sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Sedentos do Vinho Novo

                                                                

Sedentos do Vinho Novo

 “O Amor de Deus foi
derramado em nossos corações.”

Na sexta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 5,33-39), em que Jesus nos questiona: “Acaso podeis fazer que os amigos do noivo jejuem enquanto o noivo está com eles?” (Lc 5,34).  E nos disse: “Põe-se, antes vinho novo em odres novos” (Lc 5,38).

Sejamos enriquecidos por um dos Sermões de um autor anônimo do século VI, que nos leva a refletir sobre a unidade da Igreja que, recebendo o dom do Espírito Santo, fala todas as línguas, de modo que todos se comunicam e se entendem.

“Os Apóstolos começaram a falar em todas as línguas. Aprouve a Deus, naquele momento, significar a presença do Espírito Santo, fazendo com que todo aquele que O tivesse recebido, falasse em todas as línguas.

Devemos compreender, irmãos caríssimos, que se trata do mesmo Espírito Santo pelo qual o Amor de Deus foi derramado em nossos corações.

O amor haveria de reunir na Igreja de Deus todos os povos da terra. E como naquela ocasião um só homem, recebendo o Espírito Santo, podia falar em todas as línguas, também agora, uma só Igreja, reunida pelo Espírito Santo, se exprime em todas as línguas.

Se por acaso alguém nos disser: ‘Recebeste o Espírito Santo; por que não falas em todas as línguas?’ devemos responder:

‘Eu falo em todas as línguas. Porque sou membro do Corpo de Cristo, isto é, da Sua Igreja, que se exprime em todas as línguas. Que outra coisa quis Deus significar pela presença do Espírito Santo, a não ser que Sua Igreja haveria de falar em todas as línguas?’

Deste modo, cumpriu-se o que o Senhor tinha prometido: Ninguém coloca vinho novo em odres velhos. Vinho novo deve ser colocado em odres novos. E assim ambos são preservados (cf. Lc 5,37-38).
       
Por isso, quando ouviram os Apóstolos falar em todas as línguas, diziam alguns com certa razão: Estão cheios de vinho (At 2,13).

Na verdade, já se haviam transformado em odres novos, renovados pela graça da santidade, a fim de que, repletos do vinho novo, isto é, do Espírito Santo, parecessem ferver ao falar em todas as línguas.

E com este milagre tão evidente prefiguravam a universalidade da futura Igreja, que haveria de abranger as línguas de todos os povos.

Celebrai, pois, este dia como membros do único Corpo de Cristo.

E não o celebrareis em vão, se realmente sois aquilo que celebrais, isto é, se estais perfeitamente incorporados naquela Igreja que o Senhor enche do Espírito Santo e faz crescer progressivamente através do mundo inteiro.

Esta Igreja Ele reconhece como Sua e é por ela reconhecida como seu Senhor. O Esposo não abandonou sua esposa; por isso ninguém pode substituí-la por outra.

É a vós, homens de todas as nações, que sois a Igreja de Cristo, os membros de Cristo, o corpo de Cristo, a esposa de Cristo, é a vós que o Apóstolo dirige estas palavras:

Suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos em guardar a Unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2-3).

Reparai como, ao lembrar o Preceito de nos suportarmos uns aos outros, falou-nos do amor, e quando Se referiu à esperança da unidade, pôs em evidência o vínculo da paz.

Esta é a casa de Deus, edificada com pedras vivas. Nela o Eterno Pai gosta de morar; nela Seus olhos jamais devem ser ofendidos pelo triste espetáculo da divisão entre Seus filhos.”

Acolhendo o dom do Espírito Santo, e com Ele o Amor de Deus, que é derramado em nossos corações; tornamo-nos membros do único Corpo de Cristo, e assim devemos viver e agir.

Somos membros de uma Igreja, edificada com pedras vivas, e todo esforço deve ser feito para que se supere o “triste espetáculo da divisão entre Seus filhos”, como refletimos na conclusão do Sermão.

Envolvidos pelo Amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que preenche nossos corações, com coragem e ousadia, sejamos arautos contumazes e intrépidos da “Alegria do Evangelho”.

Deste modo seremos eternos aprendizes da mais bela linguagem universal: a linguagem do Espírito Santo, a linguagem de Deus, que consiste na linguagem do Amor.

Com o coração renovado, a cada dia, acolhamos o Vinho Novo do Amor de Deus e, uma vez transbordante, seja derramado a quantos precisarem, porque sedentos de amor, vida, alegria e paz.

Louvores e clamores que sobem deste chão!

                                                                 


Louvores e clamores que sobem deste chão!

Olhemos para o chão de nossa Pátria querida. Amá-la é também amar os que nela pisam, vivem, trabalham, sonham, lutam e vitórias, com invejáveis esforços, conquistam.

Assim é o chão de nossa Pátria: nele pisam pés santos e outros nem tanto. Pisam aqueles que roubam impunemente, que semeiam a mentira e contravalores que destroem a beleza da vida, a solidez da família. Pisam sordidamente aqueles que violam a vida com leis que atentam contra a maioria, em prejuízo do bem comum, atendendo aos interesses de poucos.

Por isso deste chão, aos céus, sobem louvores e clamores. Importa multiplicar os louvores, procurando caminhos de superação e escuta solidária aos clamores.

Neste sentido, há caminhos fundamentais: 

O primeiro deles é a Sagrada Escritura. É preciso que a ressonância da Palavra ouvida faça, não somente neste mês dedicado à Bíblia, o itinerário da mente e coração, provocando desejo e suscitando renovados compromissos de ações transformadoras, que em muito tornam melhores nossos relacionamentos pessoais, interpessoais, eclesiais e sociais. Este é o desejo e compromisso do Deus Bíblico (cf. Êxodo cap. 3).

O segundo são as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023) e seu Objetivo Geral“EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”

Por amor à Igreja, à vida e à Pátria, na busca de respostas aos clamores e súplicas, ultrapassando as fronteiras da Igreja, temos nas Diretrizes valioso instrumento para que, à luz da Palavra de Deus, possamos todos nos empenhar na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. 

É preciso que nos ponhamos em intensa abertura e sensibilidade trilhando o caminho da conversão e do renovado compromisso com Jesus, para que sejamos uma Igreja testemunha, e para tanto, que antes se faça discípula, deixando-se iluminar pela fonte da Palavra Divina, ricamente anunciada e proclamada nas Missas e Celebrações.

Uma Igreja verdadeiramente Eucarística, que se nutre da Palavra, renova e empenha toda sua força e vida, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para assim evangelizar e se evangelizar, na mais perfeita expressão e concretização da fé, esperança e  caridade.

Plenos de alegria com a presença do Ressuscitado

                                                               

Plenos de alegria com a presença do Ressuscitado

Como discípulos missionários do Senhor, é nossa missão testemunhar a alegria Pascal, como refletimos à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 5,33-39) proclamado na sexta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum.

Ontem presente fisicamente junto aos Seus discípulos, hoje também presente,  Ressuscitado, como professamos pela fé: Ele está vivo e presente entre nós, desde aquela madrugada da Sua Ressurreição, e depois com a descida do Espírito Santo, os mensageiros de Cristo levarão seu anúncio de alegria a todos as partes do mundo.

Acabara o tempo da espera, não era mais tempo de jejuar, pois Ele, o “noivo esperado” Se fez presente.

Assim entendemos as Suas Palavras: “Acaso podeis fazer que os amigos do noivo jejuem enquanto o noivo está com eles?” (Lc 5,34).  

Reflitamos:

- Sentimos alegria pela presença do Ressuscitado?
- Esta verdade alimenta e sustenta a nossa vida?

- Crendo na presença do Ressuscitado somos portadores da Sua paz?
- O que fazer para nos tornarmos semeadores de verdadeira alegria?

Examinemos nossa fé e a nossa vida, conscientes de que como cristãos não vivemos fora do tempo, tão pouco fugimos aos graves problemas do mundo, mas renovamos sagrados esforços e compromissos com a Boa Nova do Reino de Deus.

Na Eucaristia que celebramos, renovemos a alegria da presença de Jesus Cristo Ressuscitado, que caminha e está conosco, e nos confia a continuidade de Sua divina Missão.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Vossa Palavra ilumina nossos passos

                                                         

Vossa Palavra ilumina nossos passos

Ó Deus, não permitais que apenas estudemos a Sagrada Escritura, compreendendo-a como tão apenas um livro pertencente ao passado, como uma história distante da nossa, mas que a compreendamos entrelaçada com a nossa, hoje, iluminando e abrindo caminhos novos para a construção de Vosso Reino, e melhor correspondermos aos Vossos desígnios de amor para com toda a humanidade.

Ó Deus, ensinai-nos o verdadeiro e fecundo modo de leitura da Sagrada Escritura, de Vossas Santas Palavras, sobretudo os Evangelhos, a fim de torná-los sempre uma Boa Notícia para o mundo, anunciando e testemunhando a Vida Nova do Ressuscitado, e a vida nova do Espírito, viver e comunicar, para que sejam transformadas todas as marcas do pecado, e vivamos na plena vida e liberdade que somente Vós podeis nos conceder.

Ó Deus, ajudai-nos a redescobrir sempre a atualidade da Mensagem do Vosso Filho, o Cristo Vivo, Glorioso e Ressuscitado, com a assistência de Vosso Santo Espírito, a partir da situação concreta do mundo no qual estamos inseridos e somos chamados a ser sal, fermento e luz, procurando saídas e respostas para os problemas que a todos nos afligem, sem jamais perdermos a luminosidade da fé, a perenidade da esperança e a eterna caridade. Amém.


Fonte de inspiração: At 13,13-25 e Comentário do Missal Cotidiano – Editora Paulus – p. 415-416

Testemunhar a fé resplandecendo a luz divina

                                                      

Testemunhar a fé resplandecendo a luz divina

“A messe é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe
 que mande trabalhadores para a colheita” (Lc 10, 2)

Renovemos nossos compromissos no aprofundamento e anúncio da nossa fé, para que a mesma resplandeça a luz da Palavra de Deus.

Precisamos compreender as inúmeras formas de atitudes que revelam, comunicam e testemunham a nossa fé, a fim de que sejamos sal da terra e luz do mundo.

Deste modo, testemunhamos a nossa fé quando não nos distanciamos do conhecimento e cumprimento da Lei Divina contida no Decálogo. Avançando, refletimos sobre o sétimo mandamento: “Não matar”.

Testemunhamos a nossa fé quando não nos dobramos aos pecados capitais que maculam a vida, roubam o que ela tem de mais belo e sagrado.

Testemunhar a nossa fé resplandecendo a luz divina, como bem tem insistido o papa, exige também que lancemos mão dos diversos meios de comunicação, e a internet sem dúvida é um instrumento eficaz para comunicarmos o Evangelho a todos os povos, manifestarmos nosso amor a Deus na construção de relações mais fraternas com o nosso próximo. Todavia é preciso que estejamos atentos às implicações que seu uso indevido pode nos causar.

Viver intensamente a Fé exige corajosa e generosa resposta ao Senhor que nos chama para o cuidado da messe, pois como Ele disse “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos.”

Renovemos nossa alegria de amar e servir a Igreja, colocando nossos dons e carismas a serviço nas  diversas pastorais, movimentos e serviços.

Jesus volta permanentemente o seu olhar cheio de amor para nós pede que vendamos tudo para segui-Lo com alegria, disponibilidade, desapego, confiança e coragem, e nos garante cem vezes mais tudo que tenhamos renunciado, mas não sem perseguição.

Enfim, peçamos ao Senhor da messe, o verdadeiro consumador da nossa fé, que em todo tempo muitos corações se abram à alegria da Boa Nova do Reino, que a exemplo de Maria, respondam “sim” a vontade de Deus, para que empenhados e dedicados, dentro e fora da Igreja, construamos um mundo melhor.

Urge vivermos uma fé autêntica, fecunda, correspondendo ao chamado do Pai, para que nosso coração seja como a terra boa onde a Palavra de Deus cai e produz frutos de amor, alegria, vida e paz. Não há porque temer, recuar... Sua presença, força, ternura, amor e coragem nunca há de nos faltar.

