quarta-feira, 3 de julho de 2024

Com Tomé digamos: “Meu Senhor e meu Deus”

                                                           

Com Tomé8 y yyy digamos:  “Meu Senhor e meu Deus”.

Na celebração da Festa do Apóstolo São Tomé, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 20,24-29).

Vemos o itinerário da profissão de fé feito por Tomé, ausente na primeira vez em que Jesus apareceu aos Apóstolos, e depois, quando presente, faz a grande profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”.

Tomé é proclamado bem-aventurado porque viu e tocou as Chagas gloriosas do Ressuscitado, e Jesus nos diz que felizes são aqueles que creram sem nunca terem visto, nem tocado.

Tomé toca exatamente onde nascemos e nos nutrimos: no coração de Jesus, do qual jorrou Sangue e Água: Batismo e Eucaristia.

Esta é uma mensagem essencialmente catequética, que nos convida a renovar hoje e sempre a nossa fé: somos felizes porque cremos sem nunca ter visto nem tocado.

A experiência vivida por Tomé não foi exclusiva das primeiras testemunhas do Ressuscitado, e pode ser vivida por todos os cristãos de todos os tempos.

Reflitamos:

- Creio na presença de Jesus Ressuscitado na vida da Igreja?
- Sinto a presença e ação do Ressuscitado em minha vida?
- Como testemunhamos a fé no Cristo vivo e Ressuscitado?


Oremos:

“Deus todo-poderoso, concedei-nos celebrar com alegria a Festa do Apóstolo São Tomé, para que sejamos sempre sustentados por sua proteção e tenhamos a vida pela fé no Cristo que ele reconheceu como Senhor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.

PS: Festa celebrada dia 03 de julho

A Palavra e as fibras mais íntimas do nosso ser...

                                           

A Palavra e as fibras mais íntimas do nosso ser...

A Liturgia da quarta-feira da 13ª Semana do Tempo Comum nos apresentará a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 8,28-34), e refletimos sobre o itinerário da Palavra de Deus:

“A Palavra de Deus pede para entrar em nossa vida até às fibras mais íntimas do nosso ser, e para se exprimir em amor e procura do bem.

Ela chama-nos a nos entregarmos a isso com todas as nossas forças e com a humildade de sabermos que não temos pretensões a alegar, mas só misericórdia a receber. [...]

O difícil texto do Evangelho descreve o confronto da Palavra da Salvação, que é Jesus, com o mundo das trevas, que manifesta todo o seu poder destruidor. [...]

Jesus está em terra pagã, e não chegou ainda o momento para os pagãos O receberem. Nós podemos ser hoje esses pagãos: está o nosso coração como a terra deles, hostil à Palavra?” (1)

Nisto consiste o itinerário da Palavra lida, ouvida, acolhida, meditada e na vida encarnada: penetrar até as fibras mais íntimas do nosso ser, somente assim ela volta para Deus produzindo os frutos que Ele tanto espera.

A vida é breve, a Palavra proclamada abundante. A sua penetração nas fibras mais íntimas de nosso ser, dependerá de cada um e cada uma.

Oremos:

“Ó Deus, a Vossa Palavra é luz verdadeira para os nossos passos, alegria e paz para os nossos corações; concedei que, iluminados pelo Vosso Espírito, a acolhamos com fé viva, para descobrirmos na escuridão dos acontecimentos humanos os sinais da Vossa presença. Amém!”


(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 640. 

Sem paixão e a Graça Divina não há profecia (XIVDTCB)

Sem paixão e a Graça Divina não há profecia

A Liturgia do 14º domingo (ano B) revela um Deus que nos chama para sermos Suas testemunhas, apesar de nossas limitações, fragilidades, pois é paradoxalmente em nossa fraqueza que Ele manifesta a Sua força.

Com a primeira Leitura (Ez 2, 2-5) refletimos sobre a vocação profética, que consiste numa iniciativa de Deus. Não existe autovocação, ninguém é Profeta por iniciativa própria, pois sua vocação é antes um desígnio divino.

O Profeta é uma pessoa frágil e limitada, mas contando sempre com a força e presença de Deus, torna-se uma voz humana que indica os caminhos de Deus.

Sua vocação é fruto da eleição divina, apesar dos limites humanos naturais.

Ezequiel, o Profeta da esperança, exerceu seu ministério no dificílimo momento da história do Povo de Deus, no meio dos exilados judeus. Sua missão consistiu em destruir as falsas esperanças dos exilados e denunciar a multiplicação de infidelidades do Povo a Javé. 

Portanto, a missão do Profeta é revelar o sonho de Deus, que é infinitamente superior à realidade que se nos apresenta.  Tem os olhos postos em Deus no mundo. Lê a realidade, o “jornal diário” à luz da Palavra Divina. 

É um precioso instrumento nas mãos de Deus para Sua proposta libertadora, e por isto o Profeta Ezequiel tem a árdua missão de alimentar a esperança e a confiança em Deus, irrevogavelmente fiel à Sua Aliança com o Povo.

Poderá sofrer perseguições, sofrimentos, marginalização ou sucumbir no medo, comodismo ou preguiça.

Reflitamos:

-  Quem são e onde estão os Profetas de hoje?
-   Como vivemos a vocação profética recebida no dia de nosso Batismo?

-  O que mais impede a vivência de minha vocação profética?
-  Tenho consciência de que minhas fragilidades não são obstáculos para viver a vocação profética?

O Apóstolo Paulo na passagem da segunda Leitura (2Cor 12,7-10) reforça o fato de sermos instrumentos finitos e limitados nas mãos de Deus.

O texto pertence à terceira parte da Carta em que Paulo, num estilo apaixonado, defende a autenticidade de seu ministério diante de “superapóstolos” que o acusavam de não ser fiel à doutrina dos Apóstolos, entre outras coisas.

Paulo não se vale dos seus méritos, mas se apresenta como homem frágil e vulnerável, para que a força e a graça de Deus nele se manifestassem e mostrassem os Seus caminhos.

Há uma fraqueza que permite a plena manifestação do poder de Deus: é a que é vista e aceita com fé humilde, com disponibilidade confiante, com obediência filial. Então Deus pode fazer coisas grandes”. (1)

É na fraqueza humana que Deus revela a Sua força, e faz-se necessário vencer toda e qualquer forma de desânimo e a tentação de desistir:

“Do mesmo modo, porém, como Cristo Crucificado é ‘poder de Deus e sabedoria de Deus para todos os que creem’, assim a fraqueza do evangelizador não lhe é tirada, mas é vista num mundo diametralmente oposto – 'quando sou fraco, então é que sou forte' (v.10)". (2)

Com Paulo, aprendemos que o cristão autêntico vive em função de Cristo.

Reflitamos:

  -   Qual o lugar que Jesus ocupa em minhas decisões, projetos, opções e atitudes?
  -   Como acolho a graça de Deus em minha vida e missão?

  -   Sou consciente de minhas fraquezas e limitações para que apesar delas, Deus possa manifestar a Sua força, Seu Projeto, Seus desígnios?
  -   Confio na força e atuação de Deus por meio de minha condição finita e frágil?

Com a passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), contemplamos através da ação e presença de Jesus, um Deus que Se manifesta na fraqueza e na fragilidade. 

Os conterrâneos de Jesus em Nazaré, não souberam ir ao encontro e acolher Deus na pessoa de Jesus, o Emanuel, Deus conosco, ao contrário, tiveram uma reação totalmente oposta, de rejeição, indiferença.

Podemos nós também acolher ou nos tornarmos indiferentes à proposta de Jesus, como Seus conterrâneos, fechados em nossos esquemas mentais, preconceitos diversos, que impedem o reconhecimento e acolhida d’Ele em nossa vida.

Embora rejeitado pelos Seus a missão de Jesus não é invalidada e tão pouco interrompida. Bem dizia São Francisco pelos caminhos da Itália: “O Amor não é amado”.

“Cristo Crucificado é o emblema do Amor infinito de Deus por nós. Embora vergados sob a Cruz, com coração obstinado, os homens desafiam a Sua onipotência; Ele permanece inerme na Cruz, mostrando um Amor indefectível, mais forte que a morte.

[...] A Cruz de Cristo revela a maldade humana, mas, mais ainda, revela o Amor de Deus. Aos pés da Cruz de Cristo confrontam-se num dramático e perene duelo, ‘a fortaleza débil’ do homem e a ‘fraqueza forte’ de Deus. A fé é que nos revela quem é o vencedor”. (3)

Pode ocorrer na missão dos discípulos o mesmo, importa não deixar se levar pelo desânimo, frustração, dificuldades.

