quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Senhor, quero falar contigo...

Senhor, quero falar contigo...

Senhor Jesus, 
Vós que Ressuscitastes e estais sentado à direita de Deus,
Sois a luz penetrante que invade minha alma,
Iluminai os lugares mais sombrios e obscuros de minha mente e pensamento,
Para que eu possa no mundo resplandecer a Vossa divina luz:
Com palavras, gestos, renovados compromissos batismais.
 
Senhor Jesus, para quem é impossível ocultar o que sou e quem sou,
Que conheceis o mais profundo de mim, pois bem aqui habitais.
Ajudai-me a perceber Vossa maviosa presença, 

sem jamais o esmorecimento e o pretenso retorno a “Emaús”, 
sem qualquer chama de alegria e esperança.
Reavivai em mim o sonho puro, a doce confiança, 

um coração terno de criança.
Senhor Jesus,  que quereis comigo estabelecer 
uma relação de profundidade/intimidade,
Que eu saiba corresponder à altura, ao Vosso incrível Amor, 
extremado na Morte de Cruz.
Que a lógica por mim vivida preencha todo meu ser.                      
Renove minha postura diante do outro e do mundo, 
porque se meu coração Pelo “fogo devorador” do Vosso Espírito, inflamado, passos firmados na santificação.
Senhor Jesus, que eu tenha coragem de confrontar 
a minha existência com a luz da Vossa Verdade;
Que não haja em mim espaço para a lógica 
da malícia, maldade, crueldade, infidelidade.
Somente pelo Vosso Amor incomparável, indizível, 

quero sedimentar cada momento:
Na família, na Igreja, na sociedade, no mundo, 

impregnado pela Vossa Divina Palavra, 
Nutrir-me do Pão de Imortalidade, 

inebriar-me do Vinho do Sagrado Cálice: 
ser Vosso fermento.
Senhor Jesus, que cada passo dado, 
cada página escrita, com a tinta do Amor
Do Vosso Santo Espírito o tenha sido, 
pois assim esperais de mim, é o que anseias.
Que eu lance âncoras na eternidade, 

num presente vivido em contínuos mergulhos
                          No mar infinito de Vossa misericórdia,                               
caridade, amor, ternura e bondade.
Somente assim serei de fato Pascal, 
buscando a glória da imortalidade.
Senhor Jesus que descestes à mansão triste e escura dos mortos;
Vós que por Amor não evitastes as entranhas obscuras do túmulo;
Que suportastes ser o Grão de Trigo no chão caído, morto,
 
Para que na glória fosseis pelo Pai Ressuscitado, Glorificado.
Que vivendo e crendo em Vós, 

um dia eu seja elevado para o alto, onde estais.
Senhor Jesus, como Vos amo!
Senhor Jesus, como Vos adoro!
Senhor Jesus, como nada ainda Vos amo!
Como nada ainda Vos adoro!
Senhor Jesus, por mais que Vos ame,
Jamais Vos amarei como me amais.
Senhor Jesus, uma súplica última:
Dilatai as medidas de meu coração.
Amém. 

“Por que as pessoas procuram uma religião?”

                                                           

Por que as pessoas procuram uma religião?”

Uma breve reflexão a partir da passagem do Evangelho proclamado na quarta feira da 22ª Semana do Tempo Comum (Lc 4, 38-44).

Uma pergunta aparentemente simples, mas nem tanto: “Por que as pessoas procuram a religião?”

Há os que acreditam que a maioria das pessoas que procuram a religião o faz por motivos egoístas, relacionando Deus como um grande servidor para obter a proteção, saúde, sucesso econômico, profissional, social ou afetivo.

Também pode ser para fugir do medo do desconhecido, do sobrenatural ou da própria morte, que se vislumbra irreversivelmente no horizonte de cada um de nós.

Outros afirmam que ela é um ópio que nos aliena da realidade em que nos encontramos inseridos, ocultando as complexidades e conflitos da sociedade.

Porém, há um autêntico motivo: a nossa configuração plena com Jesus. À luz dos Evangelhos, aprendemos a procurar na religião um relacionamento pessoal e amoroso com o próprio Deus, para que possamos servi-Lo amando os nossos irmãos e irmãs.

Nisto consiste o melhor conceito de religião, ainda que dito de forma sucinta: religar – religar-nos com Deus e com nosso próximo.

Torna-se um imperativo na vida do discípulo missionário do Senhor o conhecimento do Evangelho, no qual Ele nos anuncia a Boa-Nova do Reino de Deus.

O conhecimento do Evangelho interpela, inexoravelmente, à vivência concreta do amor, da solidariedade, do perdão, da partilha em relação com o nosso próximo.

Assim como Jesus no raiar do dia se recolheu em intimidade e Oração diante do Pai, também precisamos deste momento, em que nos colocamos num diálogo amoroso e frutuoso com o Deus Pai de Amor, para maior fidelidade ao Filho e continuidade de Sua missão com a força, sabedoria e luz do Santo Espírito.

Sem momentos de recolhimento, revigoramento de nossas forças, sem que nos deixemos interpelar por Deus e por Sua Palavra e vontade, podemos viver uma religião com matizes que subtraem o verdadeiro motivo da religião.

Portanto, é preciso que nossa vida seja mais intensamente configurada a Jesus, num relacionamento mais amoroso com Deus, para que mais fraternos o sejamos. 

Sejamos febris de amor pelo Senhor!

                                                          

Sejamos febris de amor pelo Senhor!

“Simão, filho de João, tu me amas mais que estes?” (Jo 21, 15)

Ressoa em meu coração aquela conversa séria, profunda, impactante,
que marcou a vida, o rumo do Apóstolo Pedro, e de toda a Igreja.

A tríplice interrogação do Senhor, a tríplice resposta de Pedro,
A tristeza que por um instante pareceu corroer seu coração.

Aborrecível sim, inegável, mas foi necessário,
Para que não O negasse nas horas que viriam.

A gloriosa manifestação do Ressuscitado (terceira aparição),
Marcada pela pesca, refeição e o primado da missão.

Quero mais que uma conversa sincera contigo, Pedro,
Quero também maviosas lições de ti aprender

Para apascentar o rebanho, pelo Senhor, a mim confiado,
Não pelos meus méritos, mas por Seu infinito amor e bondade.

Vejo-te, admiro-te, amo-te, Pedro, ontem.
Vejo-te, admiro-te, amo-te, Papa Leão XIV hoje.

Tiveste o coração trespassado pelas interrogações; a Palavra do Verbo
Para suportar outras chagas preanunciadas, reais, consumadas.

O Senhor, três vezes te indagando, comunica-te o perdão,
Porque também três vezes tu fizeste d’Ele a negação.

O Senhor tocou em tuas feridas ainda abertas,
Daquela noite inesquecível da tríplice indagação.

O Senhor quis curá-las, para que elas não te devorassem,
Quando tivesse que levar adiante a divina missão.

Pedro, navegarás por outros mares, outras redes lançarás,
Mas, na fidelidade à Palavra, pesca abundante sempre terás.

Enfrentarás os mares revoltosos da vida,
Não naufragarás no mar tempestuoso das paixões.

Não naufragarás neste e em outros mares,
Porque foste salvo no mar da misericórdia do Senhor.

O Senhor te chamou e perdoou, porque muito te amou,
O primado da missão, as chaves do Reino a ti confiou.

Não sucumbirás no mar das angústias que te cercarão,
Pela incompreensão, calúnias, cadeias e perseguição.

Pedro, terás que amar mais do que todos ao Senhor,
Mais do que o próprio discípulo amado que lá se encontrava.

Sem amor incondicional, fracasso na missão recebida;
Fracasso na condução do rebanho por Ele confiado.

Serás enamorado do Verbo, ao lado do discípulo amado,
Enamoramento iniciado, crescente, eternizado...

Terás que ter sabedoria divina para vencer todo medo,
Confiante na ação do Espírito, Divina Fonte de Sabedoria.

Sentirás tristezas momentâneas, inevitáveis,
Mas transformar-se-ão em alegrias eternas.

Suportarás fráguas, infortúnios incontáveis, tribulações,
Dificuldades, asperezas, incômodos, vicissitudes e tormentas.

Terás dias sombrios e difíceis, horas amargas de incompreensão,
Calúnia, perseguição, mas, do Senhor, terás consolo, confirmação.

Enfrentarás ventos contrários, muitas vezes
Nadarás em seco, remarás contra a maré.

Jamais nenhuma nuvem tenebrosa ofuscará o brilho
Que o Senhor te conferiu, porque sinal da Sua Luz te fez.

Ocupar-te-ás com o maravilhoso, com o ainda não visto,
Com a Novidade do Reino: novo céu e nova terra.

Terás a alma em suave e incomparável deleite,
Porque testemunha crível e amada do Senhor.

Terás fascínio indescritível pelo Senhor, porque tens
Um coração ardente em lavras vulcânicas de amor.

E serás intrépido e febril de amor pelo Senhor,
Amor incandescente que rios jamais poderão apagar.

Febricitante pela causa do Evangelho a anunciar,
Impulsionado pelo mesmo Evangelho a viver.

O zelo pelas coisas do Senhor te consumirá invejavelmente,
Nada mais te importará a não ser o Amado jamais desapontar.

Serás consumido em indescritível martírio de morte e dor,
Envolvido pelo suave odor do Amor do Senhor.

A paixão te levará no Senhor totalmente confiar,
Sem nenhuma resistência e oposição, bela expressão de amor.

Sim, terás o céu na terra, absorto em contemplação,
Sem desviar do caminho da entrega, da cruz, com convicção.

Terás que te entregar de corpo e alma à missão,
Apaixonado, eternamente feliz e apaixonado.

Verás que a felicidade é diretamente proporcional
Ao amor pelo Senhor testemunhado, também na cruz morrendo.

Terás prelibação em cada instante da vida pela causa assumida,
Mas não estarás livre da libação de teu sangue, anunciado martírio.

Tua impetuosidade, agora mais do que nunca necessária, será
Para não ruir na fidelidade à missão pelo Divino Mestre confiada.

Serás veemente convicto, irremovível pela causa do Evangelho,
Sem sucumbir à arrogância, à petulância pela graça da missão.

Se a chama inflamável da Palavra estava em teus lábios,
Porque antes a chama de Amor d’Ele em teu coração estava.

Pedro, assim é teu coração, que também o meu seja:
Tomado pela chama, fogo, labaredas de amor pelo Senhor.

Pedro, és para nós modelo de Fé e a Igreja nos convida
A aprender com aqueles que a fé testemunharam.

Pedro, quanto temos que aprender contigo,
Quanto temos que o mesmo amor viver!

Ontem o Senhor te interrogou sobre teu amor,
Agora é a mim que ele interroga, Pedro.

Que eu aprenda contigo a resposta com sabedoria dar,
Que também meu coração seja como o teu, Pedro:

Um coração inflamado de amor,
Febril de amor pelo Senhor.

Somente corações enternecidos pelo Senhor
É que se comprometem em criar um mundo novo.

Somente corações envolvidos pela ternura do Senhor
É que se comprometem em criar laços indestrutíveis de amor.

Obrigado, Pedro, por tão belas e eternas lições;
Aprendizes delas sejamos, mais que felizes seremos.

Amém. Aleluia! 

Cura: interação da ação divina e humana

                                                        


Cura: interação da ação divina e humana 

"Pois a glória de Deus é o homem vivo, 

e a vida do homem é a visão de Deus. "

Reflitamos sobre a enfermidade e a cura, quando Jesus curou a sogra de Pedro, bem como a muitos enfermos de diversas doenças, ao final da tarde (Mc 1,29-39; Lc 4,38-44).

Assim lemos no Comentário do Missal Dominical:

“A experiência de uma enfermidade ou de uma situação de perigo pertence à da bagagem de todo homem.

Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à oração e acender uma vela.

Isto não quer dizer que tenha desaparecido a religiosidade ou que seja sintoma de ateísmo. Talvez se tenha simplesmente mudado o modo de encontrar-se com Deus.

O mundo foi confiado ao homem para que o transforme, construindo uma realidade sempre mais humana através da ciência e da organização social, que constituem o instrumento e as modalidades de transformação.

Esta tarefa se insere no quadro da relação Deus-homem e a ciência se torna seu lugar de encontro. E o é porque o homem, enquanto artífice no meio das realidades terrestres, se torna colaborador de Deus, e a ciência é a nova síntese baseando-se nos elementos do ‘criado-por-Deus’.

A ciência, pois, longe de afastar de Deus, aproxima mais profundamente dele, pelo respeito ao homem.

No quadro da fé, Cristo é libertador-vencedor da morte por Sua Ressurreição. Sua vitória é radical, mas em estado potencial. Cabe ao homem ‘novo’ tornar consistente esta vitória de Cristo.

Vencer a doença pela pesquisa científica significa ‘viver a Ressurreição de Cristo’. A libertação da moléstia, que a ciência realiza, assume uma significação particular no contexto do símbolo da libertação radical.

Debelar uma enfermidade, eliminar uma praga social, é símbolo-sacramento da libertação para a qual o Pai conduz a humanidade.”

Retomo duas afirmações para reflexão:

- “Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à oração e acender uma vela”;

- “Vencer a doença pela pesquisa científica significa ‘viver a Ressurreição de Cristo’”.

A oração, como expressão da fé em Deus, não dispensa a interação e colaboração do saber humano, das tecnologias, do desenvolvimento dos recursos disponíveis para debelar, curar as enfermidades das quais somos todos vulneráveis.

A fé em Deus, ao contrário, é um impulso para que mais pessoas tenham acesso ao que a medicina pode oferecer para curar e tornar a vida mais digna, mais humana.

A fé não dispensa compromissos com políticas públicas para que todos tenham acesso a um melhor atendimento médico, em Unidades Básicas, Postos de Saúde, Hospitais etc.

A fé em Deus nos leva à indignação e denúncia de desvios dos recursos que deveriam ser revertidos na promoção do bem comum, favorecendo melhores condições de atendimento a um enfermo, sobretudo os mais pobres.

Acender velas a Deus, confiando em Seu poder de curar, é possível e necessário, mas não se pode exigir que Ele faça o que esteja ao alcance de todos nós.

Urge vencer a doença pela pesquisa científica, a cada dia mais avançada, e isto nos faz verdadeiramente pascais, partícipes do Mistério da Paixão e Morte do Senhor, que veio no curar e nos salvar.

A cura de Deus, portanto, é graça, e podemos acender nossas velas em oração, mas sejam favorecidos todos os meios possíveis que o saber científico desenvolveu, como graça de Deus, para que as dores sejam amenizadas, enfermidades curadas.

Cura do corpo e da alma foram ações de Jesus, e serão sempre, pois Deus nos quer vivos e saudáveis, porque fomos criados à Sua imagem e semelhança, e, o Seu sopro de criador, recebemos, e nos tornamos Sua morada.

Finalizo com as palavras do Bispo Santo Irineu (séc. II):

“Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá a vida a todos os que veem a Deus”.  

 

 

(1) Comentário do Missal Dominical - pág.893

 

Febris de amor para amar e servir

                                                            

Febris de amor para amar e servir

 “Minhas lágrimas e minha penitência
têm sido para mim como o Batismo”

Na quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum, ouviremos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro que estava com febre.

Sejamos iluminados pelo Comentário de São Jerônimo, doutor da Igreja, (séc. V).

“A sogra de Pedro estava com febre.
Oxalá venha e entre em nossa casa o Senhor e com uma ordem Sua cure as febres de nossos pecados! Porque todos nós temos febre.

Tenho febre, por exemplo, quando me deixo levar pela ira. Existem tantas febres como vícios. Por isso, peçamos que intercedam frente a Jesus, para que venha a nós e segure nossa mão, porque se Ele segura a nossa mão, a febre foge em um instante. Ele é um médico nobre, o verdadeiro protomédico. Médico foi Moisés, médico Isaías, médico todos os Santos, mas este é o protomédico. Sabe tocar sabiamente as veias e perscrutar os segredos das enfermidades.

Ele não toca o ouvido, não toca a fronte, não toca nenhuma outra parte do corpo, mas a mão. Tinha febre, porque não possuía boas obras.

Em primeiro lugar, portanto, tem que curar as obras, e logo remover a febre. A febre não pode fugir se não são curadas as obras. Quando nossa mão possui más obras, jazemos no leito, sem podermos levantar, sem poder andar, pois estamos totalmente consumidos na enfermidade.

E aproximando-Se daquela que estava enferma.
Ela mesma não pôde levantar-se, pois jazia no leito e, portanto, não pôde sair ao encontro do que vinha. Porém, este médico misericordioso, ele mesmo acode ao leito; Aquele que tinha levantado sob Seus ombros a ovelhinha enferma, Ele mesmo acorre ao leito. E aproximando-Se... Sobretudo Se aproxima, e o faz para curá-la. E aproximando-Se... Observa o que Ele diz. É como dizer: seria suficiente sair-me ao encontro, achegar-te à porta e receber-me, para que tua saúde não fosse totalmente obra de minha misericórdia, mas também de tua vontade. Porém, já que te encontras oprimida pelas altas febres e não pode levantar-se, Eu mesmo venho a ti.

E aproximando-Se, a levantou.
Visto que ela mesma não podia levantar-se, é segurada pelo Senhor. Ele a levantou, tomando-a na mão. Segurou-a precisamente na mão. Também Pedro, quando perigava no mar e afundava, foi agarrado na mão e erguido. E levantou-a tomando-a pela mão, Com Sua mão o Senhor tomou a mão dela. Ó feliz amizade, ó formoso afago! Levantou-a segurando-a com Sua mão: com Sua mão curou a mão dela. Segurou sua mão como um médico, tomou o pulso, comprovou a intensidade das febres, Ele mesmo, que é médico e medicina ao mesmo tempo.

Jesus a toca e a febre foge. Que Ele toque também a nossa mão, para que nossas obras sejam purificadas, que Ele entre em nossa casa: por fim, levantemo-nos do leito, não permaneçamos abatidos. Jesus está de pé frente ao nosso leito, e nós permanecemos deitados? Levantemo-nos e fiquemos de pé: é para nós uma vergonha que estejamos recostados diante de Jesus.

Alguém poderá dizer: Onde está Jesus? Jesus está aqui agora. No meio de vós, diz o Evangelho, está alguém a quem não conheceis. O Reino de Deus está no meio de vós. Creiamos e vejamos que Jesus está presente. Se não podemos tocar Sua mão, prostremo-nos aos Seus pés. Senão podemos chegar à Sua cabeça, ao menos lavemos Seus pés com nossas lágrimas. Nossa penitência é unguento do Salvador. Vede quão grande é a Sua misericórdia. Nossos pecados fedem, são podridão e, contudo, se fizermos penitência pelos pecados, se os chorarmos, nossos pútridos pecados se convertem em unguento do Senhor. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos tome pela mão.

E no mesmo instante, afirma, a febre a deixou.
Apenas a segura pela mão e a febre a deixa. Observa o que segue: No mesmo instante a febre a deixou. Tem esperança, pecador, contanto que te levantes do leito.

O mesmo ocorreu com o santo Davi, que tinha pecado, deitado na cama com a mulher de Urias, o hitita, sentindo a febre do adultério, depois que o Senhor o curou, depois de ter dito: tem piedade de mim, ó Deus, por tua grande misericórdia, assim como: Contra Ti, só contra Ti pequei, cometi o mal aos Teus olhos. Livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu... Porque ele tinha derramado o sangue de Urias, ao ter ordenado derramá-lo. Disse: livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu, e renova meu espírito em meu interior.

Observa o que diz: Renova. Porque o tempo em que cometi o adultério e perpetrei o adultério e o homicídio, o Espírito Santo envelheceu em mim. E o que mais ele diz? Lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Porque me lavaste com minhas lágrimas.

Minhas lágrimas e minha penitência têm sido para mim como o Batismo. Observa, então, de penitente em que se converte. Fez penitência e chorou, por isso foi purificado. O que acontece em seguida? Ensinarei aos iníquos Teus caminhos e os pecadores voltarão a Ti. De penitente se tornou mestre.

Por que disse tudo isto? Porque aqui está escrito: E no mesmo instante a febre a deixou e se pôs a servir-lhes. Não basta que a febre a deixasse, mas também se levanta para o serviço de Cristo. E se pôs a servi-lhes. Servia-lhes com os pés, com as mãos, corria de um lugar ao outro, venerava ao que lhe tinha curado. Sirvamos também nós a Jesus. Ele acolhe com gosto o nosso serviço, mesmo que tenhamos as mãos manchadas: Ele Se digna olhar aquele que curou, porque Ele mesmo o curou. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Jesus é, o Médico e tem a cura para nossas enfermidades, sejam quais forem.

Assim como Jesus curou a sogra de Pedro da febre que a acometia, e ela logo se pôs a serviço, também sejamos curados de nossas febres de tantos nomes (soberba, avareza, luxúria, ira, inveja, gula e preguiça), que consistem exatamente nos sete pecados capitais, que nos escravizam e nos roubam a alegria do serviço.

Curados pelo Médico, pelo Protomédico, curados pelo próprio Senhor, tomados pela Sua Mão, levantemo-nos e coloquemo-nos a serviço da vida e da esperança, para que a justiça e a paz se abracem, o amor e a verdade se encontrem, como rezou o Salmista (Sl 85,11). 

A sogra foi curada de uma febre para pôr-se a serviço; Pedro precisou, mais tarde, ser tomado pela febre de amor, para que o Senhor lhe confiasse o rebanho.

Há febres que precisamos ser curados, e há uma febre que deve, a cada dia mais, tomar conta de nosso coração: a febre de amor pelo Senhor.

Tão somente febris de amor pelo Senhor, somos curados das febres indesejáveis que nos afastam da alegria da participação da construção do Seu Reino.


 (1) Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes - pp.382-384

O Senhor cura-nos para o discipulado

                                                        

O Senhor cura-nos para o discipulado

A Liturgia da quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,38-44), em que Jesus cura a sogra de Pedro, e curada põe-se a servir.

Oportuno para refletirmos sobre qual é o sentido do sofrimento e da dor, que acompanham a caminhada da humanidade, apesar de Deus possuir um Projeto de vida verdadeira e felicidade plena e infinita para a mesma.

Como explicar o sofrimento dos bons, dos justos, dos inocentes?

No Livro de Jó (Jó 7, 1-4.6-7), já fora retratado sobre o sofrimento do justo, do inocente.

O sofrimento de Jó leva-nos a afirmar que fora de Deus não há nenhuma possibilidade de salvação: Deus é nossa única esperança.

O grito de revolta de Jó é, ao mesmo tempo, a afirmação de que somente em Deus encontra-se o sentido da existência e da salvação, insisto.

Jó procura o verdadeiro rosto de Deus – “... numa busca apaixonada, emotiva, dramática, veemente, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Jó chega ao face a face com Deus. Descobre um Deus onipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre também um Deus que ama com Amor de Pai cada uma das Suas criaturas. Jó reconhece, então, a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os Projetos de Deus. Reconhece que ele não pode julgar Deus, nem entendê-Lo à luz da lógica dos homens. A Jó, o homem finito e limitado, só resta uma coisa: entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível, mas cheio de Amor, e confiar plenamente n'Ele. É isso que Jó faz, finalmente”

Voltando à passagem do Evangelho, vemos qual é a preocupação de Deus a partir da atividade pastoral de Jesus, que torna o Reino uma realidade na vida das pessoas.

A ação de Jesus é para nos libertar de nossas misérias mais profundas, sejam quais forem. Jesus Se aproxima da sogra de Pedro, levanta-a tomando pela mão e esta, curada, põe-se a servir. Assim acontece quando o Senhor de nós Se aproxima, nos toca, nos cura. Põe-nos curados, de pé para amar e servir. Assim é a atitude e a vida de quem crê no Ressuscitado.

Reflitamos:

- Como enfrentamos a dor e sofrimento em nossa vida?
- O que eles nos ensinam?

- O que aprendemos com Jó?
- Como e onde procuramos encontrar a verdadeira Face de Deus?

- O que aprendemos com a cura da sogra de Pedro?
- O que a ação de Jesus nos ensina para que sejamos discípulos missionários como assim Ele deseja?

Oremos: Ó Deus, enraizados no Vosso Amor de Pai, tornemo-nos testemunhas eficazes do Reino, na fidelidade a Boa-Nova do Vosso Filho com a Luz e Sabedoria do Espírito. Amém.

Continuemos a missão do Senhor

                                                      

Continuemos a missão do Senhor

A Liturgia da quarta-feira da 22ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho, em que Jesus cura a sogra de Pedro, à porta da casa deste, faz curas e expulsa demônios ao cair da tarde, e ainda quando era escuro, retira-Se para rezar em lugar deserto (Lc 4,38-44).

Para aprofundamento, apresento esta reflexão de São Pedro Crisólogo (séc. V).

“A Leitura evangélica de hoje ensina ao ouvinte atento porque o Senhor do céu e restaurador do universo entrou nos domicílios terrenos de Seus servos. Mesmo que nada tenha de estranho que se tenha mostrado afavelmente próximo a todos, ele que com grande clemência tinha vindo para socorrer a todos.

Já conheceis o que moveu Cristo a entrar na casa de Pedro: com certeza não o prazer de recostar-se à mesa, mas a enfermidade daquela que se encontrava na cama; não a necessidade de comer, mas a oportunidade de curar; a obra do poder divino, não a pompa do banquete humano.

Na casa de Pedro não se servia vinho, somente se derramavam lágrimas. Por isso Cristo entrou ali, não para banquetear, mas para vivificar. Deus busca aos homens, não as coisas dos homens; deseja dispensar bens celestiais, não espera conseguir as terrenas. Em resumo: Cristo veio buscar-nos, e não buscar as nossas coisas.

Ao chegar Jesus à casa de Pedro, encontrou sua sogra na cama com febre. Entrando Cristo na casa de Pedro, viu ao que vinha buscando. Não se fixou na qualidade da casa, nem na afluência de pessoas, nem nas cerimoniosas saudações, nem na reunião familiar; também não pensou no adorno dos preparativos: Fixou-se nos gemidos da enferma, dirigiu sua atenção ao ardor daquela que estava sob a ação da febre. Viu o perigo daquela que estava para além de toda esperança, e imediatamente coloca mãos para obra de Sua santidade: Cristo nem se sentou para tomar alimento humano, antes que a mulher que jazia se levantasse para as coisas divinas.

Tomou sua mão e sua febre passou. Vês como a febre abandona a quem segura a mão de Cristo. A enfermidade não resiste, onde o Autor da saúde assiste; a morte não tem acesso algum onde entrou o Doador da vida.

Ao anoitecer, levaram-lhe muitos endemoniados; Ele expulsou os espíritos. O anoitecer acontece ao acabar o dia do século, quando o mundo pende para entardecer da luz dos tempos. Ao cair da tarde vem o Restaurador da luz para introduzir-nos o dia sem ocaso, a nós que viemos da noite secular do paganismo.

Ao anoitecer, ou seja, no último momento, a piedosa e solene devoção dos Apóstolos nos oferece a Deus Pai, a nós que somos procedentes do paganismo: são expulsos de nós os demônios, que nos impunham o culto aos ídolos. Desconhecendo ao único Deus, cultuávamos a inumeráveis deuses em nefanda e sacrílega servidão.

Como Cristo já não vem a nós na carne, vem na Palavra: e aonde quer que a fé nasça da mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo, ali a fé nos liberta da servidão do demônio, enquanto que os demônios, de ímpios tiranos, converteram-se em prisioneiros. Por isso os demônios, submetidos a nosso poder, são atormentados a nossa vontade. O único que importa, irmãos, é que a infidelidade não volte a reduzir-nos a sua servidão: coloquemos antes em nosso ser e nosso fazer, nas mãos de Deus, entreguemo-nos ao Pai, confiemo-nos a Deus: porque a vida do homem está nas mãos de Deus; em consequência, como Pai dirige as ações de Seus filhos, e como Senhor não deixa de preocupar-se por Sua família.” (1)

Esta passagem do Evangelho nos apresenta a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo e missionário.
             
Três adjetivos que exprimem a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo e missionário.

Compassivo, pois Se compadece da sogra de Pedro e a cura da febre, para que esta se coloque a serviço, como também curou todos que vieram ao Seu encontro, à porta da casa, bem como expulsou muitos demônios.

Contemplativo, pois retira-Se antes do amanhecer para colocar-Se em Oração, em diálogo íntimo com o Pai, para continuar a missão que lhe foi confiada, na presença do Espírito que pousa sobre Ele (Lc 4,16-21). A Oração de Jesus revela a Sua perfeita comunhão com o Pai e o Espírito Santo. A Oração é para Ele o que será para Seus discípulos, fonte e cume para que continue a missão.

Missionário, pois não Se instala nem Se acomoda com a possível acolhida na casa da sogra de Pedro, mas, aos discípulos, diz que é preciso continuar a missão em outros lugares.

Assim também é a Igreja, anunciando a Palavra de Deus, realizando a missão do Senhor, com a força e presença do Espírito, verdadeiro protagonista da missão na construção do Reino.

Anunciar e testemunhar o Senhor e Sua Boa-Nova, exige que sejamos como o Divino Mestre: compassivos, contemplativos e missionários.



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - pp.380-382

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG