domingo, 31 de agosto de 2025

Graça, gratidão e gratuidade (XXIIDTCC)

                                                               


Graça, gratidão e gratuidade  

“...Um deles, ao perceber que estava curado,
voltou glorificando a Deus em alta voz;
atirou-se aos pés de Jesus, com o
 rosto por terra, e lhe agradeceu.”

A Liturgia da Palavra do 28º Domingo do Tempo Comum (ano C) - (2 Reis 5,14-17; 2 Tm 2,8-13; Lc 17,11-19) -  retrata de modo especial a cura que Deus propicia a todos, além das fronteiras de um determinado povo. Não há limites geográficos para a ação curativa de Deus.

Não há dúvida que o Amor, a bondade e o Projeto de Salvação de Deus destinam-se a todos os povos.

O que Deus espera de nós é a acolhida, com alegria, abertura, confiança, amor e gratidão.

E este é o grande questionamento que a Liturgia nos propicia: rever nossa abertura à Graça Divina, acompanhada pela gratidão por tudo que Ele realiza em nosso favor.

Se de um lado a gratidão é uma virtude que enobrece, por outro nada é mais desagradável do que conviver com pessoas ingratas, nada é mais empobrecedor do que o cultivo da autossuficiência, sobretudo da relativização da presença divina.

Viver como se de Deus não precisássemos é mergulhar no vazio de si mesmo, com perda de sentido, e horizontes restritos; é condenar-se a não realização; é o sequestrar-se de si mesmo quase que sem preço de resgate...

Somente em Deus o resgate, logo, sem voltar-se para Ele, não há alternativa, não há caminho, somente dor, desolação, vazio, sofrimento – caos jamais superável!

Como configurados a Cristo que devemos ser (segunda Leitura), jamais nos faltará Sua graça, portanto a gratidão e a gratuidade serão maneiras de fazermos com que O vejam em nós.

A passagem da primeira Leitura nos apresenta o rosto e o ser de Deus: Ele é único, dá a vida, salva a todos, pois a salvação carrega em si a marca da universalidade, espera a gratidão e não se deixa manipular por ninguém...

A Espiritualidade genuinamente Eucarística leva-nos a dizer “obrigado a Deus” e ao nosso próximo por tantos bens e graças recebidas.

Pode ocorrer que a cegueira, o desejo desmedido do dinheiro, do poder, da fama, dos privilégios, nos levem a uma secura diante do Mistério do Amor Divino, que nos inebria com o mais Sublime dos Vinhos, com o mais precioso dos pães, o Pão da Imortalidade.

Pessoas eucarísticas sabem dar graças a Deus em todas as circunstâncias, como nos disse o Apóstolo Paulo:
“Em todas as circunstâncias dai graças…” (1Ts 5, 18).

E como o escritor romano Sêneca:
 “Só os espíritos bem formados são capazes de cultivar a gratidão!”

Palavras de William Shakespeare:
“A gratidão é o único tesouro dos humildes.”

O grande Bispo Santo Agostinho, sobre a gratidão, já nos dizia:
“Que coisa melhor podemos trazer no coração,
pronunciar com a boca, escrever com a pena,
do que estas palavras: ‘graças a Deus’?  

Não há nada que se possa dizer com maior brevidade,
nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior
elevação, nem realizar com maior utilidade.”

Agradecer sempre pelo que somos e pelo que temos sem nos tornarmos reféns de nossa ingratidão. Temos uma fertilidade de memória, para as nossas necessidades e carências, maior do que para os nossos bens de Deus recebidos.

Assim completa Santo Agostinho:

“Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos.
Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”

Finalizando, agradeçamos a alguém pelo que significa em nossa vida. E, diante de Deus, também elevar nosso infinito “muito obrigado, Senhor!”.

A acolhida da graça, acompanhada da gratidão,
leva-nos a viver cada vez mais
intensamente na gratuidade:
De graça recebemos, de graça
devemos dar, disse-nos o Senhor!

PS: Apropriado para a quarta-feira da 32ª Semana do Tempo Comum.

O Senhor Se compadeceu de nós (XXIIDTCC)

                                                                 

O Senhor Se compadeceu de nós

“Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos.
A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente”

Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja (séc. V), em um de seus Sermões, nos fala do Senhor que se compadeceu de nós, e espera que não apenas ouçamos e cantemos, mas que também coloquemos em prática.

Ouvir, cantar e viver:
 “Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos. A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente.”

Não entremos sem frutos na Igreja:
“Disse isto de antemão para exortar vossa caridade a não entrardes sem fruto na Igreja, ouvindo tantas coisas boas sem realizá-las. Porque por Sua graça fomos salvos, assim diz o Apóstolo, não por nossas obras, não aconteça alguém se ensoberbecer (Ef 2,8-9), pois por Sua graça fomos salvos (Ef 2,5). Pois não precedeu nenhuma vida virtuosa que Deus pudesse amar e dizer: ‘Ajudemos, socorramos estes homens porque vivem bem’.”

Deus se compadeceu e nos salvou:
“Desagradava-lhe nossa vida, desagradava-lhe em nós tudo o que fazíamos, mas não lhe desagradava o que Ele mesmo fez em nós. Por isto, o que nós fizemos, Ele o condenará; o que Ele próprio fez, Ele o salvará. Não éramos bons. Mas Ele se compadeceu de nós e enviou Seu Filho para morrer não pelos bons, mas pelos maus, não pelos justos, mas pelos ímpios. Na verdade Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E como continua? Mal se encontra alguém que morra por um justo, pois talvez alguém se atreva a morrer por um bom (Rm 5,7). Quiçá haja alguém que ouse morrer por um bom. Mas pelo injusto, pelo ímpio, pelo iníquo, quem quererá morrer? Só Cristo, para que, justo, justifique até mesmo os injustos”.

Deus jamais nos abandona e jamais desiste de nós:
“Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, Sua misericórdia não abandonou os homens.”

Envia Seu Filho para nos remir pelo preço do sangue derramado:
“Deus enviou Seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de Seu Sangue derramado, Cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça.”

Vivamos esta graça e correspondamos ao amor de Deus:
“Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande Médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados."

Não recaiamos na “doença” ingratos ao próprio médico, Jesus:
“Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio Médico.”

Sigamos Jesus, o Caminho, a vida da humildade:
“Sigamos os caminhos que Ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que Ele mesmo Se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo Se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, Aquele que não podia morrer. E com Sua morte matar nossa morte.”

Ele que tinha condição divina, não Se apegou a mesma, e despojando-Se foi morto na Cruz:
“Fez isto o Senhor, isto nos concedeu. O excelso humilhou-Se, humilhado foi morto e, ressurgindo, foi exaltado, a fim de não nos deixar mortos nas profundezas, mas de exaltar em Si na Ressurreição dos mortos aqueles que já agora exaltou pela fé e o testemunho dos justos.”

O Senhor nos deu a humildade como caminho para confessar e invocar Seu nome:
“Deu-nos então a humildade como caminho. Se nos agarrarmos a ela, confessaremos o Senhor e com toda razão cantaremos: Nós Te confessaremos, Senhor, confessaremos e invocaremos Teu nome (Sl 74,2).”

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos a graça de compreender e corresponder ao Vosso amor, manifestado a nós, por meio do Seu Filho. Assistidos pelo Vosso Espírito, jamais nos apresentemos com as mãos e coração vazios de frutos por vós esperados.

Ó Deus, ajudai-nos a seguir os passos do Vosso Filho, trilhando a via da humildade, fazendo progressos no caminho de santidade, adorando-Vos em espírito e verdade e Vos amando concretamente na pessoa de nosso próximo.

Ó Deus, que não sejamos apenas ouvintes de Vossa Palavra, mas dela praticantes, não nos enganando a nós mesmos, mas empenhados em colocá-la em prática, na defesa da vida e da dignidade humana. Amém.

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor (XXIIDTCA)

                                                                  

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor

“Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)

Como discípulos missionários do Senhor, no Seu seguimento, precisamos das renúncias necessárias, e o tomar da cruz cotidiana para segui-Lo, como lemos nas passagens dos Evangelhos (Mt 16,21-27; Lc 9,18-24).

Sejamos enriquecidos por estas afirmações de Santa Teresa de Jesus (séc. XVI), neste bom propósito de todos nós:

“Estou convencida de que a medida da capacidade de levar cruz grande ou pequena é a do amor...

Cumpra-se em mim, Senhor, Vossa vontade de todos os modos e maneiras que vós, Senhor meu, quiserdes.

Se me quiserdes enviar sofrimentos, dai-me forças para suportá-los, e venham!

Se perseguições e enfermidades, desonras e mínguas, aqui estou!

Não afastarei o rosto, ó meu Pai, nem há motivo para virar as costas. Não quero que haja falha da minha parte depois que vosso Filho, em meu nome, deu esta minha vontade, oferecendo a vontade de todos os homens.” (1)

Jesus jamais prometeu facilidades para segui-Lo, e o Mistério da Cruz estava sempre presente no horizonte de Sua pregação e ação.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que precisa fazer da sua vida uma doação ao outro.

Deste modo, tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Da mesma forma, também nos assegura, em todos os momentos, a Sua presença enquanto estava com eles, e depois a presença do Paráclito que haveria de ser enviado, e assim se fez, para que não sucumbissem diante das dificuldades, provações e perseguições, como mencionara na conclusão das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12).

Portanto, aprendamos com esta Santa e Doutora da Igreja, a pedir sempre a Deus “coragem” para enfrentar os sofrimentos, e muito “amor” para carregar a cruz, seja ela pequena ou grande, pois como Santa Teresa afirmou, este é a medida da capacidade para suportarmos o seu peso e levá-la no anúncio e testemunho de nossa fé e esperança, como discípulos missionários do Senhor.


(1) Santa Teresa de Jesus – O Caminho da perfeição – Editora Paulus -  pp.189.191

Seduzidos pelo Senhor (XXIIDTCA)

Seduzidos pelo Senhor

 “Tu me seduziste, Senhor,
e eu deixei-me seduzir” (Jr 20,7)

No 22º Domingo do Tempo Comum (ano A), ouvimos a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 20,7-9).

Trata-se de um trecho das “confissões” amarguradas e dolorosas do Profeta Jeremias, decorrente do exercício do seu ministério, paradigma do Profeta perseguido.

A narração é a continuação dos acontecimentos da saída do cárcere do Profeta, preso devido a um oráculo que dirigiu contra o reino de Judá (Jr 19,14 - 20,6).

Jeremias, chocado com a experiência da prisão, queria fugir da missão por Deus confiada, mas não teve forças e sentiu-se incapaz para esta fuga.

O Profeta se sente enganado por Deus que, através de sua missão, o colocou à margem da sociedade (v. 7); quanto à Palavra de Deus, se tornou para ele motivo de opróbrio, vergonha e desonra.

O Profeta desejaria rebelar-se contra Deus, mas tem consciência da inutilidade de sua impotência diante do Mistério de Deus: a Sua voz é como fogo e não há como abafá-la, extingui-la, apagá-la (v.9).

No texto, com matizes de Oração, sobressai a sequência facilmente perceptível: sedução, dominação, violência (v. 7-8).

O profeta Jeremias só vê um caminho: responder a este chamado de Deus. O Senhor é mais forte do que ele e sua rebelião (Jr 20,14-18).

Assim diz o Comentário do Missal Dominical:

O ministério profético, sobretudo, não é uma vocação à tranquilidade: é incômodo para quem fala e para quem ouve.

Jeremias desejaria subtrair-se à ingrata tarefa, mas a Palavra de Deus queima-o por dentro com tal veemência, que não pode contê-la.

Sua alma é terreno de batalha, onde batem forças dificilmente conciliáveis entre si: Deus, o mundo, a busca de si mesmo. Só resta ao Profeta uma possibilidade: deixar-se seduzir por seu Senhor.” (1)

Jeremias é definitivamente vencido por Deus, e assim é um exemplo para todo cristão que é chamado a reconhecer em si mesmo o sinal da vocação ao amor e ao testemunho:

Quem se deixa seduzir pelo Senhor, porque descobre que é objeto do Seu amor, encontra em si mesmo a força e não se furta à oferta contínua de todas as provas que lhe vêm do seu testemunho.

Olhemos para Jeremias, mas, sobretudo para Cristo que cumpre a figura d’Ele.

Ele é o verdadeiro Servo, que sofre e oferece a vida em sacrifício. A Sua obediência nos conforte e coloque entusiasmo no nosso testemunho...

Entreguemos a nossa vida ao Senhor, para que iluminada por Ele, saiba crescer e cumprir constantemente a Sua vontade.” (2)

Jeremias, um Profeta provado até o extremo, mas definitivamente vencido por Deus. Ele oferece a sua vida como sacrifício espiritual agradável a Deus. E isto é o que Deus espera de cada um de nós, paradoxalmente, no carregar da cruz cotidiana, sem esmorecimentos, com a certeza de que a vida perdendo, por Ele consumindo, na fidelidade a Jesus, com a força do Espírito Santo, alcançaremos a plena felicidade e eternidade.

Concluindo:

Seduz somente quem ama, e somente o amado se deixa seduzir. De igual modo é apenas na experiência vital do Amor de Deus que amadurece a coragem de poder partilhar perspectivas tão duras, como as da livre aceitação da prova ou de suportar com fé o sofrimento e a dor.

Isto significa estarmos apaixonados por Cristo, no verdadeiro sentido da palavra: isto é, no significado etimológico de poder ‘sofrer’, de poder passar através do Gólgota, oferecendo a nossa vida ao Pai, juntamente com Cristo e na força de Oração mais verdadeira que se possa pensar...

Toda a nossa vida, em todas as suas manifestações, inclusive a amargura e a tristeza, está orientada para Cristo e deve ser envolvida na caminhada em direção ao grande dia do Senhor que esperamos.” (3)

Que nossa vida cristã seja uma resposta ao Amor de Deus que nos seduz, como seduziu a Jeremias, a tantos Profetas, homens e mulheres de todos os tempos.

O autêntico relacionamento com Deus somente ocorre numa intensa e contínua relação de amor e sedução. Não procuremos um Cristo sem Cruz, porque certamente encontraremos uma Cruz sem Cristo.

E renovando a graça da vocação profética, recebida no dia de nosso Batismo, elevemos a Deus esta Oração:

“Espírito Santo, iluminai o nosso coração, para que possamos colocar todos os sofrimentos, nossos e alheios, à luz esplêndida da Cruz do Senhor Jesus.

Fazei que não desprezemos as cruzes da vida, tornando-nos próprios obstáculos para a propagação do Reino de Deus e ‘escândalo’ para nossos irmãos.

Reavivai em nós a consciência de sermos filhos, filhos amados e socorridos sempre pela ternura e pelo amor do Pai. Amém.” (4)



(1) Missal Dominical - p. 787.
(2) Lecionário Comentado – pp. 229-231
(3) (4) Idem p. 233

Quando o céu se torna escuridão… (XXIIDTCA)


Quando o céu se torna escuridão…

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano A),  retrata as dores e alegrias, angústias e esperanças do Povo de Deus, à luz da Palavra de Deus proclamada.

Como a realidade da cruz, do sofrimento, marca a vida do Povo de Deus! 

Acorre-se a Deus em busca de uma Palavra, uma alento, um reacender da chama da esperança, uma luz, um impulso… Não uma fuga, não uma evasão da realidade, mas abastecimento para poder enfrentá-la, transformá-la, renová-la, a partir do mistério da Fé, celebrado na Mesa da Eucaristia.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 20,7-9), o Profeta Jeremias, seduzido pelo Amor de Deus levou-nos ao mesmo desejo: deixar nosso coração pelo Amor de Deus ser seduzido, como fogo que o queima por dentro. Vocação profética que não é vontade nossa, mas iniciativa de Deus, dom de Deus, resposta nossa…

Na passagem da segunda Leitura (Rm 12,1-2), o Apóstolo Paulo nos exorta, pela misericórdia de Deus, a nos oferecermos como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele, no autêntico culto, na transformação e conversão de nossa maneira de pensar e julgar, não nos deixando moldar pela lógica do mundo, mas pela lógica do Evangelho, procurando sempre o que é agradável a Deus…

Na passagem do Evangelho (Mt 16,21-27), Jesus fez Seu primeiro anúncio da Paixão e Morte: o caminho da glória passa inevitavelmente pela Cruz, para além da compreensão de Pedro que recebeu de Jesus seríssima advertência, por não pensar como Deus: Afasta-te de mim Satanás…”. Quem quiser seguir Jesus deverá renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-Lo com coragem, fidelidade, ousadia, confiança, perseverança…

Deste modo, a verdadeira Oração não deve ser nunca para que Deus nos tire a cruz, que a reduza, tão pouco lamento estéril, angustiante. 

A verdadeira Oração é glorificar a Deus por Sua bondade, força, graça e ternura que nos acompanha dando possibilidade de poder carregá-la, transformando a cruz (aparente sinal de fracasso) em sinal de vitória. Cruz: loucura para os gregos, escândalo para os judeus (1 cf. 1 Cor 1,18-25).

De fato, Deus faz renascer a vida das cinzas (o maravilhoso ipê amarelo que neste tempo teimosamente desafia o cenário das cinzas e enfeita os campos com o esplendor de suas flores); faz nascer a imortal obra de arte de Beethoven para Elisa, nascida da experiência fracassada da mesma ao não conseguir tocar sua peça na frente de Beethoven.

Enfim, “quando o céu se torna escuridão pela privação da luz do sol, Deus acende as estrelas”, e o provérbio “no auge da noite se anuncia o nascer de um novo dia”

Sigamos em frente, tomemos livremente nossa cruz, saciados pelo Pão Nosso de cada dia. A cada dia suas preocupações, inquietações, desafios…

Oremos: “Pai nosso...

Sejamos fortalecidos no carregar da Cruz! (XXIIDTCA)

Sejamos fortalecidos no carregar da Cruz!

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano A) traz um convite que a muitos assusta e desaponta: “A loucura da Cruz”. No entanto, se quisermos ser discípulos do Senhor não há outro caminho, senão o caminho da Cruz.

Somos, portanto, convidados a rever o grande sinal que nos identifica, o Sinal da Cruz, que tantas vezes fazemos, e por vezes sem pensar no que o gesto implica: carregar a Cruz com fé, coragem e fidelidade como ponte necessária para a eternidade. Sem Cruz não há como conceber e alcançar a eternidade.

Mais uma vez nos deparamos com a necessária decisão: a lógica do mundo - dominação, poder, sucesso - ou a lógica de Deus - o caminho do amor, doação, fidelidade e Cruz, que é o amor até as últimas consequências.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 20,7-9), temos as “confissões de Jeremias”. A sua vocação vivida enfrentando sofrimentos, solidão, maledicência, perseguição, cárcere, e também acusado de traição. Sofrimentos suportados por que coração seduzido e inflamado pelo Amor divino.  Ao realizar a vocação profética é chamado de “profeta da desgraça”.

Jeremias sentiu os apelos irresistíveis da Palavra, impulsionando à ousadia e confiança, num contexto social e político extremamente difícil. Ele, por tudo que viveu e pelo compromisso com Deus assumido, foi o “grito de um coração humano dolorido”, apenas curado pela Caridade Divina.

O profeta não é profeta por livre escolha, mas por desígnios divinos. Cada tempo precisa de profetas, de Jeremias que se apaixonem pela Palavra de Deus e Seu Projeto de vida, justiça e paz para todos; e  encontrem na Palavra Divina um fogo devorador. Somente assim viveremos intensamente nosso Batismo.

O testemunho de Jeremias questiona nossa coragem, fidelidade, ousadia, no trilhar do caminho profético:

- Teremos nós mesma sedução e coragem?
- Nossa “boca” é a boca que proclama sem medo o Projeto Divino?

O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura (Rm 12,1-2), séculos mais tarde, outra grande história de um coração extremamente apaixonado e seduzido por Deus, exorta-nos a assumir atitudes coerentes com a fé que professamos, tornando nossa vida um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não nos conformando ao mundo que vivemos, mas configurando-nos com o Senhor e Seu Evangelho, oferecendo a vida inteiramente a Deus.

O Apóstolo insiste que o culto que Deus espera de nós é uma vida vivida no amor, no serviço, na doação em entrega total a Deus e aos irmãos.

Com a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 16,21-27) somos desafiados a trilhar o caminho da Cruz, o caminho da entrega incondicional a Deus e do dom da vida colocada, por amor, a serviço, à luz das intervenções e inquietações do Apóstolo Pedro dirigidas ao Divino Mestre, Jesus.

O discípulo de Jesus não deve buscar o sofrimento pelo sofrimento, porém se eles vierem, desde que não sejam sofrimentos sem causa, o seguidor de Jesus sabe que este não pode prescindir da Cruz, sabe que está sujeito a perseguições, sofrimentos, incompreensões. Mas jamais será um sofredor sem causa. Sua causa é a paixão pelo Reino, que o faz irremovível.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que se quiser descomplicar seu existir terá que fazer da sua vida uma doação ao outro. Tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Finalizando, Jeremias, Paulo, Pedro e outros tantos, muito nos ensinaram no caminhar da fé.

Reflitamos:

- O que nos ensinam no caminhar da fé?
- O que precisamos rever em nossa vida, pensamentos, palavras e ações para que melhor correspondamos aos desígnios de Deus?

- O que fazer para que nossa vida seja um culto agradável ao Senhor?
- Como estamos carregando nossa Cruz de cada dia?
- Quais as renúncias necessárias?

O discípulo de Jesus tem que renunciar a si mesmo, oferecer sua vida por amor,  colocando-se à serviço do Reino; discernindo, entre as coisas, os bens que passam que devem ser utilizados, e os bens eternos que devem para sempre ser abraçados.

O discípulo sabe que, como disse o Presbítero Santo Tomás de Aquino, “O menor bem da graça é superior a todo bem do Universo”.

Nossa prática religiosa é agradável a Deus? (XXIIDTCB)

                                                            

Nossa prática religiosa é agradável a Deus?

Com a Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano B), aprofundamos como deve ser uma verdadeira religião que agrade a Deus, que pressupõe o contínuo esforço de conversão para que tenhamos pureza de coração, pois como o próprio Senhor disse “somente os puros de coração verão a Deus” (Mt 5,8).

Na passagem da primeira Leitura (Dt 4,1-2.6-8), Moisés acentua o compromisso do Povo com a Palavra de Deus e Sua Aliança, numa sincera acolhida e vivência de Sua Lei.

A Lei Divina deve ser vivida como expressão de gratidão a Deus; ainda mais porque ela é garantia de felicidade e liberdade, para concretizar os sonhos e esperanças do Povo Eleito e amado por Deus. Não se pode adulterar a Palavra de Deus ao sabor dos interesses pessoais.

Não se pode adaptar, amenizar, suprimir e nada acrescentar à Palavra de Deus.

Alguns perigos que nos acompanham:

- o esvaziamento da radicalidade da Palavra;
- cortar (omitir) seus aspectos mais questionadores;
- fazermos ou dizermos coisas que não procedem de Deus;
- de cair num ativismo em que sacrificamos o tempo do silêncio orante diante de Deus, na acolhida de Sua Palavra;
- esvaziamento de seu conteúdo por causa do cansaço, da perda do sentido e consequente falta de espiritualidade e intimidade com a Palavra de Deus.

Na passagem da segunda Leitura, Carta de São Tiago, (Tg 1,17-18.21-22.27), refletimos sobre a inseparável relação  entre fé e obras. 

A fidelidade aos ensinamentos de Cristo nos compromete com o próximo (representado na figura do órfão e da viúva). E nisto consiste a verdadeira religião, pura e sem mancha: solidariedade vivida e vigilância, para não se contaminar com os contravalores que o mundo apresenta.

É necessária a superação da frieza, do legalismo e do ritualismo religioso, procurando viver uma Religião comprometida com o Reino por Jesus inaugurado.

O autor da Carta nos exorta a não sermos meros ouvintes da Palavra, mas praticantes, não nos enganando a nós mesmos.

A Palavra de Deus quer encontrar no coração humano a frutuosa acolhida, portanto, há um itinerário da Palavra: acolher, acreditar, anunciar e testemunhar a Palavra de Deus, que nos garante vida e felicidade plena.

A passagem do Evangelho (Mc 7,1-8.14–15.21-23) nos convida à pureza de coração. 

O discípulo de Jesus não pode tão apenas “parecer” é preciso “ser” sinal vivo da presença de Deus. 

Não basta parecer justo, tem que ser justo; não basta parecer piedoso, tem que ser piedoso; não basta parecer verdadeiro, tem que ser verdadeiro...

Mais que uma “carapaça exterior” é preciso de uma “coluna vertebral interior”. 

A verdadeira religião não vive de aparências, e exige de cada crente uma sólida e forte estrutura para suportar o peso da cruz, a coragem do testemunho, a coerência de vida, o esforço contínuo de conversão, a solidariedade constante, caminho que não tem volta e tem apenas um destino: o céu.

Os mestres da Lei e os fariseus tinham aproximadamente 613 preceitos a cumprir (365 proibições e 248 prescrições). O povo simples, por não os conhecer, nem os praticar, era considerado impuro, e este será um tema de grande polêmica entre Jesus e os fariseus em vários momentos.

Para Jesus importa a pureza interior, a pureza do coração que é a sede de todos os sentimentos, desejos, pensamentos, projetos e decisões.

Jesus afirma: o que torna o homem impuro é o que sai de seu coração (apresenta uma longa lista) e não o que entra pela sua boca.

É do coração humano puro que nasce uma autêntica religião, a religião do coração, da intimidade profunda com Deus.

As Leis da Igreja não têm fins em si mesmas, mas garantem a nossa comunhão com Deus e com o próximo, na concretização do Reino.

É preciso dar mais tempo à Palavra de Deus, em frutuosa Oração e reflexão, que fará brotar novas atitudes e compromissos com Deus e o Seu Projeto para a Humanidade.

É tempo de cultivar maior intimidade e compromisso com a Palavra de Deus para que produzamos os frutos por Deus esperados.

PS: Fonte de pesquisa - www.Dehonianos.org/portal

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