A Palavra do Senhor é luz para o meu caminho

                                                     

A Palavra do Senhor é luz para o meu caminho

Ressoem em nós, as palavras do Apóstolo:

“E não só isso, pois nos gloriamos também de nossas tribulações,
sabendo que a tribulação gera a constância, A constância leva a uma virtude provada E a virtude provada desabrocha em esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,3-5).

Quando a Palavra de Deus é anunciada com ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com fé pura e fecunda,
Comunica a alegria que é dom do Espírito e fruto desta fé.

Quando a Palavra de Deus é anunciada com mesmo ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com pouca fé e entusiasmo,
Não se consegue enxergar, para além dos fatos dolorosos, a Manifestação da força e ação do Espírito.

Quando a Palavra de Deus é anunciada com ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com fé comprovada,
Edifica-se uma Igreja peregrina e profética.

Quando a Palavra de Deus é assim anunciada,
A Igreja torna-se verdadeiramente a Igreja do
Crucificado Ressuscitado, aberta e enriquecida pela graça divina.

Quando a Palavra de Deus é anunciada com ardor e zelo,
E encontra um coração que a acolhe com fé,
Os dias de sofrimentos, crise e contestações ganham novo sentido. Amém.


Febris de amor para amar e servir

                                                            

Febris de amor para amar e servir

 “Minhas lágrimas e minha penitência
têm sido para mim como o Batismo”

Na quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum, ouviremos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro que estava com febre.

Sejamos iluminados pelo Comentário de São Jerônimo, doutor da Igreja, (séc. V).

“A sogra de Pedro estava com febre.
Oxalá venha e entre em nossa casa o Senhor e com uma ordem Sua cure as febres de nossos pecados! Porque todos nós temos febre.

Tenho febre, por exemplo, quando me deixo levar pela ira. Existem tantas febres como vícios. Por isso, peçamos que intercedam frente a Jesus, para que venha a nós e segure nossa mão, porque se Ele segura a nossa mão, a febre foge em um instante. Ele é um médico nobre, o verdadeiro protomédico. Médico foi Moisés, médico Isaías, médico todos os Santos, mas este é o protomédico. Sabe tocar sabiamente as veias e perscrutar os segredos das enfermidades.

Ele não toca o ouvido, não toca a fronte, não toca nenhuma outra parte do corpo, mas a mão. Tinha febre, porque não possuía boas obras.

Em primeiro lugar, portanto, tem que curar as obras, e logo remover a febre. A febre não pode fugir se não são curadas as obras. Quando nossa mão possui más obras, jazemos no leito, sem podermos levantar, sem poder andar, pois estamos totalmente consumidos na enfermidade.

E aproximando-Se daquela que estava enferma.
Ela mesma não pôde levantar-se, pois jazia no leito e, portanto, não pôde sair ao encontro do que vinha. Porém, este médico misericordioso, ele mesmo acode ao leito; Aquele que tinha levantado sob Seus ombros a ovelhinha enferma, Ele mesmo acorre ao leito. E aproximando-Se... Sobretudo Se aproxima, e o faz para curá-la. E aproximando-Se... Observa o que Ele diz. É como dizer: seria suficiente sair-me ao encontro, achegar-te à porta e receber-me, para que tua saúde não fosse totalmente obra de minha misericórdia, mas também de tua vontade. Porém, já que te encontras oprimida pelas altas febres e não pode levantar-se, Eu mesmo venho a ti.

E aproximando-Se, a levantou.
Visto que ela mesma não podia levantar-se, é segurada pelo Senhor. Ele a levantou, tomando-a na mão. Segurou-a precisamente na mão. Também Pedro, quando perigava no mar e afundava, foi agarrado na mão e erguido. E levantou-a tomando-a pela mão, Com Sua mão o Senhor tomou a mão dela. Ó feliz amizade, ó formoso afago! Levantou-a segurando-a com Sua mão: com Sua mão curou a mão dela. Segurou sua mão como um médico, tomou o pulso, comprovou a intensidade das febres, Ele mesmo, que é médico e medicina ao mesmo tempo.

Jesus a toca e a febre foge. Que Ele toque também a nossa mão, para que nossas obras sejam purificadas, que Ele entre em nossa casa: por fim, levantemo-nos do leito, não permaneçamos abatidos. Jesus está de pé frente ao nosso leito, e nós permanecemos deitados? Levantemo-nos e fiquemos de pé: é para nós uma vergonha que estejamos recostados diante de Jesus.

Alguém poderá dizer: Onde está Jesus? Jesus está aqui agora. No meio de vós, diz o Evangelho, está alguém a quem não conheceis. O Reino de Deus está no meio de vós. Creiamos e vejamos que Jesus está presente. Se não podemos tocar Sua mão, prostremo-nos aos Seus pés. Senão podemos chegar à Sua cabeça, ao menos lavemos Seus pés com nossas lágrimas. Nossa penitência é unguento do Salvador. Vede quão grande é a Sua misericórdia. Nossos pecados fedem, são podridão e, contudo, se fizermos penitência pelos pecados, se os chorarmos, nossos pútridos pecados se convertem em unguento do Senhor. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos tome pela mão.

E no mesmo instante, afirma, a febre a deixou.
Apenas a segura pela mão e a febre a deixa. Observa o que segue: No mesmo instante a febre a deixou. Tem esperança, pecador, contanto que te levantes do leito.

O mesmo ocorreu com o santo Davi, que tinha pecado, deitado na cama com a mulher de Urias, o hitita, sentindo a febre do adultério, depois que o Senhor o curou, depois de ter dito: tem piedade de mim, ó Deus, por tua grande misericórdia, assim como: Contra Ti, só contra Ti pequei, cometi o mal aos Teus olhos. Livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu... Porque ele tinha derramado o sangue de Urias, ao ter ordenado derramá-lo. Disse: livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu, e renova meu espírito em meu interior.

Observa o que diz: Renova. Porque o tempo em que cometi o adultério e perpetrei o adultério e o homicídio, o Espírito Santo envelheceu em mim. E o que mais ele diz? Lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Porque me lavaste com minhas lágrimas.

Minhas lágrimas e minha penitência têm sido para mim como o Batismo. Observa, então, de penitente em que se converte. Fez penitência e chorou, por isso foi purificado. O que acontece em seguida? Ensinarei aos iníquos Teus caminhos e os pecadores voltarão a Ti. De penitente se tornou mestre.

Por que disse tudo isto? Porque aqui está escrito: E no mesmo instante a febre a deixou e se pôs a servir-lhes. Não basta que a febre a deixasse, mas também se levanta para o serviço de Cristo. E se pôs a servi-lhes. Servia-lhes com os pés, com as mãos, corria de um lugar ao outro, venerava ao que lhe tinha curado. Sirvamos também nós a Jesus. Ele acolhe com gosto o nosso serviço, mesmo que tenhamos as mãos manchadas: Ele Se digna olhar aquele que curou, porque Ele mesmo o curou. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Jesus é, o Médico e tem a cura para nossas enfermidades, sejam quais forem.

Assim como Jesus curou a sogra de Pedro da febre que a acometia, e ela logo se pôs a serviço, também sejamos curados de nossas febres de tantos nomes (soberba, avareza, luxúria, ira, inveja, gula e preguiça), que consistem exatamente nos sete pecados capitais, que nos escravizam e nos roubam a alegria do serviço.

Curados pelo Médico, pelo Protomédico, curados pelo próprio Senhor, tomados pela Sua Mão, levantemo-nos e coloquemo-nos a serviço da vida e da esperança, para que a justiça e a paz se abracem, o amor e a verdade se encontrem, como rezou o Salmista (Sl 85,11). 

A sogra foi curada de uma febre para pôr-se a serviço; Pedro precisou, mais tarde, ser tomado pela febre de amor, para que o Senhor lhe confiasse o rebanho.

Há febres que precisamos ser curados, e há uma febre que deve, a cada dia mais, tomar conta de nosso coração: a febre de amor pelo Senhor.

Tão somente febris de amor pelo Senhor, somos curados das febres indesejáveis que nos afastam da alegria da participação da construção do Seu Reino.


 Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes - pp.382-384

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