domingo, 13 de julho de 2025

A honra do louvor e o poder de perdoar (XVDTCC)

                                       


A honra do louvor e o poder de perdoar

Sejamos enriquecidos pelos escritos do Bem-aventurado Isaac, Abade do Mosteiro de Stela (Séc. XII).

“Duas são as coisas convêm a Deus: a honra do louvor e o poder de perdoar. O louvor somos nós que lhe damos; o perdão, d’Ele nós esperamos. Pertence somente a Deus perdoar os pecados; por isso deve ser louvado. 

Mas, tendo desposado o onipotente a fraqueza, o excelso, a humildade, da escrava fez uma rainha; aquela que estava atrás, a Seus pés, colocou-a a Seu lado. Pois de seu lado saiu, de onde a tomou para si como penhor. Tudo quanto é do Pai é do Filho, e o que é do Filho é do Pai, por serem um só por natureza. De modo semelhante, tudo quanto era Seu deu o esposo à esposa, e tudo da esposa o esposo tomou para Si; e dela, unida a Si, e do Pai fez também um só. Quero, disse o Filho ao Pai, intercedendo pela esposa, que, assim como Eu e Tu somos um, também estes sejam um conosco (cf. Jo 17,21).

Por conseguinte, o esposo com o Pai são um só, com a esposa é um. Rejeitou quanto de contrário encontrou na esposa, pregando-O na Cruz, e aí carregou Seus pecados no madeiro e pelo madeiro o destruiu. 

O que era conforme à natureza e próprio dela, assumiu, e d'Ele se revestiu. O que lhe era próprio e divino, isto lhe concedeu. Expeliu o diabólico, assumiu o humano, concedeu o divino, para que tudo o que era da esposa fosse do esposo. É a razão por que Aquele, que não cometeu pecado nem Se encontrou engano em Sua boca, pode dizer: Tem piedade de mim, Senhor, porque estou enfermo (Sl 6, 3). E quem tem a enfermidade da esposa, tenha também o pranto, e seja tudo do esposo e da esposa. Donde, a honra do louvor e o poder do perdão; por isto devia dizer: Vai, mostra-te ao sacerdote (Mt 8, 4).

Portanto, sem Cristo nada pode a Igreja perdoar; nada quer Cristo perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar a não ser ao penitente, isto é, àquele a quem Cristo tocou. 

Cristo não quer ter por perdoado aquele que despreza a Igreja. O que Deus uniu, o homem não separe. Digo eu, é grande este sacramento no Cristo e na Igreja (Mt 19, 6; Ef 5, 32).

Não queiras, pois tirar do corpo a cabeça, de forma que em parte alguma haja o Cristo total: nem em parte alguma, o Cristo total sem a Igreja nem a Igreja toda sem Cristo em parte alguma. Pois Cristo completo e íntegro, entende-se cabeça e corpo, por isto diz: Ninguém subiu ao céu a não ser o Filho do homem que está no céu (Jo 3,13). É este o único homem que perdoa os pecados.”

Retomemos as palavras do Bem-Aventurado:

- “Duas são as coisas que só convêm  a Deus: a honra do louvor e o poder de perdoar. O louvor somos nós que lhe damos; o perdão, d’Ele nós esperamos. Pertence somente a Deus perdoar os pecados; por isso deve ser louvado...”

- “Portanto, sem Cristo nada pode a Igreja perdoar; nada quer Cristo perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar a não ser ao penitente, isto é, àquele a quem Cristo tocou.”

Como discípulos missionários do Senhor, demos a Deus toda a honra, a glória, o poder e o louvor, e reconhecedores de nossa miséria diante de Sua infinita Misericórdia, supliquemos perdão pelos pecados que cometemos, mas, de coração contrito e sincero, apresentamos.

Também, recorramos, tanto quanto possível, ao Sacramento da Penitência, pelo qual o presbítero concede o perdão dos pecados, cientes de que sem Cristo, a Igreja nada pode perdoar, pois, de fato, “nada quer Cristo perdoar sem a Igreja”.

Concluo com as palavras do Catecismo da Igreja Católica sobre o Sacramento da Penitência:

Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote exerce o ministério do bom Pastor que procura a ovelha perdida: do bom Samaritano que cura as feridas; do Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no seu regresso; do justo juiz que não faz acepção de pessoas e cujo juízo é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso. Em resumo, o sacerdote é sinal e instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.1465

Em poucas palavras... (XVDTCC)

                                              


“Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda «inimigos»” 

“Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda «inimigos» (Rm 5, 10). O Senhor pede-nos que, como Ele, amemos até os nossos inimigos (Mt 5,44), que nos façamos o próximo do mais afastado (Lc 10,27-37), que amemos as crianças (Mc 9,37) e os pobres como a Ele próprio (1 Cor 13,1-4).

O apóstolo São Paulo deixou-nos um incomparável quadro da caridade: «A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse, não se imita, não guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).” 

 

(1)Catecismo da Igreja Católica parágrafo n. 1825

“Quem ama os irmãos revela Deus” (XVDTCC)


“Quem ama os irmãos revela Deus”

Na reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 10,25-37), sobre o Evangelho do bom samaritano, retomemos algumas citações do Missal Dominical:

Jesus Homem levará à perfeição a imagem do Pai, no sacrifício da Cruz; aí revelará a verdadeira face do duplo amor para com Deus e para com os homens, do qual brota a história da Salvação...

O sacrifício de si e o amor gratuito e universal pelo próximo fazem resplandecer na face do cristão a face de Cristo e de Deus...

Cristo se comporta com a humanidade como o samaritano da narrativa evangélica para com o desconhecido, como o bom pastor vem salvar a ovelha despojada, espancada e quase morta (Jo 10,10), como o filho do dono da vinha se apresenta depois dos profetas enviados em vão (Jo 10; Lc 20,9-18)...

Não basta mais amar o próximo como a si mesmo; é preciso perguntar-se como ser próximo para o outro e amá-lo como Deus o ama. Depois da Ceia, Cristo dará um Mandamento novo: amar aos outros como fomos amados (Jo 13,34).

É necessário tomar consciência da pertença a esta humanidade ferida, abandonada, semimorta, à beira da estrada, que Cristo veio salvar...

Se Deus é Amor, se Cristo é a revelação de Deus porque Se entregou à morte pelo homem, o cristão revelará Deus ao mundo com seu amor concreto pelo próximo”.

Agora é tempo de nos fazermos solidários, como o bom samaritano.

Trata-se de uma Parábola desafiadora.

- Quem é o samaritano?
- Qual é o seu nome?

Urge que nossa Igreja que professa a fé no Cristo Ressuscitado; que seja cada um de nós, que um dia recebeu o nome no Batismo, para dentro deste corpo viver a vocação, a missão, conhecer, amar e encarnar o Mandamento do Senhor não é algo remoto, adiável, inatingível ou compromisso estranho para o cotidiano.

Oportuna também a citação do Lecionário Comentado (p. 718-719), que nos desafia:

“Esta página evangélica exorta todos os discípulos a deixarem-se penetrar pela mesma misericórdia que impele o pastor a procurar a ovelha perdida (LC 15,4-7), o pai correr ao encontro do filho perdido (Lc 15,11-32) e Jesus morrer numa Cruz (Lc 23,44-46)...

Não se trata de um humanismo generoso e desinteressado qualquer, mas de nos colocarmos em sintonia com uma atuação que resume a história e a experiência de um Amor infinito, o do Amor feito Carne.

Se Jesus é a Palavra que Se tornou ‘próxima’, para que a pudéssemos pôr em prática, então ‘tornar-se próximo’ não é já, para nenhum de nós, uma meta que está longe, irreal ou inacessível.

Se em Jesus, o samaritano, Deus me tomou a Seu cuidado e me Amou, também eu, curado dos meus males, posso amá-Lo com todo o coração e a todos os irmãos como a mim mesmo.”

É preciso coragem e amor para fazer-se próximo, não esvaziando a essência da religião, que é a revelação do Rosto Divino, no amor concreto pelo humano que se coloca no caminho e, sobretudo, à beira do caminho... 


(1)  Missal Dominical - Editora Paulus - pág. 1176-1177

Amando o próximo encontramos Deus (XVDTCC)

                                                  

Amando o próximo encontramos Deus

“Mestre, que devo fazer para
receber em herança a vida eterna?”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 10,25-37), sobre a parábola do bom samaritano, e a pergunta sobre o que deve ser feito para alcançar a Vida Eterna.

Vemos que somente o amor a Deus no próximo é que nos dará vida em plenitude e eterna.

A Parábola refere-se a um herege, um infiel, segundo os critérios judaicos (por longos séculos assim foi se caracterizando), mas foi aquele que tudo deixou para ser solidário ao irmão caído à beira da estrada, e o Senhor no-lo apresenta como exemplo a ser imitado: Fazer-se próximo de quem mais precisa – “Vai e faz o mesmo”.

Na Parábola são citados os levitas e sacerdotes que passam ao lado, sem nada fazer; talvez por medo de ficarem impuros, por pressa, indiferença, ou por viverem uma religião sem misericórdia.

Ao contrário, o samaritano, herege, excomungado, tem o coração cheio de amor, e nos dá o verdadeiro sentido da religião: ter um coração pleno de amor a Deus, que se concretiza no amor ao próximo, em gestos de partilha e solidariedade.

Conclui-se que a vida eterna somente se alcança quando não se separa o amor a Deus do amor ao próximo.

Este próximo é qualquer um que necessite de nós, amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido; e todo aquele que se encontra à beira do caminho e precisa de nosso amor e de nossas mãos para se levantar e se por a caminho.

Nisto consistirá a missão da Igreja do Bom Samaritano, em todos os tempos, na fidelidade ao Senhor Jesus: viver um amor sem limites, sem fronteiras, sem rotulações.

Reflitamos:

- Qual a missão que O Senhor confia a nossas comunidades à luz desta parábola?

- Mais que saber quem é nosso próximo, quais são os nossos próximos que clamam por ajuda a beira do caminho?

- Somos sensíveis e solidários aos clamores dos pobres?
- Como nossas comunidades podem ser mais parecidas com o bom samaritano?

- Quem se encontra à beira do caminho e precisa de nossas mãos e ação solidária?

- Como estamos vivendo a verdadeira religião, que nos permite experimentar a proximidade divina, para uma maior proximidade humana, em gestos de comunhão fraterna?

- Qual é a diretriz de minha vida: leis, ritos ou o amor concreto?

Concluindo, quando Cristo é o centro de nossa vida e de nossa comunidade, abrimo-nos ao outro, fazemo-nos próximos daqueles que estão à beira do caminho, no amor, misericórdia, compaixão e solidariedade.

Lembremos as palavras do Papa Bento XVI, na Encíclica – Deus Caritas Est” – 2005 – n. 15.16:

O Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo:
no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e,
em Jesus, encontramos Deus... o amor ao próximo
é uma estrada para encontrar também a Deus, e que
o fechar os olhos diante do próximo torna cegos
também diante de Deus.”

“Alegrai-vos no Senhor” (XVDTCC)

                                                  

“Alegrai-vos no Senhor”
 
“A alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4)
 
Sejamos enriquecidos por um dos Sermões do Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. IV), que nos exorta a manter viva a alegria, desde que ela seja no Senhor, como já dissera o Apóstolo Paulo aos Filipenses.
 
“O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura: A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um Homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.
 
Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.
 
No entanto, pode alguém observar: ‘Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou’. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor?
 
Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador: n’Ele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).
 
Eis uma realidade admirável: Aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão Aquele que por misericórdia Se tornou tão próximo de nós?
 
Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.
 
Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10), porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para Si com Seu Sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.
 
Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma”.  (1)
 
Embora vivamos momentos difíceis, nos mais diversos âmbitos, é preciso manter viva nossa esperança, a fim de que não vejamos morrer, sem perspectivas de amanhecer, a nossa alegria.
 
Crer no Ressuscitado, e n’Ele nos alegrarmos sempre, pois como disse o Bispo, para que fôssemos justificados Ele aceitou ser condenado; para que fôssemos resgatados, Ele foi vendido; para sermos honrados, aceitou todas as formas de humilhação e injúria; para termos vida, Ele passou pela Paixão e experimentou a morte.
 
De fato, “a alegria não é captada pelo crente como uma ultrapassagem da Cruz, mas como uma compreensão diferente do próprio Crucificado; não é, pois, derrota, mas revelação. Revelação de uma Salvação realizada por nós em Jesus: o amor que parecia derrotado é, na verdade vitorioso” (2).
 
Renovemos nossas forças em nosso discipulado marcado por superação de dificuldades, cansaços, desilusões, em todos os âmbitos de nossa vida. Exultemos de alegria no Senhor! 
Aleluia!
 
Mantenhamos viva a nossa alegria, e assim acontecerá se buscarmos nossa alegria no Senhor, a Verdade que nos faz verdadeiramente livres e realizados (cf. Gl 5,1), com confiança e serenidade, e jamais “nas flores da vaidade”, como tão bem expressou o Bispo.
 
Oremos:
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, presente no centro de nossas comunidades, rompendo as pedras que as fecham, pois nada pode impedir Sua Divina ação e manifestação em nosso meio, vos pedimos ajudai-nos a fim de que nos alegremos com a Verdade, que sois tão somente Vós, e fonte de toda a nossa esperança para o tempo presente e para toda a eternidade.
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo, Glorioso e Ressuscitado, enviai-nos com o Vosso divino sopro, o Santo Espírito, como fizeste naquele primeiro dia da semana, quando as portas se encontravam fechadas por medo dos judeus (Jo 19, 19-31), para que enviados ao mundo, como continuadores de Vossa missão, sejamos sinais de uma vida nova, como instrumento para comunicar o perdão dos pecados a serem perdoados.
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo, Glorioso, Ressuscitado, que subiu aos céus para ficar perto de nós, e está à direita do Pai sentado, a quem damos toda honra, glória, poder e louvor, não permitais que compactuemos ou nos omitamos diante do mistério da iniquidade, e tão pouco seduzidos pelo odor das flores da vaidade, ou qualquer outra “flor” que nos distancie, das mais belas flores que nos foram, pelo Vosso Pai Criador, no Jardim do Éden; mas movidos pela fé em Vós e em Vossa Palavra, sejamos os jardineiros de um mundo novo, em que as flores exalem alegria, confiança, esperança, serenidade, ternura, amor e bondade. Amém. Aleluia!
 

 
 
(1)   Liturgia das Horas – Volume II – Tempo Quaresma/Páscoa – pág. 1504-1505
(2)   Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa - Editora Paulus – Lisboa p. 603
 

O Bom Samaritano e a prática da misericórdia (XVDTCC)

                                                                  

O Bom Samaritano e a prática da misericórdia

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 10,25-37), que nos apresenta a Parábola do bom samaritano.

Trata-se de uma Parábola desafiadora e, para aprofundamento, vejamos o que nos diz o Missal Dominical:

Jesus Homem levará à perfeição a imagem do Pai, no sacrifício da Cruz; aí revelará a verdadeira face do duplo amor para com Deus e para com os homens, do qual brota a história da Salvação...

O sacrifício de si e o amor gratuito e universal pelo próximo fazem resplandecer na face do cristão a face de Cristo e de Deus...

Cristo Se comporta com a humanidade como o samaritano da narrativa evangélica para com o desconhecido, como o bom pastor vem salvar a ovelha despojada, espancada e quase morta (Jo 10,10), como o filho do dono da vinha se apresenta depois dos Profetas enviados em vão (Jo 10; Lc 20,9-18)...

Não basta mais amar o próximo como a si mesmo; é preciso perguntar-se como ser próximo para o outro e amá-lo como Deus o ama. Depois da Ceia, Cristo dará um Mandamento novo: amar aos outros como fomos amados (Jo 13,34).

É necessário tomar consciência da pertença a esta humanidade ferida, abandonada, semimorta, à beira da estrada, que Cristo veio salvar...

Se Deus é Amor, se Cristo é a revelação de Deus porque Se entregou à morte pelo homem, o cristão revelará Deus ao mundo com seu amor concreto pelo próximo”. (1) 

Oportuna também a citação do Lecionário Comentado:

“Esta página evangélica exorta todos os discípulos a deixarem-se penetrar pela mesma misericórdia que impele o pastor a procurar a ovelha perdida (LC 15,4-7), o pai correr ao encontro do filho perdido (Lc 15,11-32) e Jesus morrer numa Cruz (Lc 23,44-46)...

Não se trata de um humanismo generoso e desinteressado qualquer, mas de nos colocarmos em sintonia com uma atuação que resume a história e a experiência de um Amor infinito, o do Amor feito Carne.

Se Jesus é a Palavra que Se tornou ‘próxima’, para que a pudéssemos pôr em prática, então ‘tornar-se próximo’ não é já, para nenhum de nós, uma meta que está longe, irreal ou inacessível.

Se em Jesus, o samaritano, Deus me tomou a Seu cuidado e me Amou, também eu, curado dos meus males, posso amá-Lo com todo o coração e a todos os irmãos como a mim mesmo.”

Como discípulos missionários, é tempo favorável para nos questionarmos para maior fidelidade a Jesus Cristo, em solidariedade com os que se encontram à beira do caminho, ou seja, dos que mais precisam de nossa solidariedade.

Urge que, como Igreja que professa a fé no Cristo Ressuscitado, vivamos a missão a nós confiada pelo Batismo: conhecer, amar e encarnar o Mandamento do Senhor, concretamente em nosso cotidiano.

Reflitamos:

- Como ser uma Igreja do bom samaritano?
- Quem são os que se encontram feridos à beira do caminho?

É preciso coragem e amor para fazer-se próximo, não esvaziando a essência da religião, que é a revelação do Rosto Divino, no amor concreto pelo humano que se coloca no caminho e, sobretudo, à beira do caminho.


(1)             Missal Dominical – Editora Paulus - p.1176-1177
(2)             Lecionário Comentado – Editora Paulus -2011 – Tempo comum – vol. I - pp.718-719

A graça divina da missão (XVDTCC)

                                                          

A graça divina da missão

Discípulos missionários do Senhor, somos,
Pela graça do Batismo, um dia recebido.
De modo que possamos dizer como o Apóstolo:
Para nós o viver é Cristo, morrer é lucro (Fl 1,21).
Que graça maior, poderíamos ter recebido?

Vivemos, mas não nós, como disse o Apóstolo:
“Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim.
Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé,
Crendo no Filho de Deus, que me amou
E se entregou por mim” (Gl 2,20)

Sendo assim, seus passos haveremos de seguir,
Com renúncias, a cruz cotidiana carregar,
Revelando Sua presença e Suas marcas,
Como no selo, no coração, indelevelmente marcar:
Humildade, mansidão, fé, amor e esperança.

Em todo lugar, Sua luz divina irradiar;
Por lugares onde normalmente circulamos,
E em novos areópagos que nos desafiam,
Usar de todos os meios, inclusive os mais modernos,
Para o Seu Amor, Pessoa e Projeto, testemunhar.

Verdadeiramente servos por amor,
D’Aquele que Se fez servo humilde e obediente,
Que de tudo Se esvaziou para nos enriquecer.
Que nada reivindicou para Si,
Mas viveu em constante atenção ao próximo.

Discípulos missionários de Jesus, sejamos em todo o tempo;
D’Ele que está presente no Pão da Palavra e Pão da Eucaristia,
Expressão máxima da caridade que recria e renova,
Na constante atenção e solidariedade com o próximo,
Bom Samaritano da misericórdia, mansidão e paciência. Amém.


Fonte inspiradora: Mt 12,14-21; Lc 10,25-37

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG