Quaresma: tempo favorável para vivermos a misericórdia
“Sede misericordiosos
como também o vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6,36).
Celebrando a segunda feira da 2ª semana do Tempo da Quaresma, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,36-38).
Somos exortados a crescer sempre mais na prática da Misericórdia, procurando suas múltiplas faces, expressões e concretizações.
Contemplemos o Coração de Jesus, onde habita a plenitude da Misericórdia, por isto quem O vê, vê o Pai, pois Ele e o Pai são um só.
Um Coração pleno de Misericórdia, pleno de luz, e por isto, Ele pode Se nos apresentar como a Luz do mundo, para que todo aquele que O seguir não caminhe nas trevas, mas tenha a luz da vida (Jo 8,12).
Um pouco mais adiante, no Evangelho acima mencionado, Jesus adverte os discípulos sobre o perigo de um cego guiar outro cego, com risco de ambos caírem num buraco e o perigo de enxergar com nitidez os defeitos do próximo sem dar conta dos próprios:
“Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6, 42).
A prática da Misericórdia, além de nos levar ao amor e oração pelos inimigos, também exige de nós coerência de vida, evitando uma vida pautada por “dois pesos e duas medidas”.
Tirar a trave de nossos olhos nos capacitará para nos ajudarmos mutuamente, sem desviar do caminho da prática da misericórdia, não mergulhando nos buracos que uma cegueira nos levaria (cegueira como ausência da Misericórdia).
Se por um lado a Misericórdia se expressa na coerência de vida, há algumas coisas que a ofuscam, como a hipocrisia, a ambiguidade, o julgamento rigoroso de nossos irmãos e a impaciência de vê-los trilhar o caminho do crescimento, aperfeiçoamento...
A ausência da Misericórdia destrói a paciência, a caridade, consequentemente, o outro.
Somente a Misericórdia, vislumbrada na prática da caridade resgata, recria e possibilita o novo, muitas vezes concretizada no gesto da acolhida e do perdão reintegrador; pois tão somente assim ela constrói, edifica, promove...
Jesus disse que a boca fala daquilo que o coração está cheio, e também podemos concluir que nossos olhos revelarão aquilo que se encontra em nosso íntimo, em nosso coração.
Se em nosso coração houver rancor, ódio, tristeza, indiferença, preconceitos, egoísmo, materialismo, hedonismo cultuado (busca do prazer sem medida), ídolos cultivados, o nosso olhar será a mais perfeita e triste expressão de tudo isto.
É tempo de olharmos para dentro de nós mesmos, para que possamos dizer como São Paulo:
“Pregar o Evangelho não é, para mim, motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1Cor 9,16).
E pregando o Evangelho, vivamos, pois ele também disse:
“Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a Boa-Nova aos outros, eu mesmo seja reprovado” (1Cor 9, 27).
Quando a Misericórdia, o Amor de Deus em ação, na ação dos que creem, for vivida, com ousadia, vigor, ardor inextinguível, e paixão por Cristo, à luz da espiritualidade paulina, resplandecerão os sinais do Reino: Amor, verdade, justiça e paz e o reencantamento da vida.
Somente guiados pela luz divina, seremos para o irmão e irmã, com humildade, guias luminosos!
Oremos:
Ó múltipla face da Misericórdia Divina,
semente plantada que, abundantemente, germina!
Ó múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda cegueira elimina!
Ó múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda hipocrisia abomina!
Ó múltipla face da Misericórdia Divina,
Que nossos olhos ilumina!
Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que a humanidade incansavelmente ensina!
Amém!
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