Luzes
para um discipulado fecundo
Ao celebrarmos São Pedro e São Paulo, colunas da
Igreja, reflitamos
sobre a atividade de Pedro, à luz dos Atos dos Apóstolos: At 20,17-27 e At 20,
28-38.
Trata-se
do discurso de Paulo dirigido aos responsáveis da Igreja de Éfeso, um “discurso
de adeus”: Assim como Jesus, o Divino Mestre, quando da iminência da
Sua partida, reúne os discípulos, recorda o que fez e disse, confia aos Seus o
cuidado da comunidade e o prolongamento da Sua missão, adverte-os dos perigos
que os ameaçam, convidando-os a vigiar e perseverar.
A
densidade das passagens revela a incansável e intensa atividade missionária de
Paulo, traduzida em serviço e dom da própria vida, numa total pertença a Deus,
entrega incondicional da existência, por amor do Senhor.
O
adeus de Paulo aos presbíteros e responsáveis pela Igreja, que ele gerou para a
fé, é como seu testamento espiritual e pastoral, cheio de ternura e
recomendações, de esperanças e temor.
“Começa
a etapa final da terceira viagem de Paulo. Como as anteriores, também esta se
fecha com discurso. Na primeira viagem, o discurso foi aos judeus ( Atos 13,
16-41).
Na
segunda, aos pagãos (Atos 17, 23-31). Nesta terceira, o discurso se dirige às
lideranças, aqui representadas pelos anciãos da Igreja de Éfeso. É uma
despedida, que faz memória e apresenta um testemunho de vida.
O
Apóstolo olha o momento presente, afirmando que não sabe o que espera por ele
em Jerusalém. Por fim, prepara sua substituição. Dá as últimas instruções e
relembra aos anciãos que ‘eles foram colocados pelo Espírito Santo como
guardiães do rebanho’.
Entre
as recomendações, destaca-se não cobiçar nada de ninguém, dar testemunho
verdadeiro e ajudar os fracos. Lucas relembra aos líderes cristãos das
comunidades de sua época que eles são os sucessores de Paulo, e devem levar
adiante a missão dos Apóstolos” (1)
Com o
Apóstolo, aprendemos que servir ao Senhor exige doação total, exclusiva,
incondicional e contínua, em fidelidade constante, por isto é uma fonte de
liberdade.
A
atividade deste revela que sua missão não foi sua opção, mas fruto de uma
eleição da comunidade, uma confiança que vem do próprio Senhor, como ele mesmo
afirma – “a missão que recebi do Senhor” (v.24).
Realizando
a missão com total gratuidade, pôde exortar aos anciãos, que devem evangelizar
com total desinteresse material, como ele mesmo o fez, para que, assim, sejam
livres para anunciar o Evangelho e serem solidários com os pobres (vv. 34-35)
– “A
fidelidade ao Evangelho e o desinteresse escrupuloso são a melhor defesa dos
Pastores da Igreja contra todas as intrigas dos que os perturbam” (vv.
29-31). (2)
Vejamos
os traços que devem estar presentes na vida dos discípulos missionários do
Senhor:
-
Enfrentar com coragem as provações e tribulações, assim como Jesus (cf. Jo 13,
18-27);
- O
ministério apostólico não tem êxito garantido, no sentido que não está imune ao
sacrifício e até mesmo do martírio;
-
Ter consciência de que é possível que haja desertores e quem o renegue, assim
como o próprio Senhor teve em Seu grupo um que O traiu e alguns que desertaram,
em fuga, no momento crucial, no momento da prova, do flagelo e da morte na
Cruz;
-
Ter humilde confiança de que por mais que tenhamos feito é ainda nunca bastante
pelo que Deus fez e faz, por Amor, em favor de todos nós; confiando plenamente
no justo Julgamento que será feito por Jesus.
- A
missão que Deus nos confia tem uma motivação Trinitária: a missão vem do
Espírito e diz respeito à Igreja, que Deus Pai conquistou pelo Sangue do Seu
Filho;
-
Relação profunda de comunhão, amor e ternura com a comunidade que lhe foi
confiada:
“Em
tudo lhes mostrei que, trabalhando assim, é preciso ajudar os fracos,
recordando as Palavras do Senhor Jesus que disse: ‘Há mais felicidade em dar do
que em receber’. Tendo dito isto, Paulo ajoelhou-se com todos eles e rezou.
Todos então começaram a chorar muito. E, lançando-se ao pescoço de Paulo, o
beijavam. Estavam muito tristes, sobretudo porque lhes havia dito que nunca
mais veriam a sua face. E o acompanharam até o navio.” (vv. 35 -38)
-
Vigilância para não se fragilizar diante das dificuldades, coragem para
suportar os momentos e acontecimentos adversos, ventos contrários, e confiança
na Palavra de Deus, precisam estar sempre presentes, inseparavelmente, na vida
dos discípulos missionários.
Não
fosse o Espírito Santo que nos foi enviado, não suportaríamos provações,
incompreensões e dificuldades na evangelização, como o Apóstolo Paulo, e tantos
outros, por amor ao Senhor, empenhados na construção do Reino de Deus.
Concluo
com esta Oração, que deve nos acompanhar em todas as nossas atividades
pastorais, e em todas as decisões que tenhamos que tomar:
“Vinde
Espírito Santo, enchei o coração dos Vossos fiéis, e acendei neles o fogo do
Vosso Amor...”
(1)
Nova Bíblia Pastoral – Editora Paulus – 2013 – nota p.1353.
(2)
Lecionário Comentado - p.631
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