sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Maria, a nova Eva

                                                                    

Maria, a nova Eva

À luz do Tratado contra as heresias do Bispo Santo Irineu (séc. II), reflitamos a analogia que ele faz entre Eva e Maria, Adão e Jesus Cristo.

“Quando o Senhor veio de modo visível ao que era Seu, levado pela própria criação que Ele sustenta, tomou sobre Si, por Sua obediência, na árvore da Cruz, a desobediência cometida por meio da árvore do Paraíso.

A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a virgem Eva, destinada ao primeiro homem, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo Anjo à Virgem Maria, já desposada com um homem.

Assim como Eva foi seduzida pela conversa de um anjo e afastou-se de Deus, desobedecendo à Sua palavra, Maria recebeu a Boa-Nova pela Anunciação de outro anjo e mereceu trazer Deus em seu seio, obedecendo à Sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra se deixou persuadir a obedecer-lhe. Deste modo, a Virgem Maria tornou-se advogada da virgem Eva.

Por conseguinte, recapitulando em Si todas as coisas, o Senhor declarou guerra contra o nosso inimigo. Atacou e venceu aquele que no princípio, em Adão, fez de todos nós seus prisioneiros; e esmagou sua cabeça, conforme estas palavras, ditas por Deus à serpente, que se leem no Gênesis: ‘Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça enquanto tu tentarás ferir o seu calcanhar’ (Gn 3,15).

Desde esse momento, pois, foi anunciado que a cabeça da serpente seria esmagada por Aquele que, semelhante a Adão, devia nascer de uma Virgem. É este o descendente de que fala o Apóstolo na sua Carta aos Gálatas: ‘A lei foi estabelecida até que chegasse o descendente para quem a promessa fora feita’ (cf. Gl 3,19).

Na mesma Carta, o Apóstolo se exprime ainda com mais clareza, ao dizer: ‘Quando chegou à plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher’ (Gl 4,4). O inimigo não teria sido vencido com justiça se o Homem que o venceu não tivesse nascido de uma mulher, pois desde o princípio ele tinha se oposto ao homem, dominando-o por meio de uma mulher.

É por isso que o próprio Senhor declara ser o Filho do Homem, recapitulando em Si aquele primeiro homem a partir do qual foi modelada a mulher. E assim como pela derrota de um homem o gênero humano foi precipitado na morte, pela vitória de outro Homem subimos novamente para a vida”. (1)

Seja para nós,  o Tempo do Advento o tempo da:

- Contemplação da participação de Maria no Mistério da Encarnação do Verbo, que veio morar entre em nós;

- Nossa abertura aos Projetos e desígnios divinos, ainda que não compreendamos, num primeiro momento.

Maria, em total fidelidade e adesão ao Projeto de Deus, nos ensina a acolher o Seu Filho, em mais um Natal que se aproxima, no mais profundo de nós.

Mais que rezar a Maria, rezemos como Maria, para que, em Cristo, sejamos uma nova criatura, livre, reconciliada com Deus, em amizade restaurada e revigorada, de modo especialíssimo, quando por Ele somos iluminados e guiados e, no Pão da Eucaristia, saciados.

(1) Liturgia das Horas - Volume Tempo do Advento/Natal - pp.207-208

Coragem e sabedoria

                                                   


Coragem e sabedoria

"Naquele dia, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o Espírito do Senhor...” (Is 11, 1-10)

A proximidade das festas natalinas e do início de um novo ano trazem a oportunidade e a necessidade de fazermos uma avaliação corajosa dos caminhos que trilhamos, acolhendo a Sabedoria do Espírito para planejarmos nossas atividades, na continuidade do caminho que jamais se dá por concluído.

Assim se constitui a vida: uma rede de relações entrelaçadas e complexas que precisam ser compreendidas. Nenhuma ação porta teor de nulidade e indiferença. Toda ação ou a sua não realização tem consequências na vida, no quotidiano da existência.

Precisamos coragem para rever quais foram nossos compromissos com a paz tão ameaçada.

Não basta coragem para rever, é preciso abertura à Sabedoria que o Espírito do Senhor nos comunica e os seus dons, para que possamos trilhar novos caminhos, testemunhando a nossa fé para que possa florir na grande primavera que nos levará ao encontro da verdadeira felicidade.

Sabedoria acolhida, ousadia renovada, caminhos novos buscar, redes em águas mais profundas lançadas, e como consequência, a vida em beleza edificada, e a felicidade tão sonhada, alcançada.

Muito mais do que comemorar o Natal é preciso celebrá-Lo, participando e acolhendo a Palavra proclamada em cada Santa Missa, e assim, nutridos do Pão da Eucaristia, sintamos o verdadeiro Natal acontecendo: Cristo presente na vida e na pessoa de cada irmão e irmã que pede um pouco de carinho, atenção, amor, ternura e paz.

Coragem para rever, avaliar e novos caminhos, se preciso for, tomar:

- Qual foi o nosso empenho em defender a sacralidade da vida, desde a sua concepção até o declínio natural, e o cuidado com a natureza tão explorada, destruída, por culpa de uma mentalidade consumista e indiferente, que nos pede sempre conversão?

- Com que intensidade vivemos a fé que professamos, no aprofundamento da Doutrina e na prática dos Mandamentos da Lei Divina?

- Como vencemos os pecados capitais que nos afastam desta fidelidade e felicidade querida por Deus?

- O que precisa ser eliminado de nossas famílias para que ela seja, de fato, um santuário da vida, edificado sobre a rocha fundamental da Palavra e da Eucaristia que Jesus nos oferece?

- Quais compromissos batismais, dentro e fora da Igreja, devem ser revigorados, para que nossa fé não perca a essência divina: ser sal, fermento e luz no mundo, colaborando na construção do Reino de Deus, não nos omitindo da participação política e os compromissos sociais?

Que Deus, enfim, renove a coragem e derrame Seu Espírito de Sabedoria, para que, com alegria, amor, doação e dedicação, nos empenhemos cada vez mais na Evangelização, para que esta floresça e frutifique, apontando um novo amanhecer.

Coragem, Sabedoria e Paz nasçam e renasçam em cada instante. Isto é o Natal do Senhor acontecendo silenciosamente em nosso coração, no Advento fecundado para acolhida da Semente do Verbo de Deus que quer realizar em cada um de nós maravilhas.

"Naquele dia, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o Espírito do Senhor...” (Is 11, 1-10). 

Rezando com os Salmos - Sl 106 (107)

 


Agradeçamos a Deus por Sua infinita bondade e amor

“ –1 Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque eterna é a Sua misericórdia!

2 Que o digam os libertos do Senhor,
que da mão dos opressores os salvou
 –3 e de todas as nações os reuniu,
do Oriente, Ocidente, Norte e Sul.

4 Uns vagavam, no deserto, extraviados,
sem acharem o caminho da cidade.
5 Sofriam fome e também sofriam sede,
e sua vida ia aos poucos definhando.

6 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e ele os libertou daquela angústia.
 –7 Pelo caminho bem seguro os conduziu
para chegarem à cidade onde morar.

8 Agradeçam ao Senhor o Seu amor
e as suas maravilhas entre os homens!
 –9 Deu de beber aos que sofriam tanta sede
e os famintos saciou com muitos bens!

10 Alguns jaziam em meio a trevas pavorosas,
prisioneiros da miséria e das correntes,
11 por se terem revoltado contra Deus
e desprezado os conselhos do Altíssimo.
 –12 Ele quebrou seus corações com o sofrimento;
eles tombaram, e ninguém veio ajudá-los!

13 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e Ele os libertou daquela angústia.
 –14 E os retirou daquelas trevas pavorosas,
despedaçou suas correntes, seus grilhões.

15 Agradeçam ao Senhor por Seu amor
e por suas maravilhas entre os homens!
 –16 Porque Ele arrombou portas de bronze
e quebrou trancas de ferro das prisões! 

 –17 Uns deliravam no caminho do pecado,
sofrendo a consequência de seus crimes;
 –18 todo alimento era por eles rejeitado,
e da morte junto às portas se encontravam.

  –19 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e ele os libertou daquela angústia.
 –20 Enviou sua palavra e os curou,
e arrancou as suas vidas do sepulcro.

 –21 Agradeçam ao Senhor o Seu amor
e as suas maravilhas entre os homens!
 –22 Ofereçam sacrifícios de louvor,
e proclamem na alegria Suas obras!

 –23 Os que sulcam o alto-mar com seus navios,
para ir comerciar nas grandes águas,
 –24 testemunharam os prodígios do Senhor
e as Suas maravilhas no alto-mar.

 –25 Ele ordenou, e levantou-se o furacão,
arremessando grandes ondas para o alto;
 –26 aos céus subiam e desciam aos abismos,
seus corações desfaleciam de pavor.

 –27 Cambaleavam e caíam como bêbados,
e toda a sua perícia deu em nada.
 –28 Mas gritaram ao Senhor na aflição,
e Ele os libertou daquela angústia.

 –29 Transformou a tempestade em bonança,
e as ondas do oceano se calaram.
30 Alegraram-se ao ver o mar tranquilo,
e ao porto desejado os conduziu.

 –31 Agradeçam ao Senhor o seu amor
e as Suas maravilhas entre os homens!
 –32 Na assembleia do Seu povo o engrandeçam
e o louvem no conselho de anciãos!

 –33 Ele mudou águas correntes em deserto,
e fontes de água borbulhante em terra seca;
 –34 transformou as terras férteis em salinas,
pela malícia dos que nelas habitavam. 

35 Converteu em grandes lagos os desertos
e a terra árida em fontes abundantes;
36 e ali fez habitarem os famintos,
que fundaram sua cidade onde morar.

37 Plantaram vinhas, semearam os seus campos,
que deram frutos e colheitas abundantes.
 –38 Abençoou-os e cresceram grandemente,
e não deixou diminuir o seu rebanho.

39 Mas depois ficaram poucos e abatidos,
oprimidos por desgraças e aflições;
40 porém Aquele que confunde os poderosos
e os fez errar por um deserto sem saída,
 –41 retirou da indigência os Seus pobres,
e qual rebanho aumentou suas famílias.

42 Que os justos vejam isto e rejubilem,
e os maus fechem de vez a sua boca!
 –43 Quem é sábio, que observe essas coisas
e compreenda a bondade do Senhor!”

Com o Salmo 106(107) elevamos ação de graças a Deus pela libertação que ele realiza em todo o tempo, porque infinito é Seu amor e sua bondade:

“Agradecimento ao Deus libertador, que salva dos mais diversos perigos, fazendo-nos experimentar sua presença viva em nossa vida e história.” (1)

Esta ação de Deus nós a vemos na retratada na passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos:

“Deus enviou sua palavra aos israelitas e lhes anunciou a boa-nova da paz, por meio de Jesus Cristo” (cf. At 10,36).

Glorifiquemos a Deus e elevemos ação de graças a Ele pelas maravilhas que realiza em favor do Seu Povo, e por sua permanente presença e ação em Sua Igreja.

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p. 820

Natal: gratidão e louvor a Deus

                                                 

Natal: gratidão e louvor a Deus

Aproxima-se o momento de celebrarmos o Natal do Senhor, e não apenas comemorar, porque a comemoração não esgotará jamais a beleza da Festa do Natal, correndo mesmo o perigo de até esvaziar o seu sentido autêntico.

Natal é tempo favorável para agradecer e louvar a Deus, que nos deu, por amor, o Seu Filho Unigênito, não O retendo para Si.

Ana e Maria, na liturgia do dia 22 de dezembro (1 Sm 1,24-28; Lc 1, 46-56), são as mais belas expressões de agradecimento e louvor a Deus.

Ambas louvam a Deus com expressões semelhante, pelas maravilhas que Deus nelas realizou. Ana apresentou a Deus a sua esterilidade; Maria, por sua vez, a sua pobreza e a sua humildade:

“Hoje Maria e Ana entregam-nos uma mensagem de alegria e de esperança. Seja qual for a condição em que nos encontremos, mesmo a mais desesperada, podemos experimentar a força do ‘braço do Todo-poderoso’; basta que nos abandonemos com confiança a Ele, reconhecendo a nossa pobreza, a nossa miséria, e o Seu amor” (1).

São duas criaturas que têm o senso de Deus, de Sua misericórdia e de Sua grandeza, e encontram-se na alegria porque vivem a vida como dom de Deus.

Os agradecimentos que brotam de suas bocas e coração não são apenas um ímpeto de puríssima adoração, mas uma exata avaliação das coisas.

Cultivam a virtude teologal da caridade em sua expressão mais estritamente teológica: a primeira acompanha o agradecimento com um dom; ela que tinha suplicado tanto a Deus para ter um filho; recebeu-o como um dom de Deus: “Por isso também eu o dou em troca ao Senhor”, e para sempre” (1 Sm 1,24-28).

Maria, por sua vez, compreendeu que “o Senhor não ama quem merece, mas sim quem precisa do Seu amor; não quer bem a alguém porque é bom, mas é Ele que o torna bom amando-o. Maria deu-se conta da gratuidade de Deus e por isso tinha as disposições requeridas para ser enriquecida por Ele” (2).

Deste modo, Maria também fez a mesma experiência, ou até mais profunda, porque acompanhou seu Filho em todos os momentos, até o fim, suportando o ápice da dor, ao ver a agonia de seu Filho no Mistério de Sua Paixão e Morte, aos pés da Cruz, na qual Ele foi crucificado, e acolhendo-O em seus braços, na mais indizível dor que possa ser mencionada.

Outra mulher deu grande testemunho de agradecimento e louvor a Deus: Santa clara. Ao sentir que estava para morrer, dirigiu a Deus sua última prece, e a ouviram murmurar: “Senhor, agradeço-te por me teres criado”. Não foi o grito do desespero, mas o grito de uma alma que sabe o valor da gratidão em total confiança e entrega nas mãos de Deus.

Seja para nós a Festa do Natal uma oportunidade de agradecimento e louvor a Deus pelas maravilhas que Ele nos concede, e pelo mais precioso presente a nós oferecido: o Menino Jesus.

Seja o Natal:

- a acolhida da graça de Deus, que é derramada sobre os humildes, e não acolhida pelos soberbos; sobre os humildes, mas desperdiçadas pelos orgulhosos; sobre os famintos, e lamentavelmente ignorada pelos saciados;

- a graça de nos colocarmos de joelhos diante do Menino Deus, pois “o homem em adoração encontra-se em seu verdadeiro lugar, dá o sentido da proporção e da medida, afirma que nada é e que Deus é tudo. E é pura verdade e justiça. A Sua misericórdia sobre aqueles o temem” (3);

- a graça de retribuirmos a Deus, com a oferta de nossa vida a Ele, acompanhada de gestos de partilha, comunhão e solidariedade para com nosso próximo.

Agradeçamos a Deus e o louvemos, pois o Natal é a Festa do Nascimento do Menino Deus; a Festa do renascimento da esperança em nossos corações, em que a Luz de Deus brilhará mais forte iluminando nossos caminhos.


(1)         Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – p.212-213
(2)        Idem p. 212
(3)        Missal cotidiano – Editora Paulus – p.94

Quando o Natal chegar…

                                                   

Quando o Natal chegar…

Quando o Natal chegar, não será apenas mais um Natal,
Será o Natal do Senhor!

Algo de novo surgirá em nosso coração e em nossa vida se contemplarmos o Mistério do Natal com um tríplice olhar.

Contemplar, primeiramente,  o Menino Jesus na manjedoura: Apontando para a beleza e sacralidade da vida, do princípio ao seu declínio natural.

Contemplá-Lo pregando a Boa Nova:

A partir de Sua barca chamando e fazendo-nos pescadores de outros mares, e resgatando a humanidade para a vida. Finalmente contemplá-Lo na Cruz: Como mistério de uma vida vivida intensamente no amor, e doada por amor, pela salvação de toda a humanidade: amor que ama até o fim.

Deste modo, quando o Natal chegar...
Mais que árvores de natal montadas, nós teremos que estar enxertados na árvore da vida, alimentando-nos da seiva do amor que emana do Verbo que Se fez Carne.

Mais que presépios preparados, montados, é o coração humano que deverá estar devidamente preparado, como privilegiada manjedoura para a colhida do Verbo, presente em cada criança, em cada pessoa humana...

Mais que luzes piscando, estará mais do que nunca, acesa em nosso coração a Luz que Ele é e veio trazer à humanidade, e mais que isto, nos fazer sinal desta luz, como várias vezes cantamos:

“... Minha luz é Jesus, e Jesus me conduz pelos caminhos da paz...”

Mais que  amigos secretos seremos amigos para todos os momentos: bons e ruins, alegres e tristes, nas angústias e esperanças, nas vitórias e derrotas... Pois, a acolhida d'Aquele que nos chamou de amigos, nos possibilitará a criação de laços sinceros e verdadeiros de amizade, que se nutrem e se reforçam em cada Eucaristia celebrada.

Não haverá mesas fartas apenas um dia, mas todos terão pão em suas mesas em todos os dias, para que todo dia seja verdadeiro Natal.

Não haverá saudações mecânicas e formalmente repetidas, mas carregadas de conteúdo, acenando para a chegada Daquele que vem para reorientar nossos passos, acolhendo Aquele pelo qual tudo se renova, tudo se redime, tudo se reconcilia. Deus fará nascer no coração de quem faz a guerra, a paz de um Menino.

Armas serão transformadas em instrumentos que fabricam o pão; bilhões de dólares não mais se aplicarão na produção das armas que matam, mas na edificação de lares, escolas, espaços de convivência, crescimento, amadurecimento, favorecendo a promoção da dignidade de cada pessoa e da pessoa inteira. Nossos joelhos fortalecidos, mãos estendidas, mente predisposta a ser moldada pela Palavra; coração aberto para a Semente do Verbo.

Que em cada coração se reacenda a alegria de ser discípulo missionário, e como Igreja na América Latina, estaremos mais do que nunca, empenhados na grande Missão Continental por um “Continente da Esperança e do Amor!”

Quando o Natal chegar... Como estaremos?

Natal e minha pobreza lexical!

                                                           

Natal e minha pobreza lexical!

O que escrever sobre o Natal?
Minha pobreza lexical, meu repertório...
Minhas palavras são miseráveis diante da riqueza infinita,
no mundo, irrompida com o Natal do Senhor.

Como falar deste Mistério imensurável e indescritível?
As palavras que conheço não conseguem este Mistério descrever.
Muito já se disse, será que ainda não há algo para ser dito?
Não direi mais que algumas palavras...
Natal, a Festa do Nascimento d’Aquele no qual a divindade Se fez próxima, visível, tocável.

Natal, a Festa da contemplação do humano,
Que nos comunicou a divindade.
Natal, a festa da contemplação do divino
Que assumiu nossa humanidade.

Encontro de duas naturezas, em que o Amor e a Verdade se abraçaram, como rezou o Salmista (Sl 85). Com Seu nascimento, a Luz resplandeceu em meio às trevas. As trevas com aparência de eternidade cederam ao esplendor da luz eterna.  

Natal e minha pobreza lexical!
Que Santo Ambrósio me empreste suas palavras para falar do Natal:

“Ele (Jesus), portanto, foi pequeno, foi criança, para que possais vós, ser perfeitos adultos; Ele foi envolvido em faixas, para que sejais, vós, libertados das garras da morte; Ele, na manjedoura, para vos por sobre o altar; Ele, na terra, para que estejais vós entre as estrelas; não havia lugar para Ele na sala comum, para que tenhais vós várias moradas na casa do Pai”.

Com ânsia de contemplar Mistério infinito, me aproprio das palavras do Papa São Leão Magno:

“Hoje, amados, filhos, nasceu o nosso Salvador.
Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que
nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte,
enche-nos de alegria com a promessa de eternidade…

Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida…

Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição…

Pelo Sacramento do Batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande Hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de
 tua salvação é o Sangue de Cristo”.


Finalmente, o Papa Bento XVI, nos diz que quando o Natal é verdadeiro tudo muda!

Há algo em mim a mudar, e em cada criatura, e assim mundo novo haverá!

Celebremos o Natal como a Festa do Amor!
Da Luz, da Alegria, que invadiu nosso coração,
Em absoluto respeito a nossa liberdade,
Para que em nossa mente e coração,
Sementes do Verbo fossem plantadas.

Há de se cuidar, há de se regar:
Flores e frutos abundantes jamais hão de faltar!

Feliz Natal, apesar de minha pobreza lexical!
Festa do amor com dimensão horizontal e vertical!
Amor que se traduz em relacionamentos mais sinceros com o Divino e com o próximo.

Feliz Natal!
A luz resplandeceu sobre a terra!

Feliz Natal!
O Amor que nos amou até o fim em nosso meio está!

Feliz Natal!
O Verbo Se encarnou em nosso meio, Sua tenda armou entre nós!
Para sempre a solidão cedeu lugar ao Deus da proximidade, tocabilidade, intimidade, comunhão!

Feliz Natal!
Vejo uma luz brilhar em teus olhos, porque nossa fé foi purificada, acrisolada; porque a esperança ganhou novo fundamento com a Encarnação do Verbo.

A caridade revigorou de novo, fermento trazido pelo Deus Menino.

Glória a Deus no mais alto dos céus!
Céus e terra, anjos e santos, homens e mulheres, jovens e crianças cantai este Hino:
“Noite Feliz...” 

Contemplamos quatro nascimentos...

                                                   


Contemplamos quatro nascimentos...

O primeiro e maior de todos os nascimentos, que estamos nos preparando para celebrar: o nascimento do Menino Jesus, o Verbo que Se fez Carne e habitou entre nós, e nós vimos a Sua glória, como nos falou o Evangelista João (Jo 1,1-14).

Jesus é a luz dos povos, nossa paz, o Redentor da humanidade, o caminho, a verdade e a vida: “Mas, vindo à plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam debaixo da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5).

O segundo é o nascimento de Sansão, filho de Manué, cuja mulher era estéril. De fato, Deus manifesta a sua força e onipotência pela escolha de instrumentos frágeis ou incapazes (a esterilidade da mãe de Sansão). O menino foi consagrado a Deus desde o seio materno, exercendo a função de libertador do povo eleito dos filisteus – “Ela deu à luz um filho e deu-lhe o nome de Sansão. O menino cresceu e o Senhor o abençoou. O Espírito do senhor começou a agir nele no Campo de Dã” (Jz 13,2-7.24-25a).

O terceiro nascimento é de João Batista, filho de Zacarias e Isabel, ambos também em idade avançada, somada à esterilidade de Isabel. João Batista, aquele que, mais tarde, iria para o deserto para ser uma voz a gritar que se preparasse a chegada do Messias. João não era a Palavra, era a voz; não era a Luz, mas testemunha da Luz; não era o caminho, mas apontava e exortava para a preparação do caminho; Àquele que viria e que seria o Caminho, a Verdade e a vida, Jesus (Lc 1,5-25).

O quarto nascimento é o nosso, que fomos pensados e predestinados por Deus para sermos santos e irrepreensíveis sob o Seu olhar de amor. De Deus viemos, n’Ele nos movemos e somos, e para Ele haveremos de voltar, crendo e vivendo n’Aquele que Ressuscitou e nos alcançou a eternidade: Jesus Cristo Ressuscitado, a quem damos toda a honra, glória e poder.

O Tempo do Advento é o tempo favorável para revermos nossa história, as linhas que estamos escrevendo, o legado que estamos deixando. Tempo favorável de nos prepararmos para que, ao celebrar o Natal do Senhor, renasça dentro de cada um de nós, o melhor de Deus.

Tempo de fazermos de nosso coração a verdadeira e desejada manjedoura, o lugar preferido para que o Menino Deus possa nascer e acolhido ser, e nossa vida um novo sentido ganhar, e no mundo, Seu amor, vida, Palavra e missão, testemunhar.

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG