Paz, tribulação, coragem e vitória
“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim.
No mundo, tereis tribulações. Mas, tende coragem!
Eu venci o mundo!” (Jo 16,33)
Na sétima segunda-feira do Tempo Pascal, ouvimos a passagem do Evangelho de São João (Jo 16,29-33), dentro do contexto da despedida de Jesus de Seus discípulos.
Assim lemos no Comentário do Missal Cotidiano:
“A fé não é certeza humana, segura. Ela nunca elimina completamente a dúvida, a obscuridade. É posta continuamente em discussão e à prova”. (1)
Assim experimentarão e testemunharão os discípulos de Jesus, após a Sua morte, quando forem enviados para anunciar ao mundo o Evangelho, continuadores da missão pelo Senhor confiada.
Testemunharão a fé, mas não estarão imunes das provações, tribulações, até mesmo dúvidas e obscuridades.
Deste modo, os prepara para este testemunho, para que no momento da Sua ausência, mas com a presença do Seu Espírito, não recuem e nem se deixem vencer pelas primeiras crises e dificuldades.
Voltemos ao acontecimento do Monte Tabor, ao Se Transfigurar (Mt 17,18; Mc 9,2-8; Lc 9,28-36), Jesus manifestou a Sua glória na presença de João, Pedro e Tiago, e tendo como testemunhas Moisés e Elias, para que viessem a superar o medo quando chegasse a hora de Sua Paixão e crudelíssima morte na Cruz.
Neste momento, Jesus fala para todos, para que não desanimem, nem se abalem, mas superem o medo diante do aparente fracasso de Sua morte na Cruz, pois “é fácil ter fé no Cristo refulgente e glorioso do Tabor; mas é difícil aceitar sem 'se escandalizar' o Cristo da sexta-feira santa, do horto, do pretório de Pilatos, do Calvário, do sepulcro..." (2).
É neste contexto que devemos compreender as Palavras de Jesus:
“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
Ressalto quatro palavras neste versículo que se entrelaçam entre si: paz, tribulações, coragem e venci.
“Para que tenhais paz em mim”:
Os discípulos serão mensageiros de paz, como dom messiânico, como falara no Sermão da Montanha:
“Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).
Mas esta paz não é a paz que o mundo dá, como dissera anteriormente:
“Deixo-vos a paz, minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27).
“No mundo, tereis tribulações”:
Estas Palavras de Jesus nos remetem às Suas no Sermão da Montanha, quando Ele diz:
“Bem-Aventurados quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” (Mt 5, 11-12).
E pouco mais tarde, o Apóstolo Paulo dirá no Livro dos Atos dos Apóstolos:
“É preciso passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22).
“Mas, tende coragem!”:
O medo fará parte no primeiro momento, como vemos na passagem do Evangelho de São João (Jo 20, 19-31), quando estavam reunidos com as portas fechadas, e o Senhor Ressuscitado Se manifesta no centro da comunidade com a saudação da paz e a comunicação do Espírito Santo, bem como concede a graça a Tomé de tocar em Suas chagas gloriosas, as mesmas que antes foram dolorosas.
Os Atos dos Apóstolos, o “Evangelho do Espírito Santo”, como por vezes é chamado, nos comunicará o testemunho corajoso dos discípulos, contando também com a presença de Maria, Mãe da Igreja.
“Uma noite, disse o Senhor a Paulo, em visão: ‘Não temas’. Continua a falar e não te cales. Eu estou contigo, e ninguém porá a mão em ti para fazer-te mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade” (At 18,9-10).
E pouco tempo depois, assim também o Senhor falou a Paulo:
“Na noite seguinte, o Senhor apresentou-Se a Paulo e disse-lhe: ‘Tende confiança. Assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, é preciso que sejas minha testemunha também em Roma’” (At 23,11).
“Eu venci o mundo!”:
Crer no Senhor é ser testemunha d’Aquele que venceu o Maligno, que passou pela morte, em expressão máxima de amor por nós, em plena fidelidade a Deus, para nos salvar, nos reconciliar com Deus.
Os discípulos missionários do Senhor testemunham o Vencedor, o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ômega, que reina gloriosamente a direita de Deus, a quem se dá toda a honra, glória, poder e louvor.
Também o Apóstolo Paulo nos dirigiu palavras neste sentido, quando escreveu aos Romanos (Rm 8,31-39), afirmando que nada pode nos separar do amor de Cristo – (Rm 8,35) - nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo ou espada. E ainda completou afirmando:
“Em tudo isto, porém, somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.” (Rm 8,37).
Tendo celebrado a Solenidade da Ascensão do Senhor, a Festa da nossa Missão, e nos preparando para a Solenidade de Pentecostes, renovemos a alegria e ardor da missão que Ele nos confiou, e não estamos sozinhos, pois Ele prometeu e nos enviou o Espírito Santo Paráclito, o Advogado, o Defensor.
Mais uma vez, sejam entranhadas em nosso coração as Palavras do Senhor:
“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33)
(1) (2) Missal Cotidiano – Editora Paulus – 1998 - p.472
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