A prática do Jejum e o crescimento espiritual
No Tempo da Quaresma, a Liturgia da sexta-feira depois das cinzas, nos apresenta a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 9,14-15), sobre a autêntica e frutuosa prática do jejum, num caminho de aperfeiçoamento espiritual, vivendo intensamente o itinerário quaresmal.
O Missal Dominical cita longamente o Teólogo Paulo Evdokimow, iluminando neste propósito.
"A ascese cristã nunca foi fim em si mesma; é apenas um meio, um método a serviço da vida, e como tal procurará adaptar-se às novas necessidades.
Outrora, a ascese dos Padres do deserto impunha jejuns e privações intensas e extenuantes; hoje a luta é outra. O homem não tem necessidade de sofrimento suplementar; cilício, cadeias de ferro, flagelações, correriam o risco de extenuá-lo inutilmente.
A mortificação da nossa época consistirá na libertação da necessidade de entorpecentes, pressa, ruídos, estimulantes, drogas, álcool sob todas as formas.
A ascese consistirá acima de tudo no repouso imposto a si mesmo, na disciplina da tranquilidade e do silêncio, onde o homem encontra a possibilidade de concentrar-se para a Oração e a contemplação, mesmo em meio a todos os ruídos do mundo, no metrô, entre a multidão, nos cruzamentos de uma cidade.
Consistirá principalmente na capacidade de compreender a presença dos outros, dos amigos, em cada encontro. O jejum, ao contrário da maceração imposta, será a renúncia alegre do supérfluo, a sua repartição com os pobres, um equilíbrio espontâneo, tranquilo".
No Missal também encontramos a citação do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV) que já nos advertia sobre esta necessidade da ascese espiritual para a construção de relações mais sinceras e fraternas na vivência comunitária:
"Mas, direis, que divisão vês entre nós? Aqui, nenhuma, mas quando termina a nossa assembleia, um critica o outro; esse injuria publicamente o irmão; aquele se enche de inveja, de avareza ou de cobiça; aquele outro se entrega à violência; outro ainda à sensualidade, à impostura, à fraude.
Se nossas almas pudessem ser postas a nu, veríeis então a exatidão de tudo isso... Desconfiando uns dos outros, nos tememos mutuamente, falamos ao ouvido do vizinho e se vemos aproximar-se um terceiro, calamo-nos e mudamos de assunto...
Respeitai, respeitai esta Mesa da qual todos nós comungamos; respeitai o Cristo imolado por nós, respeitai o Sacrifício que é oferecido".
Urge rever nossa conduta cristã, abrindo-nos à graça divina, para que nossas comunidades sejam mais fraternas, mais credíveis da presença do Ressuscitado.
Participando da Celebração Eucarística e intensificando nossa vida de oração, acompanhada da fecunda prática do jejum, renovemos sagrados compromissos do aperfeiçoamento espiritual acompanhados de esforços indispensáveis para que o resplendor da glória divina seja vislumbrado em nosso olhar, porque oriunda de um coração que foi moldado e purificado pela misericórdia divina.
Vivendo este santo propósito de ascese espiritual, estaremos no caminho do crescimento e amadurecimento, para que nossa fé produza os frutos queridos por Deus, acompanhados de oração, jejum e esmola, intensificando a intimidade com Ele e a comunhão fraterna e solidária entre nós, e tão somente assim poderemos celebrar a alegria Pascal trasbordante, com a Ressurreição do Senhor.
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