Se grande é a incredulidade humana, bem maior é o Amor de Deus por nós. 

Reflitamos:

  -  A missão do Profeta não é uma missão de descanso e fuga. Assim compreendo a minha missão?
  -  A missão do Profeta não é pelo prazer, mas fidelidade ao Sopro do Espírito, suportando as diversas dificuldades acima mencionadas. Sei suportar estas dificuldades, provações, na vivência de minha vocação profética?

  -   Qual é a minha vocação?
  -   Para que Deus me chama?

  -   Para onde Deus me envia?
  -   Como se manifesta em mim a graça divina?
  -   Quais são as dificuldades a serem superadas?

Colocar-se frente a estas questões permite um olhar mais atento aos grandes personagens da Bíblia, que viveram sua história de amor e sedução por Deus, cada um em seu tempo: Ezequiel, o Apóstolo Paulo, e tantos outros.

Hoje, na fidelidade ao Senhor, é preciso enraizar profundamente em Seu Amor, sem o que a chama profética se apagaria totalmente, e com isto não saberíamos qual o sentido do próprio existir.

Que na Eucaristia celebrada, pela Palavra de Deus iluminados, e pelo Pão da Imortalidade fortalecidos, renovemos e revigoremos a nossa vocação profética. 

Precisa-se de Profetas autênticos, para que o mundo seja mais próximo do que Deus quer para nós. Qual é a nossa resposta?

Oremos:
Que Deus nos conceda a graça de uma fé humilde,
disponibilidade confiante e obediência filial,
para vivermos autenticamente a missão que nos confia, 
não por causa de nossa força e mérito,
até mesmo por falta deles. 
Amém!


(1) (2) (3) - Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa -  pág. 663-666.

Profetas do Reino (XIVDTCB)

Profetas do Reino

           “Jesus lhes dizia:
'Um profeta só não é estimado em sua pátria,
entre seus parentes e familiares'” (Mc 6,1)

Com a Liturgia do 14º Domingo do Tempo Comum (ano B), refletimos sobre o chamado que Deus faz para a realização de Seu Projeto de Salvação: Deus chama os pequenos e fracos e, através destes, manifesta a Sua força. Escolhe, acompanha e envia em missão e os assiste em todo o tempo e em todas as situações.

Na passagem da primeira Leitura, refletimos sobre a vocação do Profeta Ezequiel (Ez 2,2-5) que, como toda vocação profética, é uma iniciativa de Deus e uma resposta humana, para ser no meio do Povo a voz de Deus: a missão do Profeta consiste em falar e atuar em nome de Deus.

O Profeta Ezequiel exerce o ministério profético no difícil tempo do exílio na Babilônia, e pode ser chamado “o Profeta da esperança”, denunciando as infidelidades a Javé que levaram o povo ao exílio, e também destruindo as falsas esperanças dos exilados, levando-os a confiar tão apenas em Deus, que não os abandonou e os reconduzirá de volta à sua terra.

O ministério do Profeta Ezequiel nos revela que Deus chama homens e mulheres frágeis e limitados e sua missão consiste em apresentar Sua proposta, ou seja, ser uma voz humana que indique os caminhos de Deus.

Pelo Batismo, também recebemos a missão de sermos profetas, fomos ungidos como profetas à imagem de Cristo. Como profetas, temos que viver com os olhos postos em Deus e os olhos postos no mundo (uma mão na Bíblia e a outra no jornal diário).

Deste modo conseguimos perceber a distância existente entre o sonho de Deus para a humanidade e a realidade vivida.

A vocação profética por vezes comporta perseguição, sofrimento e marginalização, e por isto, é preciso vencer todo medo, comodismo, preguiça que nos impeçam de viver esta missão.

Reflitamos:

- Quem são e onde estão os profetas hoje?
- O que mais nos impede a vivência da vocação profética?
- Temos consciência de que as fragilidades não são obstáculos para a vivência da vocação profética?

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 12,7-10), o Apóstolo Paulo nos comunica a mensagem de que somos instrumentos frágeis, finitos e limitados nas mãos de Deus.

Ele próprio não se vale de seus méritos e se apresenta como homem frágil e vulnerável, a quem Deus chamou e enviou para dar testemunho de Jesus Cristo a todo o mundo.

A finitude e a fragilidade não são determinantes para a missão, porque o que prevalece é a graça divina. Em nossa fraqueza, Deus manifesta a Sua força para vencermos todo desânimo e tentação de desistir.

O cristão autêntico vive em função de Cristo e conta com Ele na Palavra e na Eucaristia.

Reflitamos:

- Qual é o lugar que Jesus ocupa em minhas decisões, projetos, opções e atitudes?
- Quando experimentei a força de Deus em minha fraqueza?

Na passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), contemplamos a ação de Deus, que Se revela na fraqueza e na fragilidade, e por isto a dificuldade dos conterrâneos de Jesus reconhecê-Lo como Salvador da humanidade; não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que Ele diz e faz.

Esta rejeição, no entanto, não invalida Sua procedência divina nem O leva a desistir da missão pelo Pai confiada.

No rosto humano de Jesus, a divindade de Deus se revela, e no rosto divino de Jesus se revela a Sua humanidade: em Jesus o humano e o divino se encontram.

A atitude de Jesus nos convida a nunca desanimar e desistir: Deus tem Seus Projetos e sabe como transformar o fracasso em êxito.

Pelo Batismo, continuamos a missão de Jesus vivendo a vocação como graça e enfrentando as possíveis dificuldades.

A missão do profeta, no seguimento do Senhor, não é a busca do prazer, sucesso, vedetismo, holofotes, mas é algo sério, profundo e que dá sentido à vida.

É Deus que nos chama para a vocação profética apesar de nossas limitações, mas somente uma paixão profunda por Jesus nos fará profetas, aguentando o espinho na carne, enfrentando e superando incompreensões, oposições e acusações.

Reflitamos:

- Qual é a minha vocação na Igreja e no mundo?
- De que modo me abro à graça divina para viver a vocação e enfrentar possíveis dificuldades?
- Para onde Deus me envia?
- Como se manifesta em mim a graça divina?

Voltemo-nos à oração depois da comunhão da Solenidade de Pedro e Paulo, que muito nos fortalece no discipulado e missão para sermos hoje os profetas no mundo como Deus tanto espera.

“Concedei-nos, ó Deus, por esta Eucaristia, viver de tal modo na Vossa Igreja que, perseverando na Fração do Pão e na Doutrina dos Apóstolos, e enraizados no Vosso Amor, sejamos um só coração e uma só alma. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”

Tão somente enraizados no amor de Deus e nutridos pelo Pão da Imortalidade, iluminados pela Palavra do Senhor, e com a força e luz do Santo Espírito é que poderemos realizar com solicitude e ardor a missão profética recebida no dia de nosso Batismo.

Vocação profética, um desafio (XIVDTCB)

                                                         


Vocação profética, um desafio

           “Jesus lhes dizia:
'Um profeta só não é estimado em sua pátria,
entre seus parentes e familiares'.” (Mc 6,1)

Na quarta-feira da 4ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho (Mc 6,1-6), e assim contemplamos a ação de Deus, que Se revela na fraqueza e na fragilidade, e por isto a dificuldade dos conterrâneos de Jesus reconhecê-Lo como Salvador da humanidade; não conseguem reconhecer a presença de Deus naquilo que Ele diz e faz.

Esta rejeição, no entanto, não invalida Sua procedência divina nem O leva a desistir da missão pelo Pai confiada.

No rosto humano de Jesus, a divindade de Deus se revela, e no rosto divino de Jesus se revela a Sua humanidade: em Jesus o humano e o divino se encontram.

A atitude de Jesus nos convida a nunca desanimar e desistir: Deus tem Seus Projetos e sabe como transformar o fracasso em êxito.

Pelo Batismo, continuamos a missão de Jesus vivendo a vocação como graça e enfrentando as possíveis dificuldades.

A missão do profeta, no seguimento do Senhor, não é a busca do prazer, sucesso, vedetismo, holofotes, mas é algo sério, profundo e que dá sentido à vida.

É Deus que nos chama para a vocação profética, apesar de nossas limitações, mas somente uma paixão profunda por Jesus nos fará profetas, aguentando o espinho na carne, enfrentando e superando incompreensões, oposições e acusações.

Reflitamos:

- Qual é a minha vocação na Igreja e no mundo?
- De que modo me abro à graça divina, para viver a vocação e enfrentar possíveis dificuldades?

