segunda-feira, 29 de julho de 2024

Recuperemos o “fôlego” (29/07)

                                                   

Recuperemos o “fôlego”

Celebramos a Memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro no dia 29 de julho, e ouvimos a passagem do Evangelho (Lc 10,38-42), em que Jesus vai à sua casa e de seus irmãos, Maria e Lázaro.

A cena é conhecida: Maria acolhe Jesus e se assenta aos Seus pés, para escutar o amigo e Divino Mestre, escolhendo a melhor parte que não lhe será tirada, garantiu o Senhor; de outro lado, vemos Marta agitada, inquieta, de certo modo até advertindo Aquele que havia recebido como hóspede.

Marta ainda não havia compreendido, e com ela pudemos aprender, que a atenção prestada ao Senhor não nos afasta da vida, mas ao contrário: “confere ao nosso viver um fôlego maior”. 

Ela é, na exata medida, cada um de nós esgotados, estressados pelo muito a fazer, sem parar diante do Senhor, privando-nos do essencial: o tempo da oração, e o maior de todos os momentos, o Banquete da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã.

A atitude de Maria nos convida a contemplar tantas pessoas muito ativas que, embora no meio de muitas ocupações, vivem interiormente em profunda paz, numa contemplação secreta, com o coração unido ao Senhor, porque assíduos na participação do Banquete da Eucaristia, ouvem e conduzem sua vida pela Palavra proclamada, ouvida, acolhida e na vida em prática colocada, com a força do Espírito que nos assiste e nos conduz.

São tantas as pessoas que no viver a fé, dando razão da esperança e na prática da caridade, fazem tudo o que devem fazer, não num desapego artificial das coisas, mas com a plena tranquilidade de quem, mesmo nos serviços mais abrangentes, ama o Senhor e O serve no próximo.

Recuperemos o “fôlego”, assentando-nos aos pés do Senhor. Ele não apenas quer ser acolhido, mas quer nos dirigir Sua Palavra, que nos reorienta, revigora, e dá um sentido ao nosso existir, pois com Ele, e somente com Ele, fazemos bem e melhor todas as coisas.

Recuperemos o “fôlego”, acolhamos o sopro do Espírito para que não esmoreçamos na missão que o Senhor nos confia, vivendo com zelo, amor e alegria, pois somente quem para diante do Senhor é capaz de ir bem mais longe, até que alcance o fim desejado, a eternidade, e a contemplação definitiva de Sua face.

Por ora, é tempo de recuperar o “fôlego”...


Fonte inspiradora: Lecionário Comentado - Ed Paulus - Lisboa Portugal - p.769.

Urgente ou necessário? (29/07)

                                                      

Urgente ou necessário?

“Ela (Maria) escolheu a melhor parte”

Passagem do Evangelho da visita que Jesus faz à casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro: Lc 10, 38-42

As Palavras de Jesus: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolhe a melhor parte, que não lhe será tirada”

Duas constatações:

- “Nós sacrificamos continuamente, sem perceber, aquilo que é importante para correr atrás do que é simplesmente urgente, mas não importante.” (1) 

- “Nossa vida é uma corrida desenfreada atrás de mil coisas: sonhos, projetos, negócios, ocupações; somos Martas atarefadas que pensam fazer as coisas mais importantes do mundo e ao invés perdemos o tempo, fazemos coisas inúteis, nos agitamos por coisas que são urgentes e não importantes, por coisas que muitas vezes não acontecerão nunca” (2).

Um pensamento de Santo Agostinho:
Minha alma está inquieta, sempre estará, enquanto não encontrar seu repouso em Ti, ó Senhor”.

Uma reflexão sobre a necessidade de discernir entre o urgente e o necessário:

Viver é navegar, com o discernimento necessário,
Entre o que é importante e o que é urgente,
Com sábias escolhas para não naufragarmos
No mar vasto e complexo de múltiplas possibilidades.

Vivemos premidos pelo tempo que se esvai,
Muitas vezes, sem que o percebamos, velozmente,
Consumidos pelo muito a fazer, porque inadiável,
Sem saber exatamente por onde começar.

O que é de fato importante e o que é urgente?
O que não nos é permitido prorrogar, porque imperioso?
O que de fato deve nos consumir,
Com zelo, ardor e fervor, numa expressão de amor?

Não há tempo a perder! As horas são contadas.
Que densidade damos a cada hora que passa?
A cada hora que passa, que história foi escrita,
Para que não percamos a beleza de um desejável epílogo?

Viver é consagrar o que somos e o que temos,
Nem tanto pelo que é urgente, e sim importante
Para o consumar do que nos realiza como pessoas,
Sem estresse, desgastes inúteis, devorados por inquietações.

É tempo de revermos o caminho e escolhas feitas:
A Missa, a Oração, o silêncio serão para nós importantes
Ou, em nome de urgências incontáveis,
Imediatamente sacrificamos, adiamos, nos esvaziamos?

Não será o vazio, por muitos sentido,
Fruto desta escolha não bem feita,
O perder-se no emaranhado da escolha
Entre o importante e o urgente?

Encontrando-me com Ele, saberei discernir, com sabedoria,
O que de fato é importante, não necessariamente urgente,
Que me faz mais humano, menos estéril da Divina Semente,
Que abundantemente o Senhor lança em nossos corações.

Não concluo lúcido e propositalmente,
Porque agora tenho algo importante para fazer:
Recolher-me no mais profundo de mim mesmo
E encontrar-me com Ele, no silêncio...


(1)         O Verbo se faz carne – Reflexão sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C – Pe. Raniero Cantalamessa - OFM - Ed. Ave Maria - 2013 - p. 724.
(2)        Idem p.681 

Hospitalidade e acolhimento (29/07)

                                                        

Hospitalidade e acolhimento

Celebramos, no dia 29 de julho, a Memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro e somos enriquecidos pela passagem do Evangelho de Lucas (Lc 10,38-42), na qual encontramos um convite à reflexão sobre a hospitalidade e o acolhimento.

Esta passagem, em que Jesus visita a casa de Marta e Maria, não tem propósito para acentuar a oposição que se faz entre ação e contemplação, antes se trata de uma advertência para que não caiamos num ativismo desenfreado que nos esgote levando ao vazio, e nem tão pouco caiamos num espiritualismo sem compromissos concretos de solidariedade para com o próximo.

Vemos que o verdadeiro encontro com Jesus, acompanhado da escuta de Sua Palavra, dará o real sentido e vigor para nossa ação e missão.  

A “escuta” de Sua Palavra torna-se o ponto de partida e nos projeta para novos compromissos, coloca-nos em perfeita sintonia com a vontade de Deus.

É preciso que aprendamos e reaprendamos a sentar aos pés do Senhor, pois somente Ele tem Palavra de Vida Eterna.

É preciso dar tempo à Oração, ao silêncio e à escuta do que Deus tem a nos dizer: é preciso ter ouvidos e coração de Maria, e mãos de Marta, para que assim façamos melhor a vontade de Deus.

Escutar o Senhor nos reenvia diferenciados para a vida quotidiana, para o muito fazer.

Reflitamos:

- O que elas nos ensinam para que tenhamos maior fidelidade ao Senhor, no testemunho uma fé autêntica?
- Qual a acolhida que Deus encontra em nosso coração?

- Qual o tempo que dedicamos à escuta de Sua Palavra?
- Quanto que sou capaz de sofrer por amor à Igreja, completando em minha carne o que falta à Paixão de Cristo por amor a Sua Igreja?

Somente enraizados, vivificados n’Ele é que frutos de vida eterna produziremos (Jo 15). Somente com a linfa vital do Seu Amor é que tornaremos a vida mais bela e fraterna.

Importa que saibamos parar e nos assentar aos pés do Senhor para O acolhermos, e consequentemente a Sua Palavra, que nos renova e revigora, prolongando-a no cotidiano, pois somente assim celebraremos e viveremos uma autêntica Eucaristia.

A travessia do mar tempestuoso (05/08)

                                                                

A travessia do mar tempestuoso

“Coragem, sou Eu. Não tenhais medo!”
(Mt 14,27)

Vou singrar o mar tempestuoso deste mundo,
Até um dia alcançar o porto feliz da eternidade.
Enfrentando os ventos contrários que não são poucos,
E, por vezes, me fazem sentir o medo do naufrágio.

Vou singrar com a esperança da desejada vitória,
Revendo, retrospectivamente, o caminho feito,
As marcas deixadas...
Com a coragem de assumir os erros e os acertos.

Vou singrar o mar revoltoso, agitado pelas ondas,
Certo de que a calmaria há de vir no tempo oportuno,
Com a confiança na força da Palavra do Senhor, que Se faz presente,
E para quem todas as forças e poderes são submetidos.

Vou singrar olhando para o novo horizonte da história,
Sem me entregar aos aparentes sinais de derrota,
Com a fé no Cristo, glorioso e Ressuscitado,
Que me envolve com Sua presença, graça e ternura.

Vou singrar corajosamente o mar revoltoso do  mundo,
Sem reclamar das dificuldades e desafios surgidos,
Amparado, em todo o tempo, pela mão poderosa do Senhor
Sempre pronta, a quem estender em confiante súplica.

Navegarei de mar em mar, incansável e corajosamente,
Travessias necessárias e possíveis a serem realizadas
Fortalecido pela Palavra que dos lábios divinos emanam,
Saciado e revigorado pelo Pão recebido na mesa da Eucaristia.

Singrarei com a certeza de que não navegamos sós, mas
Com a presença de irmãos nesta nau que segue em frente,
Jamais à deriva, porque sabem em quem confiam:
“Coragem, sou Eu, não temais” (Mt 14,27).

Unidos ao Senhor, uma fé viva e frutuosa (30/07)

Unidos ao Senhor, uma fé viva e frutuosa

“Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens,
… tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve”
(Jr 13,10)

Na segunda-feira da 17ª Semana do Tempo Comum (ano par), ouvimos a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 13,1-11).

O Profeta Jeremias, por ordem do Senhor, realiza uma ação simbólica, a fim de melhor captar a atenção e a compreensão dos seus ouvintes.

Com o simbolismo da faixa apodrecida, Jeremias dá um tom dramático à sua pregação, de modo que a faixa cingida e depois enterrada na lama até apodrecer, tem um duplo simbolismo:

- como a faixa adere ao corpo de quem a cinge, assim Israel era chamado a aderir ao Senhor, respondendo positivamente à Aliança com Deus, que antes uma iniciativa divina;

- porém, como o povo tinha quebrado a Aliança, não escutando a voz do Senhor, seguindo as próprias ideias, votando-se à idolatria, faliu na sua vocação, não prestou a Deus o serviço que lhe devia prestar, tornou-se como uma faixa apodrecida, sem qualquer valor, que não serve para absolutamente nada.

Por isto as duras palavras do Senhor são ditas pelo Profeta: “Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, … tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve” (Jr 13,10).

Esta imagem da faixa de linho, antes nova e depois apodrecida entre os rochedos, “é uma figura da Aliança desejada por Deus com Israel, mas muitas vezes comprometida ao longo da história da infidelidade do povo” (1).

A mensagem profética é contundente: é preciso que o povo se prenda ao Senhor de todo o seu coração, como uma esposa amada ao esposo. No entanto, o povo de Deus deixou apodrecer esta relação de amor por Deus oferecida, perdendo o sentido e o valor da própria existência.

Através do Profeta, Deus demonstra uma profunda amargura por esta atitude absurda do povo, e se tornam explicitas as causas, que levaram à ruína o dom da relação de amizade com Ele:

- a rejeição em escutar a Sua Palavra;
- comportar-se seguindo um coração obstinado;
- a idolatria.

Urge que também nós fiquemos atentos à escuta e acolhida da Palavra de Deus, a fim de que a coloquemos em prática, e não tenhamos, lamentavelmente, uma fé “apodrecida”, que já não servirá para mais nada, como a faixa de linho que fora enterrada e, consequentemente, apodrecida.

É preciso que nos prendamos ao Senhor, com total fidelidade, com pequenos e grandes gestos de amor, partilha, comunhão e solidariedade, e todo o cuidado para não nos desprendermos, distanciando-nos de Sua Palavra e de Seu Projeto de vida plena para todos nós.


(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum - Volume I - Editora Paulus - 2011 - p.822

A vida é uma travessia para a eternidade (05/08)

 




A vida é uma travessia para a eternidade

Quando reconhecemos Deus para viver plenamente no mundo da realidade, sabemos de onde viemos, nos movemos e somos.

É preciso saber viver, conscientes de que a vida é caminho; mas precisamos saber de onde viemos e para onde nos dirigimos, pois quem não sabe aonde quer chegar, tanto faz o caminho.

Salutar aprender e reconhecer que não somos obra do acaso, mas fruto de um imenso amor, e que todo nascimento humano é fruto de amor, porém cada nascimento e todos os nascimentos são frutos de um maior, de um infinito amor, o Amor de Deus.

Devemos aprender a reconhecer nossa história pessoal, que é na exata medida, uma história de salvação, pois Deus interveio e sempre intervém para nos libertar, para promover nossa verdadeira e plena maturação humana na história.

Creiamos que Deus vem sempre ao nosso encontro, sobretudo nas situações mais sombrias e adversas, para nos conduzir a uma pátria de felicidade que somente Ele pode nos alcançar (conceder).

Viver é, portanto, uma grande passagem, ou ainda, uma grande travessia, que se iniciou no ventre de uma mãe, e desabrocha no horizonte da eternidade, o céu, e deste modo, somente reconhecendo Deus, reconhecemo-nos, de fato, a nós mesmos, e nossa vida fica plena de sentido e destino.

 

PS: Fonte – Comentário do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro de Gênesis (Gn 4,32-40) – Editora Paulus – p.1123

O Senhor nos confia o Seu Reino (28/07)

                                                   

O Senhor nos confia o Seu Reino

Na segunda-feira da 17ª semana do Tempo Comum, a Liturgia da Palavra nos convida a renovar a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, à luz das parábolas do grão de mostarda e do fermento, contidas na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13, 31-35).

A Parábola é uma forma de linguagem que Jesus Se utiliza, acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora e pedagógica, para semear a Palavra no coração e na mente dos Seus ouvintes. Fala coisas tão belas e profundas a partir de coisas simples do cotidiano.

As Parábolas criam controvérsias, diálogo, questionamentos, num primeiro momento, depois se tornam provocadoras para novas atitudes e compromissos, mexendo com seus ouvintes.

Finalmente, levam o ouvinte a tirar as consequências para a vida, pois ajuda a pensar e rever as atitudes, a própria vida, o compromisso com Jesus e o Reino.

Quanto à parábola do grão de mostarda, vemos que o Reino de Deus é pequeno e aparentemente insignificante, mas crescerá até se tornar muito grande, assim como acontece com o grão de mostarda.

Nos fatos aparentemente irrelevantes e insignificantes, na simplicidade e no transcorrer normal de cada dia, na insignificância e limites dos meios de que dispomos na evangelização, esconde-se o dinamismo divino que atua na história oferecendo e possibilitando à humanidade caminhos novos de vida plena e salvação:

“Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais. E de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa”, como nos fala o Pe. Joan Konings (SJ).

O Reino de Deus é uma iniciativa divina, e para que ele aconteça, a comunidade precisa manter a serenidade, a confiança e a paciência. Importa lançar a Semente da Palavra do Reino no coração da humanidade.

Tenhamos a paciência evangélica para continuarmos com alegria, como Igreja, lançando sementes no coração da humanidade, para que possam florir na alegre presença do Reino que já está em nosso meio com a Pessoa e a Palavra de Jesus, que vemos e acolhemos em cada Eucaristia, quando a Palavra é proclamada, acolhida e vivida, e o Pão é comungado e o cotidiano Eucaristizado!

PS: Passagem paralela do Evangelho de Lucas (Lc 13,18-21)

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