terça-feira, 18 de junho de 2024

Em poucas palavras...

 


“Lugares sagrados, imagens da Cidade santa...”

“Na sua condição terrena, a Igreja tem necessidade de lugares onde a comunidade possa reunir-se: as nossas igrejas visíveis, lugares sagrados, imagens da Cidade santa, da Jerusalém celeste para a qual caminhamos como peregrinos.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1198

Peregrinar...

                                                      

Peregrinar...

Em qualquer  tempo,  urge peregrinar...

Peregrinar não significa caminhar sem destino, até muito pelo contrário, é ter um destino, mesmo sabendo que a jornada não é fácil.

Somos como os místicos dizem “peregrinos longe  do Senhor”, paradoxalmente, com Ele tão perto.
Ansiamos Sua vinda, desejamos Sua contemplação...

Já O sentimos, já O contemplamos, mas não ainda face a face...
Peregrinar é preciso. Alimentar-se para chegar à meta também.

Há âncoras neste peregrinar rumo à eternidade: O Pão da Palavra Divina e o Pão da Eucaristia saboreados, vividos traduzidos em fé, esperança e caridade, hão de nossas forças revigorar, e assim a grande travessia realizarmos...


PS: 2 Cor 5,6-10


Peregrinar na fé

                                                        

Peregrinar na fé

Reflitamos mais dos Sermões de Santo Agostinho (séc. V) tornando mais luminosa a nossa fé.

"O justo alegra-se no Senhor e n’Ele espera; e gloriam-se todos os retos de coração (Sl 63,11). Acabamos de cantá-lo com a voz e com o coração. A consciência e a língua cristãs dizem estas palavras a Deus: Alegra-se o justo, não com o mundo, mas no Senhor. A luz nasceu para o justo, diz outro lugar, e a alegria, para os retos de coração (Sl 96,11). 

Indagas donde vem a alegria. Escutas: Alegra-se o justo no Senhor, e noutro passo: Põe tuas delícias no Senhor e Ele atenderá aos pedidos de teu coração (Sl 36,4). 

Que nos é indicado? O que é doado, ordenado, dado? Que nos alegremos no Senhor. Quem é que se alegra com aquilo que não vê? Acaso vemos o Senhor? Já O temos em promessa. 

Agora, porém, caminhemos pela fé; enquanto estamos no corpo, peregrinamos longe do Senhor (2Cor 5,7.6). Pela fé, não pela visão. Quando, pela visão? Quando se realizar o que diz o mesmo João: diletíssimos, somos filhos de Deus; mas ainda não se fez visível o que seremos. Sabemos que, quando aparecer, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal qual é (1Jo 3,2). 

Neste momento, então, será a grande e perfeita alegria, o gáudio pleno, onde já não mais teremos o leite da esperança, mas a realidade nos alimentará. Contudo, desde agora, antes que nos chegue a realidade, antes que cheguemos à realidade, alegremo-nos no Senhor.

Não é insignificante a alegria trazida pela esperança, já que depois será a posse. Agora, amamos na esperança. Por isso, alegra-se o justo no Senhor e logo em seguida, e n’Ele espera, porque ainda não vê. 

Todavia, possuímos as primícias do Espírito, e talvez de algo mais. Aproximamo-nos de quem amamos e, embora por uma gotinha, já provamos e saboreamos aquilo que avidamente comeremos e beberemos. 

Como é que nos alegramos no Senhor, se está longe de nós? Que Ele não esteja longe! A estar longe, és tu que O obrigas. Ama e aproximar-se-á; ama e habitará em ti. O Senhor está próximo, não fiques inquieto (Fl 4,5-6). Queres ver como, se amares, estará contigo? Deus é caridade (1Jo 4,8). 

Dir-me-ás: “Em teu parecer, que é caridade?” A caridade é a virtude pela qual amamos. O que amamos? O bem salutar, o bem inefável, o bem de todos os bens, o Criador. Que te deleite aquele de quem tens tudo o que te deleita. Não digo o pecado, pois só o pecado não recebes d’Ele. D’Ele é que terás tudo".

É preciso caminhar pela fé, reaviando sempre a esperança numa caridade inflamada a Deus que o melhor d’Ele sempre nos concede.

Peregrinar na fé sempre, até que um dia possamos contemplar Deus face a face, em meio às dificuldades que são próprias da condição humana, sem cedermos às tentações, sem permitirmos que a fragilidade da alma nos faça desistir de objetivos santos.

Peregrinar na fé sem jamais permitir que a nossa alma seja manchada pela ferrugem do pecado, da mágoa, do ódio, do ressentimento, do mau humor, da inquietação que nos roube a alegria e o sentido de viver.

Peregrinar impulsionados por uma esperança, virtude divina, que nos leva a buscar sempre o melhor de Deus, uma Igreja mais viva, fraterna e solidária, sinal do Ressuscitado, um mundo mais justo com vida digna e plena para todos.

Peregrinar inflamados pela caridade divina, que nos leva a procura contínua do Amor Uno e Trino que nos cria, redime, ilumina e santifica.

Peregrinar acolhendo as primícias do Espírito, para que os caminhos sombrios, as nuvens obscuras da história sejam iluminados, e nós revigorados sejamos, passos firmes na fé, com a âncora da esperança e a chama da caridade.

Peregrinemos na fé, incansavelmente. 

Movidos pelo amor

                                                           

Movidos pelo amor

O monge São João Clímaco (séc. VI) nos apresenta, no oitavo degrau da Escada Santa, um fato presenciado que muito nos ilumina sobre o verdadeiro amor, que se estende aos inimigos:

“Um dia vi três monges humilhados de maneira semelhante no mesmo momento. O primeiro ficou imensamente ofendido, perturbou-se, mas guardou o silêncio. O segundo alegrou-se por si mesmo, mas entristeceu-se por quem o insultava. O terceiro só pensou no dano causado ao seu próximo e chorou com extrema compaixão. Um era movido pelo temor, o outro pela esperança da recompensa, o terceiro pelo amor.”

Também nós podemos ser humilhados ou constrangidos, por diversas situações ou por alguém, e podemos ter semelhantes atitudes.

Roguemos a Deus que nos dê a mansidão necessária, para que alcancemos o grau elevado da terceira atitude, a fim de que sejamos movidos pelo amor, choremos por extrema compaixão de quem nos tenha ofendido.

Ainda que nos seja difícil, é a melhor atitude que devemos ter, para que não nos seja roubada a graça e a alegria de perdoar e ser perdoado, inseparavelmente.

De nossos olhos, sejam vertidas lágrimas de compaixão, que  purifiquem nosso olhar e nosso coração, e possamos ver  a presença de Deus no coração de nosso próximo, ainda que nos tenha ofendido. Amém.


PS: citado em Fontes: Os Místicos Cristãos dos primeiros séculos – textos e comentários – Edições Subíaco – p.224

Cremos em um só Deus


Cremos em um só Deus

Cremos em um só Deus, princípio sem princípio, incriado, ingênito, que não perece, imortal, eterno, ilimitado, inapreensível, indefinível, onipotente, simples, não composto, incorpóreo, imóvel, impassível, imutável, invisível.

Cremos em Deus, fonte de todo bem e de toda justiça, luz inteligível e nunca acendida; poder que não pode medir-se com medida alguma a não ser sua própria vontade, porque pode fazer tudo quanto quer.

Cremos em Deus, Criador de todas as criaturas visíveis e invisíveis, de todas tem cuidado e as conserva; tem o poder sobre todas as coisas, as quais dirige e governa com um reino que não tem fim e é imortal.

Cremos em Deus, que nada pode opor-se a Ele, tudo preenche, nada pode abarcá-Lo, ao contrário, Ele abarca todas as coisas, as contém e zela por elas.

Cremos em Deus, que penetra todas as substâncias de maneira puríssima e em todas repousa; que Se eleva sobre toda substância como o mais sublime; e sobre tudo o que existe, como o mais excelente, e a tudo transborda.

Cremos em Deus que estabelece os principados e ordens, e encontra-Se acima de toda ordem e principado, acima da substância, da vida, palavra e pensamento.

Cremos em Deus, Ele é a própria luz, bondade, vida e essência, já que não recebeu de outro nem o ser nem qualquer uma das Suas propriedades.

Cremos em Deus, que é a fonte de todos os seres, a vida dos viventes; e participam de Seu Verbo as criaturas racionais; é a causa de todos os bens; vê todas as coisas antes que existam.

Cremos em Deus, reconhecido por todo ser racional e O reconhece e O adora com uma só adoração, e crê e venera a única substância, divindade, vontade, operação, autoridade.

Cremos em Deus, único princípio, poder, senhorio, reinado; em três hipóstases perfeitas, porque estas estão unidas sem confusão, e são distintas em separação: um só Deus em três Pessoas.

Cremos no único Pai, princípio e causa de todos os seres; não gerado por ninguém; o único que existe incausado e não gerado, o Criador de todas as coisas.

Cremos no Pai único por natureza de Seu Unigênito Filho, o Senhor Deus e Salvador, Nosso Jesus Cristo, do qual procede o Santíssimo Espírito. 

Cremos em Deus; portanto, no Pai e no Filho e no Espírito Santo, nos quais fomos batizados; porque assim ordenou o Senhor aos Apóstolos que batizassem, ao dizer-lhes: Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.



Livre adaptação da “Exposição da Fé ortodoxa”, de São João Damasceno (séc. VIII), Doutor e Presbítero da Igreja, in Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.515-516

Iluminados e iluminantes

                                                      

Iluminados e iluminantes

Em todo tempo, favorável ou adverso, é preciso irradiar a luz do Espírito que em nós habita, pela graça batismal recebida, pois o próprio Senhor nos disse que somos a luz do mundo (Mt 5,14), e disse também: “Eu Sou a luz do mundo, quem me segue, não anda nas trevas mas terá a luz da vida” (Jo 8,12); e no mesmo Evangelho: “Enquanto estou no mundo Eu sou a luz.” (Jo 9, 5).

Fundamentais são também as palavras do Apóstolo Paulo: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz” (Cf. Ef 5,8). Em outra passagem, novamente insiste: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas.” (Cf. 1Ts 5,5).

Nisto consiste a missão do discípulo missionário do Senhor: ser luz do Senhor, por Ele iluminados e d’Ele iluminantes, em todos os tempos e âmbitos (família, comunidade, trabalho, cultura, lazer, meios de comunicação; lugares reais ou também nos espaços/mídias virtuais).

De fato, quando Cristo ocupa o primeiro lugar, a fé se torna prática e resplandecemos como astros no mundo, não para um exibicionismo estéril, mas para testemunhar a Palavra Divina, Palavra de vida, e assim, frutos eternos produzir, alegria plena alcançar, como o Senhor disse e prometeu.

Somos iluminados e iluminantes quando fagulhamos o fogo do Espírito, que faz arder nosso coração para que o mundo seja mais terno, quando somos sobressaltados com a frieza diante da vida, com mortes absurdas e inadmissíveis (guerras e conflitos pelo mundo), a fome ceifando vidas de inocentes, e outros fatos que bem conhecemos, se a frieza não congelou a nossa sensibilidade, e se não tenhamos permitido que o sentimento de impotência, ou indiferença, tenha nos cegado os olhos e petrificado nosso coração.

Somos iluminados e iluminantes quando, como um pincel de luz, incansavelmente, comunicamos raios de luz em todas as situações, em todas as horas, sobretudo nas mais difíceis e sombrias, como a morte de alguém que tanto amamos. 

Importa ser sempre a luz do Senhor, noite e dia, iluminados e iluminantes, como também exortou Paulo aos Filipenses:

“Sede irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual deveis resplandecer como astros no mundo..."  (Fl 2,15).

Quão precioso e enriquecedor é para nós os testemunhos de irmãos nossos que, vivendo em lugares tão diferentes, com realidades próprias, testemunham também uma só Palavra, um só batismo, um só Senhor, um só Espírito e o amor de Deus, que os impulsiona e acompanha para que irradiem a luz batismal, pois, como discípulos missionários do Senhor, iluminados e iluminantes somos.

A penitência e a graça do perdão

 




A penitência e a graça do perdão

“Contra este dom gratuito, contra esta graça de Deus

fala o coração impenitente. Pois bem: esta impenitência é precisamente a blasfêmia contra o Espírito,

que não terá perdão nem nesta vida nem na futura.”

 

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V):

“A leitura evangélica que acabamos de ouvir estabelece um problema difícil que não estamos em situação de resolver somente com nossas forças: porém nossa capacidade nos vem de Deus, na medida em que somos capazes de receber ou obter o seu auxílio.

Em Marcos, encontramos escrito: Crede-me, tudo será perdoado aos homens: os pecados e qualquer blasfêmia que digam, porém, o que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, carregarão seu pecado para sempre.

Quem blasfemar de qualquer forma contra o Espírito Santo, não teria motivo para estar questionando de que tipo de blasfêmia se trata, pois se referiria a toda blasfêmia, sem exceção. Porém, não se pode pensar que aos pagãos, aos judeus, aos hereges e a toda essa multidão de homens que, com os seus diversos erros e contradições, blasfemam contra o Espírito Santo, lhes seja tirada toda esperança de perdão se chegarem a se corrigir.

Somente nos resta compreender que na passagem em que se diz: O que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, tenha de entender-se não do que blasfemar de qualquer modo contra o Espírito Santo, mas aquele que o faz de um modo tal que o seu pecado torna-se irremissível.

Para dispor-nos para a vida eterna que nos será concedida no último dia, o primeiro dom que Deus nos concede ao abraçar a fé é o perdão dos pecados. Pois enquanto eles permanecerem em nós, somos de certa forma inimigos de Deus, e estamos afastados d’Ele por causa de nossa devassidão. De fato, a Escritura não mente para nós quando diz: São as vossas culpas que criaram separação entre vós e o vosso Deus.

Portanto, Deus não deposita em nós os Seus bens, sem antes retirar nossos males. Aqueles crescem na medida em que decrescem estes; e aqueles nem chegarão a sua plenitude enquanto estes não tenham totalmente desaparecido.

Temos, portanto, de admitir que o primeiro benefício que recebemos da bondade divina é o perdão dos pecados no Espírito Santo. Pois no Espírito Santo - pelo qual o povo de Deus é congregado na unidade - é precipitado o espírito imundo, que está em guerra civil.

Contra este dom gratuito, contra esta graça de Deus fala o coração impenitente. Pois bem: esta impenitência é precisamente a blasfêmia contra o Espírito, que não terá perdão nem nesta vida nem na futura.

De fato, contra o Espírito Santo, em quem são batizados os que recebem o perdão dos pecados e ao qual a Igreja recebe para que a quem perdoar os pecados lhe sejam perdoados, contra este Espírito fala, ou com o pensamento ou com a língua, palavras perversas e extremamente ímpias aquele que, quando a paciência de Deus lhe estimula  a penitência, com a dureza do seu coração impenitente está armazenando para si castigos para o dia do castigo, quando se revelará o justo juízo de Deus retribuindo a cada um conforme as suas obras.

Esta impenitência contra a qual clamam em uníssono o pregoeiro e o juiz, dizendo: Convertei-vos, porque está próximo o Reino de Deus, esta empedernida impenitência é a que não tem perdão nem nesta vida nem na outra, pois a penitência alcança o perdão nesta vida, válida para a futura.”

Como peregrinos da esperança, roguemos a Deus para que edifiquemos uma Igreja sinodal, caminhando sempre juntos, com a humildade necessária, reconhecendo nossa condição de pecadores, e necessitados da misericórdia divina,

Que jamais sejamos impenitentes, fechados ao reconhecimento de nossos pecados e impossibilitados de receber a graça e o amor divinos, que Deus sempre está pronto a derramar em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,5).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.405-406

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