domingo, 24 de novembro de 2024

Se quisermos reinar com o Senhor... (Cristo Rei)

                                                              

Se quisermos reinar com o Senhor...

 

Com toda a Igreja, celebraremos, no próximo domingo, a Solenidade de Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo, e com vistas à preparação reflitamos o Sermão escrito pelo Bispo Santo André de Creta (séc. VIII):

 

Digamos também nós a Cristo: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9), Rei de Israel (Mt 27,42). Levantemos para Ele, quais folhas de palmeira, as derradeiras Palavras na Cruz.

 

Vamos com entusiasmo para a frente, não com ramos de oliveira, mas com as honras das esmolas de uns aos outros. Estendamos a Seus pés, como vestes, os desejos do coração.

 

Deste modo, pondo Seus passos em nós, esteja dentro de nós, e nós inteiros n’Ele; e Se manifeste Ele totalmente em nós.

 

Repitamos para Sião a aclamação do Profeta: Tem confiança, filha, não temas. Eis que vem a ti teu rei, manso e montado no jumentinho, filho da que leva o jugo (cf. Zc 9,9).

 

Vem Aquele que está presente em todo o lugar e ocupa tudo, para realizar em ti a salvação de tudo. Vem Aquele que não veio chamar os justos, mas os pecadores à conversão  (Mt 9,13), para fazer voltar os desviados pelo pecado. Não temas, pois. Está Deus no meio de ti, não serás abalada (cf. Dt 7,21).

 

De mãos erguidas, recebe-O, a Ele que gravou nas próprias mãos tuas muralhas. Acolhe-O, a Ele que cavou em Suas palmas Teus fundamentos. Recebe-O, a Ele que tomou para Si tudo o que é nosso, à exceção do pecado, a fim de mergulhar tudo que é nosso no que é d’Ele.

 

Alegra-te, cidade-mãe, Sião; não temas. Celebra tuas festas (Na 2,1). Glorifica por Sua misericórdia quem em ti vem para nós. Mas também tu, rejubila-te com entusiasmo, filha de Jerusalém, canta, dança de alegria. Resplandece, resplandec' (assim aclamamos junto com Isaías, o clarim sagrado), porque chegou tua luz e nasceu sobre ti a glória do Senhor (Is 60,1).

 

Que luz é esta? Só pode ser aquela que ilumina a todo homem que vem ao mundo (cf. Jo 1,9). A luz eterna, luz que não conhece o tempo e revelada no tempo, luz manifestada pela carne e oculta por natureza, luz que envolveu os pastores e Se fez para os magos guia do caminho. Luz que desde o princípio estava no mundo, por quem foi feito o mundo e o mundo não a conheceu. Luz que veio ao que era Seu, e os Seus não a receberam.

 

Glória do Senhor. Qual glória? Na verdade, a Cruz em que Cristo foi glorificado. Ele, esplendor da glória do Pai, como Ele próprio, estando próxima a Paixão, disse: Agora é glorificado o Filho do Homem e Deus é glorificado n’Ele; e o glorificará sem demora (cf. Jo 13,31-32).

 

Chama de glória neste passo Sua exaltação na Cruz. Porque a Cruz de Cristo é glória e, realmente, sua exaltação. Por isto diz: Eu, quando for exaltado, atrairei todos a mim (Jo 12,32).

 

Lembremo-nos daquela manhã de Ramos em que O aclamamos Rei, Filho de Davi, demos “Hosana no mais alto dos céus”, e alguns dias depois, celebramos a Sua Paixão e Morte, por amor de Deus.

 

Acolhamo-Lo como Pessoa e Palavra, como vida e Projeto a ser vivido, no testemunho autêntico da fé, com confiança inabalável, perseverança até o fim, permanecendo n’Ele e com Ele no carregar de nossa cruz.

 

Seja nosso coração aberto para que nele o Senhor faça morada e possa reinar, e o Seu nome impresso em nossa mente e coração e marcados pelo Selo de Seu Espírito, vivamos a graça da filiação divina, no dia do Batismo recebida, pois o cristão tão somente alcança a felicidade completa quando celebra com fé, e não a separa do seu existir; quando a fé é celebrada e a vida corresponde com gestos e compromissos, que se renovam com a força que nos vem da Eucaristia.

 

Por isto, exultemos de alegria pela graça de poder servir, e que esta graça nunca nos falte, porque de força divina precisamos, do contrário, sucumbiríamos sob o peso da cruz.

 

Reinemos com Jesus sendo sinal de Sua luz no mundo. Cristão é por natureza alguém que tem a luz, porque seguindo a Divina Fonte da Luz não caminha nas trevas.

 

Gloriemo-nos na Cruz de nosso Senhor, como nos exorta o Apóstolo Paulo (cf. Gl 6, 14), pois cremos que a Cruz tem aparência de derrota, mas é verdadeiramente sinal de vitória.

 

Ela é um instrumento que, se assumido por amor, redimensionado no Mistério Pascal que cremos e professamos, nos alcançará a glória da imortalidade, o esplendor máximo e inesgotável da luz e alegria do céu.

 

Proclamemos Jesus Rei, mas um Rei que  vem fazer de Sua vida, Amor, doação, entrega, e Seu reinado não corresponde às realidades terrenas, porque tem outros princípios e fundamentos. Jesus, um Rei que vem a nós, justo e salvador da humanidade.

 

Veio, vem e virá sempre. Por ora, a vigilância ativa, e assim nos preparamos para o início de um novo Ano Litúrgico, com o Tempo do Advento que se anuncia.

 

Concluindo, a Deus elevemos glória e louvor, honra e poder por meio de Seu Filho Rei e Senhor de nossa vida.

 

Reinar com Jesus é amar como Ele amou, viver como Ele viveu.

 

“Cristo reina dando-Se a Si mesmo” (Cristo Rei) (ano C) (22/11)


“Cristo reina dando-Se a Si mesmo”

“Em verdade Eu te digo, ainda hoje estarás comigo
no Paraíso” (Lc 23,43)

Celebrando a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (ano C), a Liturgia nos propõe a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 23,35-43), com a narração da crucifixão de Jesus.

Na Cruz, temos o encontro mais comovedor do malfeitor com Jesus, que se torna, por sua vez, o último modelo de convertido ao Senhor.

O “hoje” da Salvação de Jesus é sempre uma graça que se apresenta para todos nós, para toda a humanidade, no entanto é preciso vivenciar um itinerário: aproximação de Jesus, a confissão do pecado, o pedido de perdão e de salvação, a absolvição da culpa e o perdão (Lc 23,40-43).

Podemos vivenciar este itinerário na graça do Sacramento da Penitência, sinal visível do amor de Deus por Sua misericórdia que nos acolhe como pecadores, e concedendo-nos o perdão pelo Presbítero, somos reconciliados com Ele e com nosso próximo.

Também temos nesta passagem que, para reinar com Jesus, é preciso fazer de nossa vida uma doação plena de si mesmo:

 “Cristo reina dando-se a Si mesmo, perdendo a Sua vida para que o mundo possa viver. Ele inverte a lógica do possuir e propõe a mentalidade da doação generosa de Si” .(1)

O discípulo missionário do Senhor é alguém que encontrou Jesus Cristo, e com isto, passou a ter um novo sentido em sua vida, com o alargamento dos horizontes, com o sagrado compromisso com o Reino de Deus.

Oportunas as palavras da Conferência de Aparecida (2007):

“Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” .(2)

Celebrando o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas, elevemos orações, a fim de que experimentando a misericórdia de Deus, por meio de Jesus Cristo, renovem a alegria de serem discípulos missionários do Reino, sendo sal da terra, fermento na massa e luz do mundo.

Urge que tenhamos cada vez mais uma Igreja decididamente missionária, e esta página do Evangelho, uma catequese missionária encorajadora, em que reconhecemos a Realeza de Jesus no Trono da Cruz, nos faz discípulos missionários d’Aquele que Reina dando a vida em favor de todos nós.

Portanto, se quisermos reinar com Jesus, façamos de nossa vida uma sincera e fecunda doação de si mesmo, trilhando o caminho da Cruz, que nos credencia para a contemplação, um dia, da glória da eternidade, a plenitude de amor e luz: o Céu.


(1)         Lecionário Comentado – Tempo Comum – Vol. II – Editora Paulus – 2011 – pá.863.
(2)        Conclusões da Conferência de Aparecida e do Caribe – 2007 – n.229

Amar e solidarizar-se ativamente para reinar com Cristo (Cristo Rei) (ano A)

                                                                        

Amar e solidarizar-se ativamente para reinar com Cristo

Na Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo (ano A), a Palavra proclamada, escutada, acolhida, meditada e vivida nos propõe e nos inspira a um balanço de nossa vida cristã. 

Celebramos a Solenidade em vigilante expectativa da última vinda do Senhor, servindo-O na alegria, fazendo frutificar o amor que vence no dia do juízo final.

A passagem da primeira Leitura (Ez 34,11-12.15-17) nos remete ao tempo do exílio (séc. VI a.C.).  O Profeta Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados, transmitindo ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não os abandonou, tampouco os esqueceu.

O profeta Ezequiel ajuda o povo a perceber a causa de seu sofrimento: a infidelidade. Mas ao mesmo tempo anuncia um novo tempo em que Deus mesmo será o Pastor que vai dirigir o Seu rebanho.

Fala da ação de Deus que conduzirá suas ovelhas. Conhece e delas cuida com todo carinho e delicadeza; exercendo uma autoridade que se funda na entrega e no amor (absolutamente diferente dos pastores que conduziram o povo de Deus a esta triste e desoladora situação de exílio).

Exorta o povo para que se entregue confiante nas mãos de Deus: atravessarão os vales sombrios, serão levados no colo por Ele, e os pés não se ferirão nas pedras do caminho. É preciso, portanto, superar toda forma de egoísmo e autossuficiência. 

Deste modo, trata-se de uma mensagem atualíssima para os nossos dias, pois se propaga uma mentalidade de que é possível o alcance da felicidade sem Deus, insistindo-se na negação de Sua existência, pregando-se a “libertação de Deus”.

Reflitamos:

- Quais são os pastores que nos conduzem dentro e fora da Igreja e como o fazem?
- O que e quem move, guia e motiva o nosso existir?

- Quais as vozes que ouvimos e que nos conduzem?
- Como superamos o egoísmo e a autossuficiência para correspondermos a imagem do Bom Pastor?

- Procuramos a felicidade com Deus e n’Ele?
- Confiamos plenamente em Deus?

Na passagem da segunda Leitura (1Cor 15,20-26.28), o Apóstolo Paulo se dirige a comunidade de Corinto. Trata-se de uma comunidade viva e fervorosa, mas que não deixa de ter problemas de ordem moral, com suas querelas, disputas e lutas, sedução à sabedoria filosófica. Sendo uma cidade portuária traz consigo problemas próprios desta realidade. Sofrem a influência da cultura grega e com isto a dificuldade de aceitar a Ressurreição

Paulo fala sobre o fim último da caminhada daquele que crê: participar plenamente no Reino de Deus e a fé na Ressurreição é a âncora o “selo de garantia”.

O Reino como meta deve impulsionar aquele que crê, não deixando lugar para o medo que paralisa. 

Crendo na Ressurreição tudo ganha um novo sentido, um novo impulso. 

Com Jesus serão desatados os nós de uma tragédia sem saída, a História será redimida, porque através de nossa história em Sua história inserida, serão reatados os “fios quebrados” que nos desfiguram e nos desorientam.

Com Sua Morte e Ressurreição fomos reconciliados e reatados no Amor do Pai, a Nova e Eterna Aliança de Amor foi selada e nada poderá quebrá-la, rompê-la. Assim é o irrenunciável e eterno Amor de Deus.

Desde a alvorada ao ocaso da vida, haveremos de ser fecundados pela graça e pela força da Ressurreição, superando o horizonte limitado pela vida terrena. A fé na Ressurreição é a maior possibilidade ampliação de qualquer horizonte de nossa existência.

Na passagem do Evangelho (Mt 25,31-46),  Jesus nos fala do juízo final, nos revela  qual será o fim daqueles que se mantiveram ou não vigilantes e preparados para a Sua vinda gloriosa “... para que Deus seja tudo em todos)” (1Cor 15,28).

Lembremo-nos do contexto da comunidade de Mateus que era de desinteresse, instalação, acomodação, rotina. Era preciso despertá-la para uma atitude vigilante e comprometida na espera do Senhor que vem. Vigilância para o juízo final.

O critério de julgamento será o amor ou a indiferença vivida para com os pobres (famintos, sedentos, doentes, presos, estrangeiros, nus). Somente o amor concreto e a solidariedade ativa nos credenciam para a eternidade. 

Somente o amor na simplicidade e na gratuidade nos eterniza. Quem vive a misericórdia, o amor, a solidariedade ativa não tem motivo para temer o julgamento final (Tg 2,12-13).

Os discípulos missionários do senhor tem que amá-Lo e viver como Ele. Deus não quer condenar ninguém. A autoexclusão de Seu amor está em nossas mãos. Não há lugar para egoísmo e indiferença na construção do Reino de Deus.

O Reino de Deus é a realidade que Jesus semeou e nos falou através de diversas Parábolas. Cabe a nós, como discípulos missionários, edificá-lo na história através do amor concreto, em solidariedade ativa até que Ele venha e instaure o Reino definitivo, na realização da Parusia.

Jesus também reconhece que existe um cristianismo autêntico mesmo fora da Igreja visível, e que aqueles que não O conheceram mediante o Evangelho, nem por isto ficam isentos do Mandamento do Amor, que se estende a toda a humanidade, nem da sua manifestação na solidariedade ativa.


Reflitamos:

  - Como vivemos o amor e a solidariedade ativa?

- O que fazemos para que o Reino de Deus deixe de ser uma imagem e seja, de fato, o Reino do amor, da verdade, da graça, da liberdade, da santidade e da vida?

- Fazemos da religião um ópio que nos anestesia, nos entorpece ou ela é, de fato, a expressão e o revigoramento de nosso compromisso com os empobrecidos, na verdadeira adoração a Deus?

Contemplemos a Cruz de nosso Senhor: O Seu trono.

Contemplemos Sua coroa, a coroa de espinhos dada pelos homens, a Coroa da Glória dada pelo Pai.

Fixemos nosso pensamento e abramos nosso coração ao Seu Novo Mandamento, o Mandamento do Amor: "Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15,12).

A Sua Lei seja a nossa Lei: o amor, vivenciado na mais bela página das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12). Que ela seja nosso programa de vida para que um dia também participemos do Reino definitivo, quando Ele vier em Sua glória.

Sejamos armados em Seu exército com a arma do amor.

Coroamos Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo,
a cada momento, quando levamos a sério nossa fé, 
damos corpo e conteúdo à caridade no coração inflamada, 
e somos movidos pela fé na Ressurreição; 
quando a solidariedade, a fraternidade, o amor à vida, 
a paixão pelo Reino nos consome; 
quando nos sentimos fascinados por Sua Pessoa e Palavra e, 
pelo nosso pregar e viver,
    provocamos o mesmo fascínio, 
sem jamais perder a esperança.

“Quem nos separará do amor de Cristo?”

                                                           

“Quem nos separará do amor de Cristo?”

No dia 24 de novembro, celebramos a memória do Presbítero Santo André Dug-Lac e seus companheiros mártires, e o Ofício das Leituras nos apresenta a Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, de 1843, sobre a participação dos mártires na vitória de Cristo Rei.

“Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados pelo amor de Deus, possais louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).

O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza.

Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna!

Graças a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me alegre e contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta todo o peso da Cruz, deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só testemunha do meu combate, mas combatente, vencedor e consumador de toda luta. Assim, sobre Sua cabeça é que foi colocada a coroa da vitória, de cujo triunfo participam também os Seus membros.

Como, porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os mandarins e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e serafins? (cf. Sl 79,3). Eis que a Vossa Cruz é calcada pelos pagãos! Onde está a Vossa glória? Ao ver tudo isso, me inflamo por vós, preferindo morrer com os membros amputados, em testemunho do Vosso amor!

Mostrai, Senhor, o Vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se manifeste na minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu vacilar no caminho, Vossos inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as cabeças.

Caríssimos irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a Sua misericórdia é eterna! Minha alma engrandeça o Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque olhou para a humildade de Seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão bendito, porque a Sua misericórdia é eterna!

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-O (Sl 116,1), porque Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor 1,27-28), para confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os filósofos, os discípulos dos sábios deste mundo, porque a Sua misericórdia é eterna!

Tudo isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade lanço a âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus.

Caríssimos irmãos, correi de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça da fé (1Ts 5,8), tomai as armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na posse da vida comum só olho ou privados de algum membro (cf. Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles.

Vinde em meu auxílio com vossas preces, para que possa combater, segundo a lei, o bom combate, e combater até o fim, encerrando gloriosamente a minha carreira. Se já não nos podemos ver nesta vida, tal felicidade nos está reservada para o futuro, quando, junto ao trono do Cordeiro imaculado, exultantes com a alegria da vitória, cantaremos em uníssono eternamente os seus louvores. Assim seja.”

Anunciaram o Evangelho no extremo oriente da Ásia, nas regiões do Vietnã de hoje, o Evangelho já vinha sendo anunciado desde o século XVI. Contudo, de 1625 a 1886, excetuados breves períodos de paz, os governantes dessas regiões tudo fizeram para despertar o ódio contra a religião cristã e os discípulos de Cristo.

Canonizados pelo Papa São João Paulo II, no dia 19 de junho de 1988, foram inscritos 117 deles no rol dos santos mártires. Entre eles, 11 missionários dominicanos espanhóis, 10 franceses e 96 mártires vietnamitas.

Note-se que quanto mais foram perseguidos, maior se tornava o fervor cristão, tendo como resultado um elevadíssimo número de mártires: 8 bispos, 50 sacerdotes e 59 leigos, de diversas idades e condições sociais, na maioria pais e mães de família e, alguns, catequistas, seminaristas e militares.

Sejamos revigorados pelo testemunho destes mártires no bom combate da fé, no testemunho da esperança e na esforçada caridade a ser vivida.

Experimentemos também nós a força e a vitória, crendo no Senhor Jesus, que conosco está e caminha, e nada de fato nos separe d’Ele, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (cf Rm 8,35-39).

sábado, 23 de novembro de 2024

Em poucas palavras...

 


 

“O cristão, o apóstolo, é por sua natureza uma pessoa incômoda...”

“O cristão, o apóstolo, é por sua natureza uma pessoa incômoda, exatamente porque chamado a pregar o ‘Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios’ (1 Cor 1,23).

Contudo, seria cômodo confiar só a esses heróis o dever de transmitir a mensagem cristã, esquecendo o compromisso pessoal de todo cristão, por força de sua consagração batismal, de ser sempre testemunha de Cristo.”(1)


 

(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus – Comentário da passagem do Livro do Apocalipse de São João (Ap 11,4-12) – pág. 1525

“Reinar é servir” (Cristo Rei)

                                                      

“Reinar é servir” 

Assim afirma o Catecismo da Igreja Católica (n. 786): “Cristo, Rei e Senhor do Universo, se fez servidor de todos, não veio ‘para ser servido, mas para servir e para dar sua vida em resgate por muitos’ (Mt 20,28). Para o cristão, ‘reinar é servir’ "(Lumen Gentium n.36).

Também, citando a Gaudium et Spes (n. 10,2; 45,2) professa: “A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de toda história humana se encontram em seu Senhor e Mestre” (CIC n. 450).

Em poucas linhas, encontramos uma densidade inesgotável que nos convida ao silêncio e à contemplação, para que não apenas celebremos, mas como discípulos missionários, anunciemos e testemunhemos que Jesus é o Senhor de nossa história, em todos os âmbitos, em todos os corações, e de todo o Universo, se numa palavra apenas fôssemos dizer.

Cristo, Ungido, Enviado, Aquele que foi por muito tempo esperado. A realização da promessa messiânica se cumpriu em Sua Pessoa: “O Verbo se fez Carne e habitou entre nós...” (Jo 1,14), e a Ele damos toda honra, glória, poder e louvor.

Rei, mas um Rei diferente, pobre, despido, ultrajado, tendo como trono a Cruz, esvaziado de Sua condição divina, humilhou-Se e foi obediente até o fim, e Deus O Ressuscitou, para que diante d’Ele todo joelho se dobre e toda língua proclame que Ele é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fl 2, 7-8).

Senhor, porque reina em tudo e em todos, a Ele tudo foi submetido: “O último inimigo a ser destruído será a morte, pois Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo. Mas quando se diz que tudo lhe será submetido, é claro que se deve excluir Deus, que tudo submeteu a Cristo. E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então próprio Filho Se submeterá Àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos.” (1 Cor 15, 26-28).  

Servidor de todos, ao lavar os pés dos discípulos, lavou os pés de toda humanidade, deixando ao mundo um sinal de humildade e serviço: o Mestre e Senhor lavou os pés dos servos; os pés de toda a humanidade, e a lição para sempre foi gravada na mente e no coração da humanidade, selado como  sinal de amor. Lição que haveremos de reaprender incansavelmente, cotidianamente.


O Senhor tem a chave e  confiou a Pedro. Também é a porta que nos possibilitou a entrada na eternidade (Jo 10, 9), e tão somente por esta porta estreita haveremos de passar, se coragem e fidelidade no carregar da cruz tivermos, sem deserção, sem medo ou refúgio na mediocridade de uma fé morna e instalada, sem sagrados compromissos com a vida.

É preciso que centralizemos o Senhor em nossa vida, para que tudo ganhe um novo sentido em nosso existir. Quanto mais O centralizarmos, mais plena será nossa alegria. Centralizar Jesus é ter d’Ele mesmos pensamentos e sentimentos, de tal modo a Ele configurado, que Ele é gerado e formado em nós, e nos outros.

Ele é o fim de toda a história, para Ele tudo haverá de convergir. Nossos dias, nossos passos, nossos planos, projetos, sonhos somente florescerão abundantemente, e darão frutos eternos se não tivermos ninguém além d’Ele para nos guiar e nos iluminar.

Com Jesus, cada noite escura de nossa vida, é acompanhada da certeza de que a luminosidade irromperá quando menos esperarmos, porque vigilantes esperamos Aquele que veio, vem e virá um dia, gloriosamente.

Por ora, é tempo de reinar com o Senhor, e somente o faremos se O servimos em cada irmão e irmã, sobretudo nos pobres, com os quais quis Se identificar. E este serviço silencioso, sem holofotes, glamoures, ibopes, confetes, nos credencia para a recompensa na eternidade, como Ele nos disse sobre o julgamento final: “Venham vocês que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo.” (Mt 25, 34)

Reinamos com o Senhor, quando servimos. E, para que sirvamos incansavelmente com ardor, É preciso que nosso coração Seja inflamado pelo Seu indizível Amor.


Em poucas palavras...

 


«Sacerdote, profeta e rei»

“Jesus Cristo é Aquele que o Pai ungiu com o Espírito Santo e constituiu «sacerdote, profeta e rei». Todo o povo de Deus participa destas três funções de Cristo, com as responsabilidades de missão e de serviço que delas resultam (Papa São João Paulo II).” (1)

 

(1)               Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 783

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