sábado, 1 de março de 2025

Urge que sejamos luminosos!

                                                                     

Urge que sejamos luminosos!

Reflitamos o Comentário sobre o Eclesiastes, do Bispo São Gregório de Agrigento (séc. VI), renovando o nosso desejo, mais que necessário, que nos acompanha incessantemente: aproximarmo-nos de Deus, pois quanto mais próximos d’Ele, mais luminosos o seremos.

“Suave, diz o Eclesiastes, é esta luz e extremamente bom, para nossos olhos penetrantes, é contemplar o sol esplêndido. Pois sem a luz o mundo não teria beleza, a vida não seria vida. Por isto, já de antemão, o grande contemplador de Deus, Moisés, disse: E Deus viu a luz e declarou-a boa.

Porém é conveniente para nós pensar naquela grande, verdadeira e eterna luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo, quer dizer, Cristo, Salvador e Redentor do mundo, que, feito homem, quis assumir ao máximo a condição humana.

D’Ele fala o Profeta Davi: Cantai a Deus, salmodiai a Seu nome, preparai o caminho para Aquele que Se dirige para o ocaso; Senhor é Seu nome; e exultai em Sua presença.

Suave declarou o Sábio ser a luz e prenunciou ser bom ver com Seus olhos o sol da glória, aquele sol que no tempo da divina encarnação disse: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida.

E outra vez: Este o juízo: a luz veio ao mundo. Desta maneira, pela luz do sol, gozo de nossos olhos corporais, anunciou o Sol da justiça espiritual, tão suave àqueles que foram encontrados dignos de conhecê-Lo.

Viam-no com seus próprios olhos, com Ele viviam e conversavam, como um homem qualquer, embora não fosse um qualquer. Era, de fato, verdadeiro Deus que deu vista aos cegos, fez os coxos andar, os surdos ouvir, limpou os leprosos, aos mortos devolveu a vida.

Todavia, mesmo agora é realmente delicioso vê-Lo com olhos espirituais e contemplar demoradamente Sua simples e divina beleza. Além disso, é delicioso, pela união e comunicação com Ele, tornar-se luminoso, ter o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, adquirir o entendimento e vibrar de uma alegria divina que se estenda a todos os dias da presente vida.

O sábio Eclesiastes bem o indicou quando disse: Por muitos anos que viva o homem, em todos eles se alegrará. É evidente que o Autor de toda alegria o é para os que veem o Sol de justiça. D’Ele disse o Profeta Davi: Exultem diante da face de Deus, gozem na alegria; e também: Exultai, ó justos, no Senhor; aos retos convém o louvor”.

Há situações difíceis pelas quais passamos que por vezes parecem querer ofuscar ou mesmo apagar a Divina Chama que em nós, um dia no Batismo foi acesa.

Retomo alguns trechos para aprofundamento:

“Além disso, é delicioso, pela união e comunicação com Ele, tornar-se luminoso, ter o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, adquirir o entendimento e vibrar de uma alegria divina que se estenda a todos os dias da presente vida.”

Luminosidade, doçura e santidade, entendimento, vibração de alegria... Tudo isto e muito mais alcançamos quando, D’Ele, a Divina Fonte de Luz e Amor, nos aproximamos: Cristo Jesus!

Fomos criados por Deus para sermos luminosos. Jamais deixemos as dificuldades apagarem nossa luz, nossa chama ardente da caridade, que se comunica com a Fonte Ardente de Caridade, Jesus. Não podemos permitir o ofuscar a luz nos olhos, que faz ressuscitar a confiança, a esperança, a bondade, a ternura, a serenidade, a misericórdia e o perdão em nosso coração.

Inebriados pela infinita doçura do Senhor, não sejamos amargos nos relacionamentos, pois nisto consiste o caminho da santidade de quem experimentou a verdadeira alegria de nutrir-se e renovar-se, a cada dia, na Mesa da Santa Eucaristia. 

O Tempo do Silêncio fecundo

O Tempo do Silêncio fecundo

“Que cada um esteja pronto para ouvir, mas
lento para falar e lento para encolerizar-se,
pois a cólera do homem não é capaz de
cumprir a justiça de Deus”. (Tg 2,19).

Reflitamos, à luz do versículo acima citado, sobre o perigo que a língua representa se não controlada pelas rédeas da sabedoria e da serenidade.

O autor do Livro do Eclesiástico já dissera:

“Não joeires a todos os ventos, nem te metas por qualquer trilha (assim faz o pecador de palavra dúplice). Sê firme em teu sentimento e seja uma a tua palavra. Sê pronto para escutar, mas lento para dar a resposta. Se sabes algo, responde a teu próximo; se não, põe a tua mão sobre a boca. Honra e confusão acompanham o loquaz, e a língua do homem é a sua ruína” (Eclo 5,11-15).

No lar, na escola, no trabalho, na Igreja e em quaisquer espaços que circulemos, estabelecemos relacionamentos com o outro.  As divergências se manifestam, os ruídos ensurdecedores se avolumam, palavras densas ou vazias se multiplicam indefinidamente. As palavras vão e vêm, ora sem conteúdo, ora sem ressonância, ora pertinentes, ora nem tanto.

É preciso ressuscitar o silêncio eloquente, frutuoso. O silêncio que fala na ausência das palavras.

Não estaria ocorrendo algo temeroso que os autores sagrados haviam percebido: fala-se demais, escuta-se pouco, dá-se vazão à cólera, à ira (o resultado bem conhecemos)?

Estamos no Tempo da Quaresma - Tempo favorável de conversão. Porém, independente de ser o Tempo da Quaresma, para crentes e não crentes, participantes ou não da fé católica, façamos deste o Tempo do Silêncio fecundo.

Façamos um propósito: ouvir mais, falar menos, e esvaziar o coração para que Deus possa plenificá-lo de Sua bondade, amor, graça e ternura.

Silêncio não como voto de mudez, mas propósito de cura da surdez ao outro: aos seus clamores, gritos, sofrimentos e dores.

Controle da língua. Sejamos menos loquazes, falemos menos, ouçamos mais. Rédeas curtas para a língua, e alargamento das veras do coração, para que movidos pelo essencial de nossa fé (Mandamento do Amor) saibamos ser mais fraternos, construindo amizades mais autênticas e eternas.

Menos palavras, mais silêncio. Maior abertura de coração ao outro, menos ira, raivas, rancores, ressentimentos.

Os autores há muito nos falaram, e, teimosamente, nos fazemos surdos às suas palavras.

Calemo-nos!
Controlemo-nos!
Ouçamos mais, amemos muito mais!

Na fidelidade ao Senhor, vivendo a vida nova dos que creem no Ressuscitado, discípulos do Verbo Encarnado, padecido, sofrido, morto e Ressuscitado, vivendo por matizes e horizontes eternais. 

Uma Igreja acolhedora, compassiva e missionária

 


Uma Igreja acolhedora, compassiva e missionária

“Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. (Mc 10,15)

Na comentário da passagem do Evangelho de  Marcos (Mc 10,13-16), O Missal Cotidiano nos apresenta duas citações de dois Catecismos, sobre a necessidade de receber o Reino de Deus como uma criança, para que nele se possa entrar:

- “Muitas vezes, na apreciação dos adultos, as crianças ficam privadas de significado e de valor, como os últimos chegados ao banquete da vida. São mesmo postas à margem e excluídas, em diferente medida, do convívio humano. A Palavra de Deus nos questiona de contínuo sobre a maneira de consideramos e tratarmos os pequeninos; questiona além disso cada comunidade ou cultura que oprima as crianças. Diz ‘não’ à opressão da criança; diz ‘sim’ quando pessoas e comunidades resolvem converter-se a Deus, e, portanto, segundo Sua Palavra, tornar-se como os pequeninos”. (1)

- O Senhor não eleva a ideal a inocência da criança – como talvez romanticamente sejamos levados a imaginar -, mas o sentir-se pequeno, ser receptivo e começar humildemente do começo. Como no Evangelho de João, onde Jesus diz a Nicodemos: ‘Se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus’ (Jo 3,3). A mesma atitude é indicada nas bem-aventuranças. Quem se faz pequenino desse modo é de fato disponível e se abandona à alegria de Deus. Quem se recusa não terá alegria”(2)

O Catecismo da Igreja Católica enriquece ainda mais com este parágrafo:

«Tornar-se criança» diante de Deus é a condição para entrar no Reino (Mt 18,3-4), e para isso, é preciso abaixar-se (Mt 23,12) tornar-se pequeno. Mais ainda: é preciso «nascer do Alto» (Jo 3, 7), «nascer de Deus» (Jo 1,13) para se «tornar filho de Deus» (Jo 1,12). O Mistério do Natal cumpre-se em nós quando Cristo «Se forma» em nós (Gl 4,19). O Natal é o mistério desta «admirável permuta»:

«O admirabile commercium! Creator generis humani, animatum corpus sumens de Virgine nasci dignatus est; et, procedens homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem». – «Oh admirável permuta! O Criador do gênero humano, tomando corpo e alma, dignou-Se nascer duma Virgem; e, feito homem sem progenitor humano, tornou-nos participantes da sua divindade!» (Solenidade Santa Maria Mãe de Deus. (3)

É preciso superar uma visão “romantizada” da acolhida das crianças, retratada na passagem do Evangelho.

Vemos que o Senhor as desejou junto de Si, porque a Sua condição indefesa e excluída manifestava bem a realidade acerca dos discípulos e acerca do Reino que ela desejava transmitir:

“Como a criança precisa de atenção e de cuidados, quem está doente e em sofrimento encontra-se com as mesmas necessidades. Do mesmo modo o homem que vive no pecado. O pecador precisa sobretudo de reconciliação e solidariedade, de alguém que, sem julgar, o ajude a tomar consciência da sua situação e a escolher caminho da conversão.” (4)

No anúncio do Reino, a acolhida dos pequeninos, pobres e indefesos se torna um elemento constitutivo da prática dos discípulos missionários.

Uma Igreja acolhedora, solidária, compassiva e missionária que acolhe, integra e promove para a vida em plenitude (cf. Jo 10,10). Amém.

 

 

 

(1) CEI, Il catechismo dei bambini, 21 – citado no Missal Cotidiano – Editora Paulus – pag. 816

(2) O novo Catecismo holandês – idem

(3)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 526

(4) Lecionário Comentado – Volume I Tempo Comum – pág. 352

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Eliminemos a tristeza do coração

                                                   

Eliminemos a tristeza do coração

Todos ansiamos por encontrar a verdadeira alegria, a verdadeira condição de todos nós. No entanto, quem está livre das tristezas, e como nos libertar das mesmas, para que, com o coração purificado, sintamos esta verdadeira alegria?

Vejamos o que nos diz este texto escrito pelo Pastor de Hermas (séc. II):

“Reveste-te, portanto, de alegria, lugar das complacências divinas, faz dela tuas delícias. Porque todo homem alegre age bem, pensa com justiça e calca aos pés a tristeza.

O homem triste, ao contrário, sempre age mal: primeiro faz mal entristecendo o Espírito Santo que é dado como alegria aos homens, depois (...) comete uma impiedade não orando ao Senhor (...) porque a oração do homem triste não tem força para subir até o altar de Deus (...)

A tristeza misturada à oração impede-a de subir, como o vinagre misturado ao vinho tira o seu sabor (...).

Purifica teu coração da tristeza má e viverás para Deus. Também viverão para Deus todos os que se tiverem despido da tristeza para se revestir da alegria”. (1)

Ainda que não seja fácil, não podemos sucumbir ou nos deixar consumir pelas tristezas e inquietações, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo:

– “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos! Seja a vossa amabilidade conhecida de todos! O Senhor está próximo. Não vos preocupeis com coisa alguma, mas, em toda ocasião, apresentai a Deus os vossos pedidos, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que supera todo entendimento guardará os vossos corações e os vossos pensamentos no Cristo Jesus” (Fl 4,4-7).

Oremos:

Purificai, Senhor, nosso coração de toda tristeza,
A fim de que, revestidos da autêntica alegria,
Que somente em Vós encontramos, e podeis nos oferecer,
Firmemos nossos passos na realização de Vossos desígnios a nós reservados.

Fazei com que calquemos com os pés a tristeza,
Para agir e pensar bem, conforme Vossa vontade,
E assim, nossa oração subirá aos céus,
E nossos louvores e súplicas serão ouvidos.

Revesti-nos, Senhor, com Vosso amor e alegria,
Para que, confiando tão somente em Vós,
Vivamos uma fé inquebrantável e frutuosa,
Acompanhada da esperança viva e generosa caridade.
Amém.



(1) Hermas – um texto do século II – citado em “Fontes – Os Místicos Cristãos dos Primeiros Séculos – Textos e Comentários – Editora Subíaco - p.151

Em busca da perfeição espiritual

                                            

Em busca da perfeição espiritual

Ó Deus, não posso amá-Lo amando a mim mesmo.
Por causa das incomparáveis riquezas do Vosso Amor,
Não prefiro a mim mesmo, pois somente assim
Posso amá-lo verdadeiramente.

Que eu jamais busque minha própria glória, mas a Vossa;
Amando-Vos de coração sincero por toda a minha vida.
Glória que a Vós pertence, Criador que sois de todas as coisas,
E, por meio do Vosso Filho, reconciliador de tudo e de todos.

Que minha alma seja sensível ao Vosso Amor,
Procurando sempre a Vossa glória em todo momento,
Deleite-me em realizar todos os Preceitos, com uma submissão
Que não diminui minha liberdade, mas a redimensiona.

Que minha submissão ao Vosso poder e Amor
Faça-me cada vez mais familiar a Vós, alegrando-me com a
Verdadeira alegria, que a exemplo do Precursor João Batista,
Eu repita sem nunca cessar: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (cf Jo 3,30).

Se preciso for, que eu chore por não Vos amar o bastante,
Que, pela intensa vontade de amá-Lo, esqueça meus títulos,
Ocultando-me na profunda caridade, pela humildade de espírito,
Como servo inútil de Vossa messe.

Que eu fuja de toda honra e glória e somente me consuma
Pelas inestimáveis riquezas de Vosso Amor,
Que Vos amando no íntimo de meu desprezível coração
Seja por Vós conhecido, permanecendo em Vós e Vós em mim.

Que se intensifique e cresça em minha alma
A caridade, da qual sois a Divina e Eterna Fonte,
Para que Vos ame como Vós amais, Amor sem medida,
E transformado pela Vossa caridade, revele Vossa presença.

Que eu alcance este alto grau de caridade e elevação espiritual
Vivendo como se não vivesse; como disse o Apóstolo Paulo:
“Eu vivo, mas não eu, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20);
Vivendo no corpo, mas, pela caridade, peregrino nos eternos caminhos para Deus.

Abrasa o meu coração pelo fogo da caridade,
Facho ardente de desejo, unindo-me a Vós,
Liberto de todo apego de mim mesmo,
Seja eu arrebatado fora de mim para Vos encontrar.

E, que Vos encontrando no mais profundo de mim mesmo,
Vós que conheceis a mim, mais do que eu a mim mesmo,
Possa, dia pós dia, incansavelmente,
Subir cada degrau da santidade em busca da perfeição espiritual.

Amém!


PS: Fonte inspiradora: “Dos Capítulos sobre a perfeição espiritual” - Diádoco de Foticeia, bispo (séc.V).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Compromissos com um mundo novo

                                                        


Compromissos com um mundo novo

“Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50)

Ouvimos, na quinta-feira da sétima semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,41-50).

Nela, encontramos alguns ditos de Jesus, lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que se viva um autêntico discipulado, promovendo o bem comum e apoiando todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso eliminar todo o egoísmo e autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

Deste modo, não há lugar na vida do discípulo para arrogância e egoísmo; é preciso arrancar de dentro de si, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

O Missal Cotidiano afirma: “O escândalo mais grave que se dá hoje aos pequeninos e humildes é o contratestemunho de muitos cristãos, seu escasso senso social, sua ‘ética individualista’ e outras incoerências que constituem um serviço não desprezível ao surgimento do ateísmo em muitos homens, de modo que ‘se deve dizer que mais encobrem do que revelam a autêntica face de Deus e da religião” (Gaudium et spes 19).

Também precisamos ser vigilantes, como o Senhor nos adverte: “Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros”.

O Missal Cotidiano também afirma: “O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados” (Lumen Gentium 38).

Reflitamos:

- O que podemos fazer para nos colocarmos a serviço dos últimos, dos pequeninos?

- O que devemos evitar para não escandalizar os pequeninos, os preferidos de Deus?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

-  De que modo vivamos a vigilância ativa, para que tenhamos sal em nós mesmos?

-  Somos instrumentos da construção da civilização do amor e da paz?
- Somos sinais de discórdia ou de comunhão nos espaços que ocupamos?

Tão somente quem se deixar conduzir pela Palavra do Senhor, terá gosto de Deus, encontrará sentido para a sua existência e se colocará como um instrumento para a construção da civilização do amor e da paz.

Concluindo: sem “sal”, sem o amor de Deus, derramado em nós pelo Seu Espírito, ficamos empobrecidos, ainda que bens e riquezas materiais possuamos.

Grito profético que sobe aos céus: não escandalizar os pequeninos

                                                           


Grito profético que sobe aos céus: não escandalizar os pequeninos

      “Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50)

Ouvimos, na quinta-feira da sétima semana do Tempo Comum (ano par), a passagem da Epístola de Tiago (Tg 5,1-6) e do Evangelho de Marcos (Mc 9,41-50).

As Leituras exortam a superar toda forma de arrogância, egoísmo, e ainda arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

A Epístola é um forte grito profético contra a exploração, o acúmulo de bens, o enriquecimento à custa dos pobres, e exorta o discernimento necessário para sabermos usar os bens materiais que são transitórios.

Os bens por melhor que sejam (ouro, conta bancária, carro de luxo, casa dos sonhos etc.) não saciam a fome de vida eterna.

O autor sagrado tem uma mensagem muito clara e atual: o crime contra o pobre é crime contra o próprio Deus. A acusação profética de Tiago é dirigida aos ricos e a todos que não se esforçam para corrigir as injustiças que se multiplicam no mundo inteiro.

A vida plena depende, na exata medida, das opções que fazemos nesta vida, de modo que a prática da injustiça é a autoexclusão da família de Deus. É preciso, portanto, afastar todo orgulho, ambição, autossuficiência.

A passagem do Evangelho nos apresenta alguns ditos de Jesus que são lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que se viva um autêntico discipulado, promovendo o bem comum e apoiando todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destrói a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

O Missal Cotidiano afirma: “O escândalo mais grave que se dá hoje aos pequeninos e humildes é o contratestemunho de muitos cristãos, seu escasso senso social, sua ‘ética individualista’ e outras incoerências que constituem um serviço não desprezível ao surgimento do ateísmo em muitos homens, de modo que ‘se deve dizer que mais encobrem do que revelam a autêntica face de Deus e da religião” (Gaudium et spes 19).

Também precisamos ser vigilantes, como o Senhor nos adverte: “tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros” (Mc 9,50).

O Missal Cotidiano também afirma: “O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (Lumen Gentium 38).

Reflitamos:

- O que podemos fazer para nos colocarmos a serviço dos últimos, dos pequeninos?

- O que devemos evitar para não escandalizar os pequeninos, os preferidos de Deus?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

- De que modo vivemos a vigilância ativa, para que tenhamos sal em nós mesmos?

- somos instrumentos da construção da civilização do amor e da paz?
- somos sinais de discórdia ou de comunhão nos espaços que ocupamos?

Concluindo, quem se deixa conduzir pela Palavra do Senhor, tem gosto de Deus, encontra sentido para a sua existência e se coloca como um instrumento para a construção da civilização do amor e da paz. Sem “sal”, sem o amor de Deus, derramado em nós pelo Seu Espírito, ficamos empobrecidos, ainda que bens e riquezas materiais possuamos.

PS: Oportuna para o 26º Domingo do Tempo Comum - ano B

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