terça-feira, 11 de março de 2025

Fixemos nossos olhos no Senhor

                                                                    


Fixemos nossos olhos no Senhor

 “Diz-se que o sábio tem olhos na cabeça,
 enquanto o insensato caminha no escuro” (Ecl 2,14)

Com esta Homilia, o Bispo São Gregório de Nissa (séc. IV),  reflete  sobre este versículo da Bíblia, que encontramos no Livro do Eclesiastes.

“Se a alma levantar os olhos para sua cabeça, que é Cristo – conforme comparação de Paulo – considere-se feliz pela viva agudeza de seu olhar, porquanto tem os olhos ali onde não existe a escuridão do mal. O grande Paulo, e quem quer que seja igualmente grande, tem os olhos na cabeça, como também os tem todos os que vivem, se movem e são em Cristo. Pois como não é possível que veja trevas quem está na luz, também não pode acontecer que quem tem olhos em Cristo, os fixe em alguma coisa vã.

Quem, pois, tem os olhos na cabeça, entendendo cabeça por princípio de tudo, tem olhos em toda virtude (Cristo é a virtude absoluta e perfeita), na verdade, na justiça, na incorruptibilidade, em todo bem. Os olhos do sábio estão em sua cabeça; o insensato, porém, caminha nas trevas. Quem não põe sua lâmpada sobre o candelabro, mas coloca-a debaixo do leito, faz com que a luz seja trevas.

Ao contrário, quão numerosos são aqueles que, por suas lutas, se enriquecem com as realidades supremas, vivem na contemplação da verdade e, no entanto, são tidos por cegos e inúteis, tais como Paulo a gloriar-se, dizendo-se insensato por causa de Cristo. A prudência e sabedoria dele não se preocupavam nunca com aquilo que é objeto de nossos cuidados. Diz ele: Nós, estultos por Cristo, como se dissesse: ‘Nós, cegos em relação às coisas daqui de baixo, porque olhamos para cima e temos os olhos na cabeça’. Por este motivo era sem teto e sem mesa, pobre, peregrino, nu, sofrendo fome e sede.

Quem não o julgaria infeliz, vendo-o preso e açoitado como um infame, após o naufrágio, ser levado pelas ondas do mar alto, e conduzido daqui para ali em cadeias? E, no entanto, embora tratado desta maneira entre os homens, não despregou os olhos, mantendo-os sempre em Cristo, Cabeça e dizia: ‘Quem nos separará da caridade de Cristo, que está em Cristo Jesus? aflição, angústia, perseguição, fome, nudez, perigos, espada’? Como se dissesse: ’Quem arrancará meus olhos da Cabeça e os voltará para aquilo que se calca aos pés?’ A nós também nos exorta a agir de modo semelhante quando ordena ter gosto pelas coisas do alto; não é isto o mesmo que dizer termos os olhos em Cristo, Cabeça?”

Como discípulos missionários pela adesão ao Senhor, Sua Palavra e Projeto, temos que manter sempre os filhos fixos n’Ele, para jamais recuarmos na vida de fé.

Com os olhos fixos no Senhor, sentiremos a Sua presença em todos os momentos, como testemunhou o Apóstolo Paulo e tantos outros, ao longo da história.

Com os olhos fixos no Senhor, na plena fidelidade a Ele, não caminharemos nas trevas, mas teremos a Luz da Vida (cf. Jo 8,12), e assim poderemos ser testemunhas desta Luz que ilumina toda a humanidade. 

A força da oração

                                                       

A força da oração

Sobre a oração, sejamos enriquecidos por um trecho dos escritos de São Gregório de Nissa, Doutor da Igreja (séc IV):

“...Afasta-se de Deus quem não se une a Ele na oração. Portanto, o primeiro que deveis aprender sobre a oração é isto: que se deve orar sempre sem desanimar-se. Pois mediante a oração conseguimos estar com Deus. E aquele que com Deus está, longe do inimigo está.

A oração é a base e o escudo da honestidade, o freio da ira, o sedativo e o controle da soberba.

A oração é o selo da virgindade, garantia da fidelidade conjugal, esperança dos que vigiam, fertilidade dos agricultores, salvação dos navegantes.

E penso que mesmo que nós passássemos toda  a vida conversando com Deus, orando e dando-lhe graças, estaríamos tão longe de recompensá-Lo como merece, como se em nenhum momento tivéssemos abrigado o propósito de recompensar ao nosso benfeitor”.

Assim entendida, a oração torna-se para nós elevação da alma, e não como fuga do tempo presente e seus desafios.

Oração é a força recebida, para que firmemos nossos passos em incondicional fidelidade ao Senhor, como discípulos missionários que o somos, com as renúncias cotidianas necessárias, para também o carregar cotidiano de nossa cruz, na vivência da solidariedade de uns para com os outros, quando ela se tornar mais pesada.

Oração assim é indispensável na travessia do mar da vida, para que enfrentemos as tempestades e ventos contrários das adversidades, tristezas, decepções, que são, por vezes, elementos constitutivos de nossa existência.

Enfim, oração é sempre um colocar-se diante de Deus, que faz novas todas as coisas, por meio do Seu Espírito, e renovar nossa fidelidade a Jesus Cristo, que nos chamou e nos enviou em missão, para que esta continuemos.

Que seria de nós se Deus não houvesse nos concedido a graça de dialogarmos com Ele?

E é nisto que consiste a verdadeira oração: dialogar pressupõe que não apenas falemos a Deus nossas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, mas também sejamos abertos e atentos ao que Ele tem a nos dizer, e de modo especial para que venhamos a realizar, e se preciso, rumos, pensamentos e atitudes novas sempre buscar, maior correspondência de amor a Ele viver, e felizes e plenos de vida agora e sempre sermos. Amém.



Lecionário Patrístico Dominical – Editora  Vozes - 2013 - p.737

Nada podemos sem a Palavra do Senhor

                                                   


Nada podemos sem a Palavra do Senhor

“A Palavra de Deus é substância vital de nossa alma;
ela a alimenta, a apascenta e a governa e não há outra coisa,
fora da Palavra de Deus, que possa viver a alma do homem” (1)

Senhor, convosco aprendemos que nos momentos de tentação, só há um meio para não cair: agarrar-se firmemente à Palavra de Deus rico em misericórdia, como Vós fizestes.

Senhor, Vos pedimos que esta Palavra esteja sempre junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, iluminando nossos caminhos.

Senhor, que acreditemos incondicionalmente em Vós, que conosco estais, Ressuscitado dos mortos, e que quando invocamos o Vosso Nome, somos ouvidos e atendidos.

Senhor, somos membros do Vosso Povo, nascido de um grupo de arameus errantes, do qual o Pai Vos  pusestes à frente para conduzir até Ele, na glória da eternidade.

Senhor, cremos que jamais seremos vencidos se permanecermos unidos a Vós, videira divina do Pai, nutridos perenemente com a Seiva do Santo Espírito, a Seiva do Amor.

Senhor, convosco queremos viver a Quaresma, como tempo favorável de nossa salvação, crendo que ela não é um presente que nós a Deus fazemos; mas, antes, um presente que por amor uno e trino, Deus nos oferece. (2)

Portanto, Senhor, conduzi-nos nesta viagem espiritual da Quaresma para a Vossa Páscoa, da qual a Eucaristia é, simultaneamente, memorial e penhor. Amém.


Fonte inspiradora: Missal Dominical e Quotidiano – Ed. Paulus – Lisboa p.301.
(1)         Santo Ambrósio, Exp. Os 118, 11,29).
(2)        O Verbo Se faz carne – Raniero Cantalamessa. - Editora  Ave Maria - 2013 - p.532 – 

Em poucas palavras...

                                                  


A Oração dominical

“«A oração dominical é verdadeiramente o resumo de todo o Evangelho»(Tertuliano). «Depois de o Senhor nos ter legado esta fórmula de oração, acrescentou ‘Pedi e recebereis’ (Jo 16, 24).  Cada um pode, portanto, dirigir ao céu diversas orações segundo as suas necessidades, mas começando sempre pela oração do Senhor, que continua a ser a oração fundamental» (Tertuliano).”  (1)

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.2761 - sobre a Oração do "Pai-Nosso"


No “Pai-Nosso”, tudo que precisamos, encontramos

                                                      


No “Pai-Nosso”, tudo que precisamos, encontramos

Sejamos enriquecidos por este texto da Carta a Proba, de Santo Agostinho, bispo (Séc. V), sobre a oração do “Pai-Nosso”.

Quem diz, por exemplo: Sê glorificado em todos os povos, assim como foste glorificado em nós (Eclo 36,3) e: Sejam reconhecidos fiéis os Teus profetas (Eclo 36,15), o que diz senão: Santificado seja o Teu nome?

Quem diz: Deus dos exércitos, converte-nos e mostra Tua face e seremos salvos (Sl 79,4), o que diz senão: Venha o Teu reino?

Quem diz: Orienta meus caminhos segundo Tua palavra e nenhuma iniquidade me dominará (Sl 118,133), o que diz senão: Seja feita Tua vontade assim na terra como no céu?

Quem diz: Não me dês indigência nem riquezas (Pr 30,8) o que diz senão: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje?

Quem diz: Lembra-Te, Senhor, de Davi e de sua mansidão (Sl 131,1) ou Senhor, se assim agi, se há iniquidade em minhas mãos, se paguei o bem com o mal (cf. Sl 7,14), o que diz senão: Perdoa nossas dívidas assim como perdoamos a nossos devedores?

Quem diz: Arrebata-me de meus inimigos, ó Deus, e dos que se levantam contra mim liberta-me (Sl 58,2), o que diz senão: Livra-nos do mal?

E se percorreres todas as palavras das santas preces, em meu parecer, nada encontrarás que não esteja contido nesta oração dominical ou que ela não encerre. Por isto cada qual ao orar é livre de dizer estas ou aquelas palavras, mas não pode sentir-se livre de dizer coisa diferente.

Sem a menor dúvida, é isso que devemos pedir na oração, por nós, pelos nossos, pelos estranhos e até pelos inimigos; uma coisa para este, outra para aquele, conforme o parentesco mais próximo ou mais afastado, segundo brote ou inspire o sentimento no coração do orante.

Sabes, agora, assim penso, não apenas como rezar, mas o que rezar; não fui eu o mestre, mas aquele que se dignou ensinar-nos a todos nós.

A vida feliz, a ela temos de tender, temos de pedi-la ao Senhor Deus. O que seja ser feliz tem sido muito e por muitos discutido. Nós, porém, para que irmos atrás de muitos e de muitas coisas?

Na Escritura de Deus, com toda a verdade e concisão, se diz: Feliz o povo que tem por Senhor o próprio Deus (Sl 143,15). Para sermos deste povo, chegar a contemplar a Deus e com ele viver sem fim, a meta do preceito é a caridade com um coração puro, consciência boa e fé sem hipocrisia (cf. 1Tm 1,5).

Nestes três objetivos, a esperança corresponde à boa consciência. Portanto a fé, a esperança e a caridade levam a Deus o orante, aquele que crê, que espera, que deseja e que presta atenção ao que pede ao Senhor na oração dominical.”

De fato, nada encontraremos que não esteja contido na oração do Senhor, o “Pai Nosso” (cf. Mt 6,7-15; Lc 11,1-4).

Portanto, devemos rezá-la sempre com amor e confiança, procurando viver o que rezamos no cotidiano, nas pequenas e grandes ações de nossas vidas.

“Pai Nosso que estais nos céus...”

Rezar o "Pai-Nosso" e deixar-se envolver pela ternura divina

                                                          

Rezar o "Pai-Nosso" e deixar-se envolver pela ternura divina

O "Pai-Nosso" deve ser rezado com toda a confiança e sinceridade, uma oração sincera, pura, dialogal, confiante e frutuosa, que nos coloca numa relação filial para com Deus e de irmãos entre nós.

Jesus, na passagem do Evangelho (Lc 11,1-4; Mt 6,7-15), ensina-nos a rezar, de modo que a Oração daquele que crê, deve ser um diálogo confiante, como uma criança em relação ao pai.

Para Jesus, a Oração é o espaço do encontro pessoal e íntimo com o Pai e o momento fundamental para o discernimento de Sua Vontade, de Seu Projeto a ser realizado.

A caminho de Jerusalém, nos ensina a força e a importância da Oração na vida dos Seus seguidores, assim como foi fundamental em todos os grandes momentos decisivos do próprio Jesus, como tão bem nos apresenta o Evangelista Lucas na Eleição dos Doze (Lc 6,12); antes do primeiro anúncio da Paixão (Lc 9,18); na Transfiguração (Lc 9,28-29); após o regresso dos discípulos da missão (Lc 10,21); na última Ceia (Lc 22,32); no Getsemani (Lc 22,40-46); na Cruz (Lc  23, 34-46).

Jesus nos ensina a Oração do Pai Nosso e nos coloca em atitude de diálogo com o Pai, como filhos, e ao mesmo tempo nos põe no caminho da realização do Seu Plano, na construção de um mundo novo, numa comunhão fraterna a ser construída cotidianamente.

Quanto ao conteúdo:

“Santificado seja o Vosso nome” – que Deus Se manifeste como Salvador aos olhos de todos, através de nossa conduta, marcada pela justiça, bondade e santidade;

“Venha o Vosso Reino” – que o mundo novo proposto por Jesus se torne uma realidade na vida da humanidade – Reino de amor, verdade, justiça e liberdade...

“O pão de cada dia” – Deus nos concede o essencial para vivermos. Oferece o pão material, mas acima de tudo o Pão espiritual. Com Deus nada nos falta. Ele nos dá o próprio Filho, o Pão da Vida que sacia a fome e a sede da humanidade: amor, alegria, perdão, comunhão, fraternidade...

“Perdão dos pecados” – sem a experiência da misericórdia divina, somos incapazes de perdoar e pedir perdão. Acolhidos pela misericórdia e por ela perdoados, para também acolher e perdoar o irmão que pecou contra nós.

“Não nos deixeis cair em tentação” – que nosso coração não seja seduzido por felicidades ilusórias e transitórias, mas que pautemos a nossa vida na busca da felicidade duradoura, eterna, a fim de que tenhamos vida plena e feliz.

A Oração do Pai Nosso, em síntese, pode ser assim apresentada:

Que Deus seja reconhecido como Deus: um Pai misericordioso e nos trata como filhos. 

É um Projeto de Amor que Deus tem para a humanidade com três pedidos fundamentais: pão para viver; perdão para amar e liberdade para ficar de pé e pôr-se sempre a caminho. 

Na Escola de Jesus aprendemos a rezar verdadeiramente, em forma e conteúdo. A Oração que Jesus ensina, transforma a vida de quem a reza e põe em prática; portanto, não podemos repetir a Sua Oração, sem saborearmos Palavra por Palavra de seu conteúdo vital e irradiador de alegria e luz, que plenifica com a Sua vida e a Sua graça, porque feita sob a ação e presença do Espírito, dirigida confiantemente ao Pai.

Uma Oração verdadeira precisa ser essencialmente Trinitária, nos inserindo nesta comunhão intensa e profunda de Amor.

Com isto, a Oração é, em sua exata medida, um diálogo intenso, profundo com a Trindade Santa, que nos envolve pela presença e ternura divinas.

A mais bela súplica: Envia, Senhor, o Teu Espírito!

                                             

 

A mais bela súplica: Envia, Senhor, o Teu Espírito!
 
Ó Espírito Santo de Deus, fonte de toda luz e amor.
Sem Ti, sucumbiríamos em nossa miséria humana,
Não suportaríamos o peso da cruz cotidiana,
e mergulharíamos em um vale de sofrimento e dor.
 
Ó Espírito Santo, que conheces nossos prantos,
e ouves nossos lamentos,
Sem Ti seriam insuportáveis nossos louvores e cantos.
e a última palavra seria a morte e sofrimentos.
 
Por isto, Te pedimos: Envia, Senhor, o Teu Espírito!
 
Porque Ele é vento que a todos assopra,
Fogo que arde e jamais se consome,
A todos aquece e ilumina!
 
Ó Espírito Santo, Vem! Teu sopro nos envie.
 
Como Igreja Sinodal reunida, a Ti, confiantes, suplicamos:
Vem até nós para nos aquecer, salvar e iluminar,
Curar, fortalecer, ensinar, aconselhar e consolar. 
 
Ó Espírito Santo de Deus, sem Ti nada somos,
nada podemos. Sem Ti não há vida.
e somos como orvalho da manhã que passa,
Como a grama que murcha ao entardecer.
 
Ó Espírito Santo de Deus, fonte de graça e todo vigor,
Para Ti, nossas mãos confiantes, estendidas se levantam, 
nosso coração se abre, caminhos novos apontam,
E nossos lábios proclamam: És de nossa vida, Senhor!
 
Ó Espírito Santo de Deus, fonte de paz e comunhão,
Contigo, os fardos são mais leves, jugos suavizados.
Contigo, morreu em nós a morte: É Ressurreição!
Contigo, com Tua morada em nós, somos divinizados. Amém.
 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG