quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Irradiemos, em todo o lugar, a luz do Senhor

 


Irradiemos, em todo o lugar, a luz do Senhor
 
Reflexão à luz da passagem da Carta de Paulo aos Efésios (Ef 5,8-14).
 
Ressaltamos de modo especial este versículo: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz” (Cf. Ef 5,8). 
 
Em outra passagem de suas cartas, insiste: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas.” (Cf. 1Ts 5,5).
 
Nisto consiste a missão do discípulo missionário: ser luz do Senhor, por Ele iluminado e d’Ele iluminante, em todos os tempos e âmbitos (família, comunidade, trabalho, cultura, lazer, meios de comunicação; lugares reais ou também nos espaços/mídias virtuais).
 
Quando permitimos que o Cristo ocupe o primeiro lugar em nossa vida, e O temos como o centro de nossa existência, a fé se torna prática e resplandecemos como astros no mundo, não para um exibicionismo estéril.
 
Tão somente viveremos para testemunhar a Palavra Divina, Palavra de vida, e assim, frutos eternos produziremos, alegria plena alcançaremos, como Ele mesmo nos prometeu.
 
Somos iluminados e nos tornamos iluminantes, e aquecidos pelo fogo do Espírito, que faz arder nosso coração para que o mundo seja mais terno, quando somos sobressaltados com a frieza diante da vida, com mortes absurdas e inadmissíveis, pela fome ou pela violência.
 
Não podemos permitir que a frieza congele a nossa sensibilidade, para que não nos curvemosdiante de sentimento de impotência ou indiferença; tão pouco podemos permitir que nos cegue os olhos e petrifique nosso coração.
 
Urge que sejamos iluminados e iluminantes, como um pincel de luz, comunicando raios de luz em todas as situações, em todas as horas, sobretudo nas mais difíceis e sombrias, como a morte de alguém que tanto amamos. 
 
Importa ser sempre a luz do Senhor, noite e dia, como também exortou Paulo em sua Carta aos Filipenses:
 
“Sede irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual deveis resplandecer como astros no mundo..."  (Fl 2,15).
 
Vivamos, portanto, a graça batismal, irradiando a luz batismal, e assim, como discípulos missionários do Senhor,  iluminados e iluminantes seremos.
 

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

“Somos morada de Deus”

“Somos morada de Deus”

Com o Tratado sobre os Salmos, do Bispo Santo Hilário (séc. IV), aprofundemos sobre a graça do Batismo recebido e seus efeitos tão fascinantes:

“O rio de Deus enche-se a transbordar; e o trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra (Sl 64,10). Não há dúvida quanto à significação do rio. Pois o Profeta diz: O rio impetuoso alegra a cidade de Deus (Sl 45,5).

E o próprio Senhor diz no Evangelho: Quem beber da água que Eu lhe der, de seu seio brotarão rios de água viva, que jorra para a vida eterna (Jo 4,14).

E de novo: Do seio daquele que crer em mim, como está escrito, jorrarão rios. Queria com isto significar o Espírito Santo que iriam receber aqueles que n’Ele cressem (Jo 7,38-39).

Portanto, este rio de Deus transborda de água. Pelos dons do Espírito Santo somos inundados e, correndo daquela fonte de vida, o rio de Deus cheio de águas se derrama em nós. Encontramos também o trigo preparado. 

Que trigo é este? Certamente aquele que nos prepara para o consórcio com Deus, pela comunhão do santo corpo, que nos insere, em seguida, na comunhão do santo corpo.

É este o sentido do Salmo que diz: O trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra. Com este trigo, embora já sejamos salvos no presente, preparamo-nos para o futuro. 

Para nós, renascidos pelo Sacramento do Batismo, é imensa a alegria quando percebemos em nós certas primícias do Espírito Santo, quando se insinua a compreensão dos Sacramentos, a ciência da profecia, a palavra da sabedoria, a firmeza da esperança, os dons de cura e o domínio sobre os demônios vencidos.

Qual gotas de chuva tudo isto vai nos penetrando e aos poucos aquilo que germinou se multiplica em frutos copiosos”.

A graça do Batismo recebido nos concede as primícias do Espírito Santo, renovando-se em todo instante copiosa e abundantemente.

Pelo Batismo Deus faz em nós morada, para nos comunicar pelo Seu Espírito o que de melhor possui, para que nossa vida a Jesus seja conformada, na fidelidade e resposta ao Seu infinito amor.

Renovemos a alegria de sermos batizados e templos do Espírito Santo, também reconhecendo em cada pessoa, a imagem e semelhança de Deus.

Uma das mais belas Notícias que o cristianismo pode dar ao mundo: cada pessoa é morada divina, com sua sacralidade e dignidade, da concepção ao seu declínio natural.

Cada notícia de violência contra a vida, em pequena ou grande dimensão, é uma agressão e um atentado ao próprio Deus que nos criou por Amor, para que construamos relações mais humanas, justas e fraternas.

É mais do que tempo de vivermos esta verdade: somos morada de Deus.

Vigilância necessária no relacionamento comunitário

 


Vigilância necessária no relacionamento comunitário

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. V), no aprofundamento da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,38-43.45.47-48).

“Portanto, quando escutas: Ai do mundo por causa dos escândalos, não te assustes. Ama a lei de Deus e não haverá escândalo para ti. Mas se aproxima a mulher te sugerindo não sei que mal. A amas como deve amar-se a esposa, como membro teu que ela é. Mas se teu olho te escandaliza, se tua mão te escandaliza, se teu pé te escandaliza, como ouviste no Evangelho: corta-os e lança-os longe de ti.

Quem te é muito querido, aquele a quem tens muito apreço, considera-o grande, considera-o como teu membro querido enquanto não comece a escandalizar-te, ou seja, a persuadir-te algum mal. Escutai que isto é o escândalo.

Colocamos como exemplo a Jó e a sua esposa; porém, ali não aparece a palavra escândalo. Escuta o Evangelho: Quando o Senhor se pôs a falar de sua paixão, Pedro começou a dissuadir-lhe de padecer. Aparta-te de mim, satanás, porque tu és para mim escândalo. Desta forma o Senhor, que te deu o exemplo de como viver, te ensinou em que consiste o escândalo e o modo de precaver-te dele.

Tendo-lhe dito antes: Feliz és, Simão Bar Jona, tinha manifestado que era seu membro. Mas quando começou a servir-lhe de escândalo, cortou o membro; em seguida o refez e o repôs. Portanto, será escândalo para ti quem comece a te persuadir para algum mal. E entenda-o bem vossa caridade: isto acontece a maior parte das vezes não por malignidade, mas por uma perversa benevolência.

Por exemplo: teu amigo te vê, que te ama e a quem amas, teu pai, teu irmão, teu filho, tua esposa; teu amigo te vê no mal e quer te fazer mal. O que é te ver no mal? É te ver em alguma tribulação. Talvez a sofres por causa da justiça; talvez a sofres porque não queres proferir um falso testemunho. Falei isto a modo de exemplo. Estes abundam, visto que ai do mundo por causa dos escândalos!

Por exemplo: um homem poderoso, para alcançar seu despojo e conseguir seu roubo, te pede o serviço do falso testemunho. Tu te negas; negas a falsidade, para não negar a verdade. Para não perder tempo, ele se enfurece e, sendo poderoso, te recompensa. Aproxima-se o teu amigo que não deseja ver-te em tal aperto com estas palavras: ‘Suplico-te, faz o que te diz: que importância tem?’ Talvez se repete o que satanás disse ao Senhor: Está escrito de ti que enviará os seus anjos para que teu pé não tropece. Talvez também este teu amigo, como vê que és cristão, quer persuadir-te com testemunhos da lei a que faças o que ele pensa que deves fazer. ‘Faz o que diz’. ‘O quê?‘O que ele deseja’. ‘Mas se trata de uma mentira, de uma falsidade’. ‘Não leste que todo homem é mentiroso?’ Eis aqui já o escândalo. Trata-se de teu amigo; o que vais fazer? É tua mão, teu olho: Arranca-o e lança-o longe de ti. O que significa arranca-o e lança-o longe de ti? Não consintas. Arranca-o e lança-o longe de ti significa não consentir.

Os membros de nosso corpo, pela coesão, formam uma unidade, pela coesão que vivem, e pela coesão se unem entre si. Onde há dissensão há enfermidade ou ferida. Portanto, visto que é teu membro, o amas; mas se te escandaliza, arranca-o e lança-o longe de ti. Não consintas; afasta-o de teus ouvidos, talvez volte corrigido.” (1)

Na vivência comunitária, devemos ser vigilantes na própria conduta, para que não sejamos motivo de escândalo, fragilizando a convivência e fortalecimento de nossas comunidades.

Bem afirmou o bispo – “Ama a lei de Deus e não haverá escândalo para ti”.

Na prática fecunda do Mandamento do amor a Deus e ao próximo, não seremos causa de escândalo, bem como, saberemos ajudar nosso próximo a retornar ao bom caminho, na fidelidade ao Senhor.

Seja em todo o tempo vivida a misericórdia em suas expressões, como nos lembra Santa Faustina de Kowalskas:

“Vós mesmo mandais que eu me exercite em três graus da misericórdia; primeiro: Ato de misericórdia, de qualquer gênero que seja; segundo: Palavra de misericórdia – se não puder com a ação, então com a palavra; terceiro: Oração. Se não puder demonstrar a misericórdia com a ação nem com a palavra, sempre a posso com a oração. A minha oração pode atingir até onde não posso estar fisicamente.
 
Ó meu Jesus, transformai-me em Vós, porque Vós tudo podeis”. Amém.”  (2)

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.477-478

(2)Santa Faustina Kowalska, escrito em 937, Diário (p.163 - Caderno I)

 

A oração e prática da Palavra divina

 


A oração e prática da Palavra divina

Reflexão à luz da Carta de São Tiago (Tg 1,17-18.21-22.27), sobre a inseparável relação  entre fé e obras.

O autor da Carta nos exorta a não sermos meros ouvintes da Palavra, mas praticantes, não nos enganando a nós mesmos.

A fidelidade aos ensinamentos de Cristo nos compromete com o próximo (representado na figura do órfão e da viúva), e nisto consiste a verdadeira religião, pura e sem mancha: solidariedade vivida e vigilância, para não se contaminar com os contravalores que o mundo apresenta.

É preciso, portanto, superar a frieza, o legalismo e o ritualismo religioso, procurando viver uma Religião comprometida com o Reino por Jesus inaugurado.

A Palavra de Deus quer encontrar no coração humano a frutuosa acolhida, portanto, há um itinerário da Palavra: acolher, acreditar, anunciar e testemunhar a Palavra de Deus, que nos garante vida e felicidade plena.

É preciso que demos mais tempo à Palavra de Deus, em frutuosa oração e reflexão, que farão brotar novas atitudes e compromissos com Deus e o Seu Projeto para a humanidade.

É sempre tempo de cultivar maior intimidade e compromisso com a Palavra de Deus, e fundamental que valorizemos a prática da leitura orante com seus passos, a lectio divina, composta por quatro etapas: 1) lectio (leitura), 2) meditatio (meditação), 3) oratio (oração) e 4) contemplatio (contemplação).

 

Em poucas palavras...

                                                   


“Mas é Deus que primeiro chama o homem...”

“Mas é Deus que primeiro chama o homem. Muito embora o homem se esqueça do seu Criador ou se esconda da sua face, corra atrás dos ídolos ou acuse a divindade de o ter abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incansavelmente cada pessoa ao misterioso encontro da oração.

Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma resposta. A medida que Deus Se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco, um drama de aliança. 

Através das palavras e dos atos, este drama compromete o coração e manifesta-se ao longo de toda a história da Salvação.”

 

(1)   Catecismo da Igreja Católica – parágrafo 2.567

 

Em poucas palavras...

                                          


Pecados que bradam ao céu

“A tradição catequética lembra também a existência de «pecados que bradam ao céu».

Bradam ao céu: o sangue de Abel (Gn 4,10); o pecado dos sodomitas (Gn 18,20; 19,13); o clamor do povo oprimido no Egito (Ex 3,7-10); o lamento do estrangeiro, da viúva e do órfão (Ex 20,20-22); a injustiça para com o assalariado (Dt 24,14-15; Tg 5,4).”  (1)

 

(1)               Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1867

Deus misericordioso não quer que ninguém se perca

 


Deus misericordioso não quer que ninguém se perca

“Prega a palavra, insiste a tempo

e fora de tempo” (cf. 2Tm 4,2) 

 

Sejamos enriquecidos pelo sermão sobre os pastores, escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Agostinho (Sec.  V).

“A desgarrada não reconduzistes e a que se perdia não fostes procurar (Ez 34,4).  Aqui às vezes caímos em mãos dos ladrões e nos dentes dos lobos vorazes. 

Rogamos, pois, que oreis por estes nossos perigos.  Também as ovelhas são rebeldes.  Quando procuramos as erradias, declaram não ser nossas, para seu erro e perdição: ‘Que quereis de nós?  Por que nos procurais?’ Como se não fosse o mesmo motivo que nos faz querê-las e procurá-las; porque se desviam e se perdem.  Se estou no erro, diz, se na morte, que queres de mim?  Por que me procuras?’ Justamente porque estás no erro, quero reconduzir-te; porque te perdeste quero encontrar-te.  Quero assim errar, quero assim me perder’.

Queres vaguear assim, queres perder-te assim?  Muito bem, mas eu não quero.  Ouso dizer isto mesmo: sou importuno.  Escuto o Apóstolo que diz: Prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo (2Tm 4,2). 

Com quem, a tempo?  Com quem, fora de tempo?  A tempo com os desejosos, fora de tempo com os que não querem ouvir.  Sou inteiramente importuno, ouso dizer: ‘Tu queres errar, tu queres perecer; eu não quero’.  E afinal, não o quer Aquele que me faz tremer. 

Se eu quiser o erro, vê o que me dirá, vê como me repreenderá: Ao desgarrado não reconduzistes, ao que se perdera não fostes procurar.  Temerei mais a ti do que a Ele?  Teremos todos de nos apresentar ao tribunal de Cristo (2Cor 5, 10).

Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida.  Quer queiras quer não, assim farei.  E se, em minha busca, os espinhos dos bosques me rasgarem, eu me obrigarei a ir por todos os atalhos difíceis.

Baterei todos os cercados; enquanto me der forças o Senhor que me ameaça, percorrerei tudo sem descanso. 

Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida.  Se não queres que eu sofra, não te desgarres, não te percas.  E pouco dizer que tenho pena de ti, desgarrada e perdida. Tenho medo de que, se te abandonar, venha a matar o que é forte. Escuta o que se segue. E ao que era forte, matastes (Ez 34,3).  Se eu abandonar a desgarrada e perdida, o que é forte terá gosto em desgarrar-se e perder-se.”

Na fidelidade ao Deus de misericórdia, devemos fazer todo o esforço para que nenhuma de Suas “ovelhas” se disperse, por isto é preciso insistir a tempo e fora do tempo.

De fato, Deus jamais desiste de nós, e é Sua divina vontade que todos sejam salvos. Cabe a nós darmos nossa resposta livre e decidida de amor, sem jamais afastar de Seu rebanho, e do cumprimento de Sua vontade, sobretudo o amor a Ele acima de tudo e de todos. Amém.

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