quarta-feira, 12 de março de 2025

A oração sempre presente em nossa vida

                                                      

A oração sempre presente em nossa vida

“Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, se lhe abrirá.” (Mt 7,7-8)

Uma oração de um autor anônimo, muito nos enriquece nestes dias em que vivemos a Quaresma e nos preparamos para a Semana Santa:

“Quão grandiosa é a oração contínua! É uma fonte inesgotável de virtudes, suscita milagres, revela maravilhas.

É digna de amor, porque faz progredir os santos, afasta a cólera de Deus e provoca o perdão."

A oração torna Deus presente, pois, quando rezamos, não é possível que esteja ausente quem nos ensinou a rezar. Recusaria atender-nos quem nos inspira o desejo de orar?

A oração glorifica o justo, absolve o pecador, expulsa o medo, elimina a tristeza; é alegria na prosperidade, segurança no sofrimento. É o consolo dos aflitos, a saúde dos doentes”

Verdadeiramente, a oração é fundamental na vida do discípulo missionário do Senhor, pois Ele mesmo, muitas vezes e em diversos momentos, retirava-Se para orar. E nos ensinou a mais bela oração do "Pai Nosso".

Do mesmo modo, a oração acompanhe a cada de um nós, em todos os momentos: na alegria e na tristeza, na angústia e na esperança.

Oremos sempre, com amor e confiança:

"Pai Nosso que estais nos céus..."

Quaresma: Tempo de recolocar a vida nos trilhos da Salvação

Quaresma: Tempo de recolocar a vida nos trilhos da Salvação

A Igreja nos exorta para que façamos da Quaresma um Tempo oportuno para recolocarmos nossa vida nos trilhos da Salvação.

Quaresma jamais foi, e jamais será, tempo de luto ou de tristeza! 

Quaresma vem do latim quadragésima e lembra, sobretudo, os quarenta anos do Povo de Deus no deserto e os quarenta dias do Senhor no deserto sofrendo as tentações do maligno. É um tempo de quarenta dias vivido na proximidade do Senhor, na entrega a Ele.

Quaresma é tempo:

- abençoado e privilegiado na vida da Igreja de conversão, purificação e glorificação do Senhor;

- de mergulhar corajosamente no infinito mar de misericórdia de Deus;

- de conversão e entrada na prática e na solidariedade de Jesus;

- de caminharmos para a Festa, preparada no coração através da Oração, jejum e esmola;

- da volta confiante ao Senhor; 

- de carregar com fidelidade e coragem nossa cruz de cada dia;

- de aprofundar o desejo de santidade em esforço incansável de conversão, renúncia ao pecado, e de tudo aquilo que nos afasta de Deus; esforçando-nos por uma vida mais intensamente santa;

- de intensa expectativa e inteligente concentração para vivermos intensamente as alegrias da Ressurreição do Senhor;

-  de abrir o coração para a novidade do Evangelho, tendo como centro a Cruz de Cristo, sinal de salvação e reconciliação com a humanidade;

- de renovação da Aliança com Deus;

- da revitalização das promessas do Batismo, para uma inserção mais consciente na vida da comunidade;

- de envolver-se de corpo e alma na libertação das pessoas excluídas e oprimidas, vítimas de tanta corrupção, violência e descaso com a vida;

- de buscar caminhos para valorização da vida que muitas vezes é banalizada, violada, instrumentalizada…

- de abandonar os ídolos e renovar nossa fidelidade ao Deus de Jesus Cristo por meio da escuta da Palavra, intensificando momentos de profunda Oração;

- de se deixar conduzir ao deserto, para que o Senhor nos fale ao coração;

- de rever as linhas de conduta, corrigir os erros de trajetória, aprofundar a unidade entre nós;

- de reconhecer o negativo, a morte, o sofrimento, para vencê-los e superá-los, na Páscoa que se anuncia;

- de subir com Jesus ao monte Tabor e viver na intimidade com Ele, de conhecer Seus desígnios para vivê-los na planície;

de ressuscitar com Cristo se colocando a serviço do Seu Reino;

- de compromisso Fraternidade e a vida: dom e compromisso;

- de ver, sentir compaixão e solidarizar-se com o próximo;

- de compromisso com a Paz bíblica: Plenitude de vida; condições dignas para se viver.

Continuemos nossa caminhada Quaresmal, pois há um longo Itinerário Espiritual a ser percorrido. Estamos apenas no começo, e tenho certeza de que podemos fazer desta a melhor de todas as Quaresmas já vivida. 

Reflexões não nos faltam. Urge colocá-las em prática, e neste sentido, realizar a Campanha da Fraternidade que tem como tema - "FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL", e como lema - "Deus viu que tudo era muito bom" (Gn 1,31)

Seja a semente da fraternidade plantada no terreno fecundo do nosso coração, e regada com o amor mais intenso que devemos viver na Quaresma e em todo tempo.

Cultivemos a esperança de um novo tempo, sinal da Páscoa, anunciada na madrugada da Ressurreição no mais profundo do coração daqueles que creem e que fazem da fé um teimoso compromisso com a dignidade humana para que tenhamos Vida plena! 

Quaresma e sagrados compromissos com a Ecologia Integral (CF 2025)

 


Quaresma e sagrados compromissos com a Ecologia Integral

Celebremos e vivamos a Quaresma como tempo favorável de conversão e penitência, para que bem nos preparemos para a Celebração da Páscoa do Senhor, Mistério de Morte e Ressurreição – “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15), disse Jesus.

Com a Igreja, aprendemos que  a Quaresma não deve ser apenas interna e individual, mas também com dimensão externa e social.

Neste sentido, a Igreja no Brasil realiza todo ano, na Quaresma, a Campanha da Fraternidade (CF) que, longe de esvaziar o sentido quaresmal, dá a ele conteúdo e fecundidade para flores e frutos pascais.

A CF é uma iniciativa concreta para realizarmos ações que dão testemunho de arrependimento e verdadeira conversão nos diversos âmbitos: pessoal, comunitário, eclesial e social.

A CF 2025 tem como Tema  “Fraternidade e Ecologia Integral”, e  como lema “Deus viu que tudo era muito bom (cf. Gn 1,31).

Urge refletir sobre a urgência de cuidar da nossa Casa Comum, promovendo uma Ecologia Integral conectada com a fé cristã, em expressão viva da responsabilidade socioambiental de todos nós.

A CF se realiza tendo como contexto os 10 anos de promulgação da Encíclica Laudato Si’; 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco; a realização COP-30 no Brasil (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025 – este evento é organizado pela ONU, um dos principais do mundo sobre o tema. e inspirado pelas realidades locais que tanto nos desafiam).

Destaco o Objetivo Geral da CF: “Promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra.”, com seus objetivos específicos:

1) Reconhecer o caminho percorrido e as ações já iniciadas com a Encíclica ‘Laudato Si’ (LS) e o Sínodo da Amazônia, em vista do seu fortalecimento e continuidade;

2) Denunciar os males que o modo de vida atual impõe ao planeta e que tem gerado uma “complexa crise socioambiental” (LS 135), dado que em nossa Casa Comum “tudo está interligado” (LS 16);

3) Apontar as causas da grave crise climática global, a urgência de alteração profunda nos nossos modos de vida e as “falsas soluções” (LS 54) fomentadas em nome da transição energética;

4) Aprofundar o conhecimento do “Evangelho da Criação” (LS, Cap. II), valorizando a dimensão trinitária da fé cristã e recuperando o horizonte bíblico da aliança universal que envolve todas as criaturas (Gn 8-9);

5) Explicitar a Doutrina Social da Igreja e assumir o compromisso com a conversão integral, para a superação do pecado, em todas as suas manifestações;

6) Vivenciar as propostas do Ano Jubilar em vista de novas relações do ser humano com Deus e suas criaturas, consigo mesmo e com o próximo;

7) Propor a Ecologia Integral como perspectiva de conversão e elemento transversal às dimensões litúrgica, catequética e sociotransformadora do compromisso cristão;

8) Incentivar as pastorais e os movimentos socioambientais, em articulação com outras Igrejas e Religiões, sociedade civil, povos originários e comunidades tradicionais, em vista da justiça socioambiental e da atuação socioeducativa;

9) Promover e apoiar ações efetivas que visem à mudança do modelo econômico que ameaça a vida em nossa Casa Comum;

10) Apoiar os atingidos por catástrofes naturais e as vítimas dos crimes ambientais em sua busca por reparação e justiça;

11) Celebrar os 10 anos da Encíclica ‘Laudato Si’, do Papa Francisco, acolhendo a ‘Laudate Deum’ e avançando com as temáticas socioambientais que já foram abordadas nas Campanhas da Fraternidade.

Fundamental que multipliquemos espaços e encontros para refletir, rezar e encontrar caminhos para darmos sagrados passos na promoção da Ecologia Integral, no cuidado da sacralidade da vida humana e da Casa Comum.

terça-feira, 11 de março de 2025

Peregrinando na esperança, supliquemos ao Bom Pastor

 


Peregrinando na esperança, supliquemos ao Bom Pastor

Sejamos enriquecidos pelo comentário sobre o Cântico dos Cânticos escrito por São Gregório de Nissa (séc. IV):

“Onde pastoreias, ó Bom Pastor, Tu que carregas sobre Teus ombros a toda a grei? Toda a humanidade, que carregaste sobre os Teus ombros, é, de fato, como uma só ovelha.

Mostra-me o lugar de repouso, guia-me até o pasto nutritivo, chama-me por meu nome para que eu, Tua ovelha, escute a Tua voz, e Tua voz me conceda a vida eterna: Avisa-me, amor de minha alma, onde pastoreias.

Chamo-Te deste modo, porque Teu nome supera qualquer outro nome e qualquer entendimento, de tal forma que nenhum ser racional é capaz de pronunciá-lo ou de compreendê-lo. Este nome, expressão de Tua bondade, expressa o amor de minha alma por Ti.

Como posso deixar de Te amar, a Ti que me amaste tanto, apesar de minha escuridão, que entregaste a Tua vida pelas ovelhas de Teu rebanho? Não se pode imaginar um amor superior a este, o de dar a Tua vida por minha salvação.

Ensina-me, portanto - diz o texto sagrado -, onde pastoreias, para que possa encontrar os pastos saudáveis e saciar-me do alimento celestial que é necessário comer para entrar na vida eterna; para que possa ainda acorrer à fonte que proporcionas aos sedentos com a água que brota de Teu lado, manancial de água aberto pela lança, que se torna para todos os que dele bebem uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

Se me pastoreias desta forma, me farás recostar ao meio-dia, sestearei em paz e descansarei sob a luz sem mistura de sombra. Durante o meio-dia não existe sombra alguma, já que o sol está a cimo; sob esta luz meridiana fazes recostar aos que pastoreaste, ao pores Teus ajudantes contigo em Teu quarto.

Ninguém é considerado digno deste repouso meridiano se não é filho da luz e filho do dia. Mas aquele que se afasta das trevas, tanto das vespertinas como das matutinas, que simbolizam o começo e o fim do mal, é colocado pelo sol de justiça na luz do meio-dia, para que repouse debaixo dela.

Ensina-me, pois, como devo recostar-me e pastar, e qual seja o caminho do repouso meridiano, não aconteça que por ignorância me afaste de Tua direção e me junte a um rebanho estranho ao Teu.

Isto diz a esposa do Cântico, solícita pela beleza que lhe vem de Deus e com o desejo de saber como alcançar a felicidade eterna.” (1)

Como Igreja sinodal, caminhando sempre juntos, façamos nossa esta oração ao Bom Pastor em todos os momentos, sobretudo nos mais adversos.

Grandes são as dificuldades e desafios, maior é a força e onipotência divina que vêm em socorro de nossas fraquezas.

Como peregrinos da esperança, precisamos contar com a presença e a ajuda do Bom Pastor, Jesus, que caminha conosco, e nos convida - “Vinde a mim vós que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso” (Mt 11,28).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 433-434

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia

                                                    

 

Discípulos do Divino Mestre em busca da perfeita sintonia
 
Sejamos iluminados pelo Tratado sobre a verdadeira imagem do cristão, escrito pelo bispo São Gregório de Nissa (séc. IV).
 
“São três as coisas que manifestam e distinguem a vida cristã: a ação, a palavra e o pensamento. Das três, tem o primeiro lugar o pensamento. Em seguida, a palavra, que nos revela o pensamento concebido e impresso no espírito.
 
Depois do pensamento e da palavra vem, na ordem, a ação, realizando por fatos o que o espírito pensou.
 
Portanto, se alguma coisa na vida nos induz a agir ou a pensar ou a falar, é necessário que o nosso pensamento, a nossa palavra e a nossa ação sejam orientadas para a regra divina daqueles nomes que descrevem a Cristo, de modo a nada pensarmos, nada dizermos e nada fazermos que se afaste do seu alto significado.
 
Então, o que terá de fazer aquele que se tornou digno do grande nome de Cristo, a não ser examinar diligentemente os próprios pensamentos, palavras e ações, julgando se cada um deles tende para Cristo ou se lhe são estranhos?
 
De muitas maneiras operamos este magnífico discernimento. Tudo quanto fazemos, pensamos ou falamos com alguma perturbação, de nenhum modo está de acordo com Cristo, mas traz a marca e a figura do inimigo, que mistura a lama das perturbações à pérola da alma para deformar e apagar o esplendor da joia preciosa.
 
O que, porém, está livre e puro de toda afeição desordenada, relaciona-se com o Autor e Príncipe da tranquilidade, o Cristo.
 
Quem d’Ele bebe, como de Fonte pura e não poluída, as suas ideias e os seus sentimentos, revelará em si a semelhança com o princípio e a origem, tal como a água na própria fonte é igual a que corre no límpido regato e á que brilha na jarra.
 
De fato, é uma só e mesma a pureza de Cristo e a que se encontra em nossos espíritos. Mas a pureza de Cristo brota da fonte, enquanto a nossa dela flui e chega até nós, trazendo consigo a beleza dos pensamentos para a vida.
 
Portanto, a coerência do homem interior e do exterior aparece harmoniosa, quando os pensamentos que provêm de Cristo guiam e movem a modéstia e a honestidade de nossa vida”. (1)
 
Reflitamos sobre a nossa vida cristã autêntica, para encontramos a perfeita sintonia entre pensamento, palavra e ação, de tal modo que reavivemos e consolidemos nossa vocação e eleição.
 
Procuremos sempre esta perfeita sintonia, de tal modo que quanto maior for, mais autêntica vida cristã, e ressoando as palavras do Bispo, que a “lama das perturbações” não se misture à pérola de nossa alma, apagando o esplendor divino que em nós habita.

O Cardeal Martini (Vida Pastoral nº 266) nos apresenta quatro atitudes que, se verdadeiramente vividas, realizarão a premente necessidade de sintonia   entre o pensar, falar e agir, assegurando-nos criatividade e autenticidade como discípulos missionários de Jesus Cristo:
 
I. A Leitura orante da Bíblia – diariamente, nutrir-se pela Palavra de Deus, para que os pensamentos, por ela, sejam iluminados, expressos em palavras e gestos. O maior bem que se possa desejar e alcançar.
 
II. O autocontrole – a vontade de Deus há de prevalecer sobre as próprias vontades, com disciplina, renúncia, acrisolamento, amadurecimento, despojamento, desprendimento; alcançando o amadurecimento no discipulado, afastando toda possibilidade de esgotamento e vazio existencial.     
 
III. O Silêncio – Mais do que nunca, é necessário afastar-se da insana escravidão do barulho e das conversas, muitas vezes, inúteis e desnecessárias. Dedicar, ao menos, meia hora por dia para o silêncio e meio-dia a cada semana para pensar em si mesmo, refletir e rezar. Aparentemente inviável e impossível, mas é preciso dar o primeiro passo.
 
IV. A Humildade – O Espírito Santo é o verdadeiro protagonista da Evangelização. Há de se ter a consciência de que sem o sopro do Espírito nada somos e nada podemos. Dele procedem todos os dons e a graça para que consigamos viver o que falamos, falar o que pensamos e pensar o que rezamos.
 
A credibilidade da Igreja está relacionada ao seu testemunho do indizível Amor divino, sem incoerências execráveis, na mais perfeita fidelidade Àquele que é a Perfeitíssima Coerência: Cristo Jesus, Nosso Senhor; entranhados em Seu coração e envolvidos pelos laços de Sua indispensável ternura. 
 
A triplicidade vivida é fundamental para o alcance da autêntica felicidade, de modo que, a sua ausência abre espaço para incoerências, infidelidades, contratestemunhos e escândalos, enfraquecendo o conteúdo da Palavra Divina que anunciamos, do Projeto do Reino que acreditamos e do Mistério que celebramos.    
 
Reflitamos:
- Como alcançá-la?
- Qual o caminho para encurtar eventuais distanciamentos entre o que pensamos, falamos e fazemos?
 
Concluo: quer pensemos, quer falemos, quer façamos qualquer coisa, façamos em nome do Senhor Jesus. 
 
A vida cristã será cada vez mais autêntica, quanto mais encurtemos a distância entre o que pensamos, falamos e agimos, sempre dentro dos propósitos do Evangelho, para melhor correspondermos ao que Deus espera de cada um de nós. Amém!
 
  

(1) Liturgia das Horas – Vol. III – pp.354-355.

Pureza da alma desejável, olhos da alma iluminados

                                                         

Pureza da alma desejável, olhos da alma iluminados

Reflitamos uma parte da  Homilia do Bispo São Gregório de Nissa (Séc. IV) para refletirmos sobre a necessidade retirarmos toda ferrugem da alma que nos impede de revelar ao mundo o esplendor de Deus que haveremos de comunicar com a palavra e a vida.

“... Se, por uma vida intensa e diligente, lavares de novo as sujeiras que mancham e escurecem o coração, resplandecerá em ti a divina beleza.

Como acontece com o ferro, preto antes, retirada a ferrugem pelo polimento, começa a mostrar seu brilho ao sol, assim o homem interior, a quem o Senhor dá o nome de coração, quando limpar as manchas de ferrugem que surgiram em sua forma pela corrupção, recuperará a semelhança com sua principal forma original e se tornará bom. Pois o semelhante ao bom é bom.

Por consequência, quem se vê a si, em si vê a quem deseja. Deste modo é feliz quem tem o coração puro porque, olhando sua pureza, pela imagem descobre a forma principal.

Aqueles que veem o sol refletido num espelho, embora não tenham os olhos fixos no céu, não veem menos seu esplendor do que aqueles que olham diretamente para o próprio sol; da mesma forma, também vós, embora sem possuirdes a capacidade de contemplar a luz inacessível, se voltardes à beleza e à graça da imagem que vos foi dada no início, em vós mesmo tereis o que procurais.

A pureza, a ausência das paixões desregradas e o afastamento de todo o mal é a divindade. Se, portanto, se encontrarem em ti, Deus estará totalmente em ti. Quando, pois, teu espírito estiver puro de todo vício, liberto de todo mau desejo e longe de toda nódoa, serás feliz pela agudeza e luminosidade do olhar, porque aquilo que os impuros não podem ver, tu, limpo, o perceberás.

Retirada dos olhos da alma a escuridão da matéria, pela serenidade pura contemplarás claramente a beatificante visão. E esta, o que é? Santidade, pureza, simplicidade, todo o esplendor da luminosa natureza divina, pelos quais Deus se deixa ver.”


Contrariedades, amargura, decepções, egoísmo, sedução do pecado ou quaisquer coisas semelhantes são como ferrugem da alma, azedume indesejável do coração que nos torna acres e assim impossibilitados de testemunhar a docilidade do Espírito que em nós habita.

Tudo será melhor se evitarmos a corrosão da alma com as indesejáveis e abomináveis “ferrugens quotidianas”.

A ferrugem da alma, se instalada no coração, nos impede de construirmos relações mais humanas e mais fraternas. Estranhamente esta ferrugem atrai mais ferrugem ainda.

Saibamos suportar as “marteladas” necessárias para que, assim como o ferro, pelo “polimento da alma” possamos revelar mais candura desejável no coração, para que não somente a Deus contemplemos, mas vejam Deus em nós, porque esplendor divino, devemos ao mundo comunicar.

Comuniquemos por palavras e obras o mundo que acolhemos o mais Belo Hóspede de nossa alma, o Vosso Espírito, agradecendo a Deus tão preciosa graça, de termos sidos divinizados com  presença de valor tão imensurável.

Sejam percebidas a santidade, pureza, simplicidade nos pequenos e grandes gestos, para que os olhos de nossa alma possam novos caminhos trilhar, e um mundo novo vislumbrar.

Oremos

Da ferrugem da alma livrai-nos, Senhor.
A pureza da alma dai-nos, Senhor.

Ferrugem da alma cotidianamente polida,
Fé viva no bom combate será amadurecida;
Esperança que a cada amanhecer renovada,
Caridade pelo fogo do Espírito inflamada.

A Vós graça, por que Vosso Espírito em nós habita, 
e assim somos divinizados!
Amém.

Nada podemos sem a Palavra do Senhor

                                                   


Nada podemos sem a Palavra do Senhor

“A Palavra de Deus é substância vital de nossa alma;
ela a alimenta, a apascenta e a governa e não há outra coisa,
fora da Palavra de Deus, que possa viver a alma do homem” (1)

Senhor, convosco aprendemos que nos momentos de tentação, só há um meio para não cair: agarrar-se firmemente à Palavra de Deus rico em misericórdia, como Vós fizestes.

Senhor, Vos pedimos que esta Palavra esteja sempre junto de nós, na nossa boca e no nosso coração, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, iluminando nossos caminhos.

Senhor, que acreditemos incondicionalmente em Vós, que conosco estais, Ressuscitado dos mortos, e que quando invocamos o Vosso Nome, somos ouvidos e atendidos.

Senhor, somos membros do Vosso Povo, nascido de um grupo de arameus errantes, do qual o Pai Vos  pusestes à frente para conduzir até Ele, na glória da eternidade.

Senhor, cremos que jamais seremos vencidos se permanecermos unidos a Vós, videira divina do Pai, nutridos perenemente com a Seiva do Santo Espírito, a Seiva do Amor.

Senhor, convosco queremos viver a Quaresma, como tempo favorável de nossa salvação, crendo que ela não é um presente que nós a Deus fazemos; mas, antes, um presente que por amor uno e trino, Deus nos oferece. (2)

Portanto, Senhor, conduzi-nos nesta viagem espiritual da Quaresma para a Vossa Páscoa, da qual a Eucaristia é, simultaneamente, memorial e penhor. Amém.


Fonte inspiradora: Missal Dominical e Quotidiano – Ed. Paulus – Lisboa p.301.
(1)         Santo Ambrósio, Exp. Os 118, 11,29).
(2)        O Verbo Se faz carne – Raniero Cantalamessa. - Editora  Ave Maria - 2013 - p.532 – 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG