sábado, 11 de janeiro de 2025

Ser batizado: levar a Cruz na fronte e na alma

                                                                


Ser batizado: levar a Cruz na fronte e na alma

“... Se alguém quer me seguir, renuncie
a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga.” (Lc 9,23)

O Sermão de São Máximo de Turim (séc.V) muito nos enriquece para compreendermos melhor sobre o Natal e o Batismo de Cristo, que são nosso Mistério e nossa Salvação.

“Hoje saiu para o mundo o verdadeiro Sol, hoje nas trevas do século surgiu a Luz. Deus Se fez homem para que o homem chegue a ser Deus; o Senhor assumiu a forma de escravo para que o servo se converta em Senhor; o morador e Criador dos céus habitou na terra para que o homem, povoador da terra, possa emigrar aos céus.

Ó dia mais luminoso que qualquer sol! Ó momento mais esperado de todos os séculos! O que ansiavam os Anjos, o que nem serafins nem querubins nem coros celestiais conheceram, isto é o que se revelou em nossos dias; o que eles viam como em um espelho e mediante imagens, nós o contemplamos em Sua própria realidade.

Aquele que falou ao povo de Israel pela boca de Isaías, Jeremias e demais Profetas, agora nos fala por Seu Filho. Que diferença entre o Antigo e o Novo Testamento! No Antigo, Deus falava através da nuvem, a nós fala abertamente; ali Deus Se mostrava na sarça, aqui Deus nasce da Virgem; ali era o fogo o que consumia os pecados do povo, aqui é um homem que perdoa os pecados do povo, ou melhor, é o Senhor que perdoa a Seus servos, pois ninguém, a não ser Deus, pode perdoar os pecados.

Tanto se o Senhor Jesus nasceu hoje ou se hoje é o dia do Seu Batismo – existem a respeito opiniões diversas e podemos aderir àquela que nos pareça melhor –, uma coisa é clara: seja hoje o dia que nasceu da Virgem, seja o dia em que renasceu no Batismo, Seu nascimento na carne e no Espírito, é em nosso proveito; ambos os Mistérios são meus, minha é a utilidade que redunda deles. O Filho de Deus não tinha necessidade nem de nascer nem de ser batizado, pois não tinha cometido pecado para que Se lhe perdoasse no Batismo. Porém, Sua humanidade é nossa sublimidade, Sua Cruz é nossa vitória, Seu patíbulo é o nosso triunfo.

Coloquemos alegres este sinal sobre os nossos ombros, levantemos o estandarte da vitória ainda mais: gravemos este lábaro em nossas frontes. Quando o diabo vir este sinal na padieira de nossas portas se estremecerá, e os que não temem os dourados capitólios, temem a Cruz; os que não se retraem diante de cetros reais, a púrpura e o fausto dos césares, põem-se a tremer ante as macerações e os jejuns dos cristãos.

Alegremo-nos, pois, caríssimos irmãos, e elevemos ao céu em forma de Cruz as mãos puras. Enquanto Moisés mantinha as mãos no alto, vencia Israel; enquanto as abaixava, vencia Amalec. 

As próprias aves quando se elevam para as alturas e planam no ar com as asas estendidas imitam a cruz. E as próprias cruzes artísticas são verdadeiros troféus e despojos de guerra, cruzes que devemos levar não somente nas frontes, mas também em nossas almas, para que, amados desta forma, caminhemos entre áspides e víboras em Cristo Jesus, a quem se deve a glória pelos séculos dos séculos”. (1)

Celebrar o Batismo do Senhor é contemplar a Sua humanidade, que elevou nossa condição de pecadores. Banhados nas águas do Batismo, somos lavados de todos pecados e alcançamos a sublimidade.

No dia de nosso Batismo foi colocada a Cruz em nossos ombros, para que a carreguemos confiantes e alegres por toda a vida, com ânsias de eternidade.

Batizados e marcados pela Cruz, façamos dela nossa vitória, embora patíbulo e morte na Cruz tenha aparência de derrota, mas pela Ressurreição é a nossa mais bela Vitória, e com Ele, Jesus Ressuscitado, nos tornamos mais que vencedores, como expressou o Apóstolo Paulo (cf Rm 8,37).

Batizados o fomos, portanto, que a cruz marcada em nossa fronte e em nossa alma nos lembre que neste dia fomos marcados pelo selo do Espírito, como profetas, sacerdotes e reis, em Deus confiando e a nada temendo, pois tudo podemos n’Aquele que nos fortalece (Fl 4,13).

E deste modo, poderemos caminhar “entre áspides e víboras em Cristo Jesus, a quem se deve a glória pelos séculos dos séculos”, como tão fortemente expressou São Máximo e que nos remete necessariamente ao Salmo 91.

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - 2013 -pp. 303-304

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG