domingo, 1 de outubro de 2023

Escândalos (XXVIDTCB) (28/09)

Escândalos

“E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem,
melhor seria que fosse jogado no mar com uma
pedra de moinho amarrada ao pescoço.”
(Mc 9, 42)

Na passagem do Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum (ano B), Jesus adverte sobre “não escandalizar os pequeninos”.

Na linguagem bíblica, dois são os significados fundamentais da palavra “escândalo”: tropeço e obstáculo.  

Enquanto tropeço, indica algo que faz cair, que desvia do caminho, que leva ao pecado e à Geena.

De outro lado, enquanto “obstáculo” indica algo que impede e fecha o acesso (mais do que uma pedra, um muro).

Na passagem mencionada, Jesus refere-se ao escândalo como palavras ou atitudes que impedem a vida fé e a entrada no Reino de Deus.

A advertência é dirigida de modo especial a nós cristãos, que podemos ser, muitas vezes, motivo de escândalo, de obstáculo a quem está caminhando para a fé e para Cristo.

Por isso toda vigilância se faz necessária, para que façamos florir esta conversão, e nos encorajemos para o combate dos escândalos, sem descuidar para que não sejamos nós mesmos motivos de escândalo pelo nosso pensar, falar e agir.

Estes são os escândalos maléficos, negativos, por parte dos cristãos, que consiste em não viver as exigências da fé, mantendo prisioneira a verdade de Deus (Rm 1,18).

No tempo de Jesus, eram os escribas e fariseus hipócritas, que  fechavam o Reino dos Céus para os pequenos, pobres, marginalizados,  de modo que eles não entravam e não deixavam entrar os que queriam (Mt 23,13s).

Mas, biblicamente, também podemos falar de escândalos bons por parte dos cristãos, quando proclamam e testemunham a fé com todas as suas exigências, sem conivência com o pecado, sem adulterá-las, e não procurando tornar-se agradáveis ao mundo (2Cor 4, 2).

O próprio Jesus foi “pedra de escândalo” neste sentido, como vemos nestas duas passagens bíblicas:

- “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1 Cor 1,23);

- “Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço, uma pedra que faz cair; mas quem nela crer não passará vergonha” ( Rm 9,33).

Fiquemos vigilantes, portanto, e peçamos a Deus a luz do Santo Espírito.para não sermos motivo de escândalo para os “pequeninos”; àqueles que esperam e precisam de nós, para que não nos tornemos causa de queda nem obstáculo para os quais serão abertas as portas do Reino de Deus.


PS: Fonte inspiradora: O Verbo Se faz carne - Raniero Cantalamessa  - Editora Ave-Maria - 2013 - pp.440-443.

Ninguém pode reter a ação do Espírito (XXVIDTCB) (28/09)

Ninguém pode reter a ação do Espírito

“Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome
 para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nossa favor” (Mc 9, 39-40).

Ouvimos no 26º Domingo do Tempo Comum (ano B) a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,38-43.45.47-48).

Sejamos enriquecidos por este Comentário do Lecionário Comentado:

“O Espírito é capaz de soprar e de fazer palpitar os corações também noutros locais, como nas mesquitas, nas sinagogas, nos areópagos, no templo que nós chamamos e nos parece pagão.

Deveríamos, por isso, pedir ao Senhor a graça de aprender a alegrarmo-nos pelo bem, onde quer que ele se concretize, de nos alegrarmos por todo o bem, sem nos importarmos com quem o pratica: seja pequeno ou crescido; seja jovem ou ancião; seja leigo ou consagrado; seja infeliz ou afortunado; seja doente ou saudável; seja alguém que se abre a vida ou alguém que está para prestar contas com Aquele que generosamente lhe concedeu”.

De fato não podemos nos apropriar do Espírito que sopra onde, quando e em quem Ele bem quiser.

Oremos:

Ó Deus, dai-nos a graça, como discípulos missionários do Senhor, contemplar e nos alegrar com a ação do Vosso Espírito, que age em quem, quando e onde quiser promovendo a vida, fazendo suscitar brotos de esperança onde nada mais parece possível; ainda que não professando a mesma fé que professamos, mas vivendo a caridade que não conhece fronteiras. Amém.


Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – Volume II Tempo Comum pág. 443

Não somos donos do Espírito de Deus (XXVIDTCB) (28/09)

Não somos donos do Espírito de Deus

O Espírito sopra onde e em quem quiser
e nada, nem ninguém pode deter Sua ação.

