Ouçamos o chamado do Senhor
Celebramos dia 17 de janeiro a Memória de Santo Antão (séc. IV), o pai do monaquismo (vida monástica).
Sejamos enriquecidos por esta reflexão, na qual ele nos apresenta três formas de se começar na conversão, chamados pelo amor de Deus, antes de chegar nela a graça e a vocação de filhos de Deus, sejam homens, sejam mulheres.
“Saudação a vossa caridade no Senhor. Irmãos, julgo que existem três tipos de pessoas entre aquelas a quem o Amor de Deus chama: homens ou mulheres.
Alguns são chamados pela Lei do Amor depositada em sua natureza e pela bondade original que forma parte dela em seu primeiro estado, e em sua primeira criação. Quando ouvem a Palavra de Deus não existe nenhuma vacilação; prontamente a seguem.
Assim ocorreu com Abraão, o patriarca. Deus viu que ele sabia amá-Lo, não em consequência de um ensinamento humano, mas seguindo a lei natural inscrita nele, e conforme a qual ele mesmo o havia modelado ao princípio.
E revelando-Se Ele disse: ‘Sai de tua terra e de tua casa, e vem para a terra que Eu te mostrarei’. Sem vacilar, foi-se impulsionado por sua vocação. Isto é um exemplo para os principiantes: se sofrem e buscam o temor de Deus na paciência e na tranquilidade, recebem em herança um comportamento glorioso porque são compelidos a seguir o Amor do Senhor. Este é o primeiro tipo de vocação.
Eis aqui o segundo. Alguns ouvem a Lei escrita, que dá testemunho a respeito dos sofrimentos e suplícios preparados para os ímpios e das promessas reservadas para quem dá fruto no temor de Deus.
Estes testemunhos despertam neles o pensamento e o desejo de obedecer a sua vocação. Davi o testifica dizendo: ‘A Lei do Senhor é perfeita, e é descanso da alma; o Preceito do Senhor é fiel, e instrui ao ignorante’. Assim como em muitas outras passagens que não temos intenção de citar.
E eis aqui o terceiro tipo de vocação: alguns, quando ainda estão começando, têm o coração duro e permanecem nas obras do pecado, Porém Deus, que é todo misericórdia, atrai sobre eles provas para corrigi-los, até que desanimem (daquele caminho) e, comovidos, voltem a Ele.
Doravante O conhecem, e seu coração se converte. Também eles obtêm o dom de um comportamento glorioso como os que pertencem às duas categorias anteriores.
Estas são as três formas de se começar na conversão, antes de chegar nela a graça e a vocação de filhos de Deus.
Alguns há que começam com todas as suas forças, dispostos a desprezar as tribulações, a resistir e manter-se firmes em todos os combates que lhes aguardam, e a triunfar neles.
Creio que o Espírito Se adianta a eles para que o combate seja rápido, e doce a obra de sua conversão. Mostra-lhes os caminhos da ascese, corporal e interior, como converter-se e permanecer em Deus, seu Criador, que faz perfeitas as suas obras. Ensina-lhes como fazer violência, ao mesmo tempo à alma e ao corpo, para que ambos se purifiquem e juntos recebam a herança.
Primeiro se purifica o corpo por jejuns e vigílias prolongadas; e depois o coração mediante a vigilância e a Oração, assim como toda prática que debilita o corpo e corta os desejos da carne” (1).
Deste modo, como vemos, Deus nos chama de três modos:
- Prontamente e sem vacilação, quando escutamos Seu chamado;
- Tocados pela escuta e acolhida da Palavra de Deus, que nos chama também a viver a mesma fé;
- Acolhidos pela misericórdia divina, que dobra a dureza de nosso coração, aquece e ilumina com o Fogo do Espírito; conhecendo o Senhor, nosso coração se converte.
Em todo o tempo, temos a graça de avaliar, rever e reorientar nossos passos na fidelidade ao Senhor, a fim de que sejamos mais solícitos e prontos ao Seu chamado, sem vacilações, morosidade, que nos retardem aos sagrados compromissos.
Tenhamos a graça de ser mais tocados e iluminados pela Palavra de Deus, que deve ser lida, ouvida, meditada, crida e, na vida, em prática colocada.
Supliquemos ao Senhor, para que tire nosso coração de pedra e nos dê um coração de carne, mais terno, manso e humilde, como assim é o Sagrado Coração de Jesus, assim teremos, em nossa mente e coração, os mesmos pensamentos e sentimentos do Senhor, impulsionados pela luz do Espírito Santo.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Ed Vozes – pp.310-311
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