sábado, 15 de março de 2025

Quaresma: é necessário amar como o Senhor ama

                                                     

Quaresma: é necessário amar como o Senhor ama

“Amai os vossos inimigos e
rezai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,44)

A Liturgia do sábado da primeira semana da Quaresma nos apresenta um convite: trilhar o inacabado caminho cristão, à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,43-48).

Para isto há o compromisso sério e radical em contínua conversão, progredindo a cada dia na prática da Lei divina, que o Senhor deu pleno cumprimento, pois quem ama como Jesus ama, cumpre plenamente a Lei.

Com os olhos fitos no Senhor que nos espera ao final da “viagem”, continuamos a refletir sobre o Sermão da Montanha, e seus desdobramentos em nossos relacionamentos.

Já muito antes, no Livro do Levítico (Lv 9, 1-2;17-18) encontramos um apelo veemente à santidade que passa pelo amor ao próximo – “Sede Santos, porque Eu, o Vosso Deus sou Santo” (v.2).

As Leis de Deus e seus Preceitos existem para nos ajudar a viver em comunhão com Deus, que passa necessariamente na comunhão com o outro; iluminam a vida cultual e a vida social.

Arrancando as raízes do mal, que podem crescer em cada um de nós, haveremos de multiplicar esforços para permanecer no caminho da santidade, que exige um processo contínuo de conversão. Ser santo, portanto, é permitir que o Amor de Deus seja derramado através de nossos gestos e palavras.

Retomando a passagem do Evangelho, continuamos a refletir sobre mais dois exemplos que nos desafiam para que, de fato, sejamos sal da terra e luz do mundo, pois viver as Bem-Aventuranças implica superar a Lei "Lei do talião", conhecida pela fórmula “olho por olho, dente por dente” (Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21)  e o maior de todos os desafios, amor aos inimigos.

Viver como Deus ama, eis o nosso mais belo e maior desafio, acabando com a espiral da violência, como tão bem viveu e testemunhou Nosso Senhor: um Amor sem medida, um amor que se estende aos inimigos.

Jesus nos revela a face misericordiosa de Deus, um amor universal que faz brilhar o sol e envia a chuva sobre os bons e os maus. E nos exorta a sermos perfeitos como O Pai Celeste é perfeito, superando a lógica legalista, casuística e fria que não cria proximidade e comunhão.

Para que se viva em comunhão total com Deus é preciso deixar que a vida e o amor  de Deus preencha nosso coração, resplandecendo Sua Luz no cotidiano, e tão somente assim seremos também o sal da terra e nisto consiste o embarcar na aventura do Reino que O Senhor nos convida.

Reflitamos:

- Em que consiste e como testemunhar a santidade no mundo hoje?
- O que ainda me impede de viver e dar um testemunho de santidade?

- Como sal da terra e luz do mundo de que modo vivo a força desarmada do amor para que se instaurem novos relacionamentos humanos e fraternos, quebrando a espiral da violência?

- Como amar os inimigos, como o Senhor nos exorta?
- O que falta em nossa vida para que vivamos a perfeição do Pai Celeste?

Oremos:

Ó Deus, com a presença e ação do Espírito Santo em nós, continuemos trilhando o caminho da santidade, em permanente conversão, envolvidos pelo Vosso amor, pleno em nosso coração, para que jamais, como sal, percamos o sabor, e jamais percamos o brilho e o esplendor da Verdade de Deus, pois tão somente assim, iluminados por Deus, iluminadores em situações mais obscuras também seremos.

Quaresma: “o amor do Pai dá vertigem”

Quaresma:“o amor do Pai dá vertigem”

No sábado da 1ª Semana da Quaresma, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,43-48), na qual Jesus nos diz: "Vós ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!' Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem" .

Vejamos o que nos diz o comentário do Missal Dominical, sobre o este Mandamento do Senhor:

“O Amor do Pai é tão absolutamente gratuito que dá vertigem. Quando encontramos nas pessoas com quem vivemos, algum reflexo de tal amor, sentimo-nos comovidos e abalados...

Toda Celebração Eucarística, comparada com nossa vida, é uma verificação da sinceridade com que reconhecemos a gratuidade do Amor do Pai e o transferimos ao nosso próximo”. (1)

Vertigem? Assim define o Aurélio sobre a "vertigem": sensação de instabilidade causada pela perda do equilíbrio;  sensação de desfalecimento;  perturbação, desvario;  perda momentânea do controle sobre si próprio.

Assim é a lógica do Amor de Deus ultrapassa a lógica humana, que muitas vezes se pauta por mesquinha medida, quando muito no amor aos amigos.

Deus faz chover sobre todos: bons e maus, ricos e pobres, Sua Misericórdia permite que “o joio e o trigo” cresçam ao mesmo tempo, no mesmo lugar.  

Como é próprio do Amor não se enganar, Ele no final dos tempos é quem nos julgará e para junto de Si levará quem bem quiser, quem ao Seu amor soube corresponder e no mundo o bem soube amar.

Nossa identificação com Ele é diretamente proporcional ao quanto amamos, não somente aos queridos e bons amigos, mas aos inimigos. Aqui a verdadeira grandeza, largueza, profundidade e intensidade do Amor de Deus.

Deus que jamais Se repete é sempre novidade porque amor. Deus sempre nos vê “com olhos novos”. Não só nos vê, mas nos convida a participarmos deste Seu olhar de Amor.

Amar como Deus ama é conservar em cada encontro com o outro a limpidez do olhar, sem preconceitos, sem limites.

Quando olhamos com o olhar divino, nossos horizontes se alargam, mais ainda, se eternizam, porque não vemos mais com o olhar da cobiça, da mesmice, dos estreitos egoísmos, individualismos.

Verdadeiramente com o olhar divino os horizontes são intangíveis, e não desistimos de alcançá-los, pois o serão na exata medida do amor que se perpetua no definitivo encontro com Ele: céu.

O Amor de Deus é imperativo para que ele se renove até as circunstâncias mais difíceis. Deus não nos vê pelas aparências, mas na essência, ou seja, vê com um Coração que ama incondicionalmente o mais profundo de cada ser humano.

Amor assim causa vertigem porque nos desestabiliza, leva-nos a reencontrar com o verdadeiro Amor, para o mais desejável e perfeito equilíbrio que só encontra quem ama:

O amor é a força que nos equilibra em todos os momentos. Sem amor, tudo se desmorona, nada mais resta!

Só o amor nos põe em pé, nos aquece e ilumina o coração, e também permite que “os cantos escuros” de nossos pensamentos e sentimentos sejam divinamente iluminados, para que os mais belos e santos  propósitos sejam realizados.

(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - p.909 

Quaresma: amor e oração pelos inimigos

Quaresma: amor e oração pelos inimigos

No sábado da 1ª Semana da Quaresma, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5, 43-48).

Vivendo o itinerário Quaresmal, podemos aprofundar  sobre a vivência do Mandamento do Amor, inclusive aos inimigos.

Este Mandamento do Senhor é novo e revolucionário pela formulação, conteúdo e forte exigência.

Vejamos o que nos diz o Missal Dominical:

É novo pelo seu universalismo, por sua extensão em sentido horizontal: não conhece restrições de classe, não leva em conta exceções, limitações, raça, religião; dirige-se ao homem na unidade e na igualdade da sua natureza. É novo pela medida, pela intensidade, por sua dimensão vertical.

A medida é dada pelo próprio modelo que nos é apresentado: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei assim amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34). A medida do nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós; ou melhor, o mesmo amor que o Pai tem por Cristo: porque “Como o Pai me amou, também eu vos amei” (Jo 15,9. Deus é amor (1Jo 4,16) e nisto se manifestou o seu amor: Ele nos amou primeiro e enviou seu Filho para expiar nossos pecados (1Jo 4,10).

É novo pelo motivo que nos propõe: amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus; exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação (Mt 4,46). Amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não a nosso bem. Amar como Deus, que não busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria nela o bem, amando-a.

É novo porque Cristo o eleva ao nível do próprio amor por Deus. Se a concepção judaica podia deixar crer que o amor fraterno se põe no mesmo plano dos outros mandamentos (Lv 19,18) a visão cristã lhe dá um lugar central, único. No Novo Testamento o amor do próximo está indissoluvelmente ligado ao preceito do amor de Deus.

A fé... lembra ao cristão os mandamentos de Deus e proclama o espírito das bem-aventuranças; convida a ser paciente e bondoso, a eliminar a inveja, o orgulho, a maledicência, a violência; ensina a tudo crer, tudo esperar, tudo sofrer, porque o amor nunca passará” (RdC47) 

Mas insiste ainda: “Ama teu inimigo... oferece a outra face... Não pagues o mal com o mal”. Quanto cristãos fizeram da palavra de Jesus a lei da sua vida! A história da Igreja está cheia de exemplos sublimes a este respeito: J. Gualberto, que perdoa, por amor de Cristo crucificado, o assassínio de seu irmão; pais que esquecem heroicamente ofensas recebidas dos filhos; esposos que superam as ofensas e culpas; homens políticos que não conservam rancor pelas calúnias, difamações, derrotas; operários que ajudam o companheiro de trabalho que tentou arruiná-los, etc...

Em nome da religião e de Cristo, os cristãos se dividiram, dilacerando assim o Corpo de Cristo. Viram no irmão um inimigo, se “excomungaram” reciprocamente, chamando-se hereges, queimando livros e imagens... Derramou-se sangue, explodiu ódio em guerras de religião. O orgulho, o desprezo e a falta de caridade caracterizaram as diatribes teológicas e os escritos apologéticos. Os inimigos de Deus, da Igreja, da religião foram combatidos com armas e com ódio. Travaram-se lutas, organizaram-se cruzadas.

Hoje, a Igreja superou, ou se encaminha par superar, muitas dessas limitações. Não há mais hereges, mas irmãos separados; não há mais adversários, mas interlocutores; não consideramos mais o que divide, mas antes de tudo o que une; não condenamos em bloco e a priori as grandes religiões não cristãs, mas nelas vemos autênticos valores humanos e pré-cristãos que nos permitem entrar em diálogo.

Mas a intolerância e a polêmica estão sempre de atalaia. Não estaremos acaso usando, dentro da própria Igreja, aquela agressividade e polêmica excessivas que outrora usávamos com os de fora da Igreja? Quantos cristãos engajados, uma vez faltando o alvo de fora, começaram a visar com “inimigos” aos próprios irmãos na fé, e os combatem obstinadamente, sem amor e sem perdão!” (1)

Viver o Amor do Senhor, em seu universalismo e novidade; um amor que ama sem medida, e que se estende até os inimigos.

Compreende-se, deste modo, a maturidade cristã, que somos chamados a alcançar, não obstante qualquer dificuldade.

Configurados a Cristo, temos que ter d’Ele mesmos sentimentos e pensamentos. Deste modo, “amar como Jesus ama”, precisa estar impresso, como selo, em nossa alma, nas mais profundas entranhas de nosso ser.

Amar em nossa medida, com cálculos e retornos, condições e reciprocidade, não é o que nos fará sal e luz.

Sal e luz seremos, se fizermos o que nos propôs Jesus no Evangelho de São Mateus, vivendo as Bem-Aventuranças, o único caminho da verdadeira felicidade.

Logo, concluímos que a felicidade que Deus tem a nos oferecer é diretamente proporcional à nossa capacidade de amar, à nossa intensidade de amor, que não apenas ama os bons, mas ama até os inimigos.

