O cuidado do rebanho
“...enfermo quer
dizer não firme,e doente o que se
sente mal”
Sejamos
enriquecidos pelo Sermão do Bispo e Doutor da
Igreja, Santo Agostinho (séc. V).
“Ao
enfermo, diz o Senhor, não fortificastes (Ez 34,4). Diz aos maus pastores, aos pastores
falsos, que buscam seu interesse, não o de Jesus Cristo. Aos que se alegram com
as dádivas do leite e da lã, mas descuram totalmente as ovelhas e não cuidam
das doentes. Parece-me haver diferença entre enfermo e doente – pois costuma-se
chamar de enfermos os doentes; enfermo quer dizer não firme, e doente o que se
sente mal.
Na
verdade, irmãos, esforçamo-nos de algum modo por distinguir estas coisas, mas
talvez com maior aplicação poderíamos nós ou outro mais entendido e com o
coração mais cheio de luz discernir melhor.
À
espera disto, para que não sejais privados em relação às palavras da Escritura,
falo o que penso. É de se temer sobrevenha uma tentação ao enfermo que o
debilite. O doente, ao contrário, já adoeceu por alguma ambição e por esta
ambição se vê impedido de entrar no caminho de Deus, de submeter-se ao jugo de
Cristo.
Observai
esses homens que desejam viver bem, já decididos a viver bem. São, no entanto,
menos capazes de suportar os males do que fazer o bem. Pertence à firmeza do
cristão não apenas fazer o bem, mas também tolerar os males.
Aqueles,
pois, que parecem ardentes nas boas obras, mas não querem ou não podem suportar
as provações iminentes, estes são enfermos. Por outro lado, aqueles que amam o
mundo e, por qualquer desejo mau, se afastam até das obras boas, jazem
gravemente doentes, visto que pela doença, sem forças, nada de bom podem
realizar.
O
paralítico era um destes, na alma. Os que o carregavam, não podendo levá-lo até
junto do Senhor, descobriram o teto e fizeram-no descer. É isto que terias de
fazer: descobrir o teto e colocar junto do Senhor a alma paralítica, com todos
os membros frouxos, e vazia de obras boas, curvada sob o peso dos pecados e
doente com o mal de sua cobiça.
Portanto,
se todos os seus membros estão frouxos e há paralisia interior para levá-la ao
médico – talvez o médico esteja escondido no teu interior: seria este um
sentido oculto nas Escrituras – se queres descobrir-lhe o que está oculto,
descobre o teto e faze descer diante dele o paralítico.
A
quem assim não procede e desdenha fazê-lo, ouvistes o que lhe dizem: Aos
doentes não fortalecestes, ao fraturado não pensastes (Ez 34,4); já explicamos esta
passagem.
Estava
alquebrado pelo terror das provações. Mas surge algo que restaura a fratura,
estas palavras de consolo: Fiel é Deus que não permitirá
serdes tentados além do que podeis suportar, mas com a tentação vos dará o meio
de sair dela para que a possais suportar (1Cor 10,13)”.
Como
discípulos missionários do Senhor, eis a nossa missão: cuidar do rebanho, por
vezes enfermo ou doente, como tão bem expressou o Bispo – “...enfermo
quer dizer não firme, e doente o que se sente mal”.
Sobretudo
nestes tempos marcados pela pandemia, com histórias multiplicadas de sofrimentos,
enfermidades, lutos e prantos, há a necessária criatividade, para que tenhamos inciativas
possíveis (ainda que virtuais) para ir ao encontro daqueles que mais precisam,
debilitados (enfermos ou doentes).
Para as feridas abertas, temos em cada Eucaristia, quando comungamos, o remédio de imortalidade e o antídoto para não morrer, pois assim disse o Senhor: “Quem comer da minha Carne e beber do meu Sangue não morrerá para sempre” (Jo 6,54).
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