Não
maculemos nossa veste batismal
“Conservai pura e sem mácula a veste espiritual
que Ele vos entregou”
Sejamos enriquecidos pela Catequese Batismal escrita
por São João Crisóstomo (séc. V), bispo e doutor da Igreja:
“Conscientes,
portanto, de que, após a graça de Deus, tudo depende de nós e de nosso empenho,
respondamos generosamente sobre o que já nos foi confiado, para tornar-nos
dignos de dons ainda maiores.
Por isso vos exorto:
vós, que fostes recentemente considerados dignos do dom divino, demonstrai um
grande discernimento, e conservai pura e sem mácula a veste espiritual que Ele
vos entregou; nós, os que já faz tempo que recebemos este dom, demonstremos uma
boa mudança de vida. Porque existe, sim, um retorno, se queremos, e é possível
voltar novamente à antiga beleza e ao esplendor original, contanto, unicamente,
que nós contribuamos com nossa parte.
De fato, no que se
refere à beleza corporal, é impossível que volte ao seu melhor momento a
aparência que, uma vez por todas, tornou-se feia, e que, por velhice, por
enfermidade ou por qualquer outra circunstância corporal, perdeu sua primitiva
beleza. É, na verdade, um acidente da natureza, e por essa razão é impossível
regressar ao esplendor da primitiva beleza.
Porém, a respeito da
alma, se nós queremos, sim, é possível, graças à inefável bondade de Deus, e
desta forma a alma que uma vez se manchou, e pela multidão dos pecados
tornou-se feia e envelheceu, pode rapidamente regressar a sua primitiva beleza,
contanto que nós demonstremos uma intensa e rigorosa conversão.
Contudo, isto o digo
para mim mesmo e para aqueles que já foram dignos do Batismo anteriormente.
Vós, porém, os novos soldados de Cristo, deem-me atenção, e empenhai-vos por
todos os meios em conservar pura vossa veste.
Realmente, é muito
melhor ter agora a preocupação e o cuidado de seu brilho, de modo que possais
permanecer continuamente na pureza e não adquirir mácula alguma, do que, por
ter-vos descuidado, chorar depois e golpear vosso peito para poder limpar a
mácula sobrevinda. Não passeis o que nós passamos, vo-lo suplico, antes, que a
negligência daqueles que vos precederam vos sirva de exemplo.
E como soldado
espiritual, nobre e vigilante, limpe cada dia vossas armas espirituais, para
que o inimigo, ao ver o fulgor das armas, afaste-se e não pense que pode
aproximar-se.
Efetivamente, quando
veja, não só que as armas brilham, mas também que vós estais protegidos por
todos os lados, e que o tesouro de vosso espírito está bem guardado com todo
rigor, como em uma casa, ele se ocultará e irá partir, sabedor que nada mais
alcançará, ainda que tente o ataque mil vezes.
Porque ele pode ser
descarado e atrevido em alto grau, e mais cruel que uma fera, porém, quando vê
completamente vossa armadura espiritual e a força que o Espírito vos concedeu,
percebe com maior clareza sua própria debilidade e se retira com grande vergonha
e grande desprezo de si mesmo, porque sabe que tenta o impossível.
Portanto, vo-lo
suplico, vivamos todos sobriamente: nós que anteriormente fomos considerados
dignos deste dom, para que possamos regressar à primitiva beleza e
purificar-nos da mácula sobrevinda; e aqueles que acabais de degustar a
generosidade do rei, demonstrai vigilância e grande firmeza, de modo que
possais permanecer em contínua pureza e não recebais a mais leve mancha ou ruga
por insídia do diabo.
Ao contrário, como
se este se apresentasse, se colocasse próximo e disparasse os dardos da
maldade, fortifiquemo-nos bem por todos os flancos e resistamos-lhe com muito
esforço e com grande preocupação por nossa própria salvação, para que possamos
evitar as insídias dele, e por nossa fidelidade consigamos atrair o auxílio do
alto, pela graça e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo, com o qual se dê ao
Pai, juntamente com o Espírito Santo, a glória, a força, a honra, agora e
sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1)
Somos exortados a conservar pura e sem mácula a
veste espiritual que nos foi entregue quando de nosso batismo.
Isto implica em permanente vigilância e esforço no
peregrinar da fé, mantendo viva a fé, esperança e caridade.
Que o Espírito Santo nos anime e nos conduza neste santo propósito, fazendo todo esforço para passar pela porta estreita da fé (cf. Lc 13,22-30). Amém.
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – pág. 702-704
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