sintonia   entre o pensar, falar e agir, assegurando-nos criatividade e autenticidade como discípulos missionários de Jesus Cristo:
 
I. A Leitura orante da Bíblia – diariamente, nutrir-se pela Palavra de Deus, para que os pensamentos, por ela, sejam iluminados, expressos em palavras e gestos. O maior bem que se possa desejar e alcançar.
 
II. O autocontrole – a vontade de Deus há de prevalecer sobre as próprias vontades, com disciplina, renúncia, acrisolamento, amadurecimento, despojamento, desprendimento; alcançando o amadurecimento no discipulado, afastando toda possibilidade de esgotamento e vazio existencial.     
 
III. O Silêncio – Mais do que nunca, é necessário afastar-se da insana escravidão do barulho e das conversas, muitas vezes, inúteis e desnecessárias. Dedicar, ao menos, meia hora por dia para o silêncio e meio-dia a cada semana para pensar em si mesmo, refletir e rezar. Aparentemente inviável e impossível, mas é preciso dar o primeiro passo.
 
IV. A Humildade – O Espírito Santo é o verdadeiro protagonista da Evangelização. Há de se ter a consciência de que sem o sopro do Espírito nada somos e nada podemos. Dele procedem todos os dons e a graça para que consigamos viver o que falamos, falar o que pensamos e pensar o que rezamos.
 
A credibilidade da Igreja está relacionada ao seu testemunho do indizível Amor divino, sem incoerências execráveis, na mais perfeita fidelidade Àquele que é a Perfeitíssima Coerência: Cristo Jesus, Nosso Senhor; entranhados em Seu coração e envolvidos pelos laços de Sua indispensável ternura. 
 
A triplicidade vivida é fundamental para o alcance da autêntica felicidade, de modo que, a sua ausência abre espaço para incoerências, infidelidades, contratestemunhos e escândalos, enfraquecendo o conteúdo da Palavra Divina que anunciamos, do Projeto do Reino que acreditamos e do Mistério que celebramos.    
 
Reflitamos:
- Como alcançá-la?
- Qual o caminho para encurtar eventuais distanciamentos entre o que pensamos, falamos e fazemos?
 
Concluo: quer pensemos, quer falemos, quer façamos qualquer coisa, façamos em nome do Senhor Jesus. 
 
A vida cristã será cada vez mais autêntica, quanto mais encurtemos a distância entre o que pensamos, falamos e agimos, sempre dentro dos propósitos do Evangelho, para melhor correspondermos ao que Deus espera de cada um de nós. Amém!
 
  

(1) Liturgia das Horas – Vol. III – pp.354-355.

Em poucas palavras...

                                                      


“O caminho desta perfeição passa pela cruz...”

“O caminho desta perfeição passa pela cruz. Não há santidade sem renúncia e combate espiritual (2 Tm 4). O progresso espiritual implica a ascese e a mortificação, que conduzem gradualmente a viver na paz e na alegria das Bem-Aventuranças: 

«Aquele que sobe, nunca mais para de ir de princípio em princípio, por princípios que não têm fim. Aquele que sobe nunca mais deixa de desejar aquilo que já conhece» (São Gregório de Nissa).” (1)

 

(1)        Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.2015

Em poucas palavras...

                                                     


A perfeição cristã

“«Todos os cristãos [...] são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade» (Lumen Gentium 40). «A perfeição cristã só tem um limite: o de não ter nenhum» (São Gregório de Nissa).” (1)

 

(1)              Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2028

“O cristão, outro Cristo”

                                                        

“O cristão, outro Cristo”

À luz do Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, escrito pelo Bispo São Gregório de Nissa (Séc. IV), reflitamos sobre o ser cristão, como um outro Cristo.

“Paulo sabe quem é Cristo, mais acuradamente do que todos. Com efeito, por suas atitudes mostrou como deve ser quem recebe o nome do Senhor, porque O imitou tão exatamente que revelou em si mesmo o próprio Senhor. Por tal imitação cheia de amor, transferiu seu espírito para o Exemplo, de modo que não mais parecia ser Paulo e sim Cristo, como ele mesmo bem o diz, reconhecendo a graça em si: Quereis uma prova d’Aquele que em mim fala, o Cristo. E mais: Vivo eu, já não eu, mas é Cristo quem vive em mim.

Manifestou então para nós que força possui este nome de Cristo, ao dizer que Cristo é a Virtude de Deus, a Sabedoria de Deus e deu-lhe os nomes de Paz, Luz inacessível onde Deus habita, Expiação, Redenção, máximo Sacerdote e Páscoa, Propiciação pelas almas, Esplendor da glória e Figura de sua substância, Criador dos séculos, Alimento e Bebida espirituais, Pedra e Água, Fundamento da fé e Pedra angular, Imagem do Deus invisível, grande Deus, Cabeça do Corpo da Igreja, Primogênito da nova criação, Primícias dos que adormeceram, Primogênito entre os mortos, Primogênito entre muitos irmãos, Mediador entre Deus e os homens, Filho unigênito coroado de glória e de honra, Senhor da glória, Princípio das coisas e Rei da justiça, e ainda de Rei da paz, Rei de tudo, Possuidor do domínio sobre o Reino que não tem limites.

Com esses e outros nomes do mesmo gênero designou o Cristo, nomes tão numerosos que não se pode contá-los com facilidade. Se forem combinadas e enfeixadas as significações de cada um, eles nos mostrarão o admirável valor e majestade deste nome, Cristo, que é impossível de traduzir-se por palavras, mas pode ser demonstrado, na medida em que conseguimos entendê-lo com nosso espírito.

Por ter a bondade de nosso Senhor nos concedido o primeiro, o maior e o mais divino de todos os nomes, o nome de Cristo, nós somos chamados ‘cristãos’. É necessário, então, que se vejam expressos em nós todos os outros nomes que explicam o nome do Senhor, para não sermos falsamente ditos ‘cristãos’; mas o testemunhemos com nossa vida.

Oremos:

Senhor Jesus Cristo, com o Vosso Espírito, queremos ser cristãos de fato, no autêntico testemunho com a nossa vida: pensamentos, palavras e ações.

Vós que sois a Virtude e Sabedoria de Deus, concedei-nos a graça de, como cristãos que somos, viver as virtudes divinas que nos movem, iluminados pela Divina Sabedoria do Vosso Espírito.

Vós que sois a Paz e Luz inacessível onde Deus habita, cumulai-nos com todos os bens que somente de Vós procedem, porque estais junto do Pai e com o Vosso Espírito.

Vós que sois Expiação, Redenção, máximo Sacerdote e Páscoa, intercedei a Deus por nós, para que sejamos misericordiosos como o Vosso Pai; mortos para o pecado e vivos para Deus.

Vós que sois a Propiciação pelas almas, Esplendor da glória e Figura de sua substância, iluminai com o Vosso Espírito as entranhas mais profundas de nosso coração, para sermos luz do mundo.

Vós que sois Criador dos séculos, Alimento e Bebida espirituais, Pedra e Água, saciai nossa sede e fome de amor, vida e paz, com a água e sangue que jorrou do Vosso lado pela lança aberto.

Senhor Jesus, Vós que sois o Fundamento da fé e Pedra angular, Cabeça do Corpo da Igreja, agradecemos e Vos pedimos a graça de sermos, verdadeiramente, pedras vivas da Igreja, Vosso Corpo Místico.

Senhor Jesus, Vós que sois a Imagem do Deus invisível, grande Deus, Primogênito da nova criação, ajudai-nos a reconhecer a graça de sermos criaturas e templos, obra das mãos divinas.

Senhor Jesus, Vós que sois Primícias dos que adormeceram, Primogênito entre os mortos, Primogênito entre muitos irmãos, conceda-nos um dia a graça da eternidade.

Senhor Jesus, Vós que sois Mediador entre Deus e os homens, Filho unigênito coroado de glória e de honra, Senhor da glória, acolhei junto de Vós todos os que amamos e nos antecederam.

Senhor Jesus, vós que sois o Princípio das coisas e Rei da justiça, Rei da paz e de tudo, Possuidor do domínio sobre o Reino que não tem limites, renovai nossas forças para que nos coloquemos como frágeis instrumentos e enviados Vossos na construção do Reino. Amém.

Somente o Senhor sacia nossa sede de eternidade

                                                      

Somente o Senhor sacia nossa sede de eternidade

Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração,
enquanto não repousa em Ti.”

Sejamos enriquecidos por mais uma das Homilias do Bispo São Gregório de Nissa (séc. IV), na qual nos apresenta Deus como um rochedo inacessível, mas sempre voltado para nós, nas inquietações que nos acompanham, no árduo caminho da fé que fazemos ao Seu encontro, para que um dia O contemplemos face a face.

“O que costuma acontecer a quem do alto de um monte olha para o vasto mar lá embaixo, isto mesmo se dá com o meu espírito em relação à altíssima Palavra do Senhor: dessa altura olho para a inexplicável profundidade de seu sentido.

A mesma vertigem que se pode sentir em alguns lugares da costa, quando se olha desde uma grande elevação a cavaleiro das ondas para o mar profundo, do alto saliente de um penhasco que, do lado do mar, parece cortado pelo meio do vértice até a base mergulhada nas profundezas, sobrevém a meu espírito suspenso à grande Palavra proferida pelo Senhor:

‘Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus’.

Deus Se oferece à visão daqueles que têm o coração purificado. ‘Deus, ninguém jamais O viu’, diz o grande João. Confirma esta asserção, Paulo, aquele espírito sublime: ‘A quem homem algum vê nem pode ver’.

Eis aqui o penhasco, escorregadio, despenhadeiro sem fundo, talhado a pique, que não oferece em si nenhum ponto de apoio para a inteligência da criatura!

O próprio Moisés sentiu-se esmagado pela Palavra: ‘Não há, diz ele, quem veja a Deus e continue a viver’. Ele sentenciou que este penhasco é inacessível, porque nunca nossa mente pode lá chegar, por mais que se esforce por alcançá-Lo, erguendo-se até Ele.

Ora, ver a Deus é gozar a vida eterna. No entanto, que Deus não possa ser visto, as colunas da fé, João, Paulo e Moisés, o afirmam.

Percebes a vertigem que arrasta logo o espírito para as profundezas do conteúdo desta questão?

De fato, se Deus é a vida, quem não vê a Deus não vê a vida. Mas que não se possa ver a Deus, tanto os Profetas quanto os Apóstolos, levados pelo Espírito divino, o atestam. Em que angústias, portanto, se debate a esperança dos homens?

Contudo, o Senhor vem erguer e sustentar a esperança vacilante, assim como fez a Pedro, a ponto de afundar, firmando-o na água tornada resistente ao caminhar, para que ele não se afogasse.

Portanto, se a mão do Verbo se estender para nós, que vacilamos no abismo de nossas especulações, colocando-nos em outra perspectiva, perderemos o medo e, já seguros, abraçaremos o Verbo que nos conduz como que pela mão, dizendo:

‘– Bem-aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus’.”

Ver a Deus consiste no mais sublime desejo que habita nossa alma, como assim o foi na vida de todos os Santos e Santas, e que levou Santo Agostinho a dizer:

– “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti.”

Enquanto isto, importa suplicar ao Senhor, como falou o bispo; que O Senhor estenda Sua mão para que não vacilemos no abismo das especulações inúteis e estéreis, e assim não nos percamos no labirinto das verdades efêmeras, e tão pouco permitamos que nosso coração se curve às paixões que nos afastem da Paixão maior e incondicional, e, assim, nosso coração seja tomado pelo fogo abrasador do Amor de Deus, como rezou o Salmista (Sl 68/69):

“Por vossa causa é que sofri tantos insultos, e o meu rosto se cobriu de confusão; eu me tornei como um estranho a meus irmãos, como estrangeiro para os filhos de minha mãe. Pois meu zelo e meu amor por vossa casa/ me devoram como fogo abrasador.”

Movidos por uma esperança sem vacilos indesejáveis, e firmados numa fé, que nos impulsiona para os compromissos do Reino, na prática da inseparável virtude da caridade, que torna crível nossa fé e não ilusória nossa esperança, rumamos para a eternidade, ao mais belo e desejado dos Encontros.

Que a cada Eucaristia que participarmos, bebamos do Rochedo, que é o próprio Cristo, que nos dá vida nova pelo Batismo e nos sacia com o Sangue jorrado de Seu lado, para nos nutrir neste bom combate da fé, até que possamos merecer receber um dia, a coroa da glória, aos justos reservada.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG