quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Milagres: o que diz a Igreja Católica?

Milagres: o que diz a Igreja Católica?

Vejamos o que nos diz o Catecismo da Igreja sobre os milagres:

“A Bíblia é riquíssima em passagens nas quais Jesus acompanha suas palavras com numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At 2,22) que manifestam que o Reino está presente nele. Os milagres atestam que Jesus é o Messias anunciado.

Os sinais operados por Jesus testemunham que o Pai o enviou. Convidam a crer nele. Aos que a Ele se dirigem com fé, concede o que pedem. Assim, os milagres  fortificam a fé nAquele que realiza as obras de seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Eles podem também ser "ocasião de escândalo". Não se destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos, especulações vãs” (§547/8).

“O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa razão natural. Cremos "por causa da autoridade de Deus que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos". "Todavia, para que o obséquio de nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados das provas exteriores de sua Revelação. Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade "constituem sinais certíssimos da Revelação, adaptados à inteligência de todos", "motivos de credibilidade" que mostram que o assentimento da fé não é "de modo algum um movimento cego do Espírito" (§156).

Em síntese, a Igreja nos permite dizer que muitos fatos podem ser explicados à luz da razão natural e outros não, porque se devem a autoridade de Deus, que se manifesta em sinais que ultrapassam toda e qualquer racionalidade, expressando-se como graças divinas que trazem em si a revelação de quão imensurável é o Seu Amor por nós.

O que aos nossos olhos e razão parece ser impossível para Deus não é. Não temos o poder de enquadrar a força divina, e Seu poder ultrapassa toda possibilidade de racionalização, quantificação.

Certamente o leitor já presenciou transformações, curas e outros fatos que a ciência não soube explicar. Mas quem disse que a ciência tem que tudo explicar? Pela fé somos e podemos muito mais do que possamos pensar, porque ela é força que nos move no romper de barreiras aparentemente intransponíveis.

Bem exclamou o Senhor aos Apóstolos– “Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: Arranque-se daí e plante-se no mar. E ela obedeceria vocês” (Lc 17,6).

Portanto, por menor que seja a fé,
se acrisolada no fogo da caridade,
faz reacender a esperança de que a Ação Divina
se multiplicará e os milagres como
Graça Divina se tornarão imensuráveis.

A indissociabilidade que nos conduz aos céus!

                                                 

A indissociabilidade que nos conduz aos céus!

À Luz dos Escritos do Presbítero São Vicente de Paulo, cuja memória celebramos dia 27 de setembro, vemos quão indispensável é a oração, mas não menos indispensável é o serviço aos pobres.

O Presbítero não tem dúvida alguma em dizer que se deve preferir o serviço aos pobres acima de tudo.

A caridade para ele é como “uma grande dama” que nos impões o imperativo de nos colocarmos ao serviço dos pobres ou mesmo nos colocarmos em sua procura para servi-los.

Aqui, ressoa Mateus 25 sobre o julgamento final: Amando e servindo o pobre, estaremos amando e servindo o próprio Senhor. Amando-O e servindo-O nos pobres credenciamo-nos para sermos convivas do Banquete da Eternidade.

Ponhamo-nos em frutuosa leitura de seus Escritos:

“Não temos de avaliar os pobres por suas roupas e aspecto, nem pelos dotes de espírito que pareçam ter.

Com frequência são ignorantes e curtos de inteligência. Mas muito pelo contrário, se considerardes os pobres à luz da fé, então percebereis que estão no lugar do Filho de Deus que escolheu ser pobre.

De fato, em Seu sofrimento, embora quase perdesse a aparência humana – loucura para os gentios, escândalo para os judeus – apresentou-Se, no entanto, como o Evangelizador dos pobres: Enviou-Me para evangelizar os pobres (Lc 4,18). Devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar aquilo que Ele fez: ter cuidado pelos indigentes, consolá-los, auxiliá-los, dar-lhes valor.

Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para Seus discípulos, fez-Se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a Ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres.

Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus.

Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22).

Por este motivo, se é nossa intenção ter o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos.

Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem demora. Se na hora da oração for necessário dar remédios ou auxílio a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo a Deus esta ação como se estivésseis em oração.

Não vos perturbeis com angústia ou medo de estar pecando por causa de abandono da oração em favor do serviço dos pobres. Deus não é desprezado, se por causa de Deus d’Ele nos afastarmos, quer dizer, interrompermos a obra de Deus, para realizá-la de outro modo.

Portanto, ao abandonardes a Oração, a fim de socorrer a algum pobre, isto mesmo vos lembrará que o serviço é prestado a Deus. Pois a caridade é maior do que quaisquer regras, que, além do mais, devem todas tender a ela. E como a caridade é uma grande dama, faz-se necessário cumprir o que ordena.

Por conseguinte, prestemos com renovado ardor nosso serviço aos pobres; de modo particular aos abandonados, indo mesmo a sua procura, pois nos foram dados como senhores e protetores”.

Orar, amar e servir...
Orar, servir e amar...
Amar, orar e servir...
Amar, servir e orar...
Servir, orar e amar...
Servir, amar e orar...

Oramos para amar e servir melhor!
Amamos e servimos porque oramos!
Servimos porque oramos e amamos!
Oh feliz indissociabilidade que nos conduz aos céus!

Em poucas palavras...

 


Supliquemos...

 

Ó Deus, “dai-nos força para resistir à tentação, paciência na tribulação, e sentimentos de gratidão na prosperidade” (1). Amém.

 

(1)Prece da Liturgia das Horas

 

Em poucas palavras...

 


Fidelidade a Deus

“Fidelidade a Deus significa capacidade de silêncio e oração, para se deixar guiar e conduzir por Deus segundo seus modos e caminhos. Para tomar alento, viver o hoje do Evangelho e, a cada aurora, aceitar serenamente o novo.” (1)

 

 

 

(1) Comentário sobre a passagem do Livro de Esdras (Esd 1,1-16) -Missal Cotidiano – Editora Paulus – pág. 1296

terça-feira, 26 de setembro de 2023

"Muito obrigado"

                                                          


"Muito obrigado"

Sejamos enriquecidos pelo “Tratado sobre Gratidão”, de Santo Tomás de Aquino: 

"A gratidão se compõe de diversos graus. O primeiro consiste em reconhecer (ut recognoscat) o benefício recebido; o segundo, em louvar e dar graças (ut gratias agat); o terceiro, em retribuir (ut retribuat) de acordo com suas possibilidades e segundo as circunstâncias mais oportunas de tempo e lugar" (II-II, 107, 2, c).

São os três níveis assim compreendidos:

O nível superficial: reconhecimento intelectual, cerebral;

O nível intermediário: agradecimento, dar graças a alguém por aquilo que esse alguém fez por nós; 

O nível mais profundo: retribuição, vínculo, quando nos sentirmos vinculados e comprometidos com as pessoas.

O nível mais difícil, o terceiro, o “obrigado”, deve ser compreendido assim: “Fico-vos obrigado”; “Fico obrigado perante vós”; “Fico vinculado perante vós”. Sentimos a necessidade de corresponder ao outro.

Sendo assim, quando dizemos “obrigado” a alguém, não basta o reconhecimento, ou o dar graças, é preciso o estabelecimento de um vínculo de comprometimento e resposta ao bem recebido.

Em relação a Deus, quando dizemos “obrigado, ó Deus”, reconhecemos que somente Deus é Deus e nós somos criaturas d’Ele, do qual tudo nos vem e tudo nos é concedido. Não apenas reconhecemos, mas damos graças aos bens que Ele nos concede e sentimos necessidade de correspondência ao bem que nos fez. Quanto mais profundo for nosso obrigado, maior será nossa necessidade de correspondência.

Dizer obrigado a Deus é sentir a necessidade de fazer algo bom para Ele e Suas criaturas, inseparavelmente.

O “obrigado” a Deus, que sai de nossos lábios, pede, de cada um de nós, renovação de sagrados compromissos com Ele e com Suas criaturas, colocando em comum o melhor que temos e possuímos, para que toda a vida seja melhor, em todos os seus âmbitos e sentidos. 

Até...

                                               


Até...

Amo a nossa Língua Portuguesa! Não fosse por sua beleza e riqueza inesgotáveis, de que outro modo eu poderia levar a Palavra de Deus, neste espaço, a você, leitor?

Quem me acompanha sabe que gosto de brincar com as palavras: homônimos, parônimos, gerúndios, pontuação, e por aí vai. Sempre sem nenhuma pretensão de ensinar, mas de rever meus próprios conhecimentos e aprender mais.

A palavra inspiradora desta vez é pequenina e a usamos em todo momento, sem mesmo nos atentarmos bem a ela...

Antes de qualquer sobressalto,  antecipo que o texto   não é propriamente orante, mas fico feliz em partilhá-lo contigo!

Até, mais que uma simples preposição designando limite de tempo:
Até agora, até o presente, até ontem, até amanhã, até nunca mais...

Até, mais que também uma preposição delimitando espaço:
Até aqui, até bem perto, até a margem, até o extremo, até o horizonte...

Até, como até mesmo uma preposição expressando quantidade:
Até dez, até cem, até se fartar, até que nada mais caiba...

Até, que também tem conotação de advérbio:
Ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria...

Até, como precioso advérbio com sentido de advérbio,
Até, como advérbio também podemos usá-lo...

E ainda, até pode como advérbio:
Até agora não encontraram resposta tão esperada...

Até, tão comum nas comunicações virtuais,
Como advérbio que significa até mais, até daqui a pouco,

Até a próxima conversa, até o próximo contato,
Até o próximo email, até o próximo torpedo...

Até que enfim, no sentido mais preciso de finalmente:
Até que enfim encontraram a solução que procuravam.

Até como expressão do limite que nos acompanha:
Até a última gota, até o último momento, até não mais se ter força...

Até, eternizado em expressões que se repetem:
Quem nunca ouviu ou disse “Até tu Brutus, meu filho!”?

Até, quando se assume o vínculo indissolúvel no Sacramento:
“Até que a morte os separe...”, aliança de amor para sempre. 

Até, eternizado pela Palavra do Senhor que nos vem de Lucas:
“... sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1,7-8).

Até que Ele venha, aguardemos vigilantes, em Oração
A Sua segunda vinda gloriosa, no dia e hora que não sabemos... 

Travessia em tempo de pandemia

 


  Travessia em tempo de pandemia 


A travessia pelo deserto em tempo de pandemia nos desafia:

Noticiário invade nossas casas, comunidades e outros espaços,

Inquietando-nos, roubando e adiando sonhos e projetos,

Mas haveremos de vencer juntos na solidariedade,

Comunhão, proximidade real ou virtual, quando possível,

Com a firme convicção de que lições haveremos de aprender.


Travessia com suas subtrações num rol imensurável:

Daqueles que partiram para a eternidade cedo demais;

Dos encontros, festas, aulas, formações e celebrações.

Travessia vivida como um pesadelo sem fim,

Em que somos desafiados a dar razão da esperança viva,

Fé inquebrantável e caridade vivida mais necessária.


Travessia com suas adições da mesma forma sucedem:

Soma de sorrisos que não empalidecem, apesar de toda a dor.

Soma de experiências que marcarão para sempre nossa vida,

Que não mais voltará a ser como antes, pois  

Navegávamos como que numa nave à deriva;

Ao encontro da tragédia que vivenciamos.


Travessia com suas multiplicações, contemplamos:

Multiplicaram-se esforços de crescimento, superação;

Esforços de vidas sacrificadas para que outros vivessem.

Quer nos espaços da comunidade ou do quotidiano,

Multiplicações de mil nomes de pessoas ora visíveis

Ora em anonimatos em heroicas atividades lembramos.

Travessia com suas divisões em gestos tantos vistos.


Aprendizado para repartir o pouco que se tem,

Para que, juntos, nos fortaleçamos e consigamos atravessar,

E a margem do horizonte do inédito que nos move, alcançar.

Divisão de responsabilidades sem lamentos, com dedicação,

A fim de que nada e a ninguém falte o essencial para sobreviver.

Travessia se faz sofrendo e aprendendo, incansavelmente.


Como assim o fez o Povo de Deus, narra a Sagrada Escritura;

Travessia que nos aproxima uns dos outros ao encontro do Outro,

Do Deus do Êxodo, da libertação, da solidariedade sempre presente,

Que jamais à nossa dor se faz cego, surdo, mudo e indiferente.

Amor que ama para que não desistamos da travessia.


“Iahweh disse: ‘Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito.

Ouvi seu grito por causa dos opressores; pois eu conheço as suas 

angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios,

E para fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta,

Terra que emana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos 

amorreus, dos ferezeus, dos heveus e jebuzeus’” (Ex 3,7-8).


PS: Escrito em 2020

 

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