Peregrinar
conduzidos pelas virtudes divinas
Sejamos
iluminados pelo comentário escrito pelo bispo e doutor, Santo Agostinho (séc.
V), sobre a Carta aos Gálatas:
“Forme-se
Cristo em vós, diz o Apóstolo: Sede como
eu. Embora judeu por nascimento, desprezo em meu espírito as prescrições
segundo a carne. Porque também eu, como
vós, sou homem.
Em
seguida, com delicadeza, ele os faz reconsiderar sua caridade, para que não o
tratem como inimigo. Assim fala: Irmãos,
suplico-vos, não me ofendestes em nada. Como se dissesse: ‘Não julgueis que desejo ofender-vos’.
Por
isto diz ainda: Filhinhos, para que o
imitem como pai. A quem, continua, dou de novo à luz até que Cristo se forme em
vós. Fala principalmente na pessoa da santa mãe Igreja, pois declara em
outro lugar: Tornei-me pequenino entre
vós, como mãe que acalenta seus filhos.
No
crente, Cristo Se forma, pela fé, no homem interior, chamado à liberdade da
graça, manso e humilde de coração, que não se envaidece pelos méritos de suas
obras, que são nulas. Se ele começa a ter algum mérito, deve-o à própria graça.
A este pode chamar seu mínimo e identificá-lo consigo aquele que disse: O que fizestes a um dos mínimos meus, a mim
o fizestes. Cristo é formado naquele que recebe a forma de Cristo. Recebe a
forma de Cristo quem adere a Cristo com espiritual amor.
Disto
decorre que, imitando-O, se torne o que Ele é, na medida que lhe é possível. Quem diz estar em Cristo, fala João, deve
caminhar como também ele caminhou.
Visto
como os homens são concebidos pelas mães para se formar e, uma vez formados,
são dados à luz do nascimento, surpreendem-nos as palavras: De novo dou à luz até que Cristo se forme em
vós. Temos de entender este novo parto como a aflição dos cuidados que ele
suporta por aqueles pelos quais sofre até que Cristo nasça.
De
novo sofre as dores do parto por causa da sedução perigosa que os perturba.
Semelhante solicitude a respeito deles, que o faz dizer estar em dores do
parto, pode continuar até que cheguem à
medida da idade perfeita de Cristo, de
maneira que já não se deixem levar por todo vento de doutrina. Não está
solícito, portanto, em relação à fé inicial deles, pois já haviam nascido, mas
quanto a seu fortalecimento e perfeição.
Assim
é que ele diz: A quem de novo dou à luz,
até que Cristo Se forme em vós. Com outras palavras refere-se ao mesmo
sofrimento: Os meus cuidados de todos os
dias, a solicitude por todas as Igrejas. Quem se enfraquece sem que eu também
me torne fraco? Quem tropeça, que eu não me ponha a arder?” (1)
Como
discípulos missionários do Senhor, devemos fazer progressos constantes na
vivência das virtudes divinas (fé, esperança e caridade), para que mais
configurados a Ele, sejamos.
Bem
afirmou o bispo: “Disto decorre que, imitando-O, se torne o que Ele é, na
medida que lhe é possível. Quem diz estar
em Cristo, fala João, deve caminhar como também Ele caminhou.”.
São também de Paulo
as Palavras que nos convidam a esta configuração, tendo de Cristo os mesmos
sentimentos (cf. Fl 2,1-11), completando em nossa carne o que falta a Paixão de
Cristo, por amor à Sua Igreja (cf. Cl 1,24).
Concluo com as
palavras do Catecismo da Igreja Católica:
“A
cruz é o único sacrifício de Cristo, mediador único entre Deus e os homens (1
Tm 2,5). Mas porque, na Sua Pessoa divina encarnada. «Ele Se uniu, de certo
modo, a cada homem» (Gaudium et spes – GS n.22), «a todos dá a possibilidade de
se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido» (GS n.22).
Convida
os discípulos a tomarem a sua cruz e a segui-Lo (Mt 16,24) porque sofreu por
nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os Seus passos (1 Pd 2,21).
De
fato, quer associar ao Seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os
primeiros beneficiários (Mc 10,39; Jo, 21-18-19; Cl 1,24). Isto realiza-se, em
sumo grau, em Sua Mãe, associada, mais intimamente do que ninguém, ao mistério
do Seu sofrimento redentor (Lc 2,35):
«Há uma só escada verdadeira fora do
paraíso; fora da cruz, não há outra escada por onde se suba ao céu» (Santa Rosa
de Lima).” (2)
(1)
Liturgia das Horas – Volume I – Tempo Comum – pp. 162-163
(2)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 618
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