quarta-feira, 12 de março de 2025

Transfiguração do Senhor: da tribulação à glória celestial (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor: da tribulação à glória celestial

Sejamos enriquecidos com um parágrafo do Catecismo da Igreja Católica sobre a Transfiguração do Senhor.

No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a transfiguração. Pelo Batismo de Jesus ‘foi declarado o Mistério da (nossa) primeira regeneração’ – o nosso Batismo; e a Transfiguração ‘est sacramentum secundae regenerationis – é o Sacramento da (nossa) segunda regeneração’ – a nossa própria ressurreição.

Desde agora, nós participamos na Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que atua nos Sacramentos do Corpo de Cristo. A transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, ‘que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o Seu corpo glorioso’ (Fl 3, 21). Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus’ (At 14, 22)”. (1)

No mesmo parágrafo, cita Santo Agostinho, como que o Senhor falando a Pedro na montanha:

“‘Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-Se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-Se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?’” (2)  

Nisto também consiste nossa caminhada quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, como discípulos missionários que somos.

Não podemos fixarm moradas na montanha, mas, com coragem, descermos à planície do cotidiano, renovando fidelidade ao Senhor, Caminho, Verdade e Vida, carregando nossa cruz, até que um dia sejamos merecedores da eternidade. 

Por ora, há um mundo desfigurado, marcado pela fome, enfermidades, desesperança, insegurança, refugiados, aflitos, dependentes químicos, e quanto mais possamos dizer.

Há um mundo, nossa casa comum, que está sendo vilipendiado, destruído, por ambições desmedidas e cuidados não vivenciados.

Nossa casa comum está desfigurada, e transfigurá-la, torná-la mais habitável, é responsabilidade de todos nós, como nos exorta a Campanha da Fraternidade deste ano (2025) com o Tema: “Fraternidade e Ecologia Integral"; e o Lema: "Deus viu que tudo era  muito bom” (Gn 1,31.

É tempo de consolidarmos nossa fé, fazendo a mesma experiência que os discípulos fizeram no Monte Tabor, contemplando o Cristo Transfigurado, com credíveis testemunhas, Moisés e Elias, porque Ele, Jesus, é a plena realização da Lei e da profecia, nestes simbolizados.

Por ora, o combate, o antegozo das alegrias do Reino, até que possamos vivê-las plenamente, com toda intensidade.



(1) (2) Catecismo da Igreja Católica n.556 - Santo Agostinho – Sermão 78,6; PL 38,492-493.

Transfiguração do Senhor: Escutemos o Filho Amado (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor: Escutemos o Filho Amado

O Tempo da Quaresma se constitui num tempo favorável para ouvirmos o Filho Amado, que se transfigura gloriosamente na montanha e nos envia em missão na árdua planície do cotidiano.

Somente contemplando e ouvindo o Filho Amado, somente acolhendo no mais profundo de nós o que Deus tem a nos dizer, e carregando nossa cruz na planície corajosamente, é que o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor acontecerá em nossa vida.

Fiéis à voz do Filho Amado, vivenciando os exercícios quaresmais que pela Igreja nos são propostos (Oração, jejum e esmola), solidificamos uma caminhada de alegria, de fé e de muita esperança, onde cada um faz uma descoberta de si e, sobretudo, do amor de Deus, que se revela surpreendentemente muito maior do que o nosso coração, como nos falou o Apóstolo João (1Jo 3,20).

Revigorar a fé inspirado no exemplo dos Santos e Mártires de nossa Igreja; não podemos jamais olvidar de nossos sagrados compromissos do testemunho da fé viva e enraizada no chão fértil e ao mesmo tempo desafiador da realidade.

Ouvindo o Filho Amado, multipliquemos Orações, para que o Papa Francisco conduza a Igreja nesta longa travessia do mar agitado da história, com suas turbulências e provações. Que o Espírito do Senhor continue pousando sobre ele, para que, com Sabedoria e atento aos sinais dos tempos, sobretudo, neste difícil contexto de mudança de época, cuide do rebanho por Cristo a ele confiado, fiel em sua missão Evangelizadora.

Viver e Celebrar a Quaresma e seu ápice que é a  Semana Santa com todo ardor, com todo empenho e dedicação, para que, na madrugada da Ressurreição, irrompa a luz gloriosa do Ressuscitado e digamos com o Apóstolo Paulo:

Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova, o mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17), e cantaremos alegremente o grande Aleluia Pascal.  

Transfiguração do Senhor: coragem para o discipulado (IIDTQC)

 



Transfiguração do Senhor: coragem para o discipulado


 “Este é o meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9,7)

No sábado da sexta Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9, 2-13), que nos fala da Transfiguração do Senhor, um momento fundamental na vida do discípulo missionário, vivido pelos três apóstolos (João, Pedro e Tiago).

Deste modo, contemplar a Transfiguração do Senhor, é renovar compromissos sagrados. E dentre eles:

- recuperar as energias indo à Fonte das fontes, Jesus; nutrir pela  Sua Palavra, alimentar-se com o Pão da Imortalidade, inebriar a alma com a Verdadeira Bebida; Corpo e Sangue do Senhor; e deste modo comungamos a Palavra que se faz Pão, trigo que se faz Pão, vinho que se faz Sangue de Redenção;

- tempo de nos tornarmos amigos da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, sempre acompanhados da mudança, da transformação e da conversão, que deve acontecer primeiramente em nosso coração (Fl 3,17-4,1);

- redimensionar a nossa vida a partir da provisoriedade e precariedade de nosso corpo, até que possamos receber, na Ressurreição, um corpo glorioso, um corpo celestial, uma morada eterna;

- sentir antecipadamente a alegria da Vitória Pascal, que passa pela obediência ao Pai e a fidelidade no carregar da cruz, como nos revela a Transfiguração do Senhor (Lc 9,28b-36);

- silenciar e afastar de todos os ruídos que nos distraiam e não nos possibilitem a escuta do Filho muito amado, que tem sempre algo de muitíssimo especial para nos dizer, para felizes, plenos de vida e realizados sermos;

- contemplar a presença do Senhor, ao subir a Montanha, escutá-Lo atentamente, descer à planície e testemunhar Sua Palavra com nossa vida;

- renovar a graça de sermos “cidadãos dos céus”, uma vez que como cristãos, estamos no mundo, mas não somos do mundo, como vemos nos primeiros ensinamentos da Igreja;

- subir ao Monte Santo para contemplar Cristo Glorioso e Transfigurado, mas também de corajosamente descer a montanha e renovar compromissos solidários com os “Cristos” desfigurados que clamam por vida, alegria, dignidade, amor e paz;

- subir e descer: subir ao Monte Sagrado para revitalização da graça divina para a fé, esperança e caridade; na planície, viver confiantes sempre no Senhor,  testemunhando que conhecemos e cremos em Alguém que transformou e transforma continuamente a nossa vida.

Este Alguém é Jesus, que nos acolhe com nossos cansaços, dificuldades, debilidades, imperfeições, limitações inerentes ao ser humano.

Jesus ama a cada um de nós como somos para nos fazer melhores, para nos aperfeiçoar, para que a imagem de Deus possa transparecer em nosso olhar, em nossas atitudes, palavras, pensamentos; para que transpareça que há Alguém que faz morada no mais profundo de nós e nos acompanha em todo instante.

Fontes: cf. Dn 7,9-10.13-14; Mt 17,1–9, Mc 9,2–8; Lc 9,28–36; 2 Pd 1,16-19

 

Quaresma: sejamos transformados por Jesus Cristo (IIDTQC)

Quaresma: sejamos transformados por Jesus Cristo

Enriquecedora a reflexão do Frei Raniero Cantalamessa sobre o Mistério da Transfiguração do Senhor, que nos convida a conhecer, imitar e viver em Comunhão com Cristo, como veremos.

O Conhecimento de Cristo:
"O exemplo mais claro da paixão pelo conhecimento de Cristo é o mesmo Apóstolo Paulo. Não tendo conhecido Jesus ‘segundo a carne’, ele concebeu um desejo ainda mais ardente para descobrir o Mistério do Mestre que lhe aparecera ressuscitado.

Em um trecho escreve: Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas em comparação com este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo (Fl 3,7-8); Paulo se aprofundou no conhecimento de Cristo ficando sempre mais surpreso pelas ‘suas insondáveis riquezas’.

Nós também deveríamos conceber uma nova paixão para conhecer Jesus, uma vontade ardente de ouvir falar d’Ele, julgar – como dizia São Bernardo – sem sabor o que não é condimentado com Jesus. Isto nos deveria levar a um relacionamento pessoal vivo e verdadeiro com o Mestre: Jesus visto não mais como uma memória histórica ou personagem, mas como uma pessoa para nós, amigo, como nós somos amigos d’Ele. Dentro do coração deveria nascer o orgulho de ser reconhecidos, no mundo de hoje, como discípulos de Jesus de Nazaré.

Mas como conseguir tal conhecimento vivo de Jesus? Um meio é o da leitura e da escuta assídua de testemunhos apostólicos na Igreja (magistério dos Bispos, teologia); depois o estudo, sobretudo o estudo da Sagrada Escritura: ‘a Lei’ (isto é, o AT), dizia Santo Agostinho, ‘está grávida de Cristo’; de outra parte, Jesus é a chave para compreender toda a Bíblia; sem Ele, ela permanece como coberta por um véu (cf. 2 Cor 3,15ss)." (1) 

A Imitação de Cristo:
"O conhecimento de Jesus é em vista da imitação de Jesus; o próprio Pai no Evangelho de hoje (Lc 9,28b-36) nos convida a seguir Jesus dizendo: Escutai-O! A Cruz ocupa um lugar muito especial neste caminho de imitação; é a chave de tudo e há uma relação direta entre ela e nossa transfiguração em Cristo: Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. (Gl 2,19-20). Tornar-se ‘conformes a Jesus na morte’ é o caminho para ‘alcançar a ressurreição dos mortos’, isto é, nossa transfiguração n’Ele (Fl 3,10-11).

A imitação de Jesus deve ser espiritual, não literal; deve chegar até a intimidade de Jesus, até ter os mesmos sentimentos que estavam em Cristo Jesus (cf. Fl 2,5): tornar-se alguém que seja como Jesus, que permanece diante do Pai em humildade e obediência como Jesus: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29)." (2) 

A Comunhão com Cristo:
"Qual é o sentido do esforço que fazemos para conhecer e imitar Jesus Cristo? Talvez aquele de conseguir, desse modo, por nosso mérito, a transformação em Cristo? Absolutamente, não! Mas eu me empenho em conquistá-la – diz Paulo -, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo (Fl 3,12). Nosso esforço é necessário porque Deus quer construir com nossa liberdade; não quer nos salvar sem nossa colaboração, como Ele nos criou sem nossa colaboração.

Todavia não é a nossa vontade de nos salvar que nos salva, mas a vontade de Deus; em outras palavras, a graça: Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus (Ef 2,8); É Ele que nos reveste com o manto da Salvação (cf. Is 61,10), como revestiu o filho pródigo com a veste nova, com o anel no dedo e sandálias nos pés.

Com nossas forças, apenas ficamos nus e descalços. Nós só podemos encher as talhas de água; só Jesus Cristo, com Seu Espírito, pode transformar a água em vinho, isto é, o esforço da imitação em comunhão de vida com Ele.

Tal comunhão de vida com Cristo encontra seu ápice num Sacramento: a Eucaristia. Ela é o Sacramento por excelência de nossa transfiguração em Cristo. Aparentemente, somos nós que, na Eucaristia, recebemos a Cristo e o assimilamos em nós; na realidade, é Ele que assimila a nós n’Ele: Assim como o Pai que me enviou vive, e Eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim (Jo 6,57). É o princípio vital mais forte que assimila o mais fraco: o vegetal assimila o mineral, o animal assimila o vegetal, o espiritual – divino – assimila o humano. ‘O efeito da Eucaristia é nos tornar aquilo que comemos’ (São Leão Magno); ‘Não é tu que me assimilarás – diz o Senhor – mas Eu que assimilarei a ti’ (Santo Agostinho).” (3)

Reflitamos:

Ser transformado por Jesus Cristo é amar os irmãos e dar a própria vida por eles: o próprio tempo, o afeto, a competência, os bens materiais.

Ser por Ele transformado é deixar-se envolver e seduzir apaixonadamente pelo Reino; de modo que nada coloca acima do Reino.

Ser por Ele transformado é estar disposto a doar tudo sem exigir nenhuma recompensa, a não ser a pura e simples amizade com Ele.

Ser por Ele transformado é não ter atitude de mercenário sempre à espera de um pagamento ou recompensa; porque vive a gratuidade naquilo que faz bem ao próximo.

Para ser por Jesus transformado é preciso conhecê-Lo, imitá-Lo e estar em comunhão com Ele.

Seja a Quaresma este Tempo favorável de graça, reconciliação e conversão, para que vivendo o Mistério da Paixão e Morte do Senhor, a Ele perfeitamente configurados e unidos pela fé, tenhamos a graça e a alegria de celebrar a Sua Gloriosa Ressurreição.


(1); (2); (3) O Verbo Se Faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 – p.535-536

Atentos à voz do Filho amado, na vida de fé jamais recuar (IIDTQC)

Atentos à voz do Filho amado, na vida de fé jamais recuar

No 2º Domingo da Quaresma, dando mais um passo em nosso itinerário Quaresmal, refletimos o momento fundamental na vida dos discípulos: a Transfiguração do Senhor.

É necessário revigorar nossas forças no carregar da cruz, renovando e fortalecendo compromissos com os desfigurados, na escuta do Filho Amado do Pai, transfigurando a realidade pessoal, familiar, eclesial e social, na qual estamos inseridos.

Precisamos reavivar sempre a chama, que em cada coração foi acesa no dia do Batismo (2Tm 1,6), de quem O encontrou, O ouviu e por Ele foi amado para viver a tríplice missão da Igreja e do Pastor: santificar, ensinar e governar a Igreja.

É tempo de percebermos o que está bom ou não, e não medir esforços para melhorar, corrigir, aperfeiçoar, avançar. Naquilo que está bom, recuar jamais e, no que nos desafia, avançar, buscar saídas.

Como afirmou o Papa Bento XVI em uma de suas mensagens para a Quaresma, “na vida de fé, quem não avança, recua”.

Com a força do Espírito, é tempo de nos empenharmos na transformação dos sinais de morte em sinais de vida, uma vez que, mais do que nunca, a cidade e seus inúmeros desafios estão em nossa mente e coração.

Como Igreja em estado permanente de missão, sair e ir ao encontro dos que estão indiferentes ou até mesmo afastados.

Continuemos em direção à cruz, carregando-a com coragem, com imprescindíveis renúncias, despojamentos, amadurecimentos, somente assim alcançaremos a glória da eternidade.

Há um mundo desfigurado, triste, enfermo, mergulhado no pecado, que precisa ser transfigurado. Que a experiência do Monte Tabor, a contemplação do Cristo Glorioso, Transfigurado, d’Aquele que deu pleno cumprimento à Lei e à Profecia (Moisés e Elias), seja um momento de esplendor da luz divina.

Que toda a Igreja, na atenta escuta da Palavra do Filho Amado do Pai, na montanha do recolhimento, silêncio e Oração, na planície do cotidiano a coloquemos em prática, pois “nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Ceús...” (Mt 7,21). 

terça-feira, 11 de março de 2025

Peregrinando na esperança, supliquemos ao Bom Pastor

 


Peregrinando na esperança, supliquemos ao Bom Pastor

Sejamos enriquecidos pelo comentário sobre o Cântico dos Cânticos escrito por São Gregório de Nissa (séc. IV):

“Onde pastoreias, ó Bom Pastor, Tu que carregas sobre Teus ombros a toda a grei? Toda a humanidade, que carregaste sobre os Teus ombros, é, de fato, como uma só ovelha.

Mostra-me o lugar de repouso, guia-me até o pasto nutritivo, chama-me por meu nome para que eu, Tua ovelha, escute a Tua voz, e Tua voz me conceda a vida eterna: Avisa-me, amor de minha alma, onde pastoreias.

Chamo-Te deste modo, porque Teu nome supera qualquer outro nome e qualquer entendimento, de tal forma que nenhum ser racional é capaz de pronunciá-lo ou de compreendê-lo. Este nome, expressão de Tua bondade, expressa o amor de minha alma por Ti.

Como posso deixar de Te amar, a Ti que me amaste tanto, apesar de minha escuridão, que entregaste a Tua vida pelas ovelhas de Teu rebanho? Não se pode imaginar um amor superior a este, o de dar a Tua vida por minha salvação.

Ensina-me, portanto - diz o texto sagrado -, onde pastoreias, para que possa encontrar os pastos saudáveis e saciar-me do alimento celestial que é necessário comer para entrar na vida eterna; para que possa ainda acorrer à fonte que proporcionas aos sedentos com a água que brota de Teu lado, manancial de água aberto pela lança, que se torna para todos os que dele bebem uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

Se me pastoreias desta forma, me farás recostar ao meio-dia, sestearei em paz e descansarei sob a luz sem mistura de sombra. Durante o meio-dia não existe sombra alguma, já que o sol está a cimo; sob esta luz meridiana fazes recostar aos que pastoreaste, ao pores Teus ajudantes contigo em Teu quarto.

Ninguém é considerado digno deste repouso meridiano se não é filho da luz e filho do dia. Mas aquele que se afasta das trevas, tanto das vespertinas como das matutinas, que simbolizam o começo e o fim do mal, é colocado pelo sol de justiça na luz do meio-dia, para que repouse debaixo dela.

Ensina-me, pois, como devo recostar-me e pastar, e qual seja o caminho do repouso meridiano, não aconteça que por ignorância me afaste de Tua direção e me junte a um rebanho estranho ao Teu.

Isto diz a esposa do Cântico, solícita pela beleza que lhe vem de Deus e com o desejo de saber como alcançar a felicidade eterna.” (1)

Como Igreja sinodal, caminhando sempre juntos, façamos nossa esta oração ao Bom Pastor em todos os momentos, sobretudo nos mais adversos.

Grandes são as dificuldades e desafios, maior é a força e onipotência divina que vêm em socorro de nossas fraquezas.

Como peregrinos da esperança, precisamos contar com a presença e a ajuda do Bom Pastor, Jesus, que caminha conosco, e nos convida - “Vinde a mim vós que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso” (Mt 11,28).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 433-434

Os raios do Sol da justiça nos iluminam

                                              

Os raios do Sol da justiça nos iluminam
 
 “Os raios do Sol da Justiça são as virtudes
que d’Ele emanam para iluminar-nos,
 para que rejeitemos as obras das trevas
e caminhemos nobremente como
em pleno dia (cf. Rm 13,13)”
 
Sejamos enriquecidos por esta passagem do Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, do Bispo São Gregório de Nissa (Séc. IV).

“É Ele nossa paz, Ele que de duas coisas fez uma só (Ef 2,14). Ao refletirmos que Cristo é a paz, mostraremos qual o verdadeiro nome do cristão, se pela paz que está em nós expressarmos Cristo por nossa vida. 

Ele destruiu a inimizade (cf. Ef 2,16), como diz o Apóstolo. Não consintamos de modo algum que ela reviva em nós, mas declaremo-la totalmente morta.
 
Não aconteça que, maravilhosamente destruída por Deus para nossa salvação, venhamos, para ruína de nossa alma, cheios de cólera e de lembranças das injúrias, a reerguê-la, quando jazia tão bem morta, chamando-a perversamente de novo à vida.
 
Tendo nós, porém, a Cristo que é a paz, matemos igualmente a inimizade, para que testemunhemos por nossa vida aquilo que cremos existir n’Ele.
 
Se, derrubando a parede intermédia, dos dois criou em Si mesmo um só homem, fazendo a paz, assim também nós, reconciliemo-nos não apenas com aqueles que nos combatem do exterior, mas ainda com os que incitam sedições dentro de nós mesmos.
 
Que a carne não mais tenha desejos contrários ao espírito, nem o espírito contra a carne. Mas submetida a prudência da carne à Lei divina, reedificados como um homem novo e pacífico, de dois feitos um só, tenhamos a paz em nós. 
 
Na paz se define a concórdia dos adversários. Por isto, terminada a guerra intestina de nossa natureza, cultivando a paz, tornamo-nos paz e manifestamos em nós este verdadeiro e próprio nome de Cristo. 
 
Cristo é ainda a luz verdadeira, totalmente estranha à mentira; sabemos então que também nossa vida tem de ser iluminada pelos raios da verdadeira luz.
 
Os raios do Sol da Justiça são as virtudes que d’Ele emanam para iluminar-nos, para que rejeitemos as obras das trevas e caminhemos nobremente como em pleno dia (cf. Rm 13,13).
 
Pelo repúdio de toda ação vergonhosa e escusa, agindo sempre na claridade, tornamo-nos nós também luz e, o que é próprio da luz, resplandeceremos para os outros pelas obras. 
 
Considerando Cristo como santificação, se nos abstivermos de tudo quanto é mau e impuro, seja nas ações, seja nos pensamentos, apareceremos como verdadeiros participantes deste Seu nome, uma vez que, não por palavras, mas pelos atos de nossa vida, manifestamos o poder da santificação.”
 

Oportuna reflexão para o fortalecimento de nossa Fé e a renovação da alegria de sermos batizados, na certeza de que somos moradas do Espírito Santo, e por isto portadores de mensagem de paz e luz.

Bem profetizou Malaquias: “Mas vós que temeis o meu nome, brilhará o Sol de Justiça, que tem a cura em seus raios” (Mal 3,20).
 
Este Sol Nascente (Lc 1,78-79), Sol de Justiça é Cristo Jesus, e somos por Ele enviados a comunicar Sua luz no mundo, porque somos a luz do mundo –“Vós sois a luz do mundo... Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,14.16).
 
Renovemos a alegria pela graça de sermos portadores e comunicadores da luz divina a quantos precisarem, sobretudo nas situações mais adversas e sombrias.
 
Quando a fé é vivida em sua autenticidade, tornamo-nos como que um farol a iluminar não somente nosso caminho, mas o caminho de quantos conheçamos e desta luz precisem e comuniquem.
 
Caminhar sozinhos nos tornaria cegos da luz divina, que se comunica a todos, e nos quer caminhando juntos, solidários, ajudando-nos mutuamente rumo à plenitude da luz divina: céu.

Oremos:

"Deus eterno e todo-poderoso, sobre os povos que vivem na sombra da morte fazei brilhar o Sol da justiça, que nos visitou nascendo das alturas, Jesus Cristo Nosso Senhor, que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo. Amém."
 

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