sexta-feira, 4 de agosto de 2023

O Mistério da Trindade na vida do Presbítero

O Mistério da Trindade na vida do Presbítero
                             
Anos passados, quando ainda Padre, numa tarde de verão sentado frente ao mar, sobre o alto de uma pedra, agraciado pelo crepúsculo do sol, envolvido pela brisa suave e podendo ainda me deliciar com o brincar alegre dos golfinhos, comecei a refletir sobre o Mistério da Santíssima Trindade na vida do Presbítero.

Mistério como algo intransponível e inesgotável para a razão humana. Assim definiu Santo Agostinho:

“Deus é um Mistério tão grande, que uma vez encontrado, ainda falta tudo para encontrá-Lo”.

Quanto mais profundo for o mergulho na imensidão das águas do mar, maior será a descoberta e o encantamento.

Assim também deve ser em relação à Trindade, da mesma forma, quanto mais profundo for nosso mergulho nas delícias imensuráveis do Mistério da Trindade Santa, maior será nosso encantamento diante deste amor que nos envolve e dá sentido à nossa vida.

Três Pessoas, um só Deus. Comunhão profunda de amor, solidariedade, alegria, ternura.

O Ministério Presbiteral encontrará sua realização numa profunda e intensa relação com a Trindade.

Na Pessoa de Deus Pai, o Presbítero descobre o Mistério de um Deus que Se revela Misericordioso, Criador, ternura e bondade; que Se dá a conhecer nas relações de fraternidade e verdade.

Deus Pai nunca será um Deus distante, será mais íntimo a nós do que nós mesmos.

Esta intimidade com Deus leva o Presbítero a ser o homem da comunhão, do amor à vida, por tudo que foi criado, de modo especial contempla a presença de Deus em cada criatura criada por Deus a Sua imagem e semelhança.

Na Pessoa de Deus Filho, relaciona-se com Jesus Cristo: Verdadeiramente Homem, verdadeiramente Deus.

Possibilita ao presbítero viver Sua humanidade, redimida e acolhida no mistério de Seu amor por todos nós.

Quem bem definiu esta humanidade/divindade de Jesus foi o Bispo São Pedro Crisólogo (séc. V):

“Talvez vos perturbe a enormidade de meus sofrimentos por vós. Não tenhais medo. Estes cravos não Me provocam dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor por vós.

Estas Chagas não me fazem soltar gemidos, mas vos introduzem ainda mais intimamente em Meu coração. O meu corpo, ao ser estirado na Cruz, não aumenta o meu sofrimento, mas dilata espaços do coração para vos acolher. Meu Sangue não é uma perda para mim, mas é o preço do vosso resgate”.

Na Pessoa de Deus Espírito, tem a certeza de não estar só. No Mistério de Deus Espírito, sente o coração plenificado pelo amor; a mente iluminada pela luz do Espírito, e em sua boca as próprias palavras que Ele prometeu colocar em nossa boca; além de empunhar a espada do Espírito, recitando as palavras do Bispo acima. Mais ainda, com o Espírito Santo, Deus Se faz presente em sua vida; o Evangelho uma letra viva; A Igreja espaço da comunhão.

A ação do Espírito é a demonstração do serviço incansável de dedicação ao povo que lhe foi confiado. Sua missão é revestida da grandeza confiada por Jesus.

As inúmeras Missas e Celebrações são sinais vivos e eficazes da presença terna de Deus, levando-o, e a toda a comunidade, à realização de ações incontáveis que revelam e testemunham a glória de Deus.

Hoje, como Bispo da Igreja, reafirmo: quanto mais o Presbítero mergulhar no Amor Trinitário, mais feliz será seu Ministério, possibilitando ao rebanho descobrir e participar desta mesma alegria.


PS: Sugiro ao leitor que releia o texto trocando a palavra “Presbítero” por “Cristão”, pois esta reflexão se aplica a todos os batizados. 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG