domingo, 17 de novembro de 2024

Nascerá o Sol da justiça (XXXIIIDTCC)


Nascerá o Sol da justiça

“Para vós que temeis o meu nome, nascerá o Sol de justiça,
trazendo nos seus raios a salvação” (Ml 3,20a)
                                   
No 33º Domingo do Tempo Comum (ano C), na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Livro da Profecia de Malaquias (Ml 3,19-20a).

A Palavra nos fala da vinda do Messias, que consistirá num dia abrasador como fornalha:

 – “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não deixará raiz nem ramo” (Ml 3,19).

Vejamos o que nos diz o comentário do Missal Quotidiano:

“Só vale a pena viver por aquilo que permanece. Que permanecerá de hoje, deste nosso momento?... É a leitura crônica do dia. Como uma radiografia, que mostra o essencial, o que ficará. Podemos antecipá-la, pelo menos em parte lendo os acontecimentos à luz do ‘Sol de justiça’. Deus, só Ele – e o que está n’Ele – permanece” (1)

É sempre tempo oportuno avaliarmos sobre as motivações de nossa vida; os motivos pelos quais nos preocupamos e nos consumimos.

Podemos, por vezes, nos dar conta que não valeu a pena ter feito todo esforço, o máximo de empenho na conquista de determinado objetivo. Em outros momentos, ao contrário, vemos que valeu a pena o empenho, a dedicação, tudo o que foi feito, até mesmo com o sentimento de que se poderia ter feito um pouco mais.

Descortinando cada página de nosso quotidiano, na espera do Senhor que veio, vem e virá, é preciso que nos voltemos para o que vale a pena viver, n’Ele revigorar nossos passos, e rever sempre os caminhos feitos.

Contar sempre com a força que vem do alto para nos ajudar nas sagradas causas pelas quais valha a pena viver, contando com a graça e o amor de Deus, que é derramado pelo Espírito em nossos corações.

Antes de concluir, sejamos remetidos a um pensamento de Martin Luther King, que também pode nos inspirar na árdua missão que possamos estar realizando: – “Se você ainda não achou uma causa pela qual valha a pena morrer, você ainda não achou razão de viver”.

Concluindo, a Profecia de Malaquias nos diz – “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o Sol da justiça, trazendo salvação em suas asas” (Ml 3,20).

Cremos, portanto, que o “Sol da Justiça” nascerá trazendo a salvação em suas asas, para nos conduzir ao alcance de nossos objetivos, bem como firmando nossos pés para caminhar sempre adiante, sem jamais recuar na vida de fé, em maior e profunda correspondência ao Projeto de Deus em nossas mãos colocado.

(1) Missal Quotidiano - Editora Paulus - pág. 1361

Vigilância ativa e perseverança na fé (XXXIIIDTCC)


Vigilância ativa e perseverança na fé

                         “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19)

Na proximidade do final do Ano Litúrgico, a Liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos convida a refletir sobre o sentido da História da Salvação e para onde Deus nos conduz: um mundo marcado pela felicidade plena e vida definitiva.

É preciso renascer em nós a esperança, para que dela brote a coragem para o enfrentamento das dificuldades, provações próprias na construção do Reino de Deus.

A passagem da primeira Leitura (Mal 3,19-20a) retrata o período pós-exílio, uma realidade marcada pelo desânimo, apatia e falta de confiança. 

O Profeta Malaquias (“o meu mensageiro”) convoca o Povo de Deus à conversão e à reforma da vida cultual, pois vivendo a fidelidade aos Mandamentos da Lei Divina reencontrará a vida e a felicidade. 

Seu anúncio sobre o Dia do Senhor é uma mensagem de confiança e esperança. Virá o Sol da Justiça. Este Sol é o próprio Jesus que brilha no mundo e insere a humanidade na dinâmica de um mundo novo, que consiste na dinâmica do Reino.

Numa situação difícil vivida pelo povo, é preciso viver a espera vigilante e ativa, reconhecendo a presença de Deus que intervém e comunica Sua força e poder. É preciso fortalecer a esperança, vencendo todo medo que paralisa.

A passagem da segunda Leitura (2 Ts  3,7-12) nos fala da vida futura e definitiva, que deve ser esperada sem preguiça e comodismo. A comunidade não pode cruzar os braços, tão pouco “viver nas nuvens”, assim como não pode perder tempo com futilidades, e nada de útil fazer.

É forte a mensagem dirigida à comunidade: não há lugar para parasitas que vivam à custa dos demais, o que se caracterizaria em consumidores.

Há uma exortação à responsabilização de todos, porque o Reino de Deus começa aqui e agora e a todos compromete. Não é a evasão do mundo: 

“...Jesus de Nazaré não traz uma plenitude totalmente pronta. Não em uma intervenção mágica que desresponsabiliza o homem. É verdade que chegou a plenitude prometida, mas espera ser completada. É um dom, mas simultaneamente uma conquista”. (1)

A passagem do Evangelho (Lc 21, 5-19) retrata a aproximação do final da caminhada de Jesus para Jerusalém. É no Templo de Jerusalém que realiza o Seu último discurso público acerca do cumprimento da Sua vida e da História inteira.

Na fidelidade ao Senhor, a Igreja, na realização de sua missão, também poderá sofrer dificuldades e perseguições, mas precisa manter-se confiante e perseverante.

Podemos falar em três tempos:

 O tempo da presença de Jesus e Sua missão, seguido da destruição do Templo alguns anos mais tarde;

 O tempo da missão da Igreja; 

– O tempo da vinda do Filho do Homem.

Enquanto aguardamos a segunda vinda do Senhor, Ele nos alerta para que não nos deixemos enganar por falsos pregadores (Lc 21,8); haverá catástrofes, terremotos, fome, epidemias (Lc 21,10-11), mas ainda não será o fim do mundo; assim como as perseguições serão inevitáveis para os que n’Ele crerem (Lc 21,12).

Por causa do Nome do Senhor Jesus, Seus discípulos serão levados aos tribunais e às “sinagogas”, na presença de reis e lançados nas prisões. Mas contarão sempre com a força de Deus para enfrentar os adversários e as dificuldades.

“Quem segue a Cristo poderá encontrar dificuldades, mesmo no seio da própria família; aderir a Jesus, de fato, muitas vezes comporta uma ruptura com as próprias tradições, e conflitos com o ambiente de onde se provém, a ponto de incorrer na denúncia dos próprios familiares (Lc 21,16-17). (2)

Nesta vigilância ativa e no testemunho dado é que a comunidade vivificará a fé, reencontrará a intimidade com Jesus, superará todo medo e alcançará a vida eterna plena e feliz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19).

“A coragem de resistir sob a pressão do mundo (mesmo para nós hoje) é condição importante para sermos verdadeiros discípulos de Jesus, dispostos a segui-Lo até a Cruz. É aí que Cristo reina! Assim nos preparamos para a Solenidade de Cristo Rei” .(3)

Considerando que “Toda a Igreja é missionária, em virtude da mesma caridade com que Deus enviou Seu Filho para a Salvação de todos os homens. E única é sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo (RdC 8)” (4), ao término de mais um Ano Litúrgico, é tempo de avaliarmos e projetarmos uma nova caminhada.

Reflitamos:

 Qual foi o testemunho de fé que demos ao longo desta caminhada litúrgica?
 Tenho permanecido firme na fé, ou tenho vacilado em alguns momentos?

 Diante das dificuldades que marcam a vida de cada um e da história, qual confiança tenho em Deus para enfrentá-las?
 Qual esperança cultivo no coração?

 Como estou preparando a segunda vinda do Senhor?
 Quais os reais compromissos com o Reino que multiplico como expressão de uma vigilância ativa?

 Como tenho consumido o tempo na espera do Senhor que vem?

Oremos renovando nosso compromisso diante de Deus para que permaneçamos firmes na fé, e um dia alcancemos a vida eterna: 
“Ó Deus, princípio e fim de todas as coisas,
Que reunis a Humanidade no Templo vivo do Vosso Filho,
Fazei que através dos acontecimentos,
Alegres e tristes deste mundo,
Mantenhamos firme a esperança do Vosso Reino,
Com a certeza de que, na paciência,
possuiremos a vida. Amém.”  (5)

    
(1) – Missal Dominical – pp. 1295-1296.
(2) (3) – Lecionário Comentado - p. 807. 
(4) – Missal Dominical - p. 1296.
(5) – Lecionário Comentado - p. 809.

“Sofremos o amor perdido” (XXXIIIDTCC)

“Sofremos o amor perdido”

Disse o Senhor na passagem do Evangelho (Lc 21,5-19) proclamada no 33º Domingo do Tempo Comum (ano C) e na Quarta-feira da 34ª Semana do tempo Comum: “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos e amigos. E eles matarão alguns de vós” (Lc 21, 16).

Para reflexão, retomo um trecho do Sermão do Papa e Doutor da Igreja, São Gregório Magno (séc. VI):

“Nós sofremos menos pelos males causados por estranhos, porém nos são mais cruéis os tormentos que sofremos da parte daqueles em cujo amor confiávamos; porque, além do tormento do corpo, sofremos o amor  perdido, eis por que de Judas, Seu traidor, diz o Senhor pelo salmista:

Na verdade que, se o ultraje viesse de um inimigo meu, teria sofrido com paciência; e se a agressão partisse daqueles que me odeiam, poderia ter-me salvo deles; mas tu, meu companheiro, meu guia e meu amigo; com quem me entretinha em doces colóquios, que andávamos juntos na casa de Deus’.

E novamente: ‘Até o próprio amigo em quem eu confiava, que partilhava do meu pão, levantou contra mim o calcanhar’. Como se de seu traidor dissesse claramente: ‘sua traição me é tanto mais dolorosa quanto mais íntimo me parecia ser aquele de quem a sofri’”.

São Gregório retrata possíveis experiências que possamos já ter vivido. Podemos já sofrido por um amor perdido, como assim vivenciou Nosso Senhor, em relação à traição de Judas, a quem tanto amou, e não foi correspondido, e nem por isto deixou de amá-lo. Quem mais poderia amá-lo e nos amar tanto assim?

Quanto ainda temos que nos converter e amadurecer para amar, incondicionalmente, como Jesus nos ama?

Findando mais um Ano Litúrgico, ainda temos um longo aprendizado na prática do Mandamento Maior do amor a Deus, que se expressa no amor ao próximo, para que O coroemos e O glorifiquemos como Senhor de nossa vida e de todo o Universo.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes – 2013 – P.755

sábado, 16 de novembro de 2024

Mensagem do Santo Padre Francisco para o VIII Dia Mundial dos pobres (síntese)

 


Mensagem do Santo Padre Francisco para o VIII Dia Mundial dos pobres (síntese)

No dia 17 de novembro de 2024, celebraremos o VIII Dia Mundial dos pobres, e mais uma vez o Papa Francisco nos apresenta uma mensagem, que tem como inspiração bíblica o Livro de Sirac – “A oração do pobre eleva-se até Deus” ( cf. Sir 21,5), dentro do contexto do ano dedicado à oração, com vistas ao Jubileu Ordinário 2025.

No caminho para o Ano Santo, nos exorta para que todos sejamos  peregrinos da esperança, promovendo sinais concretos de um futuro melhor.

Neste sentido, o papa lembra que nossa oração chega à presença de Deus, mas não se trata de uma oração qualquer, mas a oração do pobre.

Convida-nos ao aprofundamento do livro de Ben-Sirá, o Livro do Eclesiástico, escrito no século II a. C, que não é muito conhecido e merece ser descoberto pela riqueza dos temas que aborda, sobretudo quando se refere à relação do homem com Deus e com o mundo.

O autor aborda os problemas nada fáceis da liberdade, do mal e da justiça divina, que hoje são de grande atualidade também para nós, e pretende transmitir a todos o caminho a seguir, para uma vida sábia e digna de ser vivida diante de Deus e dos irmãos.

Deste modo, um dos temas a que este autor sagrado dedica mais espaço é a oração, pois “a oração do humilde penetrará as nuvens, e não se consolará, enquanto ela não chegar até Deus. Ele não se afastará, enquanto o Altíssimo não olhar, não fizer justiça aos justos e restabelecer a equidade. O Senhor não tardará nem terá paciência com os opressões” (Sir 35,17-19)

E ainda – “A oração, por conseguinte, encontra o certificado da sua autenticidade na caridade que se transforma em encontro e proximidade. Se a oração não se traduz em ações concretas, é vã; efetivamente, «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26).”

O papa denuncia a violência causada pelas guerras e a consequência de novos pobres, vítimas inocentes produzidas por esta má política das armas, e não podemos recuar diante desta realidade.

Afirma o papa: “Neste ano dedicado à oração, precisamos de fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de aceitar e uma ação pastoral que precisa de ser alimentada. Com efeito, «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual....”.

Portanto, o Dia Mundial dos Pobres tornou-se um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial, e deve nos envolver a todos – “É uma oportunidade pastoral que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades. É uma ocasião propícia para realizar iniciativas que ajudem concretamente os pobres e, também, para reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados...”

Recorda dois grandes testemunhos de amor e compromisso com os pobres: Madre Teresa de Calcutá, e São Bento José Labre (1748-1783).

Finaliza exortando para que sejamos amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, o primeiro a se solidarizar com os últimos, contando com a presença da Santa Mãe de Deus, Maria Santíssima, que nos sustenta neste caminho, ela que é modelo de confiança e solidariedade com os pobres.

 

PS: Se desejar, leia a mensagem na íntegra:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20240613-messaggio-viii-giornatamondiale-poveri-2024.html

Após o “suor”, o “soar” dos sinos...

                                                   

Após o “suor”, o “soar” dos sinos...

Eis aqui uma das belezas e dificuldades da Língua Portuguesa: os parônimos (são palavras semelhantes na escrita e/ou na pronúncia, mas com significados diferentes).

Entre tantos exemplos, fiquemos com “suar” e “soar”. Quão parecidos verbos e quantas vezes os empregamos indevidamente fazendo “suar frio” quem percebe a conjugação errada; outras vezes, porém, dando o desejo de fazer “soar os sinos” pela beleza da conjugação e concordância.

Que façamos “suar menos” pelo erro e “soar mais” os sinos pelo aprendizado ininterrupto desta inesgotável riqueza da nossa língua.

E assim, brincando com as palavras é mais uma brincadeira. Brincadeira? Muito mais que isto. Na verdade a poesia com os parônimos "suar" e "soar" pretende, de forma simples e descontraída, ajudar a evitar erros comumente observados, ao mesmo tempo em que nos leva a refletir a esperança daqueles que suam na luta sem jamais desistir.

Afinal, sem o suor do aprendizado, pouco a pouco, assimilado não haverá o soar dos sinos pelo que foi aprendido...

Sem o suor, na luta, cotidianamente derramado, não ouviremos o soar dos sinos na eternidade...

Suar e soar na perfeita sintonia,
Nisto consiste a verdadeira alegria,
Empenho até em aparentes lutas inglórias...
Após o suor, o soar dos sinos na vitória!

Mesmo que eu sue…

                                                     


Mesmo que eu sue…

Mesmo que eu sue,
Terá valido a pena suar.
Mesmo que os sinos não soem,
Valeu a pena ter esperado seu badalar.

Mesmo que não soe o sino a suar na luta,
Valeu a pena dela não fugir…

Os sinos soarão na eternidade para os que
Não hesitaram em suar, e até mesmo, se
Necessário for, como Cristo o fez,
Suor de sangue derramar…

Dobrem-se os sinos

                                                               


Dobrem-se os sinos
Um minuto para o meio-dia.
O sino vai tocar mais forte do que ontem,
Porque hoje preciso que assim seja,
Para me lembrar de que estamos adormecidos,
Em pleno sol sem a sombra que aparecerá,
A cada minuto até o seu poente.

Estamos adormecidos do que não se podia.
Estamos em letargia que a vida macula.
O que fazer, para que todos acordemos
De uma realidade marcada por terríveis pesadelos?
Arrebentar as correntes da alma,
Que nos aprisionam roubando perspectivas.

Agora são 12 horas.
Sinos invadem ouvidos e iluminam a mente.
Transformo pesadelos em salutares sonhos,
Calço as sandálias da coragem e prontidão,
Coloco o cinto para o combate da fé,
para não nos entregarmos ao aparentemente invencível.

Os sinos continuam a badalar, incessantemente,
Dobrem-se os sinos em toda a parte,
Até que todos acordemos, enquanto é tempo,
Não permitindo que a desolação de pandemias
Roubem nossas forças e a fina flor da esperança,
Para que inflamados da caridade, sejamos.

Não cessem os sinos, enquanto for necessário.
Escutemo-los, pois algo nos dizem:
Novo tempo há de surgir.
O medo não pode nos submergir.
Sinos por todo o mundo dobrados,
Até que todos acordemos.

"Portanto, não durmamos, a exemplo dos outros; 
mas vigiemos e sejamos sóbrios. 
Quem dorme, dorme de noite;
Nós, pelo contrário, que somos do dia,
sejamos sóbrios, revestidos da couraça da fé e da caridade,
e do capacete da esperança da Salvação" (1 Ts 5,6-8).


PS: Escrito em agosto de 2020

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