Deus não nos ama porque somos bons, mas para que sejamos todos bons.

Linhas novas da História precisam de novos conteúdos, que somente serão escritos com a tinta do Amor, que nos vem do Santo Espírito, e é derramada em nossos corações.


(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp.693-694.

Quaresma: amor divino, amor sem limites

                                                   

Quaresma: amor divino, amor sem limites

“Amo porque fui amado,
amo para poder amar cada vez mais...”

No sábado da 1ª Semana da Quaresma, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,43-48), na qual Jesus nos diz: "Vós ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!' Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem" .

No Antigo Testamento não aparece explicitamente a ordem de amor aos inimigos, no entanto, ordenado ou não, o ódio aos inimigos é algo muito espontâneo e bem testemunhado também na história de Israel.

Mas, Jesus, com Sua Boa-Nova, ordena aos discípulos uma atitude exatamente oposta: amar os inimigos e orar pelos que perseguem, oferecendo o bem em troca do mal que se recebeu.

Vivendo deste modo, o discípulo estabelecerá uma semelhança entre este modo de agir e o de Deus, que por sua vez manda o sol e a chuva sobre bons e maus, sem distinção alguma: “Ele já nos deu o que tinha de mais precioso, o Seu Filho Único, indistintamente, por ti e por São Francisco, pelo terrorista e por Madre Teresa de Calcutá, pela vítima e pelo carrasco” (1).

Somos destinados a agir assim, como cristãos: agir como age o Pai de todos nós, e isto não nos permite cair na tentação de nos empenharmos no cultivo do “nosso jardinzinho”, para viver o amor pelos irmãos.

Deus nos arranca destes limites estreitos, através da Boa Nova e testemunho de Seu Filho, não apenas indicando mas vivendo o amor pelos inimigos e pelos perseguidores.

É preciso dilatar a medida do próprio coração, superar o que é somente sensato e conveniente, e viver um novo tipo de amor, e tão somente vivendo como filhos do Pai que está nos Céus isto se tornará possível.

Deste modo, compreendemos o amor de Deus, que é a causa e a meta de nosso empenho em amar:

Amo porque fui amado, amo para poder amar cada vez mais. E este é o amor que, sem demasiados clamores, sem proclamações oficiais, mas na quotidiana e porventura banal da vida diária, revoluciona o mundo e pode restituir o sorriso ao homem, tão triste e desanimado do nosso tempo” (2).


Fonte de inspiração:
(1) (2) Lecionário Comentado – Volume Quaresma Páscoa – Editora Paulus – Lisboa - pp. 88-90

Somente no Senhor nossa vida encontra sentido

Somente no Senhor nossa vida encontra sentido

A Oração da Liturgia das Horas do primeiro sábado da Quaresma nos apresenta dois pequenos parágrafos da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”,  sobre a Igreja no mundo de hoje.

“O mundo moderno apresenta-se simultaneamente poderoso e fraco, capaz do melhor e do pior; abre-se diante dele o caminho da liberdade ou da escravidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade e do ódio.

Por outro lado, o homem toma consciência de que depende dele a boa orientação das forças por ele despertadas e que podem oprimi-lo ou servi-lo. Eis por que se interroga a si mesmo.

Na verdade, os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno estão ligados a um desequilíbrio mais profundo, que se enraíza no coração do homem.

No íntimo do próprio homem, muitos elementos lutam entre si. De um lado, ele experimenta, como criatura, suas múltiplas limitações; por outro, sente-se ilimitado em seus desejos e chamado a uma vida superior.

Atraído por muitas solicitações, é continuamente obrigado a escolher e a renunciar. Mais ainda: fraco e pecador, faz muitas vezes o que não quer e não faz o que desejaria. Em suma, é em si mesmo que o homem sofre a divisão que dá origem a tantas e tão grandes discórdias na sociedade.

