Ao preparar o Cálice, o padre coloca algumas gotas de água no vinho, e talvez poucos compreendam ou fixam a atenção neste momento, que deve ser feito com toda piedade.
Não temos maior dificuldade para compreensão da matéria do vinho, pois a Igreja sempre ensinou que Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia na partilha do pão e do vinho:
"Doravante, não tornarei a beber deste fruto da vide, até chegar aquele dia" (Mt 26, 29; Mc 14, 15), e a própria narrativa do Apóstolo Paulo aos Coríntios, em sua primeira Carta (1 Cor 11, 23-26).
São João Crisóstomo, um dos Padres da Igreja, disse: "Do fruto da vide, que certamente produzia vinho, e não água", e também a alusão ao lado trespassado do Senhor, do qual jorrou Sangue e Água: “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu Sangue e Água.” (Jo 19,34).
Fundada na autoridade dos Concílios, e no testemunho de São Cipriano, a Igreja, porém, sempre misturou água com o vinho. Esta mistura faz lembrar que do lado de Cristo verteu Sangue e Água.
Também no Livro do Apocalipse (Ap 17,15), as "águas" significam o povo; de modo que, misturar a água ao vinho tem simbolismo próprio: a água simboliza a união do povo fiel com Cristo, que é a Sua Cabeça.
Curiosa é a observação feita pelo Papa Honório, no sentido que não haja mais água do que vinho: "No teu território, arraigou-se um abuso pernicioso, como seja o de empregar, no sacrifício, maior quantidade de água que de vinho; porquanto a razoável praxe da Igreja Universal prescreve que se tome muito mais vinho do que água".
Nada pode substituir o vinho e a água, que se somam ao pão a ser consagrado, com fórmulas e orações próprias, ao repetir as próprias Palavras do Senhor, e a invocação do Espírito Santo sobre as oferendas.
Concluindo, ao misturar a água ao vinho, colocamos no Cálice nossa humanidade, nossa existência, que se une ao vinho, que se tornará Sangue do Senhor, verdadeira e Salutar Bebida para nos inebriar e nos fortalecer, ao participarmos da Ceia Eucarística.
Na junção da água ao vinho, unimos nossa humanidade à divindade do Senhor, para que seja redimida. A divindade assume nossa humanidade e a redime, numa perfeita comunhão de amor, entrega e doação d’Ele para conosco, e também haverá de ser, sempre, dos que do Cálice Sagrado participam, com o Senhor.
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