Com a Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum (ano B), refletimos sobre a ação divina que não pode ser controlada por ninguém: o Espírito de Deus sopra onde e quando quiser.  

As Leituras exortam a superar toda forma de arrogância, ciúmes em relação à ação de Deus e ainda, arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

Não se pode sequestrar, monopolizar, manipular, deter a ação do Espírito.

A passagem da primeira Leitura (Nm 11,25-29) é uma Catequese que retrata um período do Povo de Deus na caminhada do exílio.

É preciso aprender a edificar a vida sobre a cultura da liberdade e da maturidade, percebendo e correspondendo à presença de Deus que está sempre no meio do Seu povo.

Há que se fazer grandes progressos, amadurecimentos, alargando os horizontes, crescendo na responsabilidade para que seja um povo consciente, adulto e santo.

A passagem é para que o Povo de Deus compreenda que ninguém pode deter a ação do Espírito. 

Como Moisés, é preciso ser um povo livre, magnânimo, de espírito aberto, abolindo quaisquer resquícios de ciúmes em relação à ação divina.

O episódio retratado (Espírito concedido a outros dois) é a Boa Notícia de que não é privilégio exclusivo ter e contar com a ação do Espírito.

Atualizando a mensagem, afirmamos que o Espírito age também fora das paredes da nossa Igreja, rompe suas fronteiras.

Este não monopólio do Espírito exclui qualquer possibilidade de fanatismo, intransigência e intolerância.

A Igreja é também convidada ao amadurecimento da Pastoral de Conjunto, valorizando os dons do outro que procedem de um único Espírito (sem ciúmes, possessões e apropriação do Espírito).

A passagem da segunda Leitura (Tg 5,1-6) é um forte grito profético contra a exploração, o acúmulo de bens, o enriquecimento à custa dos pobres, e exorta o discernimento necessário para sabermos usar os bens materiais que são transitórios.

Os bens por melhor que sejam (ouro, conta bancária, carro de luxo, casa dos sonhos etc...) não saciam a fome de vida eterna.

O autor sagrado tem uma mensagem muito clara e atual: o crime contra o pobre é crime contra o próprio Deus.

A vida plena depende, na exata medida, das opções que fazemos nesta vida. De modo que a prática da injustiça é a autoexclusão da família de Deus. É preciso, portanto, afastar todo orgulho, ambição, autossuficiência.

Na passagem do Evangelho (Mc 9,38-43; 45-47-48) temos alguns ditos de Jesus que são lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que a comunidade seja aberta, acolhedora, tolerante e saiba aceitar os sinais de Deus.

Deste modo, ela saberá promover o bem comum e apoiar todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

“O Espírito é capaz de soprar e de fazer palpitar os corações também noutros locais, como nas mesquitas, nas sinagogas, nos areópagos, no templo que nós chamamos e nos parece pagão. Deveríamos, por isso, pedir ao Senhor, a graça de aprender a alegrarmo-nos pelo bem, onde quer que ele se concretize, de nos alegrarmos por todo o bem, sem nos importarmos com quem o pratica: seja pequeno ou crescido; seja jovem ou ancião; seja leigo ou consagrado; seja infeliz ou afortunado; seja doente ou saudável; seja alguém que se abre para a vida ou alguém que está para prestar contas com Aquele que generosamente lha concedeu”. (1)

No Evangelho, reafirma-se que não é próprio dos discípulos do Senhor atitudes que revelem arrogância, sectarismos, intransigência, intolerância, presunção, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolização do próprio Jesus e Sua Boa Nova:

“João e os outros discípulos não conseguiram ainda pensar segundo a lógica de Jesus, Seu Mestre, a qual é para Ele, na perspectiva da Cruz, lógica de serviço e de humilde diaconia. Preferem nesse momento a lógica espalhada e exclusiva do sectarismo e da separação, ou seja, pretendem ter o exclusivo e o monopólio da Salvação” (2).

Reflitamos:

- O que precisamos cortar para superar qualquer sombra de dominação e monopólio do Espírito e melhor nos colocarmos a serviço dos últimos?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? 

- É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

- Onde e quando percebemos a ação de Deus além dos limites de nossa comunidade?

- Quais pessoas que professam uma crença diferente da nossa e nas quais contemplamos também a ação de Deus?

- Percebemos a manifestação e ação do Espírito onde, quando e em quem Ele bem quer?

Renovemos nossa alegria em podermos ser instrumentos nas mãos de Deus, para viver maior fidelidade ao Projeto que Jesus inaugurou, a Boa-Nova do Reino, com a força e ação do Espírito, sem jamais termos a pretensão de exaurir Suas forças, detê-Lo, monopolizá-Lo.

Alegremo-nos com a inesgotável ação e presença do Espírito, que move a História, dentro e fora da própria Igreja. Amém.


(1) Lecionário Comentado pág. 443.
(2) Idem pág. 441.

Os “Lázaros” nos questionam (XXVIDCC)

Os “Lázaros” nos questionam

Na Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum (Ano C), ouvimos a passagem do banquete dado por um rico e o pobre Lázaro à porta mendicante (Lc 16,19-31).

Reflitamos sobre o escândalo da riqueza construída à custa do sofrimento dos pobres, dos tantos “Lázaros”, à luz das palavras do Bispo São João Crisóstomo (séc. V), a fim de que cresçamos no amor e na fidelidade ao Senhor, com gestos de amor, partilha e solidariedade.

“O indigente está atormentado pela falta do necessário e se lamenta e levanta muitos acusadores e não deixa nenhuma rua sem percorrer, perseguido por sua miséria, sem ter onde passar a noite. 
Como conseguirá o infeliz dormir, atormentado pelo estômago, cercado pela fome, desprotegido quando vem o frio ou quando cai o aguaceiro?

Você sai limpo do seu banho, vestindo roupas claras, cheio de satisfação e euforia e se dirige a esplêndida mesa que lhe foi posta.

O outro, porém transtornado de frio e morto de fome, dá voltas e mais voltas pela praça pública, com a cabeça baixa e estendendo as mãos.

O infeliz já nem tem ânimo para se dirigir ao bem alimentado e bem descansado, pedindo-lhe o sustento necessário e muitas vezes se retira coberto de insultos.”

Muito antes, os "ais” do Profeta Amós foram dirigidos aos ricos que viviam luxuosamente à custa do empobrecimento e sofrimento dos pobres.

A denúncia do Profeta Amós e a advertência do Sublime Mestre Jesus ultrapassam o tempo, para que reconstruamos um novo tempo sem miséria, dor, luto, fome e sofrimento...

Os nossos olhos, ouvidos e também o coração devem se abrir sempre na acolhida e fidelidade à Palavra. Somos sempre interpelados e chamados ao amor, solidariedade e partilha com os “Lázaros” de cada tempo.

Os cães da parábola e os “ais” do profeta devem ser interpelações mais que audíveis para todos nós, no amor de compaixão para a superação de relações de miséria e opressão.

A grande lição que emerge desta Parábola: a eternidade somente será alcançada no amor que se traduza em partilha, solidariedade e sensibilidade com os clamores dos que mais precisam.

Algumas lições aprendemos:

- a justiça deve ser compreendida como retidão em relação às pessoas, em relação ao nosso próximo;

- a piedade é a expressão da nossa relação de retidão para com Deus em estreita intimidade e fidelidade ao Bem Maior;

- nossa fé a adesão a Jesus Cristo deve ser plena e incondicional;

- o amor vivido é a concretização de nossa fé e norma de comportamento em tudo e em todos os momentos;

- é preciso a  perseverança a capacidade de superação de conflitos internos e externos;

- a  mansidão é uma virtude que nos identifica como cristãos, e esta nos foi apresentada por Jesus no Sermão da Montanha.

Reflitamos:

- O que podemos fazer para superar brutal e pecaminosa situação de miséria e injustiça social que questiona nossa fé, esperança e caridade?
- O que fazer para superar a pecaminosa distância entre os ricos e os pobres de nosso tempo?

- Como reconstruir relações justas e fraternas em que a riqueza não será consequência do processo de empobrecimento do outro?
- Quais são nossas atitudes que clamam por conversão a fim de acolhermos Cristo nos “Lázaros” de hoje?

Sem muitas palavras diante de Deus, mas com muita solidariedade e compromisso com os pobres é o suprassumo da Liturgia bem celebrada e que deve ser vivida.

“Cessem as palavras, falem as obras”, já nos disse Santo Antônio.

- Lázaro clama, qual a nossa resposta?
- Lázaro grita, qual a nossa escuta?

- Lázaro chora, como enxugamos seu pranto?
- Lázaro geme de dor, qual nosso bálsamo?

- Lázaro tem pesadelos, como torná-los sonhos?
- Lázaro já “não é”, como ajudá-lo a ser?
- Lázaro não existe! Como não existe?!

Existe, e com ele: o apelo de nossa conversão; o amor se expressa em compaixão; o outro não é fonte de meu enriquecimento, mas é apelo de solidariedade neste exato momento!

Que Lázaro não se decepcione conosco, somente assim nossa fé será mais verdadeira, nossa esperança mais comunitária, a caridade visibilizada em ação solidária!

Misericórdia e compaixão para com os “Lázaros” de nosso tempo (XXVIDTCC)

Misericórdia e compaixão para com os “Lázaros” de nosso tempo

A Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum nos apresenta a Parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc  16, 19-31).

O Papa Bento XVI, em seu Livro “Jesus de Nazaré”, muito nos enriquece com sua reflexão, em que destaco alguns pontos essenciais:

Inicialmente,  o Papa nos fala sobre a essência da mensagem da Parábola do Lázaro (que quer dizer Deus é nosso auxílio); o apelo para o amor e a responsabilidade para com nossos irmãos empobrecidos, tanto no nível menor de nossas ações cotidianas, como em nível mundial:

“Também nesta história se encontram diante de nós duas figuras contrastantes entrei si: o rico, que se regala no seu bem-estar, e o pobre, que nem sequer pode apanhar as migalhas que os ricos dissipados atiram da mesa – segundo os costumes de então, pedaços de pão com os quais purificavam as mãos e que depois atiravam para fora. Os Padres da Igreja classificaram em parte também esta Parábola segundo o esquema dos dois irmãos e aplicaram-na à relação de Israel (o rico) e da Igreja (o pobre Lázaro)...

Na realidade, o Senhor quer com esta história justamente nos introduzir no processo do ‘despertar’, que está sedimentado nos Salmos. Não se trata aqui de uma condenação barata da riqueza ou dos ricos nascida da inveja...

E assim devemos, mesmo isso não estando no texto, dizer, a partir dos Salmos, que o libertino rico era já neste mundo um homem de coração vazio, que queria na sua devassidão apenas abafar o vazio, que já constava no aquém.

Naturalmente esta Parábola, à medida que nos desperta, é ao mesmo tempo um apelo para o amor e para a responsabilidade que precisamos ter para com os nossos irmãos pobres, quer no plano da sociedade mundial, quer na pequenez do nosso cotidiano".

Outro ponto culminante é a exigência de sinais:

“A resposta de Abraão, bem como a resposta de Jesus, à exigência de sinais dos seus contemporâneos fora do mistério é clara: quem não acredita na Palavra da Escritura também não acreditará em alguém que venha do além...

Uma coisa é clara: o sinal de Deus para os homens é o Filho do Homem, é Jesus. E Ele o é profundamente no Seu Mistério Pascal, no Mistério da Morte e da Ressurreição. Ele mesmo é o ‘sinal de Jonas’. Ele, o Crucificado e o Ressuscitado, é o verdadeiro Lázaro: a Parábola, que é mais do que uma Parábola, convida-nos a acreditarmos e a seguirmos este grande sinal de Deus. Ele fala da realidade, da realidade mais decisiva da história em absoluto” . (P. 187-191)".

Esta Parábola nos convida a refletir e fortalecer nossos passos num caminho contínuo de conversão, para que nosso amor a Deus se expresse em real amor e compromisso com os Lázaros de cada tempo.

As ações solidárias para com Lázaro haverão de ser frutos do esforço que fizermos, numa sincera abertura à graça divina, que nos é derramada abundantemente.

A solidariedade com os “ Lázaros” deve ser a mais bela expressão de misericórdia entre nós vivida, para que misericordiosos como o Pai sejamos.

A Parábola do rico e do pobre Lázaro (XXVIDTCC)

A Parábola do rico e do pobre Lázaro

Quem são os “Lázaros” de nosso tempo?

A Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre nossa relação com os bens: bens que passam e que devem ser usados, e os bens eternos, que devem ser abraçados.

Na primeira Leitura (Am 6, 1a.4-7) Amós, o “Profeta da justiça social”, denuncia a exploração dos ricos sobre os pobres, um luxo vivido à custa da exploração dos pobres.

Sua voz é um grito profético sobre esta situação, e Deus não Se faz indiferente, e não compactua com esta realidade, porque não é o Seu Projeto pensado e querido para a humanidade.

O grito do Profeta Amós ultrapassa seu tempo e chega até nós, pois também vivemos situações de desigualdade, exploração e miséria que precisam ser superadas: gastos com supérfluos, contrastando com realidades abomináveis de fome, desnutrição, sede e muito mais a ser mencionado.

Na fidelidade a Deus, vivendo a vocação profética, não podemos nos furtar de sagrados compromissos para que todos tenhamos uma vida plena e feliz.

Na passagem da segunda Leitura (1 Tm 6,11-16), o Apóstolo Paulo traça o perfil de alguém que serve a Deus, com uma desejável vida santa: deve amar os irmãos, ter fé, ser paciente, perseverante, justo, piedoso, terno, vive totalmente voltado para o outro em doação e serviço; entusiasmado na vivência do ministério; fidelidade na transmissão e vivência da Doutrina que ensina.

Reflitamos:

- Quais das características citadas estão presentes em nós, como discípulos missionários do Senhor?

Na passagem do Evangelho (Lc 16, 19-31), ouvimos a Parábola do rico e do pobre Lázaro, que é uma catequese sobre como devemos possuir os bens e não sermos possuídos por eles, vivendo o amor, a partilha e a solidariedade, sobretudo com os mais pobres, com os “Lázaros” de cada tempo.

Com a Parábola, entre outros ensinamentos, aprendemos que enquanto a Palavra de Deus não for acolhida no mais profundo do coração, a ponto de determinar nossos pensamentos, escolhas e ações, permaneceremos mergulhados na escuridão, encalacrados no egoísmo, no orgulho, na autossuficiência, sem jamais entender e viver a graça do amor e da partilha.

Não podemos perpetuar situações em que um quarto da humanidade fica com oitenta por cento dos recursos disponíveis do planeta, enquanto três quartos ficam com o restante (vinte por cento).

Muito bem nos ensina a Igreja, perita em humanidade: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém par auso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos...” (Gaudium et Spes n. 69).

O rico da Parábola não tem nome, pois pode ser cada um de nós; representa a humanidade, mas o pobre tem nome, chama-se “Lázaro”, que tem apenas os cães para lhe lamberem a ferida, amenizando a dor, servindo-lhe de companhia na dor da solidão, da marginalização e do abandono.

Que nossos olhos, ouvidos, coração sejam abertos para contemplar a face de Deus e escutar Sua Palavra, para que vivamos o amor, a solidariedade e a partilha com os “Lázaros” de cada tempo.

Os “cães” da Parábola e os “ais” do Profeta Amós devem ser interpelação constante para todos nós, no amor de compaixão, para a superação de relações pecaminosas de miséria e opressão.

Para tanto, as características dos discípulos mencionadas (segunda leitura) devem estar presentes em nós. Somente assim a eternidade será alcançada.

Cremos que, na vivência das Obras de Misericórdia, muito poderemos contribuir na transformação das estruturas sociais injustas. 

É sempre oportuno lembrar as Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais:

- Obras de Misericórdia Corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. 

- Obras de Misericórdia Espirituais: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

Reflitamos:

- Como usamos os bens que nos são confiados?
- Sabemos partilhar com os outros os bens que possuímos?

- Quais são nossas riquezas que precisamos colocar em comum em alegre sinal de amor, comunhão, partilha e solidariedade?

- Quem são os “Lázaros” que se encontram em nossas portas?
- O que fazemos concretamente em seu favor?

Continuemos em permanente vigília e conversão, para que nos empenhemos na superação desta brutal e pecaminosa realidade, que se manifesta em inúmeras formas de desigualdade e injustiça social, no bom combate da fé vivido, comprometidos com um novo céu e uma nova terra.


Fonte inspiradora: www.Dehonianos.org/portal

Síntese da mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões - 2021

 


Síntese da mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o
Dia Mundial das Missões - 2021 

A mensagem tem como motivação bíblica a passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos – “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4, 20), tendo como contexto uma situação de pandemia que “...evidenciou e aumentou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que já tantos padeciam, e desmascarou as nossas falsas seguranças e as fragmentações e polarizações que nos dilaceram silenciosamente. Os mais frágeis e vulneráveis sentiram ainda mais a sua vulnerabilidade e fragilidade. Experimentamos o desânimo, a decepção, o cansaço; e até a amargura conformista, que tira a esperança, se apoderou do nosso olhar”. 

A situação da pandemia evidenciou e aumentou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que já tantos padeciam, e desmascarou as nossas falsas seguranças e as fragmentações e polarizações que nos dilaceram silenciosamente.

A experiência dos apóstolos do encontro com o Messias tornou-se fundamental para o ardor na missão:  - “O amor está sempre em movimento e põe-nos em movimento, para partilhar o anúncio mais belo e promissor: «Encontramos o Messias» (Jo 1, 41).

O Papa dirige um convite a cada um de nós: cuidar e dar a conhecer aquilo que tem no coração, pois esta missão é, e sempre foi, a identidade da Igreja: «ela existe para evangelizar» (São Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 14).

É preciso viver a missão num contexto marcado pelas alegrias, sofrimentos, anseios e angústia, com a necessidade de redenção, em atenção à Palavra de Jesus Cristo - “«Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes» (cf. Mt 22, 9), vivendo um amor de compaixão em que ninguém se sinta estranho ou afastado.

Assim como os apóstolos e os primeiros cristãos, também nós «não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20) – “Como os apóstolos que viram, ouviram e tocaram a Salvação de Jesus (cf. 1 Jo 1, 1-4), também nós, hoje, podemos tocar a carne sofredora e gloriosa de Cristo na história de cada dia e encontrar coragem para partilhar com todos um destino de esperança, esse traço indubitável que provém de saber que estamos acompanhados pelo Senhor.  Como cristãos, não podemos reservar o Senhor para nós mesmos...”

Vivemos tempos novos, que suscitam uma fé capaz de estimular iniciativas e plasmar comunidades a partir de homens e mulheres, que aprendem a se ocupar da fragilidade própria e dos outros.

O ardor missionário dos discípulos consiste num colocar-se “em estado de missão”, como reflexo da gratidão, fazendo florir o milagre da gratuidade, do dom de si mesmo.

Urge que aprendamos com os primeiros discípulos que transformaram cada incômodo, contrariedade e dificuldade em oportunidade para a missão – “Possuímos o testemunho vivo de tudo isto nos Atos dos Apóstolos, livro que os discípulos missionários sempre têm à mão. É o livro que mostra como o perfume do Evangelho se difundiu à passagem deles, suscitando aquela alegria que só o Espírito nos pode dar. O livro dos Atos dos Apóstolos ensina-nos a viver as provações unindo-nos a Cristo, para maturar a «convicção de que Deus pode atuar em qualquer circunstância, mesmo no meio de aparentes fracassos», e a certeza de que «a pessoa que se oferece e entrega a Deus por amor, seguramente será fecunda (cf. Jo 15, 5)» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 279).

Somos chamados, cientes que “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos Vossos servos por amor de Jesus” (2 Cor 4, 5).

O contexto que vivemos tem a urgente necessidade de missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho.

O Papa nos convida a recordar com gratidão todas as pessoas, cujo testemunho de vida nos ajuda a renovar o nosso compromisso batismal de sermos apóstolos generosos e jubilosos do Evangelho.

Lembrar especialmente aqueles que foram capazes de partir, deixar terra e família para que o Evangelho pudesse atingir sem demora e sem medo aqueles ângulos de aldeias e cidades onde tantas vidas estão sedentas de bênção.

Supliquemos ao Senhor que mande trabalhadores para a Sua messe (Lc 10, 2), cientes de que a vocação para a missão não é algo do passado nem uma recordação romântica de outrora.

O Papa fala da necessidade de corações que sejam capazes de viver a vocação como uma verdadeira história de amor, que os faça sair para as periferias do mundo e tornar-se mensageiros e instrumentos de compaixão, cada qual a seu modo, nas periferias que estão perto de nós, no centro duma cidade ou na própria família, com a abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial.

Conclui nos convidando a viver a missão como o “...aventurar-se no cultivo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus e, com Ele, acreditar que a pessoa ao meu lado é também meu irmão, minha irmã. Que o seu amor de compaixão desperte também o nosso e, a todos, nos torne discípulos missionários”, contando com Maria, a primeira discípula missionária, a fim de que faça crescer em todos os batizados o desejo de ser sal e luz nas nossas terras (cf. Mt 5, 13-14).


Se desejar, leia a mensagem na integra:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/missions/documents/papa-francesco_20210106_giornata-missionaria2021.html


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