domingo, 30 de março de 2025

Senhor, queremos ser misericordiosos como o Vosso Pai... (IVDTQC)

                                                                


Senhor, queremos ser misericordiosos como o Vosso Pai...

Senhor, empenhados no itinerário quaresmal, somos iluminados pela Vossa Palavra comunicada na Parábola do Pai misericordioso, que nos revela a face e o agir de Deus, expressão suprema de ternura, bondade, acolhida e perdão.

Vós nos ensinais que não basta ter permanecido sempre na casa do  Vosso Pai para participar do Banquete, é preciso que saibamos perdoar de coração sincero, sem limites, como nos ensinais também a perdoar.

Vós não só quereis que nada façamos de reprovável, mas quereis e esperais uma nova postura e mentalidade de quem se afastou de Vossa casa, porque experimentou um novo olhar de misericórdia.

Vós quereis que nossa fé não se resuma à observância das Leis da Igreja e do Estado, e ao trabalhado sempre por um mundo mais justo, mas que nossa conduta seja marcada por princípios éticos que reluzem em Vossos ensinamentos.

Senhor, Vos suplicamos que nos ensineis a perdoar a quem caiu, sendo sinal de Vossa bondade, não guardando rancor contra o nosso próximo, na família, comunidade ou em qualquer outro lugar.

Senhor, queremos nos afastar de todo mal e aprender a fazer o bem, alegrando-nos com a reconciliação daquele que estivera perdido e por Vós foi encontrado; morto e voltou a viver.

Senhor, assistidos pelo Vosso Espírito, como Igreja, na comunhão com Vosso Pai Misericordioso, sejamos não uma comunidade dos que não erram, dos que não caem, mas dos pecadores que querem voltar a Vós, Trindade Santa de Amor pleno e eterno.

Senhor, ajudai-nos a construir uma comunidade dos que compreendem o outro e, se este cai, o ajuda a retomar o caminho juntos, quer comunicando uma palavra, quer multiplicando um gesto de ternura e perdão. Amém.


Fonte Inspiradora: Passagem do Evangelho Lc 15,1-3.11-32
Livre adaptação do Missal Dominical p. 236

“Festa, roupa nova, anel e sandálias” (IVDTQC)


“Festa, roupa nova, anel e sandálias”

Iluminados sejamos pelo Sermão do Papa e Doutor da Igreja, São Gregório Magno, sobre o filho pródigo, contida na  passagem do Evangelho (Lc 15,11-32).

“Disse o pai aos seus servos: Trazei depressa a primeira túnica para vestir meu filho. A primeira túnica é a veste abençoada da inocência, que nosso primeiro pai Adão recebeu, tendo sido criado com sabedoria pela mão de Deus, e depois a perdeu sendo enganado pelo demônio.

E assim, após nossos primeiros pais terem pecado conheceram que estavam nus, e como pessoas que haviam perdido aquela glória da imortalidade, revestiram-se de peles de animais mortais.

Pelos servos aos quais o Pai deu esta ordem, entendemos todos os santos pregadores: estes trouxeram a primeira veste, quando com sua santa doutrina não só converteram os homens, mas também mostraram claramente que, guardando a devida justiça em suas obras, seriam sublimados a tanta graça que não seriam apenas cidadãos dos anjos, mas também herdeiros de Deus e coerdeiros de Jesus Cristo.

E colocai um anel nos seu dedo. Este é o costume que, com o anel, sejam seladas as coisas íntimas; e, assim, pelo anel podemos entender o selo da fé, com a qual se selam no coração dos fiéis todas as coisas que da parte de Deus lhes são prometidas.

Também é costume que a esposa confirme com um anel a fidelidade com seu esposo, e assim podemos entender por este anel a graça que Cristo nosso Redentor dá para a Igreja, Sua Esposa.

E diremos, então, que o filho pródigo recebeu o anel quando uniu a si, mediante a fé, a Igreja tirada da gentilidade. E com razão se põe o anel na mão, para mostrar que, com as obras, se confirmará a fé, e com a fé as obras.

E sandálias nos pés. Pelos sapatos entende-se o ofício da pregação, porque assim afirma a Sagrada Escritura quando diz: quão formosos são os pés dos mensageiros da paz, e que pregam o bem; e o glorioso Apóstolo confirmando isto escrevendo de Éfeso diz: tende, irmãos, os pés calçados, e estai preparados para a pregação do santo Evangelho.

Diremos, pois, que voltando o filho pródigo à misericórdia do pai, adornam-lhe os pés e as mãos. Adornam-lhe as mãos para ensinar a nós e a todos os fiéis que vivamos com obras de justiça; e os pés para que, levando em consideração o exemplo dos santos, trabalhemos por caminhar ao céu.

Trazei um novilho gordo e matai-o. Por este novilho gordo entende-se o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor: porque na verdade, para a nossa alma, Sua carne é de uma gordura e virtude espiritual de tão abundante graça, que se nos dispusermos a recebê-la, muito nos confortará no caminho em que peregrinamos, pois só ela foi capaz de apagar os pecados do mundo inteiro.

Mandou, pois trazer o novilho e matar-lhe, na mesma ocasião em que ordenou que os Mistérios de Sua vida santíssima e de Sua morte e paixão fossem publicados pelos santos Apóstolos. Porque parece que este novilho santíssimo acabou de ser sacrificado para alguém, quando de novo volta a crer n’Ele; e então é comido, quando é recebido sacramentalmente na alma limpa, quando se faz memória de Sua paixão com alma limpa.

Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado. Deveis observar que disse ‘comamos’, falando em plural, por onde podemos entender que da carne santíssima deste novilho tão santo, não só come o filho que estava morto e reviveu, perdido e foi achado, mas também comeu o pai e os criados de sua casa.

Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai celestial, e Sua alegria é o perdão de nossos pecados. E este gozo não é só do Pai soberano, mas também do Filho e do Espírito Santo, porque a obra, a alegria e o amor da Santíssima Trindade é una.” (1)

Cremos que Deus é misericórdia, e Jesus é o rosto da misericórdia divina. Jesus nas Parábolas da misericórdia (Lucas 15) nos fala da alegria que há nos céus por um só pecador que se converte.

Na própria Parábola comentada por São Gregório Magno, temos a festa promovida pelo pai, pelo fato do filho ter voltado, pois estava perdido e foi encontrado, estava morto e voltou a viver.

São expressivas as palavras finais do Sermão do Papa:
“Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai celestial, e sua alegria é o perdão de nossos pecados. E este gozo não é só do Pai soberano, mas também do Filho e do Espírito Santo, porque a obra, a alegria e o amor da Santíssima Trindade é una”.

E antes, guardemos tempo meditando no simbolismo da veste, anel, sandália e do banquete oferecido, no qual se sacrificou um novilho para comemorar a grande e esperada volta do filho, que o pai soube aguardar com toda paciência, pois a misericórdia de Deus Se revela na paciência e espera de nossa conversão.

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Ed Vozes - 2013 – pp. 571-572. 

Deus não quer a morte do pecador (IVDTQC)

                                                      

Deus não quer a morte do pecador

O escritor, poeta e filósofo assim escreveu sobre a parábola do filho pródigo, como é conhecida, ou a “a Parábola do pai misericordioso”, como também podemos chamá-la:

O pai “ama tanto o seu filho que o apanha com um anzol invisível e com uma linha de pesca invisível, que é suficientemente grande para deixá-lo vaguear até aos confins do mundo e, no entanto, fazê-lo regressar com um só puxão de linha”. (1)

Na figura do pai, contemplamos a face e o agir de Deus, que nos ama com o amor infinito, sempre pronto a nos acolher de volta, recriados e renovados por Sua misericórdia, que nos envolve em Sua indizível ternura e desejo de que sejamos felizes; felicidade que somente podemos encontrar, se d’Ele não nos distanciarmos.

Rezemos por quantos estejam afastados do convívio amoroso de Deus, distantes também de nossas comunidades, da Mesa do Pão da Palavra e da Eucaristia.

Repensemos nossa pastoral, para que seja mais acolhedora e misericordiosa, assim como nos ensinou Jesus com as três Parábolas que encontramos, sobretudo, no capítulo 15 do Evangelho de São Lucas.

Seja a Quaresma tempo de reconciliação com Deus e com nosso próximo. Deus está sempre pronto a nos acolher e nos perdoar, oferecendo novas possibilidades, um novo caminho:

“Deus não fecha os olhos com complacente paternalismo, mas abre novo crédito de confiança a nossas responsabilidades e dá a garantia de vencer o mal com o bem. Renova assim no pecador a alegria de viver”. (2)

Participemos da festa dos reconciliados, que experimentam a força e a vida nova que nasce de cada gesto de amor, acolhida e perdão.

Oremos:

“Ó Deus, que pelos exercícios da Quaresma já nos dais na terra participar dos bens do céu, guiai-nos de tal modo nesta vida, que possamos chegar à luz em que habitais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.”


(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Volume Quaresma Páscoa – 2011 – p. 132
(2) Missal Cotidiano – Editora Paulus – p. 222

O Senhor iluminou os nossos olhos (IVDTQ)

O Senhor iluminou os nossos olhos

No 4º Domingo da Quaresma, a Igreja nos oferece, na Liturgia das Horas,  um texto escrito pelo Bispo Santo Agostinho (séc V),  extraído “Dos Tratados sobre o Evangelho de São João” sobre a passagem em que Jesus realiza o sinal da cura do cego de nascença (Jo 9,1-41).

“Diz o Senhor: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).

Estas breves palavras contêm um preceito e uma promessa. Façamos o que o Senhor mandou, para esperarmos sem receio receber o que prometeu, e não nos vir Ele a dizer no dia do Juízo: 'Fizeste o que mandei para esperares agora alcançar o que prometi?’ Responder-te-á: ‘Disse quem e seguisses’. Pediste um conselho de vida. De que vida, senão daquela sobre a qual foi dito: Em Vós está a fonte da vida?(Sl 35,10).

Por conseguinte, façamos agora o que nos manda, sigamos o Senhor, e quebremos os grilhões que nos impedem de segui-Lo. Mas quem é capaz de romper tais amarras se não for ajudado por Aquele de quem se disse: Quebrastes os meus grilhões (Sl 115,7). E também noutro salmo: É o Senhor quem liberta os cativos, o Senhor faz erguer-se o caído (Sl 145,7-8).

Somente os que assim são libertados e erguidos poderão seguir aquela luz que proclama: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não andará nas trevas.

Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir a vista ao cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com Sua saliva misturada com terra.

Cegos também nós nascemos de Adão, e precisamos de ser iluminados pelo Senhor. Ele misturou Sua saliva com a terra: E a Palavra Se fez Carne e habitou entre nós (Jo 1,14).

Misturou Sua saliva com a terra, como fora predito: A verdade brotou da terra (cf. Sl 84,12). E Ele próprio disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).

A verdade nos saciará quando O virmos face a face, porque também isso nos foi prometido. Pois quem ousaria esperar, se Deus não tivesse prometido ou dado?

Veremos face a face, como diz o Apóstolo: Agora, conheço apenas de modo imperfeito; agora, nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face (1Cor 13,12).

E o Apóstolo João diz numa de suas Cartas: Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é (1Jo 3,2). Eis a grande promessa!

Se O amas, segue-O! ‘Eu O amo, dizes tu, mas por onde O seguirei?’ Se o Senhor te houvesse dito: ‘Eu sou a Verdade e a Vida’, tu que desejas a verdade e aspiras à vida, certamente procurarias o caminho para alcançá-la e dirias a ti mesmo: ‘Grande coisa é a verdade, grande coisa é a vida! Ah, se fosse possível à minha alma encontrar o caminho para lá chegar!’

Queres conhecer o caminho? Ouve o que o Senhor diz em primeiro lugar: Eu sou o Caminho. Antes de dizer aonde deves ir, mostrou por onde deves seguir. Eu sou, diz Ele, o Caminho. O Caminho para onde? A Verdade e a Vida.

Disse primeiro por onde deves seguir e logo depois indicou para onde deves ir. 'Eu sou o Caminho, Eu sou a Verdade, Eu sou a Vida'. Permanecendo junto do Pai, é Verdade e Vida; revestindo-Se de nossa carne, tornou-Se o Caminho.

Não te é dito: ‘Esforça-te por encontrar o caminho, para que possas chegar à verdade e à vida’. Decerto não é isso que te dizem. Levanta-te, preguiçoso! O próprio Caminho veio ao teu encontro e te despertou do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te; levanta-te e anda!

Talvez tentes andar e não consigas, porque te doem os pés. Por que estão doendo? Não será pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer?

Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. ‘Eu tenho os pés sadios, respondes, mas não vejo o Caminho’. Lembra-te que Ele também deu a vista aos cegos”.

Santo Agostinho nos apresenta o Cristo, que é o caminho para a luz e a verdade para a vida, e enviado por Deus pode nos curar de toda enfermidade, de toda cegueira.

Assim como o cego de nascença, também sejamos curados de nossa cegueira interior, a mais empobrecedora de todas, a cegueira espiritual, tenhamos o coração iluminado para ver como Deus vê, pois Ele vê o coração e não as aparências (1Sm 16,7).

Curados de nossa cegueira para vivermos como filhos da luz, na prática da bondade, amor e verdade, como o Apóstolo nos exorta na Epístola (Ef 5, 8-14).

Curados, iluminados por Deus, e iluminadores do mundo, com Sua Divina luz, sejamos. Amém! 

Movidos pelo amor

                                                            

Movidos pelo amor

O monge São João Clímaco (séc. VI) nos apresenta, no oitavo degrau da Escada Santa, um fato presenciado que muito nos ilumina sobre o verdadeiro amor, que se estende aos inimigos:

“Um dia vi três monges humilhados de maneira semelhante no mesmo momento. O primeiro ficou imensamente ofendido, perturbou-se, mas guardou o silêncio. O segundo alegrou-se por si mesmo, mas entristeceu-se por quem o insultava. O terceiro só pensou no dano causado ao seu próximo e chorou com extrema compaixão. Um era movido pelo temor, o outro pela esperança da recompensa, o terceiro pelo amor.”

Também nós podemos ser humilhados ou constrangidos, por diversas situações ou por alguém, e podemos ter semelhantes atitudes.

Roguemos a Deus que nos dê a mansidão necessária, para que alcancemos o grau elevado da terceira atitude, a fim de que sejamos movidos pelo amor, choremos por extrema compaixão de quem nos tenha ofendido.

Ainda que nos seja difícil, é a melhor atitude que devemos ter, para que não nos seja roubada a graça e a alegria de perdoar e ser perdoado, inseparavelmente.

De nossos olhos, sejam vertidas lágrimas de compaixão, que  purifiquem nosso olhar e nosso coração, e possamos ver  a presença de Deus no coração de nosso próximo, ainda que nos tenha ofendido. Amém.


PS: citado em Fontes: Os Místicos Cristãos dos primeiros séculos – textos e comentários – Edições Subíaco – p.224
Memória celebrada no dia 30 de março.

Fortalecidos pela oração

                                                   

Fortalecidos pela oração

“Seja todo o fio da oração singelo, sem multiplicação e elegância de muitas palavras, pois somente com uma se reconciliaram com Deus o publicano do Evangelho e o filho pródigo.”

Na Quaresma, a Igreja nos convida à prática de três exercícios: oração, jejum e esmola.

Acolhamos a reflexão de São João Clímaco, que muito pode nos ajudar no aprofundamento da oração agradável a Deus:

“A oração segundo sua condição e natureza, é a união do homem com Deus; mas segundo seus efeitos e operações, oração é vigia do mundo, reconciliação com Deus, mãe e filha das lágrimas, perdão dos pecados, ponte para atravessar as tentações, muro contra as tribulações, vitória nas batalhas, obra dos Anjos, sustento das substâncias incorpóreas, deleite da alegria vindoura, obra que não se acaba, fonte de virtudes, procuradora das graças, aproveitamento invisível, sustentáculo do espírito, luz do entendimento, coação da desesperação, argumento da fé, desterro da tristeza dos monges, tesouro dos solitários, diminuição da ira, modelo de aproveitamento, indício da medida das virtudes, manifestação de nosso estado, revelação das coisas vindouras e significação da clemência divina aos que perseveram chorando nela.

Tudo isto se diz ser a oração, porque ajuda ao homem em todas as coisas, pedindo e alcançando a caridade, a devoção e a graça, as quais nos administram todas as coisas.

A oração, para aqueles que oram corretamente, é um espiritual juízo e tribunal de Deus, que antecede o tribunal do juízo vindouro; porque ali o homem se conhece, se acusa e se julga para dispensar o juízo e a condenação de Deus, conforme disse o Apóstolo.

Levantemo-nos, pois, irmãos, ouçamos esta grande auxiliadora de todas as virtudes, que com alta voz clama e diz: ‘Vinde a mim todos que estais cansados e sobrecarregados, que Eu  vos animarei’. Tomai sobre vós o meu jugo, e encontrareis descanso para vossas almas, e remédio para vossas chagas, porque meu jugo é suave, e cura ao homem de grandes chagas.

Aqueles dentre nós que chegamos a falar e participar diante de nosso Deus, não façamos isto despreparados; porque fitando-nos Aquele longânime e misericordioso Senhor, sem armas e sem vestes dignas de Seu real acatamento, não mande Seus criados e ministros que nos desterrem de Sua presença atados de mãos e pés, e nos deem em face com a negligência e interrupção de nossas orações.

Quando fores apresentar diante da face do Senhor, procura levar a veste de tua alma costurada com o fio daquela virtude que se chama esquecimento das injúrias; porque de outra maneira nada ganharás com a oração.

Seja todo o fio da oração singelo, sem multiplicação e elegância de muitas palavras, pois somente com uma se reconciliaram com Deus o publicano do Evangelho e o filho pródigo.

O Estado dos que oram é um; porém nele existe muita variedade e diferença de Orações. Porque existem alguns que comparecem diante de Deus como diante de um amigo e Senhor familiar, oferecendo-lhe Orações e louvores, não tanto pela sua própria salvação como pela dos outros, como fazia Moisés.

Outros, por sua vez, pedem-lhe maiores riquezas, maior glória e confiança. Outros pedem com insistência para serem livres do inimigo. Alguns pedem honras e dignidades; outros perfeita quitação de suas dívidas; outros, ser livres do cárcere desta vida; outros desejam ter que responder as acusações e objeções do divino juízo.

Diante de todas as coisas coloquemos no primeiro lugar de nossa oração – que é a entrada dela – uma sincera ação de graças; e em segundo lugar suceda a confissão e contrição (dos pecados), que brote no íntimo afeto de nosso coração; e depois destas duas coisas expressemos nossas necessidades ao nosso Rei, e façamos-Lhe nossas petições.

Esta é uma boa ordem e maneira de orar, a qual foi revelada por um Anjo a um dos monges.” (1)

São João Clímaco foi um monge do Monte Sinai (séc. VII), e deve o seu codinome a um livro de sua autoria – “Escada para o paraíso”.  Clímaco é uma alusão à palavra “klímax”, que em grego significa escada.

Em “Escada para o Paraíso”, a escada é um resumo da vida espiritual, concebida para os solitários e contemplativos, uma obra que influenciou a conduta de vários religiosos, tanto no Ocidente quanto no Oriente.

São João Clímaco explica que existem 30 degraus a serem galgados, para que se atinja a perfeição moral (alusão à escada de Jacó – Gn 28,12).

Para o Monge, a oração é a mais alta expressão da vida solitária; desenvolvendo-se pela eliminação das imagens e dos pensamentos.

Esta reflexão renova em nós o gosto pela oração, “o fio da virtude” de nossa vida, para que bem possamos nos apresentar diante do Senhor, sempre de coração puro, sem multiplicação de palavras, e/ou com palavras elegantes, mas de pouco valor.

Bem disse o Senhor que, quando rezarmos, não precisamos multiplicar palavras, e ainda: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo, e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6,6).

Façamos da Quaresma um tempo favorável de salvação, acompanhado de autêntica, frutuosa, sincera e confiante oração diante de Deus.


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – p. 306-308 - Memória celebrada no dia 30 de março.


“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”

                                                    

“O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo”

O monge São João Clímaco (séc. VI) nos apresenta, no trigésimo degrau da Escada Santa, “o amor”, como vemos:

“O amor: sua natureza e semelhante a Deus (...) sua ação: embriaguez da alma; sua força própria: fonte da fé, abismo de paciência, oceano de humildade.

O amor, a liberdade interior e a adoção filial não se distinguem senão pelo nome, como a luz, o fogo, a chama.

Se o rosto de um ser amado (...) nos torna felizes, que não fará a força do Senhor quando vier secretamente habitar a alma purificada?

O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo. Quanto mais ele corre, mais queima aquele que tem sede (...) Eis porque o amor é uma progressão eterna”.

Ser discípulo missionário é propor-se a subir esta “escada santa”, degrau por degrau, até chegar ao seu ápice, que consiste no amor.

Asim somos conhecidos como discípulos do Senhor: se nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, assim como ele próprio afirmou (Jo 13,35).

Roguemos a Deus, para que jamais desistamos desta subida, incansavelmente, até que alcancemos este “abismo de luz” e “fonte de fogo”, como nos falou o monge.

É tempo de formar comunidades que vivam como as primeiras comunidades cristãs, perseverantes na Doutrina dos Apóstolos, na fração do Pão, na comunhão fraterna e na oração.

Tudo isto em perfeita sintonia com as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2019-2023), a fim de construirmos comunidades como uma casa, com seus quatro pilares indispensáveis: o pilar da Palavra, do Pão, da Caridade e da ação missionária.


PS: A Escada Santa, 30º degrau – citado em Fontes: Os Místicos Cristãos dos primeiros séculos – textos e comentários – Edições Subíaco – p.224
Memória celebrada no dia 30 de março.

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