- Para onde Deus me envia?
- Como se manifesta em mim a graça divina?

Tão somente enraizados no amor de Deus, nutridos pelo Pão da Imortalidade, iluminados pela Palavra do Senhor, e com a força e luz do Santo Espírito, é que poderemos realizar, com solicitude e ardor, a missão profética recebida no dia de nosso Batismo.

Voltemo-nos à Oração depois da Comunhão da Solenidade de São Pedro e São Paulo, que muito nos fortalece no discipulado e missão, para sermos hoje os profetas no mundo como Deus tanto espera.

Oremos:

“Concedei-nos, ó Deus, por esta Eucaristia, viver de tal modo na Vossa Igreja que, perseverando na Fração do Pão e na Doutrina dos Apóstolos, e enraizados no Vosso Amor, sejamos um só coração e uma só alma. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”



PS: oportuno para o 14º Domingo do Tempo Comum - ano B

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (XIVDTCB)


“Cria em mim, ó Deus, um coração puro

Reflitamos sobre qual o sacrifício querido por Deus, ou seja, um espírito contrito, conforme veremos no Sermão do Bispo e Doutor Santo  Agostinho (Séc. V).

Reconheço o meu pecado, diz Davi. Se eu o reconheço, perdoa-me, Senhor! Mesmo procurando viver bem, de modo algum tenhamos a presunção de ser sem pecado. Que demos valor à vida em que se pede perdão. Os homens sem esperança, quanto menos atentam para os próprios pecados, com tanto maior curiosidade espreitam os alheios. Procuram não o que corrigir, mas o que morder. Não podendo escusar-se, estão prontos a acusar.

Não foi este o exemplo de rogar e de satisfazer a Deus que Davi nos deu, dizendo: Porque reconheço meu crime e meu pecado está sempre diante de mim. Davi não estava atento aos pecados alheios. Caía em si, não se desculpava, mas em si mesmo penetrava e descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia confiadamente pedir para si o perdão.

Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes contigo, para que Deus te seja propício. Presta atenção ao salmo, onde lemos: Porque se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Então ficarás sem sacrifício para oferecer? Nada oferecerás? Com nenhuma oblação tornarás Deus propício? Que disseste? Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Continua, escuta e dize: Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Rejeitado aquilo que oferecias, encontraste o que oferecer. Como os antepassados, oferecias vítimas de animais, ditos sacrifícios: Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente. Não queres mais este gênero de sacrifícios, no entanto, procuras um sacrifício.

Não te causam prazer os holocaustos. Se não tens prazer com os holocaustos, ficarás sem sacrifício? De modo algum. Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Tens o que oferecer. Não examines o rebanho, não aprestes navios e não atravesses as mais longínquas regiões em busca de perfumes. Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto sejamos semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em parte tu te unes à vontade de Deus, por te desagradar em ti aquilo mesmo que odeia aquele que te fez”.
Retomo parte do Sermão:

“Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus.”

No seguimento do Senhor, como discípulos missionários Seus, precisamos sempre rever nossos pensamentos, palavras, ações ou mesmo omissões.

Vigilantes para perceber o que possa criar raízes em nosso coração. e que não é do agrado de Deus.

Coragem de esmagar o que for preciso dentro dele, para que nosso coração seja criado por Deus, como um coração puro, em que todas as impurezas que não correspondam ao Evangelho sejam purificadas, e assim, vivamos segundo o espírito e não segundo a carne, como nos falou o Apóstolo aos Romanos (Rm 8,1-21).

Urge que sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, e de coração contrito e humilhado, voltarmos para Deus, que é rico em misericórdia, com novas posturas, novo e sagrados compromissos.

Da mesma forma, aceitarmos o amoroso convite do Senhor, que revela a inefável bondade divina:

“Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito (XIVDTCB)

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito, a fim de que reconheçamos a Vossa divina presença em nosso meio, na Palavra e nos Sacramentos, de forma tão respeitosa, paciente e humilde, e no amor testemunhado na doação da vida  sacrificada na Cruz.

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito, para que reconheçamos na aparente ‘presença fraca’ a expressão de um ‘amor forte’ de Vos por nós (Ez 2,2-5), que se opõe à nossa ‘fortaleza débil’, e que jamais desiste de nós.

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito, para que contemplemos no Cristo crucificado, expressão maior do amor divino, indefectível  e infinito  por nós, um amor mais forte que a morte, quando, inerme na Cruz, teve Seu coração trespassado.

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito, para que vejamos na Cruz a revelação da maldade humana, e mais ainda, o amor de Deus pela humanidade redimida e pelo Sangue do Inocente, Jesus Cristo.

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito, para que contemplemos, aos pés da Cruz Redentora, o confronto dramático e perene; o  duelo entre a “fortaleza débil’ do homem e a ‘fraqueza forte’ de Deus.

Dai-nos, Senhor, a Luz do Espírito, para que, enfim, revigorada a nossa fé, tenhamos os véus dos nossos olhos retirados, e experimentemos a Vida que vem da Gloriosa Ressurreição. Amém.



PS: Fonte de inspiração – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Voume I – Lisboa - 2011 – p.666

Bebamos da divina fonte da Sagrada Escritura (XIVDTCB)

 


Bebamos da divina fonte da Sagrada Escritura

Sejamos enriquecidos pelo Comentário do Salmo (Sl 1,33) escrito pelo Bispo Santo Ambrósio (séc. IV):

“Primeiramente tens de beber o Antigo Testamento, para poder beber também o Novo. Se não bebes o primeiro, também não poderás beber o segundo.

Bebe o primeiro, para encontrar algum alívio em tua sede: bebe o segundo, para saciar-te de verdade. No Antigo Testamento encontrarás um sentimento de contrição; no Novo, a verdadeira alegria.

Aqueles que beberam, no que não deixa de ser um tipo, puderam saciar sua sede; aqueles que beberam no que é a realidade, chegaram a embriagar-se completamente.

Quão boa é esta embriaguez que comunica a verdadeira alegria e não envergonha em nada! Quão boa é esta embriaguez que faz avançar com segurança a nossa alma que não perdeu seu equilíbrio! Quão boa é esta embriaguez que serve para regar o fruto da vida eterna! Bebe, pois, esta taça da qual diz o profeta: E minha taça transborda.

Porém, são duas as taças que tens de beber: a do Antigo Testamento e a do Novo; porque em ambas tu bebes a Cristo. Bebe a Cristo, porque é a verdadeira vide; bebe a Cristo, poque é a pedra da qual brotou  água; bebe a Cristo, porque é fonte de vida; bebe a Cristo, porque é o canal cujo correr alegra a cidade; bebe a Cristo, porque é a paz; bebe a Cristo, porque de seu interior manarão rios de água viva; bebe a Cristo, e assim beberás o sangue que te redimiu; bebe a Cristo, e assim assimilarás as Suas palavras; porque palavra Sua é o Antigo Testamento, palavra Sua também é o Novo.

Chegamos a beber e a comer a Sagrada Escritura se o sentido profundo da terceira palavra vem a embeber as nossas almas, como se circulasse por nossas veias e fosse o motor que impulsionasse toda a nossa atividade.

Finalmente, não só de pão vive o homem, mas de toda palavra de Deus. Bebe esta Palavra, porém a bebe na ordem devida. Bebe-a no Antigo Testamento e apressa-te a bebê-la no Novo. Também Ele, como se apressasse a Si mesmo a fazê-lo, diz: Agora engrandecerá o caminho do mar, ao outro lado do Jordão, a Galileia dos gentios. O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz, habitavam na escuridão e uma luz reluziu para eles.

Portanto, bebe prontamente, para que brilhe para ti uma grande luz, não a luz de todos os dias, nem a do dia, nem a do sol, nem a da lua; mas aquela que afugenta as sombras da morte. Pois, aos que vivem nas sombras da morte é impossível que vejam a luz do sol e do dia. E, adiantando-se a tua pergunta: Por que tão maravilhoso esplendor, por que tão extraordinário favor?, responde: Porque um menino nasceu para nós, um menino nos foi dado. Um menino, que nasceu da virgem, Filho, que, por ter nascido de Deus, é Aquele que faz com que brilhe tão maravilhosa luz. Um menino nasceu para nós. Nós, aos crentes.

Nasceu para nós, porque a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Nasceu para nós, porque da Virgem recebeu carne humana, nasce para nós, porque a Palavra nos é dada. Ao participar de nossa natureza, nasce entre nós; ao ser infinitamente superior a nós, é o grande dom que nos é concedido.”

Como peregrinos da esperança, seja a oração nossa força e luz no caminho.

Bebamos sempre da inesgotável divina fonte da Sagrada Escritura, de coração contrito e humilhado, para transborde a alegria de Deus em nossos corações. Amém.

Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág. 424-425

terça-feira, 2 de julho de 2024

Peregrinos da esperança: coração ardente, pés a caminho”

 


“Peregrinos da esperança: coração ardente, pés a caminho”

“Ainda que a figueira não floresça,
nem a vinha dê seus frutos,
a oliveira não dê mais o seu azeite,
nem os campos, a comida
 
mesmo que faltem as ovelhas nos apriscos
e o gado nos currais:
mesmo assim, eu me alegro no Senhor,
exulto em Deus, meu Salvador!” (1)
 
Ainda que a cruz de tantos nomes pese sobre meus ombros,
Tenho que seguir adiante, pois não posso jamais desistir,
Porque peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho.
 
Ainda que as mudanças tantas do mundo não as veja acontecer,
Tenho que persistir, contemplando os pequenos sinais do Reino,
Porque peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho.
 
Ainda que as ondas do mar pareçam forças absolutas possuir,
O barco agitado, o medo na travessia a fazer, n’Ele, Jesus, confiar.
Porque peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho.
 
Ainda que as montanhas e vales a subir e caminhar,
Na busca de objetivos que pareçam jamais poder alcançar, seguir...
Porque peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho.
 
Ainda que a luz do sol pareça não mais no céu irradiar,
Porque o caminho se fez mais escuro em pleno dia, pelas inquietações,
peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho.
 
Ainda que não encontre respostas para os mistérios cotidianos,
Nas asas do Espírito, na busca das coisas do alto, onde habita Deus,
Porque peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho.
 
Ainda que as forças pareçam eternamente exauridas,
Do Pão da Palavra e da Eucaristia, nutrir-se e seguir...
Porque peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho. 
 
Ontem, hoje e sempre.
Como os discípulos de Emaús, (2)
Peregrino da esperança, coração ardente, pés a caminho. Amém. Aleluia!
 
(1)             cf. Hb 3,17-18
(2)             cf. Lc 24,13-35
 
 

O Senhor está conosco: nada a temer!

                                                               

O Senhor está conosco: nada a temer!

“Levantando-Se, ameaçou os ventos e o mar,
e fez-se uma grande calmaria” (Mt 8,26)

A Liturgia da Palavra, da Terça-feira da 13ª Semana do Tempo Comum (ano ímpar), nos apresenta como Leituras: Livro do Gênesis (19,15-29) e Evangelho de Mateus (Mt 8, 23-27).

Na primeira Leitura, o Senhor fez chover do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra, e também a célebre passagem sobre a mulher de Ló que, olhando para trás, tornou-se uma estátua de sal.

Na passagem do Evangelho, Jesus presente na barca dando ordem aos ventos e ao mar, e concedendo uma grande calmaria.

O Missal Cotidiano, sobre a primeira leitura, apresenta estes questionamentos: 

Num mundo como o nosso, “Para onde poderiam fugir os justos, se Deus quisesse destruir as cidades pecadoras?”
- “Quais cidades poderiam declarar-se sem pecado?”

Em seguida, afirma que o real problema não é tanto o fugir materialmente, porque nem mesmo é preciso fugir, e como pecadores precisamos ter diante dos olhos os testemunhos dos justos, pois “O bom grão é destinado a crescer ao lado do joio, até a ceifa. O importante é que o bom grão não se torne joio”.

De fato, como cristãos, temos sempre um duplo princípio evangélico: não podemos nos isentar da responsabilidade pelo mal praticado e jamais nos omitirmos em sua eliminação.

Se há uma volta, é aquela acompanhada do arrependimento sincero e o propósito de não mais errar; de trilhar um novo caminho na mais perfeita sintonia com o querer e a vontade divina, com a certeza de que o Senhor está na “barca”.

Verdadeiramente, Ele está fazendo conosco a grande travessia e nos ajudando a superar o medo dos ventos contrários, símbolo das contrariedades e dificuldades que precisamos enfrentar com coragem, e vivendo nossa fé, experimentar a “calmaria” que Ele pode nos garantir, e então também diremos admirados como os discípulos: 

“Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mt 8,27).



Missal Cotidiano - Editora Paulus - p.966

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG