Mais paciência e misericórdia
A Liturgia da Palavra da terça-feira da 17ª Semana do Tempo comum nos convida a refletir sobre a Parábola do joio e do trigo, à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13, 36-43).
A partir da explicação da Parábola feita por Jesus, contemplamos o ser de Deus, que é paciente, cheio de misericórdia, indulgente e clemente.
No Livro da Sabedoria (Sb 12, 13.16-19), um dos livros mais recentes do Antigo Testamento (primeira metade do século I a.C), refletimos sobre a verdadeira Sabedoria de Deus que se manifestou na história de Israel. Somente quem se abrir à ela encontrará a verdadeira felicidade.
A mensagem é de que Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva, pois a sua lógica, muitas vezes se contrapõe à lógica humana, pois se trata da lógica do perdão e da misericórdia revestida em sinais de paciência, como bem retrata o Salmista: “Ó Senhor Vós sois bom, sois clemente e fiel! (Sl 85).
Deus jamais deseja a destruição do pecador, de modo que a salvação Ele nos oferece como dom, e exige de nós uma resposta, esforço, empenho, compromisso, sinceridade, dedicação.
Nisto consiste a vida segundo o Espírito da qual nos fala o Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos (Rm 8,26): um caminho sem nenhuma facilidade, mas com a certeza da verdadeira felicidade que deve ser buscada corretamente.
Somente Deus pode:
- vir a todos a nós com a força de que tanto precisamos, para enfrentar as obscuridades de momentos que possamos passar;
- nos ajudar a interpretar os fatos que nos marcam, e a compreender os desígnios divinos;
- renovar no mais profundo de nós o fascínio pelas coisas divinas, sem jamais perdermos o encanto, a paixão, o enamoramento por Jesus;
Somente a vida segundo o Espírito não nos permitirá sucumbir em ativismos que nos levariam inevitavelmente ao cansaço, ao desencanto e desencontro de múltiplas formas e matizes...
Acolher o Espírito nos fará pacientes como Deus é paciente, conforme veremos na Parábola do joio e do trigo.
Urge que saibamos silenciar para a contemplação da face e do ser divino, que Se manifesta na misericórdia, que faz chover sobre bons e maus.
A Parábola do joio e do trigo exorta-nos à conversão e crescimento espiritual, além de nos questionar, animar, ensinar, fortalecer a fé e nos levar ao mergulho tão necessário dentro de nós mesmos.
Ela é como injeção de ânimo, de esperança e renovação de compromissos com o Reino de Deus.
É preciso tomar cuidado, multiplicando na vigilância, a oração, o diálogo, o silêncio, pois dentro de cada um de nós pode muito bem coexistir uma belíssima plantação de trigo, mas sufocada pela indesejável plantação do joio, sem culpar terceiros.
Sendo assim, expulsemos todo o desânimo, a apatia, a indiferença, os prejulgamentos, os preconceitos. Creiamos na força da Palavra, que acolhida no mais profundo de nós, em chão fértil, frutos abundantes jamais faltarão.
Abandonemos toda a atitude simplista de condenação, porque de joio e de trigo todos temos um pouco. Cuidado haveremos de tomar de não excomungar, excluir, extirpar, eliminar o pecador junto com seu pecado.
Mais paciência e misericórdia (não como sinônimo de conivência), menos julgamento e condenação nos farão comunidades mais pascais, evidentemente zelando pelo amadurecimento e crescimento do testemunho, sem jamais esvaziar e mutilar a Palavra Divina e sem negar e contra-testemunhar a Eucaristia que celebramos - Mistério de Amor e Comunhão.