segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Vivamos a loucura da Cruz

                                                        


Vivamos a loucura da Cruz


Na terça-feira da sétima Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9, 30-37), que trata do segundo anúncio da Paixão do Senhor.

Este anúncio desconcerta os discípulos, que compreendem que seguir Jesus implica em viver como Ele, ou seja, ser servo de todos.

Assim nos diz o comentário do Missal:

“... A experiência deveria mostrar que a suposta loucura evangélica é a suprema sabedoria. A cobiça, a intolerância, a inveja, a submissão aos instintos humanos de posse e de domínio, sempre geraram guerras e conflitos, encobertos ou declarados, não só no mundo, mas também nas comunidades cristãs e na própria Igreja.

Os frutos da paz e da justiça amadurecem lentamente, mas com firmeza, quando cada qual, em vez de tentar dominar os outros, torna-se humilde ‘servo de todos’. As comunidades cristãs, a Igreja, ‘serva e pobre’, devem oferecer ao mundo uma imagem da cidade do Alto.” (1)

Celebrando o Mistério da Eucaristia, mais uma vez, alimentados por Ela e pela Palavra proclamada, também nós, discípulos missionários, renovemos sagrados compromissos de nos tornarmos, cada vez mais, como Jesus, nosso Divino Mestre e Senhor.

Deste modo, cumpriremos plenamente a Lei Divina impressa nas entranhas de nosso coração, e viveremos o duplo Mandamento do Amor a Deus e ao próximo, e para tanto, supliquemos a graça divina necessária.

Oremos:

“Concedei, ó Deus todo-poderoso, que procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”



(1) Missal Quotidiano Dominical e Ferial - Editora Paulus - p.1959

O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz (XDTCB)

                                                      

O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz

A Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre o Projeto de vida e Salvação que Deus tem para nós, e sobre a liberdade de resposta que temos.

Na passagem da primeira Leitura (Gn 3,9-15), o autor sagrado nos apresenta a mensagem catequética: aceitar o Projeto de Deus, ou enveredar por caminhos de egoísmo, orgulho e autossuficiência.

A passagem pode ser dividida em três partes:

- Na primeira, temos a narração da criação, em que tudo era muito bom, na mais perfeita harmonia e comunhão com Deus, e também entre as criaturas;

- A segunda,  descreve o pecado do homem e da mulher e a quebra desta harmonia/amizade, introduzindo o desequilíbrio e a morte;

- Na terceira, temos as consequências do pecado para o homem e mulher e toda a criação.

Para o autor sagrado (que não faz uma descrição jornalística, mas catequética), Deus criou o homem e a mulher para a felicidade, mas o egoísmo, a injustiça e a violência foram introduzidos pelo próprio homem e mulher, devido às escolhas erradas, que provocam dinamismos de sofrimento e morte na obra da criação.

A serenidade e a paz dão lugar à vergonha e ao medo, quando nos rebelamos contra Deus e nos afastamos de Sua presença e Projeto.

Na passagem, “serpente” é um símbolo literário, para nos advertir que também podemos ser seduzidos pela mesma, e trilhar o mesmo caminho de orgulho, autossuficiência, com o prescindir de Deus e de Sua autêntica e única Proposta de felicidade. Evidentemente que não se trata de pecado cometido nos primórdios da humanidade, mas pode acontecer a cada instante e por todos nós.

A nós é dada a liberdade de escolha entre o bem e o mal: aceitar ou não o Projeto de amor e vida plena que Deus tem para nós.

Evidentemente, sem Deus incorremos em hostilidade para com o outro e com toda a criação. Viver à margem de Deus e de Sua presença, conduz a humanidade a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e morte, como nos retrata a primeira experiência de pecado e desobediência de nossos pais no Paraíso:

“Rompendo a relação com Deus, o pecado subverte todas as relações do homem e altera também a própria percepção que a criatura tem de si mesma. Mas Deus é maior que o pecado: conserva o Seu amor fiel pelo homem e abre-lhe um futuro de esperança e de salvação.

Tem assim início, a partir desta página bíblica, a histórica do pecado da Humanidade, mas também tem início aqui, e, sobretudo, a espera messiânica, a História da Salvação. A liberdade e o coração do homem serão o campo de batalha entre os dois grandes contendores: o Maligno e Deus. Desde agora, porém, já é dito quem será o vencedor” (1)

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 4, 13-5,1), o Apóstolo nos fala da centralidade e fundamento de nossa fé: a Ressurreição, que confere o verdadeiro sentido à vida cristã, para que não se perca diante do que for efêmero, e tão pouco desanimar diante das incompreensões e dificuldades, aprofundando a coerência exigida daqueles que se propõem a ser discípulos de Jesus Cristo (2).

O Evangelista Marcos nos apresenta, na passagem do Evangelho (Mc 3, 20-35),  a condição para pertencermos à família de Deus: fazer a Sua vontade e reconhecer Jesus como enviado do Pai, que realizou plenamente a Sua vontade.

Com a chegada de Jesus, inicia-se um novo tempo, porque “Ele é o Santo de Deus”. Ele veio “impor silêncio aos espíritos malignos, derrotá-los e acabar com o seu domínio. Ele revela com autoridade a vontade de Deus. Os que a cumprem são Seus irmãos e membros, com Ele, da família de Deus” (3).

A mensagem evangélica apresenta três diálogos de Jesus, sendo dois deles com Seus familiares e um com os escribas.

De modo especial, em relação aos diálogos com os familiares, Jesus nos apresenta a exigência para pertencer à Sua família: fazer a vontade de Deus, como Ele mesmo o disse:

E olhando para os que estavam sentados ao Seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’” (Mc 3, 34).

No diálogo com os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, é acusado de ser possuído por Belzebu, o príncipe dos demônios, e que por meio deste expulsava os demônios.

O fechamento à ação de Jesus revelava-se como blasfêmia contra o Espírito, que nunca poderá ser perdoada. A ação de Jesus é a plena manifestação do Espírito Santo, que sobre Ele pousava e continuará pousando sobre a Sua Igreja.

Cabe-nos reconhecer a força e ação do Espírito a agir em nós, para nos libertarmos das amarras do pecado. Somente Jesus tem Palavra de Vida Eterna, e somente Sua Palavra, acolhida com fé e vivida, nos faz verdadeiramente livres, pois Ele é a Verdade que nos liberta.

“A mensagem da Liturgia da Palavra está cheia de esperança: não há pecado pessoal ou universal que não possa encontrar o perdão de Deus, melhor, a alegria do Seu perdão: não há história de pecado pessoal ou original que não possa tornar-se história de salvação, graças ao Médico Divino que veio curar todos os doentes do corpo ou do espírito. Jesus é o redentor e o salvador de todos e de cada um, de cada pecado e de todos os pecados”. (4)

Dando mais um passo em nossa caminhada de fé, renovemos nossa fidelidade ao Senhor, suplicando o perdão de nossos pecados, para que, uma vez amados e perdoados, com alegria e ardor, coloquemo-nos diante de Deus, em relação de temor e piedade, para participar da construção do Seu Reino de amor e vida plena, e deste modo, Paraíso não será sinônimo de algo perdido, uma página virada do passado, mas sempre uma nova página a ser escrita, na obediência, amizade, intimidade com Ele.

Oremos:

“Pai Santo, que nos enviastes Vosso Filho para nos libertar da escravidão de Satanás, amparai-nos com as armas da fé, para
que no combate cotidiano contra o Maligno,
tomemos parte na vitória Pascal. Amém.” (5).


(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum – Ed Paulus - p.463
(2) (4) (5) Idem p.466
(3) Missal Quotidiano e Dominical – Paulus – p.1397

É tempo de semear (XIDTCB)

                                                           

É tempo de semear

 “O Reino de Deus é como quando alguém espalha
a semente na terra. Ele vai dormir e acorda,
noite e dia, e a semente vai germinando e
crescendo, mas ele não sabe
como isso acontece.
(Mc 4, 26-27)

Com a Liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum (ano B), contemplamos a Proposta que Deus tem para a humanidade: vida plena e felicidade sem fim.

Na passagem da primeira Leitura, com o Profeta Ezequiel (Ez 17,22-24), vemos o Povo de Deus exilado na Babilônia, que jamais ficou esquecido por Deus, porque Ele fiel à Sua Aliança.

O Ministério profético de Ezequiel se dá neste contexto dificílimo vivido pelo Povo de Deus, marcado pela deportação e infidelidade. Cabe ao Profeta provocar a conversão e a esperança de voltar à sua terra e reconstruir sua história.

Apesar das dramáticas circunstâncias vividas pelo povo, o Profeta tem uma palavra de confiança: Deus não abandonou o Seu Povo, e irá construir com ele uma nova história de salvação e de graça.

O Profeta expressa a vontade amorosa de Deus e exorta a todos para uma atitude de humildade, na abertura e acolhida dos apelos e desafios de Deus.

As palavras de Ezequiel revelam a ação infalível de Deus, que não esquece os Seus compromissos, jamais abandona o Povo com quem Se comprometeu, de modo que o medo e o pessimismo devem ceder lugar à confiança e à esperança. Deus não desiste de nós, porque nos ama e quer nos salvar.

“Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às Suas promessas e aos compromissos que assumiu com o Seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.” (1)

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 5,6-10), refletimos sobre a vida, que é marcada pela finitude e transitoriedade, mas que deve ser vivida na espera do encontro com Deus, para uma vida definitiva e eterna. O Apóstolo Paulo acentua que os cristãos são peregrinos sem morada permanente nesta terra.

Também, hoje, vivemos a cultura do provisório, do efêmero, e sua mensagem ultrapassa os tempos, convidando-nos a buscar o que for duradouro e nos garanta a vida plena e definitiva.

Com a passagem do Evangelho (Mc 4,26-34), temos uma catequese sobre o Reino Deus, através das duas Parábolas que Jesus nos apresenta.

“Para fazer chegar a todos a Sua proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as ‘Parábolas’” (2)

As Parábolas, portanto, são excelente arma de controvérsia, diálogo e questionamento. Elas provocam, mexem com os ouvintes, fazem pensar, e levam a tomada de atitudes, com consequências para a vida.

O Reino de Deus acontece apesar do aparente fracasso, e é necessária a paciência e consciência de nossa pequenez crendo na ação divina, que aos poucos vai fazer passar as coisas antigas e fará novas todas as coisas, e teremos o novo céu e a nova terra que Deus oferece a todos nós.

O Reino de Deus é uma iniciativa divina e acontece na serenidade, confiança, paciência, esperança a partir de pequenos gestos, como a menor de todas as sementes.

Através do aparentemente insignificante, Jesus inaugura a realidade do Reino de Deus:

“Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que atua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena”. (3)

As Parábolas nos revelam a ação de Deus através dos pequenos, humildes, pobres e em todos que renunciaram aos esquemas de triunfalismo e ostentação, e é destes que Deus se serve para a transformação do mundo:

“Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, frustramos o Projeto de Deus, e impedimos que o Reino de Deus Se torne realidade no mundo e nas nossas vidas.” (4)

Celebremos a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, apesar de nosso trabalho parecer insignificante e desprezível, mas não o é aos olhos de Deus, que tem um Projeto de vida plena e feliz para toda humanidade.

A nós cabe lançar a semente com toda humildade, confiança, esperança, e aguardar com paciência os frutos que virão para que outros possam saborear:

“Não duvidemos de que a força do Evangelho se desencadeará em nós, muito mais do que poderíamos esperar ou imaginar. Vivemos no tempo da paciência e não no da colheita nem da paga.” (5)

Deus não falha, e Seu tempo não é o nosso tempo, definitivamente.
Como peregrinos no tempo, somos vocacionados para a eternidade, para a vida definitiva, como nos falou o Apóstolo Paulo em Sua Carta aos Coríntios.

Supliquemos a vinda do Reino de Deus, como o fazemos ao rezar a Oração do Senhor, o Pai Nosso: Venha, Senhor, o Vosso Reino, que anunciamos e testemunhamos.

Como é bom trabalhar na construção do Reino, como Igreja serva e servidora, misericordiosa e missionária, como nos lembra o Objetivo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023):

Objetivo Geral:

EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”



Fonte inspiradora e citações (1) (2) (3) (4):
(5) Missal quotidiano dominical e ferial  p.1432 

“O medo tomou conta de mim” (XDTCB)

“O medo tomou conta de mim”

“Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando:
‘Onde está você? ‘
E ele respondeu:
‘Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo,
porque estava nu; por isso me escondi"
(Gn 3,9-10)

O medo tomou conta de mim, já não sei mais quem sou.
Quis ser como Deus e descobri minha insana pretensão.
Não soube corresponder ao Teu desígnio de amor,
Não fui capaz de me relacionar como criatura Tua
Feita do barro, em Tua mão divina de oleiro.

O medo tomou conta de mim, lamentavelmente, me distanciei de Ti
Permiti que o pecado corroesse minhas fibras mais profundas,
Manchei a minha alma com nódoas do pecado,
E mergulhei no mais profundo do vale de minha miséria.
A Ti suplico, com clamores e lágrimas, Tua divina misericórdia.

O medo tomou conta de mim, perdi a luz do caminho;
Permiti que a escuridão das trevas me envolvesse;
Coração seduzido por brilhos fugazes e enganadores,
Ferindo-me por entre espinhos, quase insuportáveis dores,
Pisando e me ferindo em pedras, caindo no abismo de mim mesmo.

O medo tomou conta de mim, não seja ele para sempre.
Volto para Ti com coração chagado, envergonhado, ferido,
Como o filho mais novo da Parábola da Misericórdia identificado,
Ponho-me em Tua presença, quero Teu perdão, ainda que...
Ainda que não mereça, Pai Eterno de infinita bondade.

Perdão pela desobediência cometida.
Perdão pela arrogância em mim invadida.
Perdão pela ingratidão ao Teu amor infinito.
Perdão pela amizade corrompida, traída.
Sou Teu, tão frágil, cura minhas feridas.

Cessa meu medo. Acolha-me, ainda que eu não mereça.
Renova-me! Retira-me do lamaçal do pecado,
Ao qual, no mau uso da liberdade, sucumbi.
Perdoa-me! Não posso viver sem Ti.
Não posso viver sem Teu divino amor. Amém.

Vontade divina realizada, à sua família pertencemos (XDTCB)

                                                   


Vontade divina realizada, à sua família pertencemos

No 10º Domingo do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 3,20-35), na qual Jesus nos ensina que Sua família é constituída por todos aqueles que fazem a vontade de Deus, e não tão apenas pelos laços de sangue.

É condição indispensável, portanto, um compromisso com o Evangelho e com o Reino de Deus, sem jamais fazer a separação entre que o se crê e o que se vive, o que se celebra e o que se traduz no cotidiano, nos mais diversos âmbitos da vida.

Deste modo, para Jesus, há algumas exigências indispensáveis para que alguém se torne importante para Ele, e de Sua família faça parte:

- ouvir a Palavra de Deus, colocando em prática;
- pautar toda existência pelo Mandamento maior do Amor a Deus e ao próximo; amando como Ele nos ama – “amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei” (Jo 13,34);

- saber perdoar, e procurar o perdão, quando necessário, como expressão de que todos somos passíveis de erros e necessitados do perdão do outro, para viver a autêntica misericórdia que Ele nos ensinou;
- ter a alegria de partilhar o melhor que se possui, para que o milagre da multiplicação continue a ser realizado, de modo que não haja necessitados entre nós;

- aprender que, na acolhida do outro, se acolhe o próprio Jesus, sobretudo se for um pequenino, pobre, doente, marginalizado;
- saber se esforçar, quando preciso, em ser sinal de consolo, compreensão e solidariedade, como a mais bela expressão da compaixão divina com expressões concretas;

- ser comprometido com a Boa-Nova do Reino, com coragem e profecia, sem deixar-se submergir no medo, na omissão e na indiferença;
- viver a doação pura e simples, sem nada esperar em troca, na mais perfeita alegria;

- saber ser feliz com os que são felizes, mas também saber chorar com os que choram,
- não somente se encontrar e se reunir para celebrar, orar, mas fazer o necessário prolongamento no dia a dia, jamais separando a Mesa da Palavra e do Altar das incontáveis mesas do cotidiano .

Há outras exigências, mas estas já são o bastante para avaliarmos o quanto somos, de fato, membros da família de Jesus.

Neste sentido, contemplamos Maria, Sua Mãe, como a mais perfeita e integrada em Sua família, porque não somente foi Mãe da Salvador, pela ação do Espírito Santo, mas em todo o seu viver sempre colocou a vontade Deus acima da própria vontade.

Maria é por excelência modelo de escuta à prática da Palavra, e nos ensina o mesmo fazer, e mais: com ela também podemos contar, para que o mesmo façamos, ressoando em nosso coração suas palavras que não emanaram de seus lábios apenas, mas de um coração pleno do amor e graça divina:

“Fazei tudo o que o meu Filho vos disser” (Jo 2,5).

Vivamos o tempo da paciência (XIDTCB)

                                                            

Vivamos o tempo da paciência

Sejamos enriquecidos por um trecho do Comentário do Missal Quotidiano Dominical e Ferial (p.1432), em preparação ao 11º Domingo do Tempo Comum (ano B).

“A rejeição e a esterilidade não podem originar nem justificar nenhum tipo de fatalismo preguiçoso.

‘Caminhamos sem O ver’, mas ‘guiados pela fé’, cheios de confiança, devemos ‘esforçar-nos para agradar ao Senhor’.

Não duvidemos de que a força do Evangelho se desencadeará em nós muito mais do que poderíamos esperar ou imaginar.

Vivemos no tempo da paciência e não no da colheita nem da paga”

Oremos:

Concedei-nos, ó Deus, a graça de seguirmos os passos de Vosso Amado Filho, e a linfa vital do Vosso Espírito, a seiva do amor, lançando no chão dos corações de muitos a Semente de Vossa Palavra, para que, a Vosso tempo, venha a dar os frutos por vós esperados. Amém.

O Semeador, Sua Palavra, nosso coração... (continuação)

O Semeador, Sua Palavra, nosso coração...

Como acolhemos a semente da Palavra Divina?
Ao cair sobre o chão do nosso coração,
que tipo de terra a Palavra encontra?

As três citações que ora apresento são preciosas para que continuemos nossa reflexão.

O Bispo e São João Crisóstomo (séc. V), que nos adverte para algo que é terrível e que pode acontecer com mais frequência que possamos pensar: o homem pode fechar-se à Palavra de Deus, recusá-la e, consequentemente, torná-la ineficaz, não produzindo, assim, os frutos maravilhosos que Deus espera e que poderiam ter sido multiplicados:

“É possível que a rocha se transforme em boa terra; que o caminho deixe de ser pisado e se converta também em terra fértil, e que os espinhos desapareçam e deixem crescer exuberantemente as sementes.

E se não se opera em todos essa transformação, não é, certamente, por culpa do semeador, mas daqueles que não querem mudar”.

No mistério de acolhida da Palavra e no empenho de fazê-la brotar, multiplicar, quem na alma não deixa habitar o verme da preguiça e acomodação, por mais que tenha feito dirá que nada ainda fez, é o que nos leva a refletir São João da Cruz:

“A alma que ama a Deus de verdade não deixa, por preguiça, de fazer o que pode para encontrar o Filho de Deus,
o Seu Amado. E depois de ter feito tudo o que pode,
não fica satisfeita e pensa que não fez nada”.

E Padre Antônio Vieira sobre este Evangelho afirmava que a Palavra pode não dar fruto, mas dará sempre efeito: efeito de salvação ou efeito de condenação!

É a mais pura e incontestável verdade, ninguém ficará neutro diante da Palavra do Senhor que escutou, ou a acolhe, dá fruto nela e acolhe a salvação, ou a rejeita, para ela se fecha e por causa dela se perde, lamentavelmente, miseravelmente, complemento!

Concluo dizendo que ser filho de Deus, discípulo missionário não é fugir dos confrontos, conflitos, sofrimentos e perseguição. Que Deus nos conceda a maturidade para suportar as dores do parto, pois nisto consiste a vida no Espírito.

Ressoa o que o padre Antonio Maria Zacaria nos disse (séc. XVI): jamais, do Senhor, covardes e desertores o sejamos.

Imitemos o Apóstolo Paulo... “Nós que escolhemos um tão grande Apóstolo como guia e pai, e fazemos profissão de imitá-lo, esforcemo-nos para que a nossa vida seja expressão da sua doutrina e do seu exemplo. Pois não seria conveniente que, sob as ordens de tão insigne chefe, fôssemos soldados covardes e desertores, ou que sejam indignos os filhos de um tão ilustre pai.”

Assim é o ser cristão: viver em tensão para o futuro da humanidade e do universo em Deus. A natureza e a humanidade estão envolvidas neste processo de dar à luz o mundo novo. Podemos deste processo, audazes, corajosos protagonistas sermos, ou não.

Estamos no tempo da acolhida e fecundação da Palavra. Que frutos produzamos, que outros comam, ainda que não vejamos os frutos e que deles não possamos saborear. 

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