Muitos, sem dúvida, que levam uma vida impregnada de materialismo prático, não podem ter uma clara percepção desta situação dramática; ou, oprimidos pela miséria, sentem-se incapazes de prestar-lhe atenção. Outros, em grande número, julgam encontrar satisfação nas diversas interpretações da realidade que lhes são propostas.

Alguns, porém, esperam unicamente do esforço humano a verdadeira e plena libertação da humanidade, e estão persuadidos de que o futuro domínio do homem sobre a terra dará satisfação a todos os desejos de seu coração.

Não faltam também os que, desesperando de encontrar o sentido da vida, louvam a audácia daqueles que, julgando a existência humana vazia de qualquer significado próprio, se esforçam por encontrar todo o seu valor apoiando-se apenas no próprio esforço.

Contudo, diante da atual evolução do mundo, cresce o número daqueles que formulam as questões mais fundamentais ou as percebem com nova acuidade.

Que é o homem? Qual é o sentido do sofrimento, do mal e da morte que, apesar de tão grandes progressos, continuam a existir? Para que servem semelhantes vitórias, conseguidas a tanto custo? Que pode o homem dar à sociedade e dela esperar? Que haverá depois desta vida terrestre?

A Igreja, porém, acredita que Jesus Cristo, morto e Ressuscitado por todo o gênero humano, oferece ao homem, pelo Espírito Santo, luz e forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação suprema; ela crê que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possam ser salvos.

Crê igualmente que a chave, o centro e o fim de toda a história humana encontra-se em seu Senhor e Mestre.

A Igreja afirma, além disso, que, subjacente a todas as transformações, permanecem imutáveis muitas coisas que têm seu fundamento último em Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre”.

Notável a atualidade e pertinência deste Documento  do Concílio Vaticano II (1962-1965), que aborda as  interrogações mais profundas do gênero humano que carregamos no mais profundo de nós, e com coragem procuramos respostas.

De fato, muitas são as questões e interrogações que fazem parte de nosso cotidiano. A vida é um mistério de hipercomplexidade das relações.

Se não tivermos na vida a centralidade de Cristo, a confiança em Sua presença em nossa vida, acabamos nos perdendo em meio às dúvidas, incertezas que são inerentes à condição humana.

Bem nos lembra o que nos falou o Apóstolo Paulo aos Gálatas – “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

Viver consiste em romper correntes que nos aprisionem ou nos faça perder a verdadeira identidade e a imagem impressa de Deus em nós.

Em Cristo e em Sua Palavra, encontramos a luz que ilumina nossos caminhos e os recônditos mais obscuros de nossa alma.

Em Cristo e em Sua Palavra, encontramos a promessa de Sua presença, que não nos permite evadir do mundo, mas corajosamente d’Ele presença ser, vivendo nosso Batismo, sendo sal, fermento e luz.

Em Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre, em Sua Palavra, encontramos a razão e o sentido de nossa vida.

Sem Ele tudo ficaria à deriva do incerto, do inseguro, do funesto, do imponderável, do fracasso, do caos...

Com o Senhor, e somente com Ele, a liberdade alcançamos, a alegria no coração sentimos transbordar

sexta-feira, 14 de março de 2025

Um pouco sobre a virtude da esperança...

                                                        

Um pouco sobre a virtude da esperança...

Reflitamos a passagem do Profeta Isaías (Is 55,10-11), e vejamos o que afirma o Missal Cotidiano sobre a esperança:

“A vida cristã é vida de esperança. Os pagãos são aqueles ‘que não tem esperança’. A esperança não é resignação, aceitação passiva da vontade de um Deus que não é conhecido como Pai; não é tampouco simples otimismo, visão rósea das coisas, própria de um caráter feliz e quiçá superficial. Esperança é certeza de que nossa vida e a vida do mundo estão em boas mãos.

Certeza de que Deus tem a respeito de cada um de nós as melhores intenções e que Sua palavra realiza sempre o que promete. A esperança do feliz êxito do mundo não tem, portanto, melhor apoio que a fé em Deus. Quem, ao invés, é resignado e sem confiança, definitivamente não crê em Deus, no Seu poder, na Sua bondade.

A confiança demonstrada por Isaías no Amor de Deus torna-se segurança inabalável no cristão, que pode ter em Jesus Cristo o fundamento de sua esperança. A encarnação do Filho de Deus assegura-lhe, com efeito, que Deus levou a sério a história do homem, a ponto dEle próprio se fazer participante dela. A Ressurreição de Jesus garante-lhe que se realizará plenamente a definitiva libertação do homem e do mundo.” (1) 

No Catecismo encontramos uma definição da virtude teologal da esperança: 

“A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo... A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade”  (n.1817).

Ambas as citações nos apresentam a esperança não como sinônimo de imobilismo e isenção de responsabilidade, ao contrário, é virtude motivadora para a concretização da caridade daquele que crê. Por isto as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) são inseparáveis.

Num mundo em que muitas pessoas perdem a esperança (fala-se até em “hopelessness”) como Profetas que somos pelo Batismo, temos que cultivar a esperança divina contra toda falta de esperança humana. Renová-la no mais profundo de nós é preciso! Não podemos perdê-la. Assim como a fé pede que se alarguem os horizontes, acrescentaria ainda: que se alargue o horizonte da esperança impulsionado por um amor que nos move, nos renova, nos faz lançar as redes em águas mais profundas.

Seja a esperança sempre renovada e motivada em nossas comidades e em todos os lugares, pois se nos faltar a esperança, o que será o nosso existir?

Como Pedro, não podemos jamais deixar de esperar e construir um novo céu e uma nova terra (2Pd 3,13), pois nisto consiste a essência de nossa missão.

Oremos:

“Ó Deus, que nos alimentastes com este Pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, Pão vivo e verdadeiro, e viver de toda a Palavra que sai de Vossa boca. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 186

Amo poesia...

                                                          


Amo poesia...
 
Amo poesia,
Dela, me alimento...
Minha alma tem fome de algo que a alcance e a envolva,
Palavras que tragam nelas e entre elas, no vácuo das mesmas,
E para além delas próprias, algo que não se lê,
A não ser por um coração que ama e crê.
 
A vida sem poesia é como um dia sem luz,
Verão sem o calor e a prosa de um fim de dia;
Primavera sem flores, antecedida por um outono que prepara sua Chegada aceitando perder suas flores e folhas;
E mais ainda, precedida pelo frio do inverno,
Aquecido pelo cobertor ou por um gesto puro e fraterno de amor...
 
Assim como o alimento está para o corpo,
A poesia está para a alma.
Leva ao inebriamento às vezes indizível,
Possibilita o retorno do sonho,
Renova esperança no recôndito mais profundo da alma,
Assim como incendeia o coração com a chama da caridade.
 
A poesia que contemplo da veia dos Profetas bíblicos,
Que contemplo no olhar poético do Verbo
Ao se referir aos lírios dos campos;
Ao nosso valor maior que os pardais,
Às sementes que crescem silenciosamente;
Às plantas com seus frutos, precedidos das podas;
À pureza das crianças para entrarmos nos céus...
 
Aquela que me faz pensar, rever caminhos;
Renovar sagrados compromissos;
Reinventar o que precisa ser superado;
Reorientar passos, bem como firmá-los;
Abrir janelas quando portas se fecharem,
Quando a utopia parecer insólita;
E quando situações parecerem inóspitas...
 
Poesia que entranha no mais profundo do meu coração;
Que devolve a luminosidade às situações obscurecidas;
Que me acompanham no Mistério da Paixão e Morte,
Assim como não me permite perder a fé
Na vida fundada na certeza de que a vida venceu a morte,
Fazendo transbordar e irradiar a Alegria Pascal.
 
Amo poesia,
Dela, me alimento.
Amém!
 


Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG