quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Graça, gratidão e gratuidade

Graça, gratidão e gratuidade

É sempre tempo favorável para aprofundarmos a importância da Bíblia em nossa vida; ela que é fonte de água cristalina que sacia nossa sede de vida nova, de amor, de paz, de justiça.

Ela é o indispensável Alimento para que vivamos com ardor e paixão a vocação de Deus recebida como dom.

De inúmeros e diferentes modos, Deus nos chamou ao amor, e renovamos, permanentemente, nossa resposta a este chamado.

Pela vocação que o Senhor nos concedeu, por Sua Palavra, que ressoa no mais profundo de nossa alma, pelas graças que copiosamente nos cumula, ainda que sem méritos nossos, e ainda que não o percebamos, é preciso diante d’Ele nos colocar em atitude de gratidão e gratuidade.

Reflitamos:

Graça de Deus: 
Viver em comunidade, numa Paróquia, é graça de Deus para aprofundarmos amizades a serem celebradas e nutridas sobre o altar do Senhor; o bem querer de Deus para com todos nós, e em muitos momentos, nos enriquecem por Sua graça: Eucaristias, procissões, Sacramentos, momentos de espiritualidade. Graça que é força, ternura, carinho, presença amorosa que nos assegura firmeza no caminhar. Em nenhum momento Deus Se faz ausente, pois Ele ama, cuida, vela e zela por todos aqueles que são Seus.

Gratidão a Deus: 
Pela história que podemos escrever, participando de uma Paróquia; acolhida a novos agentes, somada à perseverança de outros; acolhida do sopro de Deus, que nos convida a abertura ao novo, a lançar redes em águas mais profundas (Lc 5,1-11), sendo uma Igreja em saída. Gratidão a Deus pela partilha das alegrias e tristezas, angústias e esperanças, saúde e doença. Participar de momentos expressivos como nascimentos e mortes fracassos e vitórias.

Gratuidade para com Deus: 
Gratuidade vivenciada em pequenos e grandes gestos de amor quando a comunidade se reúne; nas diversas atividades dos Agentes de Pastoral. Gratuidade que amadurece a fé; nutre a esperança e exercita a caridade. Gratuidade vivida a partir da experiência-vivência de um Deus que é Amor. Amor gratuitamente vivenciado é a imitação do amor de Deus que tanto nos amou, a ponto de entregar Seu Filho, para que crendo n’Ele tenhamos a vida eterna (Jo 3,16).

Roguemos a Deus, para que nosso coração seja inspirado pela brisa do Espírito Santo de Deus, e nossa alma seja ferida com o fogo da caridade, para que possamos crescer, abundantemente, no amor recíproco e para com todos.

Na vigilância, confiança e esperança de um novo céu e nova terra, sejamos impulsionados para novos e mais vastos horizontes, empenhando-nos em nossos trabalhos pastorais, revigorados no Altar da Eucaristia. A comunidade que evangeliza também se evangeliza rompendo as barreiras.

Seja o nosso coração confirmado na santidade, sem defeito aos olhos de Deus, e com o salmista rezemos:

“Grande é o Senhor e muito digno de louvores na cidade onde Ele mora... como é grande o nosso Deus!” (Sl 47,2.15).

Eternos aprendizes da Oração




Eternos aprendizes da Oração

Oração, indispensável como o ar que respiramos.
  
“As características da Oração de Esdras podem ser um ponto de confronto com as nossas:

Oração simples, apelo confiante a Deus de quem se reconhece pobre diante d’Ele;

Oração viva, que não dobra o homem sobre si mesmo e seu pecado, mas o eleva a Deus. Esse manifesta Sua onipotência no perdão, soerguendo os que se rebaixam.

Oração forte, insistente, que não cessa até que Deus lance Seus olhos ao pobre que suplica.

O arrependimento fá-lo encontrar a festa dentro de si. Não qualquer festa ou evasão, porém a festa de Cristo Ressuscitado, que leva sempre à libertação de quem nunca é vencido, porque sempre perdoado” (1).
  
A Oração do Sacerdote Esdras (Esd 9,5-9), guia e líder do povo, traz consigo três marcas: Simples, viva e forte!

Que as nossas Orações sejam sempre simples, vivas, e fortes, para que correspondamos aos desígnios divinos!


(1) Missal  Cotidiano - Editora Paulus - pág. 1304

“Enviados para anunciar a Boa-Nova”

“Enviados para anunciar a Boa-Nova

 “Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!”
(1Cor 9,16)

É sempre tempo favorável para o aprofundamento da vital missão da Igreja: evangelizar, proclamar a Boa Notícia do Evangelho a todos os povos:

"Todo poder foi me dado no céu e sobre a terra. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto Vos ordenei. E, eis que Eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 18-20).

Como a Igreja nos ensina, a evangelização é missão de todos os fiéis chamados, em virtude de seu batismo, a serem discípulos missionários de Jesus Cristo.

A missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, não se limitando a um programa ou projeto. É o compartilhar da experiência e do acontecimento do encontro pessoal com Jesus Cristo, por Ele se apaixonando, em corajoso e alegre testemunho a todas as pessoas, tornando visível o Amor misericordioso do Pai, especialmente com os pobres e pecadores.

Fiéis à sã doutrina da Igreja, procurando respostas evangélicas para as questões sociais que nos inquietam, a fim de que a vida seja promovida em todos os níveis e em todos os seus momentos, desde a concepção até seu declínio natural, por uma autêntica e sadia cidadania.

A cidade e seus desafios nos inquietam: a superação da miséria, fome, violência, extinção dos escândalos inúmeros (dos quais somos vítimas todos os dias).

É tempo de renovarmos nosso ardor missionário, procurando novas expressões e métodos, para que a Boa Notícia do Evangelho chegue a todos os povos, e que continue ressoando em nosso coração as palavras do Apóstolo Paulo, acima mencionadas.

Enquanto caminhamos na penumbra da fé até a Cidade Celestial, plena de luz, vida, amor e paz... fiquemos vigilantes e em Oração, reavivando sempre a graça do Batismo, em alegre anúncio, corajoso testemunho, fazendo da vida, amor, doação e serviço, como assim o fez Nosso Senhor, assistidos pela força do Espírito Santo, em total fidelidade ao Plano de Deus e ao Seu Reino.

O mais alto objetivo da Arte

O mais alto objetivo da Arte

Atribui-se ao filósofo George Friedrich Hegel esta frase:

O mais alto objetivo da arte é o que é comum à Religião e à Filosofia. Tal como estas, é um modo de expressão do divino, das necessidades e exigências mais elevadas do Espírito”.

Neste sentido, a arte apresenta-se como um processo de infinitização do finito, um convite à reflexão, nos interrogando incessantemente, porque em perfeita sintonia e intimidade com o pensamento e o sentimento.

Segundo Delmo Mattos, “Enquanto ideia, a Arte concilia o infinito no finito, representa o Absoluto numa matéria sensível ou plástica, presentifica o divino em elementos sensíveis, revelando-se a verdade da Arte. Nessa manifestação sensível, material, do espírito, a Arte contradiz sua própria forma, o que ela deve exprimir: seu conteúdo infinito, divino” (1)

Esta reflexão nos remete à recente Mensagem Oficial da CNBB:

 “Em toda sua história, a Igreja sempre valorizou a cultura e a arte, por revelarem a grandeza da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fazendo emergir a beleza que conduz ao divino. ‘A arte é como uma porta aberta para o infinito, para uma beleza e para uma verdade que vão mais além da vida quotidiana’ (Bento XVI – 2011). O mundo no qual vivemos, ensina Paulo VI, precisa de beleza para não cair no desespero (Cf. Mensagem aos Artistas – 1965).

Reconhecemos que “para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte” (São João Paulo II – Carta aos artistas 1999). Somos, por isso, agradecidos aos artistas pela infinidade de obras que enriquecem a cultura, animam o espírito e inspiram a fé.

 Merecem destaque a pintura, a música, a arquitetura, a escultura e tantas outras expressões artísticas que ressaltam a beleza da criação, do ser humano, da sexualidade, e o espírito religioso do povo brasileiro. Arte e fé, portanto, devem caminhar unidas, numa harmonia que respeita os valores e a sensibilidade de cada uma e de toda pessoa humana na sua cultura e nos seus valores”.(2)

Urge que se devolva à arte o seu mais alto objetivo, considerando tudo que vimos e ouvimos nestes dias.

Reconquiste a verdadeira arte espaços para que o espírito humano seja elevado, e que ela seja de fato “como uma porta aberta par ao infinito...”, como tão bem expressou o Papa Bento XVI.

A verdadeira arte é pão para nossa fome, e água cristalina para nossa sede do belo e elevação transcendente.



(1) Delmo Mattos em “o sublime e o belo artístico em Hegel”.
(2) Mensagem Oficial da CNBB - “Vencer a intolerância e o fundamentalismo”

A graça de pertencemos ao rebanho do Senhor

 


A graça de pertencemos ao rebanho do Senhor 
 
Reflexão à luz do Sermão do Bispo Santo Agostinho (séc. V) sobre os pastores e a vida de todos os cristãos.
 
“Não é de agora que vossa caridade sabe que nossa esperança está toda em Cristo e que nossa verdadeira glória de salvação é Ele. Sois do rebanho d’Aquele que guarda e apascenta Israel.
 
Mas por haver pastores que apreciam este nome, porém não querem exercer seu ofício, vejamos o que a seu respeito diz o Profeta. Escutai vós com atenção; escutemos nós com temor.
 
‘Foi-me dirigida a Palavra do Senhor que dizia: Filho do homem, profetiza contra os pastores e dize aos pastores de Israel’ (Ez 34,1-2).
 
Acabamos de ouvir a leitura deste trecho; resolvemos então falar-vos algo. O Senhor nos ajudará a dizer o que é verdadeiro, se não dissermos o que é nosso. Pois se dissermos o que é nosso seremos pastores a nos apascentar a nós, não as ovelhas. Se, ao contrário, dissermos o que é d’Ele, será Ele que vos apascenta por intermédio de quem quer que seja.
 
Assim diz o Senhor Deus: Ó pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos! Acaso não são as ovelhas que os pastores têm de apascentar? (Ez 34,2) quer dizer, os pastores apascentam ovelhas, não a si mesmos. É este o primeiro motivo de repreensão a tais pastores, que apascentam a si e não as ovelhas. Quem são estes que se apascentam? O Apóstolo diz: ‘Todos procuram seu interesse, não o de Jesus Cristo’ (Fl 2,21).
 
Quanto a nós, a quem o Senhor, por Sua benevolência e não por mérito nosso, estabeleceu neste cargo de que teremos difíceis contas a dar, devemos distinguir bem duas coisas: a primeira, somos cristãos, a segunda, somos bispos. Somos cristãos para nosso proveito; e somos bispos para vós. Como cristãos, atendemos ao proveito nosso; como bispos, somente ao vosso.
 
E são muitos os cristãos não bispos que vão a Deus por caminho mais fácil talvez, e andam com tanto mais desembaraço quanto menos peso carregam. Nós, porém, além de cristãos, tendo de prestar contas a Deus de nossa vida, somos também bispos e teremos de responder a Deus por nossa administração”.
 
Sempre tempo favorável para que avaliemos nossa vida cristã, se está de acordo com a vontade de Deus, na fidelidade a Jesus, assistidos pelo Espírito Santo.
 
Do mesmo modo, é sempre tempo favorável para rever como vivemos a vida nova que recebemos no dia de nosso Batismo.
 
Neste mês, especialmente dedicado à Bíblia, roguemos a Deus a sabedoria, coragem e mansidão para que vivamos a graça da missão evangelizadora, e que a Palavra de Deus seja sempre a luz de nosso caminho. Amém.
 

Irradiemos, em todo o lugar, a luz do Senhor

 


Irradiemos, em todo o lugar, a luz do Senhor
 
Reflexão à luz da passagem da Carta de Paulo aos Efésios (Ef 5,8-14).
 
Ressaltamos de modo especial este versículo: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz” (Cf. Ef 5,8). 
 
Em outra passagem de suas cartas, insiste: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas.” (Cf. 1Ts 5,5).
 
Nisto consiste a missão do discípulo missionário: ser luz do Senhor, por Ele iluminado e d’Ele iluminante, em todos os tempos e âmbitos (família, comunidade, trabalho, cultura, lazer, meios de comunicação; lugares reais ou também nos espaços/mídias virtuais).
 
Quando permitimos que o Cristo ocupe o primeiro lugar em nossa vida, e O temos como o centro de nossa existência, a fé se torna prática e resplandecemos como astros no mundo, não para um exibicionismo estéril.
 
Tão somente viveremos para testemunhar a Palavra Divina, Palavra de vida, e assim, frutos eternos produziremos, alegria plena alcançaremos, como Ele mesmo nos prometeu.
 
Somos iluminados e nos tornamos iluminantes, e aquecidos pelo fogo do Espírito, que faz arder nosso coração para que o mundo seja mais terno, quando somos sobressaltados com a frieza diante da vida, com mortes absurdas e inadmissíveis, pela fome ou pela violência.
 
Não podemos permitir que a frieza congele a nossa sensibilidade, para que não nos curvemosdiante de sentimento de impotência ou indiferença; tão pouco podemos permitir que nos cegue os olhos e petrifique nosso coração.
 
Urge que sejamos iluminados e iluminantes, como um pincel de luz, comunicando raios de luz em todas as situações, em todas as horas, sobretudo nas mais difíceis e sombrias, como a morte de alguém que tanto amamos. 
 
Importa ser sempre a luz do Senhor, noite e dia, como também exortou Paulo em sua Carta aos Filipenses:
 
“Sede irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual deveis resplandecer como astros no mundo..."  (Fl 2,15).
 
Vivamos, portanto, a graça batismal, irradiando a luz batismal, e assim, como discípulos missionários do Senhor,  iluminados e iluminantes seremos.
 

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

“Somos morada de Deus”

“Somos morada de Deus”

Com o Tratado sobre os Salmos, do Bispo Santo Hilário (séc. IV), aprofundemos sobre a graça do Batismo recebido e seus efeitos tão fascinantes:

“O rio de Deus enche-se a transbordar; e o trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra (Sl 64,10). Não há dúvida quanto à significação do rio. Pois o Profeta diz: O rio impetuoso alegra a cidade de Deus (Sl 45,5).

E o próprio Senhor diz no Evangelho: Quem beber da água que Eu lhe der, de seu seio brotarão rios de água viva, que jorra para a vida eterna (Jo 4,14).

E de novo: Do seio daquele que crer em mim, como está escrito, jorrarão rios. Queria com isto significar o Espírito Santo que iriam receber aqueles que n’Ele cressem (Jo 7,38-39).

Portanto, este rio de Deus transborda de água. Pelos dons do Espírito Santo somos inundados e, correndo daquela fonte de vida, o rio de Deus cheio de águas se derrama em nós. Encontramos também o trigo preparado. 

Que trigo é este? Certamente aquele que nos prepara para o consórcio com Deus, pela comunhão do santo corpo, que nos insere, em seguida, na comunhão do santo corpo.

É este o sentido do Salmo que diz: O trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra. Com este trigo, embora já sejamos salvos no presente, preparamo-nos para o futuro. 

Para nós, renascidos pelo Sacramento do Batismo, é imensa a alegria quando percebemos em nós certas primícias do Espírito Santo, quando se insinua a compreensão dos Sacramentos, a ciência da profecia, a palavra da sabedoria, a firmeza da esperança, os dons de cura e o domínio sobre os demônios vencidos.

Qual gotas de chuva tudo isto vai nos penetrando e aos poucos aquilo que germinou se multiplica em frutos copiosos”.

A graça do Batismo recebido nos concede as primícias do Espírito Santo, renovando-se em todo instante copiosa e abundantemente.

Pelo Batismo Deus faz em nós morada, para nos comunicar pelo Seu Espírito o que de melhor possui, para que nossa vida a Jesus seja conformada, na fidelidade e resposta ao Seu infinito amor.

Renovemos a alegria de sermos batizados e templos do Espírito Santo, também reconhecendo em cada pessoa, a imagem e semelhança de Deus.

Uma das mais belas Notícias que o cristianismo pode dar ao mundo: cada pessoa é morada divina, com sua sacralidade e dignidade, da concepção ao seu declínio natural.

Cada notícia de violência contra a vida, em pequena ou grande dimensão, é uma agressão e um atentado ao próprio Deus que nos criou por Amor, para que construamos relações mais humanas, justas e fraternas.

É mais do que tempo de vivermos esta verdade: somos morada de Deus.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG