sábado, 1 de março de 2025

Uma Igreja acolhedora, compassiva e missionária

 


Uma Igreja acolhedora, compassiva e missionária

“Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. (Mc 10,15)

Na comentário da passagem do Evangelho de  Marcos (Mc 10,13-16), O Missal Cotidiano nos apresenta duas citações de dois Catecismos, sobre a necessidade de receber o Reino de Deus como uma criança, para que nele se possa entrar:

- “Muitas vezes, na apreciação dos adultos, as crianças ficam privadas de significado e de valor, como os últimos chegados ao banquete da vida. São mesmo postas à margem e excluídas, em diferente medida, do convívio humano. A Palavra de Deus nos questiona de contínuo sobre a maneira de consideramos e tratarmos os pequeninos; questiona além disso cada comunidade ou cultura que oprima as crianças. Diz ‘não’ à opressão da criança; diz ‘sim’ quando pessoas e comunidades resolvem converter-se a Deus, e, portanto, segundo Sua Palavra, tornar-se como os pequeninos”. (1)

- O Senhor não eleva a ideal a inocência da criança – como talvez romanticamente sejamos levados a imaginar -, mas o sentir-se pequeno, ser receptivo e começar humildemente do começo. Como no Evangelho de João, onde Jesus diz a Nicodemos: ‘Se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus’ (Jo 3,3). A mesma atitude é indicada nas bem-aventuranças. Quem se faz pequenino desse modo é de fato disponível e se abandona à alegria de Deus. Quem se recusa não terá alegria”(2)

O Catecismo da Igreja Católica enriquece ainda mais com este parágrafo:

«Tornar-se criança» diante de Deus é a condição para entrar no Reino (Mt 18,3-4), e para isso, é preciso abaixar-se (Mt 23,12) tornar-se pequeno. Mais ainda: é preciso «nascer do Alto» (Jo 3, 7), «nascer de Deus» (Jo 1,13) para se «tornar filho de Deus» (Jo 1,12). O Mistério do Natal cumpre-se em nós quando Cristo «Se forma» em nós (Gl 4,19). O Natal é o mistério desta «admirável permuta»:

«O admirabile commercium! Creator generis humani, animatum corpus sumens de Virgine nasci dignatus est; et, procedens homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem». – «Oh admirável permuta! O Criador do gênero humano, tomando corpo e alma, dignou-Se nascer duma Virgem; e, feito homem sem progenitor humano, tornou-nos participantes da sua divindade!» (Solenidade Santa Maria Mãe de Deus. (3)

É preciso superar uma visão “romantizada” da acolhida das crianças, retratada na passagem do Evangelho.

Vemos que o Senhor as desejou junto de Si, porque a Sua condição indefesa e excluída manifestava bem a realidade acerca dos discípulos e acerca do Reino que ela desejava transmitir:

“Como a criança precisa de atenção e de cuidados, quem está doente e em sofrimento encontra-se com as mesmas necessidades. Do mesmo modo o homem que vive no pecado. O pecador precisa sobretudo de reconciliação e solidariedade, de alguém que, sem julgar, o ajude a tomar consciência da sua situação e a escolher caminho da conversão.” (4)

No anúncio do Reino, a acolhida dos pequeninos, pobres e indefesos se torna um elemento constitutivo da prática dos discípulos missionários.

Uma Igreja acolhedora, solidária, compassiva e missionária que acolhe, integra e promove para a vida em plenitude (cf. Jo 10,10). Amém.

 

 

 

(1) CEI, Il catechismo dei bambini, 21 – citado no Missal Cotidiano – Editora Paulus – pag. 816

(2) O novo Catecismo holandês – idem

(3)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 526

(4) Lecionário Comentado – Volume I Tempo Comum – pág. 352

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG