sábado, 20 de julho de 2024

Livrai-nos, Senhor!

                                                     

Livrai-nos, Senhor!

Livrai-nos, Senhor, das doenças e tentações que nos enfraquecem,  como Igreja, no anúncio, testemunho e construção do Vosso Reino.

Livrai-nos, Senhor, da doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” pondo de lado os controles necessários e habituais, sabendo que não somos insubstituíveis e indispensáveis, e ajudai-nos cada vez mais a termos consciência que somos apenas servos Vossos.

Livrai-nos, Senhor, da doença do “martalismo”, da excessiva operosidade, que nos condena a um ativismo que fragiliza e nos faz tão apenas cumpridores de tarefas. Que saibamos nos colocar aos Vossos pés, para escutar Vossa Palavra e tudo melhor realizar, porque, acolhidos e envolvidos pelo Vosso Amor, teremos as “mãos de Marta e o coração de Maria”

Livrai-nos, Senhor, da doença do “empedernimento” mental e espiritual, para que não tenhamos  “dura cerviz”, e um coração de pedra, frio e endurecido. Iluminai-nos para que tenhamos os Vossos pensamentos e sentimentos.

Livrai-nos, Senhor da doença da planificação excessiva e do funcionalismo. Iluminai-nos e conduzi-nos por Vosso Espírito, que é o protagonista de toda ação evangelizadora e de todo o nosso viver.

Livrai-nos, Senhor, da doença da má coordenação  e fortalecei a nossa comunhão numa maior harmonia, concórdia, para que redescubramos sempre a força do trabalho em equipe, que nos torna mais fortes e capazes.

Livrai-nos, Senhor, da doença do “alzheimer espiritual”: ou seja, o esquecimento da “história da salvação”, da história pessoal com o Senhor, do «primeiro amor» (Ap 2,4), voltando sempre àquele primeiro momento em que o Senhor nos seduziu, nos olhou nos olhos e nos chamou pelo nome.

Livrai-nos, Senhor, da doença da rivalidade e da vanglória, de modo que nada façamos por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade nos ensine a considerar os outros superiores a nós mesmos, não agindo em vista de nossos próprios interesses, mas dos outros, rivalizando-nos tão somente no amor.

Livrai-nos, Senhor, da doença da esquizofrenia existencial, e na resposta ao Vosso chamado; conduzidos por Vossa Palavra não tenhamos uma vida dupla e dissoluta, vazia de conteúdo porque um contratestemunho da pregação.

Livrai-nos, Senhor, da doença das bisbilhotices, das murmurações e do mexerico. Que de nossa boca saiam tão apenas palavras sábias e oportunas para a edificação do outro e nossa própria edificação. Lentos no falar, prontos para amar e perdoar e silenciar quando for preciso, e nunca calar o que for preciso dizer. Por isto, concedei-nos serenidade e sabedoria, Senhor.

Livrai-nos, Senhor, da doença da divinização dos chefes e superiores, para que não nos tornemos cortejadores de favores e  benefícios, e afastai toda tentação de carreirismo e oportunismo, que tenha tão apenas o desejo de promoção e reconhecimento, pois não é isto que nos propusestes ao nos oferecer a Cruz para segui-Lo.

Livrai-nos, Senhor, da doença da indiferença para com os outros, para que não pensemos tão somente em nós mesmos. Ajudai-nos a estabelecer relacionamentos sinceros e fraternos, ajudando a levantar quem deseja ser levantado, e jamais sentirmos alegria ao ver um irmão que tenha caído, pecado, ao contrário tudo fazermos para erguê-lo pela confiança em Vossa infinita misericórdia.

Livrai-nos, Senhor, da doença da cara fúnebre, para que não sejamos pessoas grosseiras e sisudas, com feições de melancolia, de severidade e assim, jamais  tratar os outros – principalmente os considerados inferiores – com rigidez, dureza e arrogância.

Livrai-nos, Senhor, da doença do acúmulo de bens que passam, para que jamais preenchamos o vazio existencial do coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas somente para nos sentirmos seguros. Dai-nos sempre sabedoria para usar os bens que passam e abraçar os que não passam.

Livrai-nos, Senhor, da doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo  e, em algumas situações, ao próprio Cristo. Concedei-nos a abertura ao outro, em respeito à alteridade e na vivência da gratuidade necessária em tudo que fizermos, para que mais verdadeira seja nossa comunhão fraterna.

Livrai-nos, Senhor, da doença do proveito mundano, dos exibicionismos, para que não transformemos o serviço em poder e o  poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder. Que o poder seja a mais perfeita expressão do amor serviço, entrega e doação da própria vida e dos dons que nos concedestes, multiplicando-os quando não os enterramos, mas colocamos em comum.

Senhor, livrai-nos, enfim, de tudo aquilo que não corresponda aos Vossos desígnios e de tudo aquilo que nos afaste de Vós, porque, inevitavelmente afastado de Vós, nos afastamos uns dos outros. Amém.


PS: Inspirado no “Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana”, que o leitor poderá conferir na íntegra acessando:


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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG