segunda-feira, 21 de abril de 2025

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte III)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Ressurreição de Jesus, um evento transcendente e, ao mesmo tempo, real e histórico.

Qual foi o cenário real, após a Morte de Jesus, na vida dos discípulos?

Eles ficaram tristes, temerosos, céticos, incrédulos, duros de coração e cheios de dúvida, sem inteligência e lentos para crer (Lc 24,18; Mc 16, 4: Mt 28,17: Lc 24,37).

Evidentemente, somente um grande acontecimento conseguiria mudá-los, leva-los a retomar a missão confiada por Jesus, quando ainda Se encontrava no meio deles.

Somente a Ressurreição de Jesus reestabeleceria o primeiro entusiasmo e lhes devolveria a coragem, o ardor, a ousadia para anunciarem, a partir de Jerusalém, para todo o mundo, como alegres e convictas testemunhas da Ressurreição de Jesus e da Vida Nova que Ele tem a oferecer à humanidade.

Enquanto acontecimento transcendente, Jesus foi restituído com a Sua humanidade à vida gloriosa, plena e imortal de Deus, de modo que Seu corpo Ressuscitado “...mesmo mantendo Sua identidade e realidade humana, foi habilitado a viver eternamente na comunhão divina trinitária.

Ocorre a transfiguração gloriosa do corpo, que se torna, como diz São Paulo, um corpo ‘pneumático’ (espiritual: 1 Cor 15,44) no sentido forte de corpo inteiramente penetrado pelo sopro vital do Espírito criador de Deus, que o transformou de corruptível em incorruptível, de desprezível em glorioso, de fraco em forte (1Cor 15,42-43).” (1)

Enquanto acontecimento histórico e real, podemos afirmar fundamentados nos testamentos simultâneos e abundantes pelos diversos escritos do Novo Testamento: “Ela de fato constitui o ponto alto dos quatro Evangelhos e a linha vermelha que une a pregação eclesial desde Pedro até nossos dias” (p 1494).

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n.647), a passagem instantânea da humanidade de Jesus da morte à vida divina trinitária, é um evento essencialmente transcendente e meta-histórico, mas continua mantendo “...sólido e fundamentado vínculo com a história mediante a constatação do sepulcro vazio e a realidade das aparições, que constituem um misterioso encontro entre transcendência de Deus e imanência do homem, entre eternidade e tempo.

Por essa sua intrínseca natureza ‘do alto’, deixar-se reconhecer é um dom de graça do Ressuscitado” (2)

Em todas as manifestações do Ressuscitado, culminando em seu reconhecimento, foi sempre uma iniciativa e prerrogativa divina, não uma iniciativa humana:

É Ele quem Se dá a conhecer, que Se manifesta, que chama pelo nome, que partilha o Pão com os discípulos de Emaús, assim como o reconhecimento por Maria Madalena na madrugada da Ressurreição, quando fez uma refeição com gosto Eucarístico com os discípulos à beira do Lago de Tiberíades ( Jo 21, 1-14).

As aparições de Jesus Ressuscitado é o tocar a história, e com este contato pôde ser documentado pelos autores da Sagrada Escritura.

Evidentemente que não se trata de “uma historicidade imediata, mas mediata.

Os Evangelhos não testemunham a Ressurreição no momento preciso em que ela ocorre no tempo: só o Evangelho apócrifo de Pedro ousa apresentar de modo grosseiro o momento da Ressurreição de Jesus, descrevendo um fantasma enorme que se eleva até o céu. Imediatamente a histórica capta a fé dos discípulos no Cristo Ressuscitado com base nos dois fatos concretos do sepulcro vazio e do ciclo das aparições” (3).

Com isto, podemos afirmar, a partir da fé, que a Ressurreição não se trata de revivescência (CIC 646), nem imortalidade da alma, nem reencarnação e tão pouco uma simples lembrança de Jesus e dos Seus Ensinamentos que teria provocado na mente dos discípulos a convicção de uma presença d’Ele depois de Sua morte.

Afasta-se qualquer possibilidade de afirmar que a Ressurreição é uma criação psicológica dos discípulos, mas trata-se de um evento concreto, referiu-se essencialmente a Jesus e à volta à vida eterna do Seu corpo mortal:  

“...foi o encontro com Jesus Ressuscitado que provocou nos discípulos a fé na Ressurreição e não o contrário. A Ressurreição não foi a consequência, mas a causa da fé dos discípulos.

Não se tratou de uma realidade criada pelos discípulos por fraude (como queriam os sumos sacerdotes e os fariseus (Mt 27, 62-65), por alucinação (segundo interpretações racionalistas ultrapassadas) ou por conversão pós-pascal aos ensinamentos de Jesus, independentemente das aparições e do sepulcro vazio (segundo uma linha de interpretação contemporânea)” (4).

A Ressurreição e quaisquer outros termos indicam a volta à vida d’Aquele que havia morrido, e mais precisamente o retorno do corpo morto de Jesus à vida Trinitária.

Deste modo, a Sagrada Escritura também chama a Ressurreição de exaltação, glorificação, senhorio cósmico, entrada no santuário celeste (Hb 9, 11-12), presença viva (1 Cor 13,4; Rm 14,9).



(1) (4) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1493.
(2) (3) Idem – p. 1494.

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte IV)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Sendo a Ressurreição um evento transcendente, mas também histórico e real, é importante dizer que:

a) a Ressurreição confirma a divindade de Jesus que, como Filho de Deus encarnado, retorna à comunhão de Amor do Pai com Sua humanidade ressuscitada, como dissera para Marta, na ressurreição de Lázaro: “Eu sou a Ressurreição e a vida, quem crer em mim, não morrerá para sempre” (Jo 11,25). 

Oportuna a afirmação do Catecismo da Igreja Católica: “A Ressurreição do Crucificado demonstrará que Ele era verdadeiramente ‘Eu sou’, o filho de Deus e Deus mesmo’ (CIC 653).

b) Completa a revelação do Deus Trinitário: “do Pai, que glorifica o Filho Ressuscitando-O e elevando-O à Sua direita; do Filho, que com Seu Sacrifício redentor merece a exaltação à direita do Pai; do Espírito Santo, que Se confirma Espírito de vida e de Ressurreição (cf. 1 Pd 3,18; Rm 1,4)” (1)

c) A humanidade do Filho chega gloriosa à comunhão de Deus Trindade – na comunhão Trinitária de Deus está presente também a humanidade gloriosa do Filho.

d) Início dos eventos salvíficos últimos e definitivos, ou seja, em Jesus Ressuscitado o “eschaton” já se faz presente percebido por uma nova qualidade de vida divina, apontando para o destino e fim da História.

e) A Ressurreição tem um significado soteriológico fundamental – ela nos alcança a salvação – “Se, com a tua boca, confessas que Jesus é Senhor e se, em teu coração, crês que Deus o Ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9).

f) A Ressurreição se torna o evento da retomada da amizade entre Deus e a humanidade – Como Ressuscitado Jesus tem o poder espiritual de transformar homens e mulheres à Sua imagem para torna-los filhos do Pai.

g) A Ressurreição é a realização da nova humanidade liberta de toda escravidão do pecado e suas consequências (morte, sofrimento físico, moral e psicológico).

Jesus Ressuscitado é o homem novo que arrasta toda a humanidade nesse destino de novidades que os apóstolos, contando com sua presença e o sopro do Espírito, e na força de sua Palavra, os muitos sinais continuarão realizando: curas, libertação, expulsão de demônios, o bom combate da fé.

h) A Ressurreição é o cumprimento da esperança humana de imortalidade e de transcendência – todos carregamos a esperança do “transcendente”, o que o Teólogo K. Rahner chamou de “Esperança transcendental” – a procura de um sim à própria existência eterna e ao caráter definitivo da pessoa realizada (2).

i) A experiência da presença do Ressuscitado se dá de maneira especial na Ceia Eucarística, na escuta da Palavra proclamada e na Fração do Pão, que é o Corpo do Senhor, na grande Comunhão Eucarística.

Na Mesa Eucaristia não apenas celebramos o Memoria da Morte e Ressurreição de Jesus, mas participamos de Sua vida divina, da vida do Cristo Ressuscitado na História, com a realização de nosso encontro salvífico com Ele próprio.

Reconhecemos a presença de Jesus no corpo místico (Igreja) e no corpo eucarístico, confirmando assim Sua promessa e Palavra: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28,20).

j) A Ressurreição de Jesus: vocação e missão – com ela se dá a revitalização da vocação e confirmação da missão.   

Há a “reconvocação por parte de Jesus após a dispersão no momento da Paixão e da Morte. Durante quarenta dias, da Páscoa à Ascensão, Jesus, mediante as aparições, chamou os discípulos para O seguirem, dando a Pedro e a outros Apóstolos a Sua missão definitiva  (Jo 21,15-19), e, ainda, a missão confiada (Mt 28,18-20)".

k) A Ressurreição é uma experiência de perdão – os Apóstolos são enviados para estabelecer, através do perdão conferido, vínculos de amizade.

Aos Apóstolos é confiado o poder de perdoar os pecados da humanidade (Jo 20,22-23). Esta experiência da Ressurreição é “para os cristãos, experiência de misericórdia, de perdão, de renovação espiritual, de participação na vitória de Jesus sobre o pecado e sobre a morte” (3).

l) A Ressurreição é uma experiência de conversão total a Jesus – confiar totalmente no poder da presença nova do Ressuscitado. Os Apóstolos, após a experiência da presença do Ressuscitado, se entregam convertidos à causa primeira, à causa de Jesus e do Seu Evangelho:

“A conversão, portanto, não pertence apenas ao período pré-pascal, mas é parte integrante da Páscoa, como contínua passagem da incredulidade à fé, da tristeza à alegria, da imobilidade do medo ao entusiasmo da missão” (4).

m) A Ressurreição é um evento de libertação porque leva à transformação radical em todos os níveis:

“...da humanidade e da natureza dos círculos negativos do pecado, da morte, do sofrimento físico, moral e psicológico. Com a Ressurreição de Jesus, o homem é restituído à sua liberdade integral e se inaugura uma nova prática de vida, que se explicita no anúncio do Ressuscitado e do Seu Reino de justiça, de paz, de solidariedade humana” (5).

Isto nos faz lembrar a afirmação de Paulo:“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

n) A Ressurreição é um evento de real promoção da mulher, como discípula, ouvinte e mensageira da Palavra de Deus – as mulheres foram as primeiras a testemunhar a Ressurreição de Jesus anunciando aos discípulos a experiência vivida (Mt 28,1-10; Lc 24. 8-11): 

Trata-se de uma revalorização radical das mulheres, que não são as últimas, mas as primeiras no testemunho de fé de Cristo Ressuscitado. É emblemática a esse respeito a figura de Maria Madalena, que encontra Jesus ainda antes dos Apóstolos, tornando-se assim a primeira mensageira de Sua Ressurreição e Ascensão e merecendo assim o título de ‘Apóstola dos Apóstolos’ (Mulieris dignitatem 16)”.

Esta última experiência é tão importante que na Liturgia da Páscoa temos esta imortalização de extraordinário testemunho com a Sequência Pascal que vale a pena ser conferida e rezada mais uma vez.

E não poderia finalizar sem esta última citação: “O comportamento de Jesus de confiar também às mulheres as verdades divinas, como fizera, por exemplo, com a Samaritana (Jo 4,1-42), encontra nesse episódio seu nobre coroamento.

Contra todo legalismo da cultura da época, altamente discriminatória, as mulheres tornam-se de fato as primeiras testemunhas de Cristo Ressuscitado. Isso sublinha ainda uma vez a radical dignidade da mulher, sua inegável paridade com o homem e sua vocação de ser discípula, testemunha, profeta e mensageira, como os Apóstolos de Cristo Ressuscitado” (6).

De fato a Ressurreição é um evento transcendente, mas histórico e real, algo novo se inaugura em nossa inteligência.

Mais que conhecimento, discursos sobre a Ressurreição. Mais que palavras sobre ela, é preciso fazer a viva e real experiência em nosso meio, lembrando que não é fruto de busca humana, mas é antes de tudo uma graça que Deus concede àqueles que creem.

A Ressurreição é a experiência que fazemos d’Aquele que por Amor à humanidade Se fez Carne e, pelo mesmo Amor, na Cruz morreu. E um Amor assim vivido, não poderia para sempre ficar morto, vencido. O Pai O Ressuscitou, e por meio d’Ele nos enviou o Seu Espírito.


(1) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – pp. 1494/1495.
(2) Idem p. 1495
(3) (4) (5) Idem p. 1496

(6) Idem p. 1497

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte V)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Quanto à celebração do Mistério, a Igreja coloca a Ressurreição de Jesus no centro e no coração do Ano Litúrgico.

A Páscoa do Senhor é preparada pelo Tempo Quaresmal (quarenta dias), e o seu acontecimento dá origem ao Tempo Pascal (cinquenta dias) que se estende desde o Domingo de Páscoa, passando pela Solenidade da Ascensão no domingo antecedente ao Domingo de Pentecostes:

“Os quarenta dias do Sofrimento Quaresmal são resgatados pelos cinquenta dias da Alegria Pascal. A Sexta-feira Santa e o sábado de Aleluia, com sua providencial realidade de morte salvífica, não foram a última palavra do evento Cristo.

À morte de Jesus não se seguiu o silêncio absoluto de Deus. O Filho eterno feito homem, Crucificado e deposto no sepulcro escavado na rocha, não foi presa da morte...  a morte é derrotada e anulada pela plenitude e potência da vida divina.

Ao entrar na humanidade do Filho de Deus, ao imergir no oceano e vida que é Deus, a morte morre e se faz vida” (1)

Um período muito rico por diversos motivos, um deles é a Liturgia da Palavra, em que o Antigo Testamento dá lugar totalmente ao Novo Testamento:

“O tempo do anúncio passou. Celebra-se o tempo da realização da salvação com a leitura dos Atos dos Apóstolos e dos relatos evangélicos das aparições de Jesus aos discípulos, da Sua Ascensão ao céu e do dom do Espírito Santo à Igreja e a toda a humanidade.

A Liturgia respeita a sucessão cronológica dos eventos que constituem essencialmente um só Mistério, o da glorificação de Jesus, exposto, porém, em várias passagens como em um drama sagrado.

A celebração desse Mistério em diversas etapas tem um objetivo pedagógico (guiar gradualmente os fiéis à compreensão do Mistério) e espiritual (formar os fiéis para uma experiência de vida com Cristo)” (2)

Evidentemente, pela importância central da Ressurreição, ela oferece uma espiritualidade Pascal para toda a Igreja, em que “...a pregação cristã deve propor não apenas a experiência quaresmal de conversão e de purificação, mas também a pascal, de comunhão e de glorificação com o Cristo Ressuscitado.

Nesse sentido, pode-se legitimamente falar de uma espiritualidade da ‘via lucis’. Como sequência e ápice da renomada e tradicional espiritualidade da ‘via crucis’” (3)

A Espiritualidade “Via lucis” é fruto da “experiência de quem pretende retomar o caminho dos Apóstolos e dos primeiros discípulos que passaram da desilusão e do desconforto da Paixão e da Morte ao espanto e à alegria do encontro com o Ressuscitado.

O Mistério Pascal não se esgota no sofrimento do Crucificado, mas se cumpre plenamente na glória do Ressuscitado.” (4).

Dito de forma contundente, inequívoca e irrefutável: “O fruto maduro da Cruz é o esplendor da Ressurreição” (5)

O Bispo Santo Agostinho assim afirmou – “Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitando, tornou glorioso o dia em que, morrendo, havia tornado pleno de luto” (Sermo 5,1).

O Teólogo Yves Congar (cf Credo nello Spirito santo, I, Brescia, 1981, 69-72) afirma com precisão:

“O Pentecostes nada mais é que a Páscoa de modo completo, com seu fruto, que é o Espírito. Jesus só morre, só Ressuscita e só sobe ao céu – é esta Sua Páscoa – para nos transmitir o Espírito”.

Deste modo, a Espiritualidade Pascal tem matizes de forte transbordamento de alegria pela Ressurreição de Jesus, sendo inaugurada uma espiritualidade não de tristeza e de desespero, mas de grande esperança e de otimismo realista:

“Ela representa a cura definitiva da fragilidade humana e cósmica. É o nível máximo da libertação cristã. Uma antropologia da carne ressuscitada é efetivamente uma antropologia de libertação absoluta.

A vida do homem não é uma noite invencível, mas um dia sem ocaso. Sua existência não se resolve em um não ser, mas em um ser para sempre.

A morte não é, portanto, imortal, mas mortal; e desemboca no rio de vida que é Cristo Ressuscitado.

De ser para a morte, a pessoa humana se faz ser para a vida. No mundo, reino da morte, a Ressurreição depositou as sementes da vida sem fim” (6)

Um pouco mais sobre a “Via Lucis” é bem-vindo para que fortaleçamos nossa espiritualidade genuinamente Pascal, uma novidade de vida, testemunho, alegria, libertação, espaço de esperança e de humanidade renovada:

“A Espiritualidade Pascal é momento interior de experiência de vida nova no Espírito de Cristo Ressuscitado, e momento exterior de encarnação e irradiação da alegria e da esperança da Ressurreição.

No dia a dia, realizar a Páscoa é fazer com que toda a humanidade participe do convite da vida, de suas riquezas, de sua dignidade, de seus dons.

A Páscoa não é a idade do ouro, miticamente atrás de nós, mas o irresistível polo de atração que está diante de nós e nos arrasta irresistivelmente para a vida.

A história do cosmos e da humanidade está permeada de Páscoa e respira a esperança da Ressurreição: ‘O Ressuscitado é o motor da história, inserido por Deus no centro do devir humano.

O ponto de apoio é a vitória de Cristo sobre a morte, xeque de todas as conquistas, enigma insuperável para o homem em busca do seu significado’ (cf. S. Palumbieri, Cristo risorto leva dela storia, Turim, 1988, 292)” (7)

Renovando cada dia nossa fé no Ressuscitado, tendo a graça de acolher a sua manifestação, saibamos reconhecê-Lo, e tenhamos a graça de sermos aqueles a quem se referiu, quando permitiu que Tomé tocasse Suas Santas Chagas e disse –“Porque viste creste. Felizes os que não viram e creram” (Jo 20,29).

Felizes seremos se crermos e ao mundo anunciarmos e testemunharmos a Vida Nova de Jesus Cristo, por nós alcançada com Sua crudelíssima Morte e gloriosa Ressurreição.


(1) (2) (3) (4) (5) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1498.
(6) (7) Idem pp. 1498/1499

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte Final)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé 

A Ressurreição do Senhor tem suas expressões iconográficas diferenciadas.  A iconografia bizantina é uma delas. 

Impressiona  pela  beleza  de  conteúdo  e  por   todo o simbolismo  nela presente.

No ícone temos a participação do fiel com o Mistério que se celebra – “representa no centro Cristo Ressuscitado, resplandecente de glória e rodeado de personagens do Antigo Testamento e Novo Testamento. 

O Cristo glorioso, com a mão direita, segura à maneira de estandarte a Cruz de Sua Paixão e Morte, fonte da redenção universal e da humanidade.

Enquanto a mão direita tende para o alto a esquerda está voltada para baixo e segura a mão de um ancião para retirá-Lo do sepulcro.

O novo Adão, Jesus Cristo, tem o poder de libertar o velho Adão e toda a humanidade da escravidão da morte e da insignificância do reino dos mortos.

Com os pés, Jesus pisa e destrói esse reino, simbolizado por um velho que jaz ao chão entre as ruínas das portas do Hades derrubadas e com os instrumentos de tortura – pregos, tenazes, martelos – espalhados por toda a parte” (1)

No ícone, temos a glorificação de Jesus como também a glorificação do homem e a sua participação na vitória sobre a morte:

“Atrás de Adão, há uma longa fila de homens e de mulheres, como Eva, Moisés, David e Salomão, que também participam desse evento de redenção. Pode-se vislumbrar, entre outros, João Batista, que segurando o rolo do Evangelho, anuncia com a mão a vinda de Jesus: assim como entre os vivos, também entre os mortos João Batista é o precursor do Messias. (2)

A representação ocidental do Cristo Ressuscitado tem grande diferença de expressão e comunicação do Mistério da Ressurreição.

Um dos ícones é de Piero della Francesca que “apresenta Jesus que sai vitorioso do sepulcro segurando na mão o estandarte da Cruz como sinal de vitória.

A atenção do artista está inteiramente centrada em Jesus, sem nenhuma alusão à participação da humanidade nesse evento salvífico.

Aliás, com uma certa superficialidade teológica, os soldados que guardam o túmulo, únicos representantes da humanidade, ou dormem (como no caso de Piero della Francesca) ou estão apavorados”. (3)




Acentuando as diferenças: no segundo ícone há uma comunicação incompleta ou talvez equivocada do Mistério, no primeiro (o ícone bizantino) faz transparecer melhor a expectativa e a participação da humanidade na Salvação que Jesus veio trazer a toda a Humanidade, antes e depois d’Ele.


(1) (2) (3) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1497.

Entre Domingos... Imensurável Mistério de Amor!

Entre Domingos...
Imensurável Mistério de Amor!

Iniciamos as primeiras páginas do Tempo Pascal com o transbordamento de alegria em nossos corações. Porém, é sempre oportuno nos voltarmos para aquela Semana Maior, a Semana Santa...

Entre aqueles dois Domingos, Domingo de Ramos e Domingo de Páscoa, celebramos o Mistério da Salvação da humanidade realizado pelo Filho de Deus.

Com o Domingo de Ramos iniciamos nossa Semana Santa, entrando com Jesus em Jerusalém. Aclamamos como o povo fez “Hosana ao Filho de Davi! Bendito Aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”

Com a Quinta-Feira Santa iniciamos com toda a Igreja o Tríduo Pascal: Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor!

Aprendemos com “Jesus ao lavar os pés dos discípulos uma lição de humildade e amor incondicional”.

Continuamos em Vigília de oração com o Senhor. Vivendo intensamente a “Sexta-Feira Santa, na qual a morte de Jesus Cristo na Cruz é a supremacia da Misericórdia do Pai”.

“Jesus, amando-nos até o fim, morreu e foi exaltado por Deus, recebendo o nome que está acima de todo nome.”

Contemplamos silenciosamente “o lado trespassado de Cristo na Cruz, de onde nascemos e nos alimentamos”.

Depois de um Sábado silencioso, o vazio do Sacrário, com suas portas abertas, enquanto esperávamos a Vigília Pascal e o brado de “Feliz Páscoa! Sequemos as lágrimas! O tempo do medo e das trevas terminou. A vida venceu a morte.”

“Aleluia! Caminhemos confiantes porque o Senhor está vivo no meio de nós. Alegremo-nos e n’Ele exultemos!”

Aleluia! Aleluia! 

Com a Páscoa do Senhor, o Amor de Deus nos eternizou!


Com a Páscoa do Senhor, o Amor de Deus nos eternizou!

Um pequeno trecho da Homilia de um autor antigo da tradição cristã:

“A Paixão do Salvador é a Salvação da vida humana. Precisamente para isso Ele quis morrer por nós, a fim de que, acreditando n'Ele, vivamos para sempre. Ele quis, por algum tempo, tornar-Se o que somos, para que, alcançando a Sua promessa de eternidade,
vivamos com Ele para sempre...”

Uma citação Paulina que nos marca, sobretudo, neste Tempo Pascal em que vivemos:

“Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele. Sabemos que Cristo Ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre Ele. Pois Aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas, mas Aquele que vive é para Deus que vive. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo”  (Rm 6,8-11).

Uma reflexão para este maravilhoso Tempo Pascal:

O Amor Divino é eterno e forte.
Na humanidade de Jesus a morte,
Na ação do Pai pelo Espírito a perenidade.
No Corpo ressuscitado a eternidade.

O Amor Divino é eterno e presente.
De poder incomensurável, onipotente.
Na glorificação do Corpo do Filho amado,
O mistério da morte enfim foi derrotado.

Jesus assumiu a temporalidade provisória,
Num determinado momento da História.
Amor intenso pela humanidade vivido,
Somente o céu poderia ter merecido.

Sua temporalidade abriu-nos a eternidade.
Morto, na cruz, assumiu nossa fragilidade.
Com O Espírito e O Pai reina absoluto.
Não há mais morte, dor, pranto nem luto.

O Senhor Ressuscitou! O Amor venceu!
O grão no chão morreu, floresceu, frutificou!
Ele que sofrimento não mereceu e suportou,
Por Sua Morte e Ressurreição nos eternizou!
Aleluia! Aleluia!

Em poucas palavras...

 


A plena Oração

“Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na Oração do Senhor” (1)



(1)Santo Agostinho – Cf. Catecismo da Igreja Católica – n. 2762

 

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