terça-feira, 21 de maio de 2024

Deus, que nos criou por amor, não desiste de nós


Deus, que nos criou por amor, não desiste de nós


“O amor não desiste perante o impossível, 
não desanima diante das dificuldades”

Na terça-feira da 7ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Livro  do Gênesis (Gn 6,5-8; 7,1-5.10), sobre o acontecimento do dilúvio, em que Deus promete exterminar da face da terra o homem por Ele criado.

Sejamos, portanto, enriquecidos pelo Sermão de São Pedro Crisólogo (séc. V).

“Vendo o mundo oprimido pelo temor, Deus procura continuamente chamá-lo com amor, convidá-lo com a Sua graça, segurá-lo com a caridade, abraçá-lo com afeto.

Por isso, purifica com o castigo do dilúvio a terra que se tinha inveterado no mal; chama Noé para gerar um mundo novo; encoraja-o com palavras afetuosas, concede-lhe Sua confiante amizade, o instrui com bondade acerca do presente e anima-o com Sua graça a respeito do futuro.

E já não Se limita a dar-lhe ordens, mas tomando a parte no seu trabalho, encerra na arca toda aquela descendência que havia de perdurar por todos os tempos, para que esta Aliança de Amor acabasse com o temor da servidão e se conservasse na Comunhão de Amor o que fora salvo com a comunhão de esforços.

Por esse motivo chama Abraão dentre os pagãos, engrandece seu nome, torna-o pai dos crentes, acompanha-o em sua viagem, protege-o entre os estrangeiros, cumula-o de bens, exalta o com vitórias, dá-lhe garantia de Suas promessas, livra-o das injúrias, torna-Se seu Hospede, maravilha-o com o nascimento de um filho que ele já não podia esperar.

Tudo isso a fim de que, cumulado de tantos benefícios, atraído pela grande doçura da caridade divina, aprendesse a amar a Deus e não mais temê-lo, a honrá-lo com amor e não com medo.

Por isso também, consola em sonhos a Jacó quando fugia, desafia-o para um combate em seu regresso e na luta aperta-o nos braços, para que não temesse, porém, amasse o instigador do combate.

Por isso ainda, chama Moisés na própria língua e fala-lhe com afeto paterno, convidando-o a ser o libertador de Seu povo.

Em todos esses fatos que relembramos, de tal modo a chama da caridade divina inflamou o coração dos homens e o inebriamento do Amor de Deus penetrou os seus sentidos que, cheios de afeto, começaram a desejar ver a Deus com os olhos do corpo.

Deus, que o mundo não pode conter, como  olhar limitado do homem o abrangeria? Mas o que deve ser, o que é possível, não é a regra do amor. O amor ignora as leis, não tem regra, desconhece medida. O amor não desiste perante o impossível, não desanima diante das dificuldades.

O amor, se não alcança o que deseja, chega a matar o que ama; vai para onde é atraído, e não para onde deveria ir. O amor gera o desejo, cresce com ardor e pretende o impossível. E que mais?

O amor não pode deixar de ver o que ama. Por isso todos os Santos consideravam pouca coisa toda recompensa, enquanto não vissem a Deus.

Por isso Moisés se atreve a dizer: ‘Se encontrei graça na Vossa presença, mostrai-me o Vosso Rosto’ (Ex 33,13.18). Por isso, diz também o salmista: ‘Não me escondais a Vossa Face’ (Sl 26,9). Por isso, enfim, até os próprios pagãos, no meio de seus erros, modelaram ídolos, para poderem ver com seus próprios olhos o objeto de seu culto.”  (1).

As palavras tão inflamadas de amor do Bispo nos encoraja para a necessária travessia do mar da vida, ao encontro do Senhor que vem ao nosso encontro.

Urge o esvaziamento do coração de tudo aquilo que ocupe o lugar do Sumamente Essencial: o Amor de Deus, manifestado de modo indescritível em Jesus Cristo, no Mistério de Sua Paixão, Morte e Ressurreição.



(1) Liturgia das Horas - Vol. I – pp. 199/200.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG