segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Mensagem para o 50º Dia Mundial da Paz (Papa Francisco) (2017)


Mensagem para o 50º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco
“A não-violência: estilo de uma política para a paz”

O Papa Francisco em sua Mensagem para 50º Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2017) nos convida a viver a não-violência, fazendo desta um estilo de política para a paz, assim como se intitula sua Mensagem.

Inicia ressaltando a semelhança de Deus impressa em cada pessoa, o que, consequentemente, a torna portadora de dons sagrados, com dignidade imensa. Deste modo, todos somos chamados a respeitar esta dignidade, sobretudo nas situações de conflito.

Retoma a primeira Mensagem feita pelo Beato Papa Paulo VI em que se dirigiu a todos os povos – e não só aos católicos – com palavras inequívocas: “Finalmente resulta, de forma claríssima, que a paz é a única e verdadeira linha do progresso humano (não as tensões de nacionalismos ambiciosos, nem as conquistas violentas, nem as repressões geradoras duma falsa ordem civil)”.

 E ainda a referência ao que o Beato fez a São João XIII, em que exaltava “o sentido e o amor da paz baseada na verdade, na justiça, na liberdade, no amor” pela notável atualidade.

O Papa Francisco exorta para a não-violência como estilo duma política de paz, pedindo a  Deus para nos ajudar a todos na inspiração da não-violência nas profundezas dos sentimentos e valores pessoais.

“Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais... Desde o nível local e diário até ao nível da ordem mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas formas” (n.1).

Em seguida nos apresenta a realidade um mundo dilacerado, marcado por guerra mundial aos pedaços (diferentemente do século passado que foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos).

Uma violência que se exerce «aos pedaços», de maneiras diferentes e a variados níveis, provocando enormes sofrimentos: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental.

Enfatiza que a violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado: “Responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a atrozes sofrimentos, porque grandes quantidades de recursos são destinadas a fins militares e subtraídas às exigências do dia-a-dia dos jovens, das famílias em dificuldade, dos idosos, dos doentes, da grande maioria dos habitantes da terra. No pior dos casos, pode levar à morte física e espiritual de muitos, se não mesmo de todos (n.2).

É preciso voltar para a Boa-Nova de Jesus que traçou o caminho da não-violência que Ele percorreu até o fim, até a Cruz, tendo assim estabelecido a paz e destruído a hostilidade (Ef 2,14-16, Mt 5,44):

“O próprio Jesus viveu em tempos de violência. Ensinou que o verdadeiro campo de batalha, onde se defrontam a violência e a paz, é o coração humano: «Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos» (Mc 7, 21) (n.3)

Assim compreendeu São Francisco de Assis, que exortava: «A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos vossos corações» (n.3)

Como verdadeiros discípulos de Jesus, precisamos aderir também à Sua proposta de não-violência, desde que esta seja entendida não como sinônimo de rendição, negligência ou passividade.

Citando madre Tereza, ressalta que nossa missão é ir ao encontro das vítimas com generosidade e dedicação, tocando e vendando cada corpo ferido, curando cada vida dilacerada (n.4).

Cita outras pessoas que entenderam e viveram a não-violência: Mahatma Gandhi Khan Abdul Ghaffar Khan, na libertação da Índia; Martin Luther King Jr contra a discriminação racial nunca serão esquecidos; Leymah Gbowee e milhares de mulheres liberianas, que organizaram encontros de oração e protesto não-violento (pray-ins), obtendo negociações de alto nível para a conclusão da segunda guerra civil na Libéria, e por fim São João Paulo II também é lembrado

–“Que os seres humanos aprendam a lutar pela justiça sem violência, renunciando tanto à luta de classes nas controvérsias internas, como à guerra nas internacionais” (n.4).

Ressalta o compromisso da Igreja na implementação de estratégias não-violentas para promoção da paz em muitos países solicitando, inclusive aos intervenientes mais violentos, esforços para construir uma paz justa e duradoura.

Reitera sem hesitação que “nenhuma religião é terrorista”, pois a violência é uma profanação do nome de Deus: “Nunca nos cansemos de repetir: «jamais o nome de Deus pode justificar a violência. Só a paz é santa. Só a paz é santa, não a guerra” (n. 4).

Papel fundamental na prática da não-violência exerce a família, como salientou na Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” (n.90-130).

Referindo-se ao Jubileu da Misericórdia, que terminou em novembro passado, faz um convite a olhar para as profundezas do coração e a deixar entrar nele a misericórdia de Deus e pôr em prática o pequeno caminho do amor, não perdendo aa oportunidade duma palavra gentil, dum sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade:
“Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo” (n. 5).

Convida a todos para a construção da paz por meio da não-violência ativa, conduzidos por Jesus, que nos oferece um “manual” desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da Montanha:

As oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5, 3-10) traçam o perfil da pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica. Felizes os mansos – diz Jesus –, os misericordiosos, os pacificadores, os puros de coração, os que têm fome e sede de justiça” (n.6).

Trata-se de “um programa e um desafio também para os líderes políticos e religiosos, para os responsáveis das instituições internacionais e os dirigentes das empresas e dos meios de comunicação social de todo o mundo: aplicar as Bem-aventuranças na forma como exercem as suas responsabilidades.

Assegura o acompanhamento da Igreja Católica a toda a tentativa de construir a paz inclusive através da não-violência ativa e criativa.

Comunica também a criação de um novo Dicastério, no dia 1 de janeiro de 2017: o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que ajudará a Igreja a promover, de modo cada vez mais eficaz, “os bens incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação” e da solicitude pelos migrantes, «os necessitados, os doentes e os excluídos, os marginalizados e as vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais, os reclusos, os desempregados e as vítimas de toda e qualquer forma de escravidão e de tortura.

Pedindo a Virgem Maria, a Rainha da Paz, para servir de guia, conclui com estas palavras:

“Todos desejamos a paz; muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para a construir”.

No ano de 2017, comprometamo-nos, através da oração e da ação, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações, palavras e gestos a violência, e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. “Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos de paz” (n.7). 

PS: Desejando ler a mensagem na íntegra, acesse:

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