domingo, 3 de agosto de 2025

“Loucura da Cruz” – Loucura do Amor (XVIIIDTCC)

                                                                     

“Loucura da Cruz” – Loucura do Amor

“Nós pregamos Cristo Crucificado...”

O zelo pela casa do Pai consumiu Jesus Cristo, como também deve nos consumir (cf. Jo 2,19).

Quando Jesus diz “Destruí este santuário, eu o reerguerei em três dias”, está falando da Ressurreição do Templo de Seu corpo.

Somos convidados a voltar nosso olhar para a Obra do Amor fiel que Jesus levará a termo em Jerusalém, e não o faria se não entrasse no Templo e o purificasse. 

Uma vida que não vai em direção da Cruz não é cristã. É preciso viver a “loucura da Cruz” – a loucura do Amor em fidelidade ao Amor Maior, Jesus.

Cremos, pregamos e anunciamos Jesus Crucificado, como o Apóstolo disse “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1Cor 1,22-25).

Cremos no Deus que aceitou, por meio de Seu Filho, amar até às últimas consequências. É a loucura do Amor que salva, redime, liberta. Amém.

A insensatez e a loucura (XVIIIDTCC)

                                                          

A insensatez e a loucura

“Assim acontece com quem ajunta tesouros
para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.

A Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos apresenta a Parábola do rico insensato (Lc 12, 13-21), na qual Jesus refere-se àquele homem, que acumulou bens e não pôde usufruir porque a morte é inevitável, com a palavra “insensato” (em outras traduções, “louco”).

A loucura ou insensatez consiste em:

- Ser incapaz de perceber a verdadeira hierarquia dos valores, submetendo o eterno ao temporal, o celeste ao terreno;

- Fazer com que o acúmulo de bens materiais se torne a causa maior da sua própria felicidade, fechando-se para os valores que são eternos, garantia de felicidade infinita;

- Não conhecer a Deus, que tão somente pode ser conhecido quando O amamos e n’Ele permanecemos: “Todo aquele que me ama permanece em mim e Eu nele” (1Jo 3,24);

- Não valorizar a presença e ação de Deus em nossa vida;

- Não viver no Seu amor e não amar;

- Não vivenciar a alegria da partilha dos bens e dos dons que se possui;

- Fechar-se impedindo o crescimento mútuo e, consequentemente, tornar impossível a realização de um projeto comum de felicidade, não somente para o tempo presente, mas para a eternidade.

É sempre tempo de revermos o caminho trilhado na fidelidade ao Senhor, de refletirmos o ardor de nossa missão como batizados, tomando cuidado para não sermos insensatos/loucos como o homem da Parábola.

Um discípulo missionário do Senhor precisa ter sempre coragem de rever suas atitudes e valores, para que cada vez mais configurado ao Cristo Bom Pastor, com o coração seduzido, viva tão apenas uma “loucura”, a loucura da Cruz, a loucura do Amor, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (1 Cor 1,18).

Partilha e solidariedade (XVIIIDTCC)

                                                      

Partilha e solidariedade

Para aprofundamento da Liturgia do 18º domingo do Tempo Comum (ano C), em que é proclamada a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 12,13-21), oportuna esta reflexão escrita por São Cipriano (séc. III).

“Por que louvas semelhantes conselhos insensatos e néscios e te afasta das obras e preocupação e solicitude sobre o futuro? Por que te enredas em obscuridades e fantasias de desculpas vãs? Confessa a verdade; a nós que te conhecemos e não nos pode enganar. Abre os segredos de teu pensamento.

As trevas da esterilidade cercaram a tua alma e, afastando-te da luz da verdade, uma funda e profunda nuvem de avareza obscureceu um peito de carne.

És um cativo e um escravo de teu dinheiro. Estás amarrado com as cadeias de tua avareza, e aquele a quem Cristo desatou voltou-se a atar. Guardas um dinheiro que, guardado, não guardará a ti. Acumulas um patrimônio cujo peso te oprime, e não te percebes do que contradisse ao que se vangloriava com alegria estúpida da abundância exuberante de seus frutos: ‘Insensato! Esta noite será pedida a tua alma, e tudo o que acumulou, de quem será?’.

Divide teus rendimentos com o Senhor, teu Deus. Reparte teus frutos com Cristo; faz-Lhe participante de tuas posses terrenas para que Ele te faça participante do Reino dos Céus. Erras e te enganas se acreditas ser rico neste mundo.

Ouve a voz de Teu Senhor no Apocalipse, e como repreende com justa reprovação a este tipo de homens: ‘Pois dizes: sou rico, faço bons negócios, não necessito de nada, e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Eu te aconselho que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas brancas para te vestires, a fim de que tua nudez não apareça; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claramente’.

Portanto, se és abastado por esta imensa luz, sejas ouro puro purificado pelo fogo, para que, abrasado por esta imensa luz, sejas ouro puro acrisolado pelas esmolas e obras de misericórdia. Compra para ti uma veste alva, para que, se foste desnudo segundo Adão, envergonhado de tua feiura, te vistas com o vestuário cândido de Cristo.

E tu, que és senhora abastada e rica na Igreja de Cristo, adorna teus olhos não com os enfeites do diabo, mas com o colírio de Cristo, para que possas chegar a ver Deus, merecendo esta graça d’Ele por tuas obras e bons costumes. Mas por hora, enquanto tu és assim, não podes atuar na Igreja, porque teus olhos, cheios da negrura das trevas e preocupados pela noite, não enxergam ao pobre e ao necessitado.

És abastado e rico, e acreditas que podes celebrar o Sacrifício do Senhor, tu que não olhas o sofrimento dos pobres; tu que vens ao divino Sacrifício sem sacrificar-te a ti mesmo; tu que participas de um sacrifício que o pobre oferece. Veja o exemplo da viúva que deu duas moedas de esmola no gazofilácio. Aquele que se compadece do pobre, empresta a Deus.”

Reflitamos sobre quais são as nossas riquezas, e como vivemos as obras de misericórdia, em alegre partilha e solidariedade, sobretudo com os que mais precisam.

Roguemos a Deus para que nos conceda sabedoria para o discernimento necessário, a fim de que saibamos usar as coisas que passam e abraçar as que não passam.

Jamais nos falte o “colírio de Cristo”, para enxergarmos os “Cristos” necessitados bem próximos a nós, clamando por amor, acolhida, solidariedade.


Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.691-692

“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas” (XVIIIDTCC)

 


“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas”

 

“Se não podeis deixar as coisas do mundo,

fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele...”

 

Sejamos enriquecidos por uma das homilias sobre os Evangelhos, escrita pelo Papa São Gregório Magno (séc. V).

 

“Desejaria exortar-vos a deixar tudo, mas não me atrevo. Se não podeis deixar as coisas do mundo, fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele, possuindo os bens terrenos sem deixar que vos possuam.

 

Tudo o que possuís esteja sob o domínio do vosso espírito, para que não fiqueis presos pelo amor das coisas terenas, sendo por elas dominados.

 

Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas. As coisas temporais sejam simples ajuda para a caminhada, mas as eternas, o termo do vosso peregrinar.

 

Tudo o que se passa neste mundo seja considerado como acessório. Que o olhar do nosso espírito se volte para frente, fixando-nos firmemente nos bens futuros que esperamos alcançar.

 

Extirpemos radicalmente os vícios, não só das nossas ações, mas também dos pensamentos. Que o prazer da carne, o ardor da cobiça e o fogo da ambição não nos afastem da Ceia do Senhor!

 

Até as coisas boas que realizamos no mundo, não nos apeguemos a elas, de modo que as coisas agradáveis sirvam ao nosso corpo sem prejudicar o nosso coração.

 

Por isso, irmãos, não ousamos dizer-vos que deixeis tudo. Entretanto, se o quiserdes, mesmo possuindo-as, deixareis todas as coisas se tiverdes o coração voltado para o alto. Pois quem põe a serviço da vida todas as coisas necessárias, sem ser por elas dominado, usa do mundo como se dele não usasse.

 

Tais coisas estão ao seu serviço, mas sem perturbar o propósito de quem aspira às do alto. Os que assim procedem têm à sua disposição tudo o que é terreno, não como objeto de sua ambição, mas de sua utilidade. Por conseguinte, nada detenha o desejo do vosso espírito, nenhuma afeição vos prenda a este mundo.

 

Se amarmos o que é bom, deleite-se o nosso espírito com bens ainda melhores, isto é, os bens celestes. Se tememos o mal, ponhamos diante dos olhos os males eternos. Desse modo, contemplando na eternidade o que mais devemos amar e o que mais devemos temer, não nos deixaremos prender ao que existe na terra.

 

Para assim procedermos, contamos com o auxílio do Mediador entre Deus e os homens. Por meio d’Ele logo obteremos tudo, se amarmos realmente Aquele que, sendo Deus, vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.”

 
Os cristãos estando no mundo não são do mundo e devem ter atitude diferente frente aos bens, de modo especial nos exorta o Papa São Gregório Magno, com sabedoria e sobriedade devem usar as coisas, e não por elas serem possuídos.

 

Quanto mais Eucarísticos e Pascais formos, maior será:

- A nossa liberdade e desprendimento diante de tudo e de todos para maior fidelidade ao Senhor;

- A nossa disponibilidade para amá-Lo e servi-Lo na pessoa do nosso próximo;

- O nosso contentamento com o que possuímos, afinal não precisamos muito para sermos felizes, quando nosso coração encontrou no Senhor o divino deleite e inebriamento;

 - A nossa gratidão pelo que possuímos, sem cairmos no consumismo que não dá o verdadeiro sentido e preenchimento da alma.

Concluindo, maior alegria sentiremos quando menos trêfegos formos e soubermos trafegar entre as privações e provações da vida, com toda confiança no Senhor, buscando as coisas do alto onde habita Deus, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo – Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.” (Cl 3,1).

Oremos:

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!” (1)

 

(1) Oração da Coleta do 17º Domingo do Tempo Comum – Missal Romano – antiga Edição.

Só Deus nos basta! (XVIIIDTCC)

                                                          


Só Deus nos basta!

Retomemos as passagens bíblicas: Ecl 1,2; 2,21-23; Col 3,1-5.9; Lc 12,13-21, que nos convidam a revermos nossa atitude diante dos bens que passam e dos bens que não passam...

É mais uma belíssima e atualíssima lição, para que sirvamos e construamos o Reino por Jesus inaugurado.

Os deuses não devem dirigir nossa vida como garantia de plena felicidade. Como homens novos, renascidos pelo Batismo, devemos procurar incansavelmente as coisas divinas que nos alcançam a felicidade que não se corrompe, e que não nos pode ser tirada.

Viver para acumulação de bens materiais tem como consequência a falência, a “loucura”, a ausência de sentido existencial.

Somente Deus dá sentido à nossa existência. Reconhecedores de nossa impotência, cremos que somente em Deus nossa vida pode ser preenchida, revelando todo esplendor e beleza que d’Ele procedem, como Sua imagem que somos.

Reflitamos:

- O que nos move no dia a dia?
- Em que empenhamos nossos esforços?
- Qual nossa atitude frente aos bens que passam e os bens que não passam?

Precisamos rever como buscamos e nos empenhamos pelo efêmero, sem a perda do horizonte da conquista daquilo que é eterno.

Uma das mais funestas atitudes que podemos ter diante dos bens é a deificação da riqueza, ou seja, fazer “deus” aquilo que não é, no abandono do Verdadeiro Deus da Vida, que deve ser adorado acima de tudo e de todos.

O desprendimento, a conversão do egoísmo, que cega nosso coração para a solidariedade e a partilha, são imperativos divinos constantes em nossa vida.

Superar toda lógica da acumulação, da ganância e do lucro, que criem uma sociedade marcada pelo pecado da desigualdade, sofrimento, fome, privações... 

Os fatos, os números, as cenas de famélicos e injustiças que testemunhamos não deixam dúvidas!

Nossas famílias não estão imunes desta conversão, pois a ânsia da ascensão social, o acúmulo, a insatisfação, o consumismo, geram seu declínio, esvaziamento, cansaço, desilusões, dependências, e consequente desmoronamento.

Temos insistido na purificação da família com a fé e a Palavra Divina, que nos dá os verdadeiros pilares e fundamentos de sua vitalidade estrutural, abrindo-se para novos horizontes de amor e partilha, fé e solidariedade, esperança e compromisso!

O Evangelho menciona o homem rico que construiu um celeiro para guardar sua riqueza acumulada, mas a morte irrompeu abruptamente, sem aviso, e nada pode levar.

Reflitamos:

- Quais são os celeiros que construímos?
- O que devemos acumular que poderemos conosco um dia levar?

- De que modo avaliamos a nossa vida?
- De que modo trabalhamos sem a perda do sentido da vida?

- O que nos preenche e nos dá alegria?
- Vivemos como criatura nova renascida pelo Batismo?

- Adoração ou deificação?
- Qual nossa relação com os bens e com o Bem Maior?

Concluo citando Santa Teresa D’Avila e Santa Teresa dos Andes, respectivamente, que inspiraram o título desta reflexão:

“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa,
Deus não muda, a paciência tudo alcança; quem a Deus tem nada lhe falta: só Deus basta.”

“Só Deus nos basta para sermos felizes. Apalpo a cada instante o que é ser toda de Deus e parece-me que, se agora me fosse necessário passar pelo fogo para consagrar-me a Ele, não titubearia em fazê-lo, pois todos os sacrifícios desaparecem diante da felicidade de possuir a Deus só”. 

O Presbítero e a vocação à perfeição (1)

O Presbítero e a vocação à perfeição

“Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”
(Mt 5,48)

O Concílio Vaticano II, no Decreto “Presbyterorum Ordinis”, é enriquecedor para a reflexão sobre a vocação dos Presbíteros à perfeição, que todos, pelo Batismo, também são chamados.

Apresento precedendo os parágrafos de pequenos comentários introdutórios para favorecer a compreensão do texto:

Configurados com Cristo Sacerdote e chamados à perfeição, não obstante a condição da fraqueza humana:

“Pelo Sacramento da Ordem, os Presbíteros são configurados com Cristo Sacerdote, na qualidade de ministros da Cabeça, para construir e edificar todo o Seu corpo que é a Igreja, como cooperadores da ordem episcopal.

De fato, já pela consagração do Batismo receberam, como todos os cristãos, o sinal e o dom de tão grande vocação e graça para que, apesar da fraqueza humana, possam e devam procurar a perfeição, segundo a Palavra do Senhor: ‘Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5,48).”

São instrumentos vivos de Cristo, o Eterno Sacerdote, portanto devem atingir a perfeição querida por Jesus:

“Os Sacerdotes, porém, estão obrigados por especial motivo a atingir tal perfeição, uma vez que, consagrados a Deus de modo novo pela recepção do Sacramento da Ordem, se transformaram em instrumentos vivos de Cristo, eterno Sacerdote, a fim de poderem continuar através dos tempos Sua obra admirável que reuniu com suma eficiência toda a família humana.”

O Sacerdote faz as vezes da própria Pessoa de Cristo; é enriquecido por graça especial para que seja curada a fraqueza própria de sua condição de homem:

“Como, pois, cada Sacerdote, a seu modo, faz as vezes da própria Pessoa de Cristo, é também enriquecido por uma graça especial, para que, no serviço dos homens a ele confiados e de todo o povo de Deus, possa alcançar melhor a perfeição d’Aquele a quem representa, e para que veja a fraqueza do homem carnal curada pela santidade d’Aquele que por nós Se fez Pontífice santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores (Hb 7,26).”

O Presbítero, consagrado pela Unção do Espírito Santo e enviado por Cristo, mortifica em si mesmo as obras da carne para total dedicação ao povo que lhe foi confiado, para progredir na santidade, até alcançar a estatura do homem perfeito:

“Cristo, a quem o Pai santificou, ou melhor, consagrou e enviou ao mundo, Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a maldade e purificar para Si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem (Tt 2,1), e assim, pela Paixão, entrou na Sua glória.

De modo semelhante, os Presbíteros, consagrados pela unção do Espírito Santo e enviados por Cristo, mortificam em si mesmos as obras da carne e dedicam-se totalmente ao serviço dos homens, e assim podem progredir na santidade pela qual foram enriquecidos em Cristo, até atingirem a estatura do homem perfeito.”

O Presbítero, se dócil ao Espírito, firma-se na vida espiritual, em comunhão com o Bispo e a Família Presbiteral, orientando-se para a perfeição da vida:

“Deste modo, exercendo o ministério do Espírito e da justiça, se forem dóceis ao Espírito de Cristo que os vivifica e dirige, firmam-se na vida espiritual.

Pelas próprias ações sagradas de cada dia, como também por todo o seu ministério, exercido em comunhão com o Bispo e com os outros Presbíteros, eles mesmos se orientam para a perfeição da vida.”

Através dos Presbíteros, embora ministros indignos, se dóceis ao impulso e a direção do Espírito Santo, em íntima união com Cristo, numa crescente santidade de vida, Deus manifesta Suas maravilhas por meio deles:

“A santidade dos Presbíteros, por sua vez, contribui muitíssimo para o desempenho frutuoso do próprio ministério; pois, embora a graça divina possa realizar a obra da salvação também por meio de ministros indignos, contudo Deus prefere, segundo a lei ordinária, manifestar as Suas maravilhas através daqueles que, dóceis ao impulso e direção do Espírito Santo, pela sua íntima união com Cristo e santidade de vida, podem dizer com o Apóstolo: Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim (Gl 2,20)".

Esta reflexão é muito oportuna para que, como presbíteros ou não, reflitamos quão preciosa é esta vocação.

O Ministério Presbiteral é imprescindível na vida da Igreja, em perfeita comunhão e sintonia com todos os demais Ministérios de cristãos leigos que se multiplicam pela graça do Batismo.

Presbíteros e leigos são chamados da mesma forma a perseverar, como os primeiros cristãos, na Doutrina dos apóstolos, na Fração do Pão, na Comunhão Fraterna e na Oração.

Partícipes do Cálice do Senhor, devem fazer da vida uma oferenda, um sacrifício agradável ao Senhor: “Oferecei os vossos corpos, como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1), e todos possamos dizer como o Apóstolo:

“Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).


PS: “Presbyterorum Ordinis”, N.12 

Entre o transitório e o eterno (XVIIIDTCC)

                                                 


Entre o transitório e o eterno

“Pois a figura deste mundo passa” (1 Cor 7,31)

O Apóstolo Paulo, na passagem da Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 7,25-31),  insiste sobre a brevidade e caducidade do tempo e nos propõe um discernimento evangélico dos valores que norteiam a nossa vida.

Somente a relação com o Senhor Vivo e Ressuscitado confere o verdadeiro valor e o significado de todas as opções de nossa vida. 

Aprendemos a relativizar o tempo presente, assim como as estruturas que resultam da intervenção humana.

Crendo no Senhor vivo e Ressuscitado, a profissão de fé em Sua Ressurreição, é ser convicto de que foi inaugurado um novo tempo e aprender a fazer as devidas relativizações das coisas que passam, para que não se perca o desejo e o encontro das coisas que não passam.

Como cristãos, cremos que tudo se encaminha para o mundo novo, e o Apóstolo aponta para algumas realidades que são transitórias, sem desmerecimento de sua importância: o matrimônio, o riso, o pranto, a posse de bens e sua venda.

Elas não são em si realidades últimas, de modo que o cristão precisa de sabedoria para saber usar das coisas do mundo, viver as relações conjugais, familiares, sociais, mas não devem estar completamente absorvidos por elas.

A sabedoria cristã requer que usemos as coisas que passam e abracemos as que não passam, as eternas, e, de modo especialíssimo, o amor de Deus e dos irmãos.

Sendo assim, o cristão casa-se ou não, chora ou ri, alegra-se ou se entristece, compra e vende, mas ciente de que estas dimensões não são um fim em si mesmas.

O Apóstolo, com toda propriedade, exorta-nos para que evitemos toda forma de apego e posse, uma vez que vivemos numa situação que se tornou provisória. E, mais uma vez, lembramos que somos peregrinos longe do Senhor, com Ele tão próximo, até que um dia possamos com Ele na glória entrar.

Na fidelidade ao Senhor, aprendamos a pautar nossa vida pelos valores eternos que dão beleza e sentido a nossa vida, e somente abertos à Sabedoria do Espírito estabeleceremos uma relação filial para com Deus, estabelecendo relações sinceras, livres, edificantes, mutuamente, enquanto criaturas d’Ele que somos.

Somente a intimidade com Jesus Cristo se torna uma verdadeira comunhão e alimenta uma fé que é capaz de transportar montanhas, para que o horizonte da esperança seja possível, porque fundando e edificado sobre o fundamento da caridade que jamais passará. 

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