sexta-feira, 14 de março de 2025

Um pouco sobre a virtude da esperança...

                                                        

Um pouco sobre a virtude da esperança...

Reflitamos a passagem do Profeta Isaías (Is 55,10-11), e vejamos o que afirma o Missal Cotidiano sobre a esperança:

“A vida cristã é vida de esperança. Os pagãos são aqueles ‘que não tem esperança’. A esperança não é resignação, aceitação passiva da vontade de um Deus que não é conhecido como Pai; não é tampouco simples otimismo, visão rósea das coisas, própria de um caráter feliz e quiçá superficial. Esperança é certeza de que nossa vida e a vida do mundo estão em boas mãos.

Certeza de que Deus tem a respeito de cada um de nós as melhores intenções e que Sua palavra realiza sempre o que promete. A esperança do feliz êxito do mundo não tem, portanto, melhor apoio que a fé em Deus. Quem, ao invés, é resignado e sem confiança, definitivamente não crê em Deus, no Seu poder, na Sua bondade.

A confiança demonstrada por Isaías no Amor de Deus torna-se segurança inabalável no cristão, que pode ter em Jesus Cristo o fundamento de sua esperança. A encarnação do Filho de Deus assegura-lhe, com efeito, que Deus levou a sério a história do homem, a ponto dEle próprio se fazer participante dela. A Ressurreição de Jesus garante-lhe que se realizará plenamente a definitiva libertação do homem e do mundo.” (1) 

No Catecismo encontramos uma definição da virtude teologal da esperança: 

“A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo... A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade”  (n.1817).

Ambas as citações nos apresentam a esperança não como sinônimo de imobilismo e isenção de responsabilidade, ao contrário, é virtude motivadora para a concretização da caridade daquele que crê. Por isto as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) são inseparáveis.

Num mundo em que muitas pessoas perdem a esperança (fala-se até em “hopelessness”) como Profetas que somos pelo Batismo, temos que cultivar a esperança divina contra toda falta de esperança humana. Renová-la no mais profundo de nós é preciso! Não podemos perdê-la. Assim como a fé pede que se alarguem os horizontes, acrescentaria ainda: que se alargue o horizonte da esperança impulsionado por um amor que nos move, nos renova, nos faz lançar as redes em águas mais profundas.

Seja a esperança sempre renovada e motivada em nossas comidades e em todos os lugares, pois se nos faltar a esperança, o que será o nosso existir?

Como Pedro, não podemos jamais deixar de esperar e construir um novo céu e uma nova terra (2Pd 3,13), pois nisto consiste a essência de nossa missão.

Oremos:

“Ó Deus, que nos alimentastes com este Pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, Pão vivo e verdadeiro, e viver de toda a Palavra que sai de Vossa boca. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 186

Amo poesia...

                                                          


Amo poesia...
 
Amo poesia,
Dela, me alimento...
Minha alma tem fome de algo que a alcance e a envolva,
Palavras que tragam nelas e entre elas, no vácuo das mesmas,
E para além delas próprias, algo que não se lê,
A não ser por um coração que ama e crê.
 
A vida sem poesia é como um dia sem luz,
Verão sem o calor e a prosa de um fim de dia;
Primavera sem flores, antecedida por um outono que prepara sua Chegada aceitando perder suas flores e folhas;
E mais ainda, precedida pelo frio do inverno,
Aquecido pelo cobertor ou por um gesto puro e fraterno de amor...
 
Assim como o alimento está para o corpo,
A poesia está para a alma.
Leva ao inebriamento às vezes indizível,
Possibilita o retorno do sonho,
Renova esperança no recôndito mais profundo da alma,
Assim como incendeia o coração com a chama da caridade.
 
A poesia que contemplo da veia dos Profetas bíblicos,
Que contemplo no olhar poético do Verbo
Ao se referir aos lírios dos campos;
Ao nosso valor maior que os pardais,
Às sementes que crescem silenciosamente;
Às plantas com seus frutos, precedidos das podas;
À pureza das crianças para entrarmos nos céus...
 
Aquela que me faz pensar, rever caminhos;
Renovar sagrados compromissos;
Reinventar o que precisa ser superado;
Reorientar passos, bem como firmá-los;
Abrir janelas quando portas se fecharem,
Quando a utopia parecer insólita;
E quando situações parecerem inóspitas...
 
Poesia que entranha no mais profundo do meu coração;
Que devolve a luminosidade às situações obscurecidas;
Que me acompanham no Mistério da Paixão e Morte,
Assim como não me permite perder a fé
Na vida fundada na certeza de que a vida venceu a morte,
Fazendo transbordar e irradiar a Alegria Pascal.
 
Amo poesia,
Dela, me alimento.
Amém!
 


Quaresma e Poesia

                                                    

Quaresma e Poesia

Em plena Quaresma, somos agraciados com o Dia da Poesia.
Mas que tem a ver Quaresma e poesia?

Se considerarmos o olhar de ternura do Senhor,
Ao qual nada escapava, e fluía abundantemente em Suas pregações
Com exemplos e comparações simples e tocantes;

Se considerarmos o Coração de Jesus,
No qual transbordava o Amor pela vida de cada pessoa,
E a cada um dirigia uma Palavra iluminadora;

Se considerarmos as Palavras ardentes
Que saíram de Seus lábios como fogo devorador,
Expressão da misericórdia para com o pecador;

Então, não tenho dúvida que aprenderemos com o Senhor
A mais bela relação entre Quaresma e poesia.
E, assim, nos tornaremos mais fraternos nesta travessia.


PS: Comemora-se o Dia Nacional da Poesia em 14 de março.

Quaresma é tempo de relações mais fraternas (27/02)

                                                            


Quaresma é tempo de relações mais fraternas

"Enquanto o amor humano tende
a apossar-se do bem que encontra no seu objeto,
o Amor Divino cria o bem na criatura amada" 
(Santo Tomás de Aquino)

A passagem do Evangelho de Mateus  proclamado na Sexta-feira da 1ª Semana da Quaresma (Mt 5, 20-26) é parte do desdobramento do Sermão da Montanha (Mt 5,1-12).

No versículo vigésimo, Jesus nos diz: “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus”.

Contemplamos o Projeto de Salvação para a humanidade, mas somente na fidelidade ao Senhor e aos Seus Mandamentos é que alcançaremos vida plena e feliz.

Por isto, Jesus dá exemplos em que o amor verdadeiro e puro tem que falar mais alto, se sobrepondo a qualquer sentimento de ódio, indiferença, ira, posse, condenação, falsidade.

Importa fortalecer as relações fraternas acompanhadas da contínua necessidade da reconciliação; fortalecer os relacionamentos na sinceridade e na confiança, tornando os relacionamentos sadios e edificantes.

Deste modo, para quem quiser viver na dinâmica da Boa-Nova do Reino de Deus, não basta o cumprimento rigoroso e escrupuloso da Lei, seguindo a casuística das regras da Lei.

É preciso que se tenha uma atitude interior nova, que revele um compromisso verdadeiro com Deus, envolvendo a pessoa toda, transformando seu coração, suas escolhas, seus relacionamentos, sua postura diante do Criador e Suas criaturas.

Não será o cumprimento das regras externas que nos levará ao alcance da felicidade e de uma religião a Deus agradável, mas antes a atitude de adesão interior a Deus e à Sua Proposta, e como podemos afirmar “o amor é querer o bem do amado”. 

O amor fraterno, preocupado com a reconciliação, torna frutuoso e agradável o sacrifício que oferecemos a Deus.

E ainda, o Senhor nos alerta que quem comparecer diante do divino Juiz sem haver perdoado será condenado a pagar até o último centavo (v.24).

São iluminadoras as palavras do Missal Cotidiano:

A oferenda da própria vida em oblação a Deus (1 Cor. 13,3) e o próprio sacrifício eucarístico não são aceitos por Deus, se não procedem do amor e da paz recíproca” (1).

Deve-se procurar a justiça através do perdão e do amor, um amor novo, gratuito que vai além dos méritos; uma justiça que leva em conta não somente as ações em si, mas suas retas intenções.

Em relação a Deus, sejamos filhos e filhas, em relação ao próximo, sejamos fraternos e solidários.

Somos remetidos a dois grandes Santos da Igreja, São Tomás de Aquino e São João da Cruz que, respectivamente, assim disseram:

“Enquanto o amor humano tende a apossar-se do bem que encontra no seu objeto, o amor divino cria o bem na criatura amada" .

"O afeto e o apego da alma à criatura torna-a semelhante a esta mesma criatura. Quanto maior a afeição, maior a identidade e semelhança, porque é próprio do Amor, tornar aquele que Ama semelhante ao amado."

Reflitamos:

- Cumprimos os Mandamentos da Lei Divina por medo ou amor?

- O que podemos evitar para que sejamos fiéis ao Senhor, considerando que para Jesus, “não matar” é evitar tudo aquilo que cause dano ao próximo (egoísmo, prepotência, autoritarismo, injustiça, indiferença...)?

- Em que as afirmações dos Santos da Igreja, citadas acima, nos ajudam para que vivamos as Bem-Aventuranças e sejamos sal da terra e luz do mundo?

- Fazemos dos Mandamentos Divinos sinais indicadores no caminho que conduz à vida plena?

Eis o grande desafio para nós, discípulos missionários do Senhor: O Sermão da Montanha foi e continua sendo ouvido na montanha, mas é preciso que desçamos à planície do cotidiano. 

Neste Tempo da Quaresma, firmemos nossos passos em nosso itinerário marcado pela penitência e conversão ao Senhor.

Na missão de ser sal da terra e luz do mundo, torna-se necessária a invocação da Sabedoria Divina, a Sabedoria do Santo Espírito, para que sejamos uma Igreja no coração do mundo, e ao mesmo tempo homens e mulheres do mundo no coração da Igreja.

Somente deste modo, não seremos sal insípido, sem gosto, que para nada serve, como já nos alertara o Senhor.



(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp. 198-199 - apropriado para a quinta-feira da décima semana do Tempo Comum.

Culto e profecia

                                                     

Culto e profecia

“Vossas mãos estão cheias de sangue!
Lavai-vos e purificai-vos”  (Is 1,15-16).

À luz da passagem do Livro do Profeta Isaías (Is 1,16-18), oremos:

Senhor, fazei com que o brado de Isaías, tão carregado de dramaticidade, nos sensibilize, para não apresentarmos a Vós ofertas inúteis, acompanhadas de incenso, pois seria abominável.

Senhor, dirigi nossos passos, para que o amor e a verdade se encontrem em nosso ser e agir, pensamentos e palavras, no relacionamento cotidiano com nosso próximo.

Senhor, que jamais Vos ofereçamos sacrifícios, louvores e orações com as mãos gotejadas de sangue, e, assim, jamais nos descuidemos da promoção da justiça.

Senhor, não apenas queremos participar assiduamente das Missas, e nela rezar pelas necessidades dos pobres, órfãos, mas nos empenharmos concretamente em favor deles.

Senhor, ajudai-nos a viver uma fé comprometida, oferecendo nossas mãos, força, inteligência e voz, para que a paz e a justiça floresçam e reinem em todo o mundo. Amém!


Fonte de inspiração: Comentário do Missal Cotidiano, Editora Paulus, 1997, p.1019.

Em poucas palavras...

 


Sagrados compromissos com um mundo novo

“Afirmam os bispos latino-americanos que, no contexto de injustiça institucionalizada que gera uma ‘situação de pecado social’, ‘não teremos um continente novo sem novas estruturas, mas sobretudo não existirá ali um continente novo sem homens novos que, à luz do Evangelho, saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis’.” (1)

 

 

(1) Comentário do Missal Cotidiano – passagem da Leitura (Ez 18,21-28) - pág. 197

Quaresma: Deus misericordioso acredita em nossa conversão

                                                     

Quaresma: Deus misericordioso acredita em nossa conversão

Na primeira sexta-feira da Quaresma, ouvimos a passagem do Livro do profeta Ezequiel (Ez 18,21-28), refletimos sobre a missão do Profeta Ezequiel, tido como o “Profeta da esperança”, num período que marca a volta do exílio e o recomeço de uma nova história.

Contemplamos a face de Deus misericordioso que chama a todos para a participação ativa do Seu projeto de vida e paz para todos, com empenho concreto, marcado pela conversão permanente.

O Profeta tem que destruir as falsas esperanças, provocar atitudes de conversão e responsabilidade pela própria história de cada um diante de Deus. Ele deve ressuscitar a confiança e a esperança do povo em Deus. 

De nada ajudará o povo ficar culpando os antepassados, ou atribuir a Deus a culpa de seus pecados e infidelidades. O presente está em nossas mãos para que correspondamos à vontade divina, assegurando um futuro novo e melhor.

O Profeta chama à responsabilidade a cada um, pois de nada adianta procurar culpados se antes não nos revermos diante de Deus e de Sua proposta. 

Urge revermos como realizamos o que a nós é próprio; como, com que intensidade e fidelidade aos preceitos de Deus, a Sua adoração em Espírito e verdade se realizou.

O Profeta assegura-nos que Deus está sempre presente no meio de Seu povo, nunca o abandona, sendo que o contrário pode acontecer, e se isto ocorre as consequências são extremamente danosas. 

Toda infidelidade a Deus traz frutos amargos: sofrimentos, desolação, enfraquecimento. De outro lado, a fidelidade a Deus é fonte de bênçãos. Deus está sempre pronto a selar aliança de amor conosco, e não nos é permitido ficar com rodeios, desculpas evasivas e subterfúgios que nos afastam d’Ele e de nossa felicidade.

É preciso que o povo tenha consciência de seus limites e não acuse Deus como o responsável pelos erros que comete. Deste modo, novo horizonte de vida e liberdade se abrirá diante dele. 

Deus, em Sua fidelidade, não Se alegra com nossa inconstância, infidelidade, incoerência e contradição.

Reflitamos:

- Diante d’Ele, qual é a nossa resposta?
- Quais são os nossos compromissos?

- Qual é a nossa parcela de culpa diante dos sinais de morte? 
- Qual é a nossa participação na construção da cultura da vida, em total fidelidade ao Senhor?

- O que precisamos fazer neste caminho de conversão?

Hoje, como discípulos missionários, há o perigo de nos acomodarmos diante deste convite, até mesmo nos isolarmos, omitindo-nos na participação e colaboração.

Portanto, não basta dizer sim, mas realizar este sim dado com todo ardor, como Jesus o fez no anúncio e realização de Sua missão redentora e concretização do Reino. Sua vida foi marcada pelo amor, serviço, doação até a entrega total na Cruz.

Vivendo um amor que ama até o fim, esvaziando-Se, empobrecendo-Se, despojando-Se para nos enriquecer, nos cumular de todas as bênçãos, graças e riquezas. Fazendo-Se pobre, enriqueceu-nos copiosamente (cf. Fl 2,1-11).

Procuremos a mais perfeita coerência entre o que cremos e o que vivemos, para que o mundo veja Cristo em nós, e como o Apóstolo Paulo, digamos: 

“E já não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim. E a vida que vivo agora na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim.” (Gl 2,20)

Acolhamos a Palavra do Profeta Ezequiel, que nos chama à conversão, confiança, responsabilidade, esperança encarnada, em total fidelidade a Deus.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG