domingo, 13 de julho de 2025

“Alegrai-vos no Senhor” (XVDTCC)

                                                  

“Alegrai-vos no Senhor”
 
“A alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4)
 
Sejamos enriquecidos por um dos Sermões do Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. IV), que nos exorta a manter viva a alegria, desde que ela seja no Senhor, como já dissera o Apóstolo Paulo aos Filipenses.
 
“O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura: A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um Homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.
 
Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.
 
No entanto, pode alguém observar: ‘Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou’. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor?
 
Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador: n’Ele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).
 
Eis uma realidade admirável: Aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão Aquele que por misericórdia Se tornou tão próximo de nós?
 
Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.
 
Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10), porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para Si com Seu Sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.
 
Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma”.  (1)
 
Embora vivamos momentos difíceis, nos mais diversos âmbitos, é preciso manter viva nossa esperança, a fim de que não vejamos morrer, sem perspectivas de amanhecer, a nossa alegria.
 
Crer no Ressuscitado, e n’Ele nos alegrarmos sempre, pois como disse o Bispo, para que fôssemos justificados Ele aceitou ser condenado; para que fôssemos resgatados, Ele foi vendido; para sermos honrados, aceitou todas as formas de humilhação e injúria; para termos vida, Ele passou pela Paixão e experimentou a morte.
 
De fato, “a alegria não é captada pelo crente como uma ultrapassagem da Cruz, mas como uma compreensão diferente do próprio Crucificado; não é, pois, derrota, mas revelação. Revelação de uma Salvação realizada por nós em Jesus: o amor que parecia derrotado é, na verdade vitorioso” (2).
 
Renovemos nossas forças em nosso discipulado marcado por superação de dificuldades, cansaços, desilusões, em todos os âmbitos de nossa vida. Exultemos de alegria no Senhor! 
Aleluia!
 
Mantenhamos viva a nossa alegria, e assim acontecerá se buscarmos nossa alegria no Senhor, a Verdade que nos faz verdadeiramente livres e realizados (cf. Gl 5,1), com confiança e serenidade, e jamais “nas flores da vaidade”, como tão bem expressou o Bispo.
 
Oremos:
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, presente no centro de nossas comunidades, rompendo as pedras que as fecham, pois nada pode impedir Sua Divina ação e manifestação em nosso meio, vos pedimos ajudai-nos a fim de que nos alegremos com a Verdade, que sois tão somente Vós, e fonte de toda a nossa esperança para o tempo presente e para toda a eternidade.
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo, Glorioso e Ressuscitado, enviai-nos com o Vosso divino sopro, o Santo Espírito, como fizeste naquele primeiro dia da semana, quando as portas se encontravam fechadas por medo dos judeus (Jo 19, 19-31), para que enviados ao mundo, como continuadores de Vossa missão, sejamos sinais de uma vida nova, como instrumento para comunicar o perdão dos pecados a serem perdoados.
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo, Glorioso, Ressuscitado, que subiu aos céus para ficar perto de nós, e está à direita do Pai sentado, a quem damos toda honra, glória, poder e louvor, não permitais que compactuemos ou nos omitamos diante do mistério da iniquidade, e tão pouco seduzidos pelo odor das flores da vaidade, ou qualquer outra “flor” que nos distancie, das mais belas flores que nos foram, pelo Vosso Pai Criador, no Jardim do Éden; mas movidos pela fé em Vós e em Vossa Palavra, sejamos os jardineiros de um mundo novo, em que as flores exalem alegria, confiança, esperança, serenidade, ternura, amor e bondade. Amém. Aleluia!
 

 
 
(1)   Liturgia das Horas – Volume II – Tempo Quaresma/Páscoa – pág. 1504-1505
(2)   Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa - Editora Paulus – Lisboa p. 603
 

O Bom Samaritano e a prática da misericórdia (XVDTCC)

                                                                  

O Bom Samaritano e a prática da misericórdia

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 10,25-37), que nos apresenta a Parábola do bom samaritano.

Trata-se de uma Parábola desafiadora e, para aprofundamento, vejamos o que nos diz o Missal Dominical:

Jesus Homem levará à perfeição a imagem do Pai, no sacrifício da Cruz; aí revelará a verdadeira face do duplo amor para com Deus e para com os homens, do qual brota a história da Salvação...

O sacrifício de si e o amor gratuito e universal pelo próximo fazem resplandecer na face do cristão a face de Cristo e de Deus...

Cristo Se comporta com a humanidade como o samaritano da narrativa evangélica para com o desconhecido, como o bom pastor vem salvar a ovelha despojada, espancada e quase morta (Jo 10,10), como o filho do dono da vinha se apresenta depois dos Profetas enviados em vão (Jo 10; Lc 20,9-18)...

Não basta mais amar o próximo como a si mesmo; é preciso perguntar-se como ser próximo para o outro e amá-lo como Deus o ama. Depois da Ceia, Cristo dará um Mandamento novo: amar aos outros como fomos amados (Jo 13,34).

É necessário tomar consciência da pertença a esta humanidade ferida, abandonada, semimorta, à beira da estrada, que Cristo veio salvar...

Se Deus é Amor, se Cristo é a revelação de Deus porque Se entregou à morte pelo homem, o cristão revelará Deus ao mundo com seu amor concreto pelo próximo”. (1) 

Oportuna também a citação do Lecionário Comentado:

“Esta página evangélica exorta todos os discípulos a deixarem-se penetrar pela mesma misericórdia que impele o pastor a procurar a ovelha perdida (LC 15,4-7), o pai correr ao encontro do filho perdido (Lc 15,11-32) e Jesus morrer numa Cruz (Lc 23,44-46)...

Não se trata de um humanismo generoso e desinteressado qualquer, mas de nos colocarmos em sintonia com uma atuação que resume a história e a experiência de um Amor infinito, o do Amor feito Carne.

Se Jesus é a Palavra que Se tornou ‘próxima’, para que a pudéssemos pôr em prática, então ‘tornar-se próximo’ não é já, para nenhum de nós, uma meta que está longe, irreal ou inacessível.

Se em Jesus, o samaritano, Deus me tomou a Seu cuidado e me Amou, também eu, curado dos meus males, posso amá-Lo com todo o coração e a todos os irmãos como a mim mesmo.”

Como discípulos missionários, é tempo favorável para nos questionarmos para maior fidelidade a Jesus Cristo, em solidariedade com os que se encontram à beira do caminho, ou seja, dos que mais precisam de nossa solidariedade.

Urge que, como Igreja que professa a fé no Cristo Ressuscitado, vivamos a missão a nós confiada pelo Batismo: conhecer, amar e encarnar o Mandamento do Senhor, concretamente em nosso cotidiano.

Reflitamos:

- Como ser uma Igreja do bom samaritano?
- Quem são os que se encontram feridos à beira do caminho?

É preciso coragem e amor para fazer-se próximo, não esvaziando a essência da religião, que é a revelação do Rosto Divino, no amor concreto pelo humano que se coloca no caminho e, sobretudo, à beira do caminho.


(1)             Missal Dominical – Editora Paulus - p.1176-1177
(2)             Lecionário Comentado – Editora Paulus -2011 – Tempo comum – vol. I - pp.718-719

A graça divina da missão (XVDTCC)

                                                          

A graça divina da missão

Discípulos missionários do Senhor, somos,
Pela graça do Batismo, um dia recebido.
De modo que possamos dizer como o Apóstolo:
Para nós o viver é Cristo, morrer é lucro (Fl 1,21).
Que graça maior, poderíamos ter recebido?

Vivemos, mas não nós, como disse o Apóstolo:
“Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim.
Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé,
Crendo no Filho de Deus, que me amou
E se entregou por mim” (Gl 2,20)

Sendo assim, seus passos haveremos de seguir,
Com renúncias, a cruz cotidiana carregar,
Revelando Sua presença e Suas marcas,
Como no selo, no coração, indelevelmente marcar:
Humildade, mansidão, fé, amor e esperança.

Em todo lugar, Sua luz divina irradiar;
Por lugares onde normalmente circulamos,
E em novos areópagos que nos desafiam,
Usar de todos os meios, inclusive os mais modernos,
Para o Seu Amor, Pessoa e Projeto, testemunhar.

Verdadeiramente servos por amor,
D’Aquele que Se fez servo humilde e obediente,
Que de tudo Se esvaziou para nos enriquecer.
Que nada reivindicou para Si,
Mas viveu em constante atenção ao próximo.

Discípulos missionários de Jesus, sejamos em todo o tempo;
D’Ele que está presente no Pão da Palavra e Pão da Eucaristia,
Expressão máxima da caridade que recria e renova,
Na constante atenção e solidariedade com o próximo,
Bom Samaritano da misericórdia, mansidão e paciência. Amém.


Fonte inspiradora: Mt 12,14-21; Lc 10,25-37

Que o nosso coração seja fecundo (XVDTCA)

Que o nosso coração seja fecundo

“Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem.
O campo é o mundo. A boa semente são
os que pertencem ao Reino.”

A Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum (Ano A) nos convida a refletir sobre a importância e a centralidade da Palavra de Deus na vida daqueles que creem.

A passagem da primeira Leitura (Is 55,10-11) é um pequeno trecho do “Livro da Consolação”, e retrata a fase final do exílio (anos 550-540 a.C.).

O Povo de Deus encontra-se farto de belas palavras e promessas de libertação, que tardam em se realizar, e com isto a impaciência, a dúvida e o ceticismo enfraquecem a resistência dos exilados.

O Profeta, para evidenciar a eficácia da Palavra de Deus, utiliza o exemplo da chuva e da neve que, vindas do céu, tornam fecunda a terra, multiplicando a vida nos campos.

Uma imagem muito sugestiva, considerando que os judeus exilados na Babilônia devem se lembrar da chuva que cai no norte de Israel e da neve no monte Hermon. A água alimenta o rio Jordão, correndo por todo Israel, e por onde passa gera vida e fecundidade.

A mensagem que se comunica é de que a Palavra de Deus não falha, pois indica sempre caminhos de vida plena, verdadeira, expressa na liberdade e paz sem fim, não necessariamente segundo a lógica do tempo dos homens, dos seus desejos, projetos, interesses e critérios.

É necessário que se aprenda e respeite o ritmo e o tempo de Deus. E também, a eficácia da Palavra divina não dispensa compromissos e indica os caminhos que devem ser percorridos, renovando o ânimo para a intervenção no mundo. A Palavra divina não adormece a ação humana, mas impele para a transformação e renovação do mundo.

Com a passagem da segunda Leitura (Rm 8,18-23), continuamos a refletir sobre a vida segundo o Espírito, que consiste em deixar-se conduzir pela Palavra de Deus, e isto só é possível quando se acolhe a salvação como dom de Deus, que nos é alcançada por meio de Jesus Cristo, na ação do Espírito, que é derramado sobre todos os que aderem ao Seu Projeto e fazem parte de Sua comunidade.

A vida segundo o espírito consiste também em viver atentamente na escuta da Palavra de Deus, em plena obediência ao Projeto que Ele tem para nós, com renúncia ao egoísmo, aos interesses mesquinhos, ao comodismo, ao orgulho. É um caminho de doação da própria vida a Deus e aos outros.

A vida segundo o Espírito implica em maturidade para viver os sofrimentos, as renúncias, as dificuldades, que nada representam se comparadas com a felicidade sem fim que aqueles que creem encontrarão no fim do caminho.

A vida segundo a carne é, por sua vez, marcada por uma vida onde impera o egoísmo, o orgulho e a autossuficiência, que conduz ao pecado, à morte, à infelicidade total.

Viver consiste em saber fazer escolhas: viver segundo a carne, ou viver segundo o Espírito. Sendo pelo Espírito, pautar a vida pela Palavra divina e por ela ser conduzido.

Na proclamação do Evangelho (Mt 13,1-23), em que nos apresenta a Parábola do semeador, somos convidados a refletir sobre o modo como acolhemos a Palavra de Deus, e como comunicamos a Boa-Nova do Reino, que jamais pode ser interrompida, e que aos poucos vai revelando seu esplendor e fecundidade, a vida que Deus quer para a humanidade.

Neste capítulo, encontramos sete Parábolas de Jesus: do semeador; do grão de mostarda; do fermento; do trigo e do joio; do tesouro escondido; da pérola valiosa e da rede.

A linguagem em forma de Parábolas mexe com os ouvintes, arma controvérsia, e é um método pedagógico de reflexão em busca da verdade.

O Evangelista Mateus tem como sua preocupação a vida da comunidade, de modo que nas sete Parábolas, e na interpretação das mesmas, apresenta Jesus como o Pastor que exorta, anima, ensina e fortalece a fé dos que creem.

Sejamos fortalecidos em nosso itinerário de fé, trilhando caminhos, ainda que difíceis e desafiadores, mas sempre iluminados pela Palavra Divina proclamada, acolhida, meditada, partilhada, celebrada e testemunhada.

Empenhemo-nos para que a Palavra caia num chão fértil, que deve ser nosso coração, para que produza os frutos por Deus esperados: justiça, paz, amor, alegria, felicidade...

A Palavra de Deus é eficaz; é preciso que tornemos nosso coração mais fecundo, em séria e atenta escuta e vivência desta Palavra.

Nutridos pela força da Eucaristia, inebriados pelo Vinho Novo, a nós oferecidos no Cálice da Salvação, sejamos cada vez mais comprometidos com a mesa de nossos irmãos no cotidiano, até que sejamos merecedores de ser partícipes do Banquete Eterno, na glória da eternidade. Amém. 

Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

Alegria da missão e da vocação profética (XVDTCB)

                                                                              

Alegria da missão e da vocação profética

“A missão de Jesus é a nossa missão”

A Liturgia da Palavra do 15º Domingo do Tempo Comum (ano B), convida-nos a refletir sobre a vocação profética que é um dom de Deus.

Com a passagem da primeira Leitura (Am 7,12-5), refletimos sobre a vocação e a corajosa atuação do Profeta Amós, que foi chamado por Deus, quando envolvido estava por suas atividades de pastor de gado e cultivador de sicômoros.

Amós não é um Profeta convencional, profissional e não vive da profecia. Para ele, viver a vocação profética é a mais bela expressão de confiança e compromisso com o Projeto de Deus, que estava sendo desvirtuado através da prática da injustiça, violação do valor sagrado do culto, e do triste empobrecimento de tantos à custa do luxo e da suntuosidade de poucos.

A vocação profética é sempre um risco e pode ser acompanhada de rejeição e expulsão. Sendo o Profeta a autêntica voz de Deus muitas vezes tentarão calar sua voz, como aconteceu com Amós.

Entretanto como bem diz o refrão de um canto – “se calarem a voz dos Profetas, as pedras falarão” ­– Amós não se calou e levou a termo sua missão apontando a infidelidade e as indesejáveis e trágicas consequências que viriam pouco mais tarde.

A passagem da segunda Leitura (Ef 1, 3-14) é um hino Paulino de riqueza imensurável. Uma passagem bíblica que deve ser lida e relida incontáveis vezes. Em forma de hino e Oração, Paulo oferece uma síntese doutrinal de toda a Carta.

Ele nos fala do Mistério Divino que se revela na história em diversos momentos: na criação por meio de Jesus Cristo;  através dos Profetas Deus também Se revelou e instruiu a humanidade; na plenitude dos tempos Se revelou enviando o próprio Filho; Se revelou pela Palavra Encarnada, anunciada, crucificada, ressuscitada; Se revela na ação e missão da Igreja, até que possamos alcançar a glória da eternidade.

É próprio do Amor de Deus revelar-se, dar-se a conhecer a quem se abre à Sua ação e presença. E ainda mais, Paulo nos fala que Deus desde o princípio nos predestinou e nos criou para sermos Santos e irrepreensíveis no amor para com Ele.

Deste modo, a vida cristã consiste em rejeitar o que não for digno para o cristão e abraçar tudo o que for digno deste nome. Nisto também consiste uma vida profética: saber discernir o que é bom e justo, santo e verdadeiro daquilo que não é bom e nos torna impermeáveis a graça e ao Amor transbordante de Deus para conosco, porque mergulhados na vida do pecado, escuridão e desamor.

Na passagem do Evangelho (Mc 6,7-13), Jesus, Profeta do Pai por excelência, envia os discípulos dois a dois para pregar a Boa Nova do Evangelho, anunciando a conversão, mudança de mentalidade e atitudes para a acolhida da chegada do Reino.

Não somente envia, mas lhes confere o poder que tem junto do Pai para expulsar demônios, curar os enfermos, inaugurar relações novas de vida e liberdade.

Há, porém, algumas exigências que devem marcar a vida dos discípulos do Senhor:

- a alegria da missão por Ele confiada; 
- o despojamento;
- a pobreza;
- a simplicidade;
- a liberdade total diante de tudo e de todos;
- a confiança incondicional no poder e na providência divina;
- a maturidade para suportar a rejeição e as adversidades.

Assim afirma o Missal Dominical:

“Quem anuncia não deve ter nada que pese, deve ser leve e desembaraçado, não tanto de alforje e capa, mas antes, livre de interesses humanos, de ideologias a defender, de compromissos com as potências deste mundo. Essas coisas não lhe permitem estar livre, condicionam-no, embaraçam-lhe o trabalho, enfraquecem-lhe o zelo, impedem-no de merecer crédito”.

Aprendamos com os Apóstolos, os Santos e tantos quantos que deram testemunho de sua fé, que sem paixão por Jesus, fascínio por Ele e pelo Reino, não há apostolado, não há missão e tão pouco profecia.

Ninguém é Profeta por iniciativa própria, mas a vocação profética é prerrogativa divina. Em cada tempo Deus suscita Profetas para serem Sua voz, Sua Palavra, a vibração de Suas cordas vocais.

No coração do mundo, o Profeta é o pulsar do coração  de Deus, sua missão consiste em ajudar a construir relações que estejam em perfeita sintonia com o Projeto Divino.

A missão do Profeta não é fácil. Ele é alguém que antes de tudo escuta a Palavra de Deus, acolhendo-a no mais profundo de si mesmo para anunciá-la e testemunhá-la com credibilidade.

O Profeta tem a missão de tornar a vida uma bela canção, uma bela melodia, em perfeito tom e sintonia com o Projeto divino, na mais bela harmonia, um canto novo de alegria, vida, justiça e paz:

“Não só a Igreja na sua totalidade, mas também cada cristão deve sentir-se escolhido pessoalmente, chamado e enviado: cada um de nós faz parte de um projeto cósmico, a construção do Reino de Deus. O grande pecado seria sentirmo-nos sozinhos ou sentirmo-nos inúteis” (1)

Reflitamos:

- Como vivo a vocação profética recebida no dia do meu Batismo?
- Quais são as vozes proféticas no tempo presente?

- Como procuro viver a santidade e a filiação divina?
- Qual é a missão que Jesus me confia?

- Sinto alegria em realizá-la?
- Onde e quando sinto a presença e ação de Deus se revelando em minha vida?


É sempre tempo de reavivar a chama profética, crepitar ardente no coração, para que a alegria da missão torne visível o quanto nos configuramos ao Senhor, e assim geremos e formemos Cristo em nós e nos outros. 

(1) Leccionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 714 

Imitemos o exemplo do Senhor (XVDTCB)

                                                   

Imitemos o exemplo do Senhor

Na introdução da Liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum (ano B), o Missal Dominical nos apresenta uma pequena citação do Documento “Lumen Gentium” (n.32):

“A distinção que o Senhor estabeleceu entre os ministros sagrados e o restante Povo de Deus, contribui para a união, já que os pastores e os demais fiéis estão ligados uns aos outros por uma vinculação comum: os pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço uns aos outros e aos fiéis: e estes deem alegremente a sua colaboração aos pastores e doutores.

Deste modo, todos testemunham, na variedade, a admirável unidade do Corpo místico de Cristo: a própria diversidade de graças, ministérios e atividades, consagra em unidade os filhos de Deus, porque «um só e o mesmo é o Espírito que opera todas estas coisas» (1Cor 12,11).”

Pela condição batismal, todos somos responsáveis pela evangelização, e dentro desta missão as funções se diferenciam para formar a “admirável unidade do Corpo místico de Cristo”.

A mútua colaboração torna-se mais do que indispensável dentro da Igreja, para que avançando em águas mais profundas encontremos respostas para as questões mais inquietantes de nosso tempo.

Os ministros, ordenados ou não, devem ter no mais profundo de si o desejo de ser a imitação do exemplo do Senhor no serviço feito com zelo, entusiasmo, para que todos tenham mais vida e vida plena.

O grande sopro que o Espírito Santo trouxe para a Igreja com a realização do Vaticano II foi a graça de todos, pelo Batismo, continuarem a missão do Senhor, com o Sacramento da Ordem ou não.

“Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16), disse Paulo. Que cada um de nós, ordenados, consagrados ou como cristãos leigos, renovemos constantemente a alegria de sermos membros do rebanho, e ao mesmo tempo cuidadores deste, pois assim Deus quis e nos confiou.

Não nos omitamos na consolidação da santidade a que fomos chamados, portanto, não há por que perdermos tempo com questões pequenas e insignificantes, com quirelas que nos consomem inutilmente, enquanto há um povo faminto e sedento de Deus, logo, sedento de vida, de amor e de paz.

sábado, 12 de julho de 2025

Medos paralisantes?! Jamais!

                                                      

                                                              

Medos paralisantes?!

Jamais!


Medos que nos submetem à inércia.

Medos que nos fazem inoperantes,

Longe daquilo que mais ansiamos: a própria liberdade,

Por falta de objetivos, submersos na mediocridade.

 

Medos paralisantes?!

Jamais!


Medo do congelamento da ética e dos bons princípios,

Que faz sucumbir vorazmente humanidade e planeta.

Medo que rarefaz as mais belas utopias;

Que faz naufragar belos sonhos e fantasias.

 

Medos paralisantes?!

Jamais!


Medos mórbidos que enfraquecem a luta.

Medos sórdidos que fazem perder o brilho da alma.

Medos que nos apequenam e nos fazem decrépitos.

Medos a serem vencidos, se formos intrépidos.

 

Medos paralisantes?!

Jamais!


Medos que desde o ventre nos acompanham,

Enfrentados, cotidianamente, permitem crescimento,

Com a virtude da fé, divina virtude por Deus concedida,

Exorciza o que nos paralisa, tornando bela a vida.

 

Medos paralisantes?!

Jamais!


Medos existem para serem enfrentados.

Se presente a virtude da fé, última palavra, medo, não será!

Se presente a esperança, mais do que superável;

Concretiza-se a caridade mais que desejável: indispensável!

 

Medos paralisantes?!

Jamais!

Com Ele a Palavra, a última Palavra:

“Não tenhais medo!”

(Mt 10,26-33). 



PS: apropriado para reflexão da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 10, 24-33; Mt 14,22-33; Mc 4,35-41; Jo 6,16-21)

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