domingo, 3 de agosto de 2025

Oração para o mês vocacional

 

A esperança de um mundo novo (XVIIIDTCC)

                                               

A esperança de um mundo novo

As palavras do Bispo São Basílio Magno (séc. IV), muito nos ajudam a refletir sobre lógica vivida em qualquer tempo.

“Se cada um guardasse apenas o indispensável para suas necessidades ordinárias, deixando o supérfluo para os indigentes, a riqueza e a pobreza seriam abolidas.

O que é um avarento? É alguém que não se contenta com o necessário. O que é um ladrão? É alguém que arrebata o bem alheio. E tu não é um avarento? Não és um ladrão?

Os bens te foram confiados para serem administrados. Mas te apoderas deles. Quem despoja a um homem de suas vestes, deve ser chamado de ladrão. E aquele que não veste a nudez de um mendigo, quando pode fazê-lo, merecerá outro nome?

O pão que guardas pertence ao homem nu. O calçado que apodrece contigo pertence ao descalço. O dinheiro que reténs escondido pertence aos miseráveis. O número de oprimidos é igual ao número daqueles que poderiam ajudar”.

Leiamos o noticiário do jornal e suas notícias nacionais e internacionais: a pecaminosa desigualdade social marcada por realidades discrepantes e absurdas entre ricos e pobres; a fome que ainda mata milhões de irmãos e irmãs nossos; o desperdício absurdo aliado ao consumismo sem escrúpulos; a consequente destruição do planeta e seus recursos, sobretudo os não renováveis; desvios de verbas ontem e hoje. 

Voltando ao texto, vemos quanto que podemos mudar para um mundo melhor fazer, um novo amanhecer sonhar.

Somemos e multipliquemos com aqueles que estão plantando sementes de um novo amanhecer, com reflexões que nos questionam, que nos chamam para a responsabilidade mútua diante da vida do outro e da Casa Comum em que habitamos: o planeta Terra.

Termino ouvindo a inesquecível canção de Louis Armstrong: “What A Wonderful World” (Que mundo maravilhoso!).

Ressuscitemos a esperança no futuro, porque há sempre a esperança de um mundo novo sem fundamentalismos execráveis, misérias abomináveis. Um mundo novo é preciso, e este mundo novo está em nossas mãos. Amém.

PS: São Basílio Magno (séc IV)- P.G. 31, pp. 262-78

Crer no Ressuscitado é buscar as coisas do alto! (XVIIIDTCC)

                                                   

Crer no Ressuscitado é buscar as coisas do alto!

Quem nunca se encantou diante da beleza de uma montanha? Não por acaso, ela aparece na Bíblia como lugar da manifestação de Deus, quando Moisés recebeu a tábua dos dez Mandamentos; Jesus se transfigurou diante dos discípulos... 

A vocação cristã consiste em permanente subida à montanha sagrada para ouvir o Filho amado de Deus, sem fixar tendas no topo da montanha, mas descer a planície, ao cotidiano, enraizando esta Palavra, com renovado ardor no anúncio, no serviço, diálogo ecumênico e profundo com o mundo.

Mas diante desta montanha, podemos ter três posturas, que revelarão nossa identidade: os pessimistas, os medíocres e os corajosos, como nos disse um grande Teólogo, a partir de uma bonita metáfora:

“Imaginemos um grupo de excursionistas que partiram à conquista de um cume difícil, e olhemos para eles algumas horas depois da partida. Naquele momento, podemos presumir sua comitiva dividida em três tipos de indivíduos.

Alguns lamentam ter deixado o albergue. As fadigas, os perigos parecem-lhes sem proporção com o interesse do sucesso. Decidem regressar. a outros não lhes desagrada ter partido.

O panorama é belo. Mas, para que subir ainda? Não seria melhor desfrutar da montanha onde se está, no meio aos prados ou em pleno bosque?

E deitam na grama ou exploram as vizinhanças, esperando a hora do piquenique. Outros finalmente, os verdadeiros alpinistas, não tiram os olhos do cume que se prometeram conquistar. e retomam a subida. Queremos então ser felizes?

Deixemos retornar os cansados e os pessimistas. Deixemos os gozadores estender-se burguesamente na ladeira. E agreguemo-nos, sem hesitação, ao grupo daqueles que querem arriscar a escalada, até o último degrau. Para frente” (Pe. Teilhad de Chardin – Sulla felicitá –pp.28-29).

Tudo isto nos remete às belíssimas palavras de Paulo: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1-3). 

No topo da montanha O Filho amado nos diz o que são as coisas do alto: o amor, a fraternidade, o perdão, a acolhida, a solidariedade, a comunhão entre as pessoas e com todo o Universo...

Neste tempo de Páscoa mais uma vez somos convidados (as) a Celebrar a Ressurreição de Jesus. A presente reflexão tem a modesta pretensão de nos provocar diante da “montanha”.

Qual atitude tomaremos?

Somente com atitudes corajosas é que poderemos, no topo da montanha, contemplar o rosto do Ressuscitado e ressuscitar com Ele, não fugindo da cruz de cada dia a que fomos convidados a tomar e carregar, fazendo renascer entre nós relações evangélicas de ternura, para que a Igreja e o mundo sejam mais humanos, revestidos de beleza e alegria!

Assim a luz do Ressuscitado brilhará, a partir de pequenos e grandes gestos de amor, concretizando a devoção que mais agrada a Deus que é a dedicação aos necessitados.

E na Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, renovamos nossas forças, para subir e descer a montanha incansavelmente para que nosso testemunho nos assegure vida plena, com dignidade e esperanças renovadas...

É Páscoa!
Busquemos as coisas do alto! Subamos a montanha! Não tenhamos medo!

“Levantem as mãos cansadas e fortaleçam joelhos enfraquecidos. Endireitem os caminhos por onde terão que passar, a fim de que o que é aleijado não manque, mas seja curado”! (Hb 12,12-13). 



PS: Escrito para o Tempo da Páscoa, mas apropriado para todo o tempo.

“Loucura da Cruz” – Loucura do Amor (XVIIIDTCC)

                                                                     

“Loucura da Cruz” – Loucura do Amor

“Nós pregamos Cristo Crucificado...”

O zelo pela casa do Pai consumiu Jesus Cristo, como também deve nos consumir (cf. Jo 2,19).

Quando Jesus diz “Destruí este santuário, eu o reerguerei em três dias”, está falando da Ressurreição do Templo de Seu corpo.

Somos convidados a voltar nosso olhar para a Obra do Amor fiel que Jesus levará a termo em Jerusalém, e não o faria se não entrasse no Templo e o purificasse. 

Uma vida que não vai em direção da Cruz não é cristã. É preciso viver a “loucura da Cruz” – a loucura do Amor em fidelidade ao Amor Maior, Jesus.

Cremos, pregamos e anunciamos Jesus Crucificado, como o Apóstolo disse “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Cor 1,22-25).

Cremos no Deus que aceitou, por meio de Seu Filho, amar até às últimas consequências. É a loucura do Amor que salva, redime, liberta. Amém.

A insensatez e a loucura (XVIIIDTCC)

                                                          

A insensatez e a loucura

“Assim acontece com quem ajunta tesouros
para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.

A Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos apresenta a Parábola do rico insensato (Lc 12, 13-21), na qual Jesus refere-se àquele homem, que acumulou bens e não pôde usufruir porque a morte é inevitável, com a palavra “insensato” (em outras traduções, “louco”).

A loucura ou insensatez consiste em:

- Ser incapaz de perceber a verdadeira hierarquia dos valores, submetendo o eterno ao temporal, o celeste ao terreno;

- Fazer com que o acúmulo de bens materiais se torne a causa maior da sua própria felicidade, fechando-se para os valores que são eternos, garantia de felicidade infinita;

- Não conhecer a Deus, que tão somente pode ser conhecido quando O amamos e n’Ele permanecemos: “Todo aquele que me ama permanece em mim e Eu nele” (1Jo 3,24);

- Não valorizar a presença e ação de Deus em nossa vida;

- Não viver no Seu amor e não amar;

- Não vivenciar a alegria da partilha dos bens e dos dons que se possui;

- Fechar-se impedindo o crescimento mútuo e, consequentemente, tornar impossível a realização de um projeto comum de felicidade, não somente para o tempo presente, mas para a eternidade.

É sempre tempo de revermos o caminho trilhado na fidelidade ao Senhor, de refletirmos o ardor de nossa missão como batizados, tomando cuidado para não sermos insensatos/loucos como o homem da Parábola.

Um discípulo missionário do Senhor precisa ter sempre coragem de rever suas atitudes e valores, para que cada vez mais configurado ao Cristo Bom Pastor, com o coração seduzido, viva tão apenas uma “loucura”, a loucura da Cruz, a loucura do Amor, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (1 Cor 1,18).

Partilha e solidariedade (XVIIIDTCC)

                                                      

Partilha e solidariedade

Para aprofundamento da Liturgia do 18º domingo do Tempo Comum (ano C), em que é proclamada a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 12,13-21), oportuna esta reflexão escrita por São Cipriano (séc. III).

“Por que louvas semelhantes conselhos insensatos e néscios e te afasta das obras e preocupação e solicitude sobre o futuro? Por que te enredas em obscuridades e fantasias de desculpas vãs? Confessa a verdade; a nós que te conhecemos e não nos pode enganar. Abre os segredos de teu pensamento.

As trevas da esterilidade cercaram a tua alma e, afastando-te da luz da verdade, uma funda e profunda nuvem de avareza obscureceu um peito de carne.

És um cativo e um escravo de teu dinheiro. Estás amarrado com as cadeias de tua avareza, e aquele a quem Cristo desatou voltou-se a atar. Guardas um dinheiro que, guardado, não guardará a ti. Acumulas um patrimônio cujo peso te oprime, e não te percebes do que contradisse ao que se vangloriava com alegria estúpida da abundância exuberante de seus frutos: ‘Insensato! Esta noite será pedida a tua alma, e tudo o que acumulou, de quem será?’.

Divide teus rendimentos com o Senhor, teu Deus. Reparte teus frutos com Cristo; faz-Lhe participante de tuas posses terrenas para que Ele te faça participante do Reino dos Céus. Erras e te enganas se acreditas ser rico neste mundo.

Ouve a voz de Teu Senhor no Apocalipse, e como repreende com justa reprovação a este tipo de homens: ‘Pois dizes: sou rico, faço bons negócios, não necessito de nada, e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Eu te aconselho que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas brancas para te vestires, a fim de que tua nudez não apareça; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claramente’.

Portanto, se és abastado por esta imensa luz, sejas ouro puro purificado pelo fogo, para que, abrasado por esta imensa luz, sejas ouro puro acrisolado pelas esmolas e obras de misericórdia. Compra para ti uma veste alva, para que, se foste desnudo segundo Adão, envergonhado de tua feiura, te vistas com o vestuário cândido de Cristo.

E tu, que és senhora abastada e rica na Igreja de Cristo, adorna teus olhos não com os enfeites do diabo, mas com o colírio de Cristo, para que possas chegar a ver Deus, merecendo esta graça d’Ele por tuas obras e bons costumes. Mas por hora, enquanto tu és assim, não podes atuar na Igreja, porque teus olhos, cheios da negrura das trevas e preocupados pela noite, não enxergam ao pobre e ao necessitado.

És abastado e rico, e acreditas que podes celebrar o Sacrifício do Senhor, tu que não olhas o sofrimento dos pobres; tu que vens ao divino Sacrifício sem sacrificar-te a ti mesmo; tu que participas de um sacrifício que o pobre oferece. Veja o exemplo da viúva que deu duas moedas de esmola no gazofilácio. Aquele que se compadece do pobre, empresta a Deus.”

Reflitamos sobre quais são as nossas riquezas, e como vivemos as obras de misericórdia, em alegre partilha e solidariedade, sobretudo com os que mais precisam.

Roguemos a Deus para que nos conceda sabedoria para o discernimento necessário, a fim de que saibamos usar as coisas que passam e abraçar as que não passam.

Jamais nos falte o “colírio de Cristo”, para enxergarmos os “Cristos” necessitados bem próximos a nós, clamando por amor, acolhida, solidariedade.


Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.691-692

“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas” (XVIIIDTCC)

 


“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas”

 

“Se não podeis deixar as coisas do mundo,

fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele...”

 

Sejamos enriquecidos por uma das homilias sobre os Evangelhos, escrita pelo Papa São Gregório Magno (séc. V).

 

“Desejaria exortar-vos a deixar tudo, mas não me atrevo. Se não podeis deixar as coisas do mundo, fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele, possuindo os bens terrenos sem deixar que vos possuam.

 

Tudo o que possuís esteja sob o domínio do vosso espírito, para que não fiqueis presos pelo amor das coisas terenas, sendo por elas dominados.

 

Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas. As coisas temporais sejam simples ajuda para a caminhada, mas as eternas, o termo do vosso peregrinar.

 

Tudo o que se passa neste mundo seja considerado como acessório. Que o olhar do nosso espírito se volte para frente, fixando-nos firmemente nos bens futuros que esperamos alcançar.

 

Extirpemos radicalmente os vícios, não só das nossas ações, mas também dos pensamentos. Que o prazer da carne, o ardor da cobiça e o fogo da ambição não nos afastem da Ceia do Senhor!

 

Até as coisas boas que realizamos no mundo, não nos apeguemos a elas, de modo que as coisas agradáveis sirvam ao nosso corpo sem prejudicar o nosso coração.

 

Por isso, irmãos, não ousamos dizer-vos que deixeis tudo. Entretanto, se o quiserdes, mesmo possuindo-as, deixareis todas as coisas se tiverdes o coração voltado para o alto. Pois quem põe a serviço da vida todas as coisas necessárias, sem ser por elas dominado, usa do mundo como se dele não usasse.

 

Tais coisas estão ao seu serviço, mas sem perturbar o propósito de quem aspira às do alto. Os que assim procedem têm à sua disposição tudo o que é terreno, não como objeto de sua ambição, mas de sua utilidade. Por conseguinte, nada detenha o desejo do vosso espírito, nenhuma afeição vos prenda a este mundo.

 

Se amarmos o que é bom, deleite-se o nosso espírito com bens ainda melhores, isto é, os bens celestes. Se tememos o mal, ponhamos diante dos olhos os males eternos. Desse modo, contemplando na eternidade o que mais devemos amar e o que mais devemos temer, não nos deixaremos prender ao que existe na terra.

 

Para assim procedermos, contamos com o auxílio do Mediador entre Deus e os homens. Por meio d’Ele logo obteremos tudo, se amarmos realmente Aquele que, sendo Deus, vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.”

 
Os cristãos estando no mundo não são do mundo e devem ter atitude diferente frente aos bens, de modo especial nos exorta o Papa São Gregório Magno, com sabedoria e sobriedade devem usar as coisas, e não por elas serem possuídos.

 

Quanto mais Eucarísticos e Pascais formos, maior será:

- A nossa liberdade e desprendimento diante de tudo e de todos para maior fidelidade ao Senhor;

- A nossa disponibilidade para amá-Lo e servi-Lo na pessoa do nosso próximo;

- O nosso contentamento com o que possuímos, afinal não precisamos muito para sermos felizes, quando nosso coração encontrou no Senhor o divino deleite e inebriamento;

 - A nossa gratidão pelo que possuímos, sem cairmos no consumismo que não dá o verdadeiro sentido e preenchimento da alma.

Concluindo, maior alegria sentiremos quando menos trêfegos formos e soubermos trafegar entre as privações e provações da vida, com toda confiança no Senhor, buscando as coisas do alto onde habita Deus, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo – Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.” (Cl 3,1).

Oremos:

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!” (1)

 

(1) Oração da Coleta do 17º Domingo do Tempo Comum – Missal Romano – antiga Edição.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG