quinta-feira, 27 de março de 2025

Peregrinar conduzidos pelas virtudes divinas

 


Peregrinar conduzidos pelas virtudes divinas

Sejamos iluminados pelo comentário escrito pelo bispo e doutor, Santo Agostinho (séc. V), sobre a Carta aos Gálatas:

“Forme-se Cristo em vós, diz o Apóstolo: Sede como eu. Embora judeu por nascimento, desprezo em meu espírito as prescrições segundo a carne. Porque também eu, como vós, sou homem.

Em seguida, com delicadeza, ele os faz reconsiderar sua caridade, para que não o tratem como inimigo. Assim fala: Irmãos, suplico-vos, não me ofendestes em nada. Como se dissesse: ‘Não julgueis que desejo ofender-vos’.

Por isto diz ainda: Filhinhos, para que o imitem como pai. A quem, continua, dou de novo à luz até que Cristo se forme em vós. Fala principalmente na pessoa da santa mãe Igreja, pois declara em outro lugar: Tornei-me pequenino entre vós, como mãe que acalenta seus filhos.

No crente, Cristo Se forma, pela fé, no homem interior, chamado à liberdade da graça, manso e humilde de coração, que não se envaidece pelos méritos de suas obras, que são nulas. Se ele começa a ter algum mérito, deve-o à própria graça. A este pode chamar seu mínimo e identificá-lo consigo aquele que disse: O que fizestes a um dos mínimos meus, a mim o fizestes. Cristo é formado naquele que recebe a forma de Cristo. Recebe a forma de Cristo quem adere a Cristo com espiritual amor.

Disto decorre que, imitando-O, se torne o que Ele é, na medida que lhe é possível. Quem diz estar em Cristo, fala João, deve caminhar como também ele caminhou.

Visto como os homens são concebidos pelas mães para se formar e, uma vez formados, são dados à luz do nascimento, surpreendem-nos as palavras: De novo dou à luz até que Cristo se forme em vós. Temos de entender este novo parto como a aflição dos cuidados que ele suporta por aqueles pelos quais sofre até que Cristo nasça.

De novo sofre as dores do parto por causa da sedução perigosa que os perturba. Semelhante solicitude a respeito deles, que o faz dizer estar em dores do parto, pode continuar até que cheguem à medida da idade perfeita de Cristo, de maneira que já não se deixem levar por todo vento de doutrina. Não está solícito, portanto, em relação à fé inicial deles, pois já haviam nascido, mas quanto a seu fortalecimento e perfeição.

Assim é que ele diz: A quem de novo dou à luz, até que Cristo Se forme em vós. Com outras palavras refere-se ao mesmo sofrimento: Os meus cuidados de todos os dias, a solicitude por todas as Igrejas. Quem se enfraquece sem que eu também me torne fraco? Quem tropeça, que eu não me ponha a arder?” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, devemos fazer progressos constantes na vivência das virtudes divinas (fé, esperança e caridade), para que mais configurados a Ele, sejamos.

Bem afirmou o bispo: “Disto decorre que, imitando-O, se torne o que Ele é, na medida que lhe é possível. Quem diz estar em Cristo, fala João, deve caminhar como também Ele caminhou.”.

São também de Paulo as Palavras que nos convidam a esta configuração, tendo de Cristo os mesmos sentimentos (cf. Fl 2,1-11), completando em nossa carne o que falta a Paixão de Cristo, por amor à Sua Igreja (cf. Cl 1,24).

Concluo com as palavras do Catecismo da Igreja Católica:

“A cruz é o único sacrifício de Cristo, mediador único entre Deus e os homens (1 Tm 2,5). Mas porque, na Sua Pessoa divina encarnada. «Ele Se uniu, de certo modo, a cada homem» (Gaudium et spes – GS n.22), «a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhe­cido» (GS n.22).

Convida os discípulos a tomarem a sua cruz e a segui-Lo (Mt 16,24) porque sofreu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os Seus passos (1 Pd 2,21).

De fato, quer associar ao Seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros beneficiários (Mc 10,39; Jo, 21-18-19; Cl 1,24). Isto realiza-se, em sumo grau, em Sua Mãe, associada, mais intimamente do que ninguém, ao mistério do Seu sofrimento redentor (Lc 2,35):

«Há uma só escada verdadeira fora do paraíso; fora da cruz, não há outra escada por onde se suba ao céu» (Santa Rosa de Lima).” (2)

 

 

(1) Liturgia das Horas – Volume I – Tempo Comum – pp. 162-163

(2)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 618

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG