domingo, 3 de agosto de 2025

O Presbítero e a vocação à perfeição (2)

O Padre e a vocação à perfeição

Obrigado, Senhor, porque pelo Sacramento da Ordem, tornei-me  Presbítero e fui configurado com Cristo Sacerdote, na qualidade de ministro da Cabeça, para construir e edificar todo o Seu Corpo, que é a Igreja, como cooperador da Ordem Episcopal.

Bem sei que muito antes, pela consagração do Batismo, recebi, como todo cristão, o sinal e o dom de tão grande vocação e graça para que, apesar da fraqueza humana, procurasse a perfeição, segundo a Palavra do Senhor: “Sede perfeitos como o Vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48).

Senhor, fortalecei-me nesta graça a que todo sacerdote está obrigado:  atingir tal perfeição, uma vez que, consagrados a Deus de modo novo pela recepção do Sacramento da Ordem, transformar-se em instrumentos vivos de Cristo, Eterno Sacerdote, para continuarem,  através dos tempos, Sua obra admirável, que reuniu com suma eficiência toda a família humana.

Embora não mereça, como sacerdote, sou chamado a fazer às vezes da própria Pessoa de Cristo, enriquecido por uma graça especial, para que, no serviço ao Povo de Deus a mim confiado, possa alcançar melhor a perfeição d’Aquele a quem represento, e por isto tenha eu a fraqueza carnal, própria da condição humana,  curada pela santidade d’Aquele que por nós Se fez Pontífice Santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores (Hb 7,26).

Que tenha eu os mesmos sentimentos Vossos, Senhor Jesus Cristo (Fl 2,5), a quem o Pai santificou, consagrou e enviou ao mundo, Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a maldade e purificar para Si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem (Tt 2,1), e assim, pela Paixão, entrou na Sua glória.

Senhor, ao ser consagrado pela unção do Espírito Santo e enviado por Cristo, que eu saiba mortificar em mim mesmo as obras da carne, e dedicando-me totalmente ao serviço do Povo de Deus,  progredindo no caminho de santidade, enriquecido em Cristo, até atingir a estatura do homem perfeito.

Deste modo, Senhor, exercendo o ministério do Espírito e da justiça, dócil ao Espírito de Cristo, que me vivifica e me dirige, solidifique a cada dia minha vida espiritual.

Que pelas próprias ações sagradas de cada dia, como também por todo o ministério, com ardor e paixão vivido, exercido em comunhão com o bispo e com os outros presbíteros, tenha como meta a perfeição da vida.

Senhor, que jamais me esqueça que a santidade dos presbíteros, por sua vez, contribui muitíssimo para o desempenho frutuoso do próprio ministério; pois, embora a graça divina possa realizar a obra da Salvação também por meio de ministros indignos, contudo preferis, manifestar as Suas maravilhas através daqueles que, dóceis ao impulso e direção do Espírito Santo, pela sua íntima união com Cristo e santidade de vida, possam dizer como e com o Apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim “(Gl 2,20).
Amém.



PS: Inspirado no “Decreto Presbyterorum Ordinis” - sobre o ministério e a vida dos presbíteros, do Concílio Vaticano II - (N.12).

“Tudo é vaidade” (XVIIIDTCC)

                                                          

 “Tudo é vaidade”

“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1,2)

Reflexão à luz à luz da passagem do Livro do Eclesiastes (Ecl 1,2-11) sobre o tema da vaidade.

O autor do Livro, por seu caráter sapiencial, convida-nos a rever nosso modo de pensar e conduta, questionando nossas falsas seguranças e saberes:

“Não é um Livro onde se vão procurar respostas, mas onde se denuncia o fracasso da sabedoria tradicional e onde ecoa o grito de angústia de uma humanidade ferida e perdida, que não compreende a razão de viver”. (1)

A mensagem é explícita: somente Deus dá sentido à nossa existência. A vida somente pelos bens materiais conduz à falência, quem vive por si e para si não encontra saída e sentido para sua vida.

Deste modo, ninguém deve se deixar levar pelas paixões e ilusões perniciosas, porque é vã tanta atividade febril, pois tudo se move, tudo passa, tudo flui sobre a face imóvel da terra, uma vã agitação, sem finalidade, que a nada leva, ou seja, um movimento pendular que recomeça continuamente. (1)

É preciso colher com simplicidade e medida os bens que a vida oferece, de modo que precisamos aprender a nos contentar com o justo meio termo, sem que corramos inutilmente a procura de uma felicidade inatingível. (2)

É preciso o humilde reconhecimento de nossa impotência diante da onipotência divina, que se manifesta como misericórdia, amor, bondade, alegria, vida e paz.

Não podemos colocar a nossa esperança em coisas falíveis e passageiras: “A nossa caminhada nesta terra está, na verdade, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência”. (3)

Somente assim compreenderemos a Páscoa de Cristo: “Jesus foi ao fundo da vaidade do homem para nos abrir à esperança de Deus. Celebrando a Eucaristia, celebramos a liberdade trazida por Deus à humanidade, não obstante os determinismos e ‘necessidades’ do mundo, abrindo-a à vida sem fim” (4).

Oremos:

Livrai-nos Senhor de toda a vaidade, a fim de não enveredarmos por caminhos que nos distancie de vós, a fim de que não corramos inutilmente atrás de enganos, absurdos, cujo preço é o tédio e o desencontro conosco mesmos.

Fortalecei nossos passos no seguimento dos vossos, despidos de toda ambição desmedida, vivendo na simplicidade e humildade, tendo tão somente Vós como nossa maior riqueza, e assim revigorados na missão de discípulos missionários, como Igreja, a serviço do Reino, sob a ação e assistência de Vosso Espírito. Amém…




(1) (2) cf. Missal Cotidiano – Editora Paulus – p. 1308-1309
(3) (4) cf. www.dehonianos.org.br 

Concedei-nos, Senhor, os bens necessários!

                                                   

Concedei-nos, Senhor, os bens necessários!
 
Uma oração para auxiliar na renovação de nossa fidelidade ao Senhor, para segui-Lo com maior ardor e entusiasmo, à luz do texto do bispo e mártir São Cipriano (séc. III):
 
Oremos:

Senhor Jesus, que sejamos sempre sim à vontade do Pai,
Como fostes em todos os momentos e em tudo ao Vosso Pai,
Com a força e presença do Espírito que sobre Vós pousava.
 
Por isto, a Vó suplicamos que nos concedeis:
 
A humildade no comportamento, para não ofuscarmos a Vossa luz;
O respeito nas palavras, para que correspondam à retidão e coerência das ações,
A misericórdia nas obras, sem nada esperarmos em troca, simplesmente por amor;
 
A moderação nos costumes, sem jamais ofendermos os outros e sabendo tolerar o que for preciso;
A capacidade de conservar a paz com os nossos irmãos, fortalecendo os vínculos da amizade e concórdia;
Amarmos ao Senhor de todo o coração, enquanto Pai e temê-Lo enquanto Deus;
 
Nada preferir a Cristo, para correspondermos ao Seu Amor que nada preferiu a nós; 
O manter-nos inseparavelmente unidos ao Seu Amor, Mandamento maior de nossa vida;
Permanecermos junto à cruz, com fortaleza e confiança, sem choros e lamentos estéreis;
 
A serenidade para enfrentarmos os tormentos.
A constância na fé, para que nos mantenhamos firmes e intrépidos no carregar da cruz;
 
A confiança em Vossa força e presença no bom combate da fé,
Para que, passando pela morte, alcancemos a eternidade,
E recebamos de Vós a coroa da glória aos justos prometida,
E por nós ardentemente esperada. Amém.
 
PS: Fonte inspiradora: Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - p.225. 

Homossexualidade Presbiterato: O Que nos diz a Igreja?

Homossexualidade Presbiterato
 O Que nos diz a Igreja?

A Congregação para a Educação Católica, do Vaticano, tem um  documento, chamado de Instrução, sobre “Os critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao seminário e às ordens sacras”. A mídia deu especial ênfase, às vezes com distorções das reais proposições apresentadas.

A Instrução vem em continuidade a grandes Documentos da Igreja como: o decreto “Optatam totius", do Vaticano II; Sínodo dos Bispos de 1990 que refletiu sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais; e a Exortação pós Sinodal “Pastores dabo vobis” do Papa João Paulo II.

A Instrução contém normas acerca de uma questão particular, que a situação atual tornou mais urgente, isto é, a admissão ou não ao Seminário e às Ordens sacras dos candidatos que tenham tendências homossexuais profundamente enraizadas.

Segundo a Tradição da Igreja, só o batizado de sexo masculino recebe validamente a Sagrada Ordenação. Por meio do sacramento da Ordem, o Espírito Santo configura o candidato a Jesus Cristo, por um título novo e específico.

O sacerdote, com efeito, representa sacramentalmente Cristo: Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja. Por isto, toda a vida do ministro sagrado deve ser animada por uma entrega de toda a sua pessoa à Igreja, por uma autêntica caridade pastoral. Por isso, o candidato ao ministério ordenado deve atingir a maturidade afetiva, para uma correta relação com homens e com mulheres, desenvolvendo nele um verdadeiro sentido da paternidade espiritual em relação à comunidade eclesial que lhe será confiada.

Referindo-se Catecismo da Igreja, a Instrução fala de uma clara distinção entre atos e tendências homossexuais:
“Quanto aos atos, ensina que, na Sagrada Escritura, esses são apresentados como pecados graves. A Tradição considerou-os constantemente como intrinsecamente imorais e contrários à lei natural. Por conseguinte, não podem ser aprovados em caso algum”.

“No que diz respeito às tendências homossexuais profundamente enraizadas, que certo número de homens e mulheres apresenta, também elas são objetivamente desordenadas e constituem freqüentemente, mesmo para tais pessoas, uma provação. Estas devem ser acolhidas com respeito e delicadeza; evitar-se-á, em relação a elas, qualquer marca de discriminação injusta. Essas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que possam encontrar”.

A partir deste ensinamento, considera necessário afirmar claramente que a Igreja, embora respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir ao Seminário e às Ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiam à chamada cultura gay.

Em se tratando de tendências homossexuais que sejam apenas expressão de um problema transitório, elas devem ser claramente superadas, pelo menos três anos antes da Ordenação diaconal.

Convido a uma reflexão do que até aqui foi apresentado, e concluo na próxima edição, apresentando mais alguns pontos desta Instrução.


PS: Publicado no jornal Folha Diocesana, no ano de 2009, quando era Representante dos Presbíteros da Diocese de Guarulhos.

Homossexualidade e Presbiterato: O Que nos diz a Igreja? (continuação)

Homossexualidade e Presbiterato 
 O Que nos diz a Igreja?    

Finalizo com este artigo, a apresentação da recente Instrução da Congregação para a Educação Católica do Vaticano sobre “Os critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao seminário e às ordens sacras”.

É indispensável repetir, para quem não pôde ler a primeira parte: a partir do ensinamento do magistério, a Igreja deve afirmar claramente que, embora respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir ao Seminário e às Ordens Sacras aqueles que praticam a homossexualidade; apresentam tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiam a chamada cultura gay.

Em se tratando de tendências homossexuais que sejam apenas expressão de um problema transitório, elas devem ser claramente superadas, pelo menos três antes da Ordenação diaconal.

Compete à Igreja o discernimento da idoneidade dos candidatos ao ministério presbiteral, considerando dois aspectos indissociáveis na vocação sacerdotal: o Dom gratuito de Deus e a liberdade responsável do homem.

O simples desejo de ser sacerdote não é suficiente para receber o Sacramento da Ordem, bem como não existe um direito de recebê-la. Compete à Igreja definir os requisitos necessários para a recepção dos Sacramentos instituídos por Cristo: discernir a idoneidade daquele que quer entrar no seminário, acompanhá-lo durante os anos da formação e chamá-lo às Ordens sacras, se for julgado possuidor das qualidades requeridas.

Há quatro dimensões complementares indispensáveis na formação do futuro sacerdote: humana, espiritual, intelectual e pastoral. Para admitir um candidato um candidato à ordem diaconal a Igreja deve verificar, entre outras coisas, que tenha sido atingida a maturidade afetiva do candidato ao sacerdócio. No caso de uma séria dúvida a respeito do candidato, não deve admiti-lo à ordenação.

Há uma obrigatória responsabilidade dos formadores (Bispos, Reitor, Diretor Espiritual, etc.), avaliar todas as qualidades da personalidade e assegurar-se de que o candidato não apresente distúrbios sexuais incompatíveis com o sacerdócio.

Se um candidato pratica a homossexualidade ou apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas, o seu diretor espiritual ou o seu confessor, têm o dever, em consciência, de orientá-lo a não buscar o Sacramento da Ordem.

O próprio candidato é o primeiro responsável da sua formação, devendo apresentar-se com confiança ao discernimento da Igreja, do Bispo que chama às Ordens, do reitor do Seminário, do Diretor espiritual e dos outros educadores do Seminário a quem o Bispo ou o Superior Geral confiaram a formação dos futuros sacerdotes.

A instrução afirma que “seria gravemente desonesto que um candidato ocultasse a própria homossexualidade para alcançar, não obstante tudo, a Ordenação. Um procedimento tão inautêntico não corresponde ao espírito de verdade, lealdade e de disponibilidade que deve caracterizar a personalidade daquele que se sente chamado a servir Cristo e a sua Igreja no ministério sacerdotal”.

O Papa Bento XVI aprovou e ordenou a publicação da referida Instrução. Caberá aos Bispos, às Conferências Episcopais e aos Superiores Gerais vigiarem para que as normas desta sejam observadas fielmente para o bem dos próprios candidatos, garantindo sempre à Igreja sacerdotes idôneos, verdadeiros pastores segundo o coração de Cristo.

Não foi objetivo da Instrução introduzir novidades a respeito do assunto, mas antes, reafirmar o Ensinamento da Igreja. Com os artigos ofereci ao leitor elementos para um posicionamento frente às interrogações que possam nos colocar, sobretudo para não ser induzido pelas distorções feitas pela mídia, com noticiários que não correspondem ao verdadeiro propósito da Igreja.
    

PS: Publicado no jornal Folha Diocesana, no ano de 2009, quando era Representante dos Presbíteros da Diocese de Guarulhos. 

Misericórdia e vida eterna (XVIIIDTCC)

                                                           

Misericórdia e vida eterna

"...Somente a misericórdia nos serve de companheira..."

Reflexão sobre a misericórdia e a vida eterna, o desprendimento das riquezas e o horizonte da eternidade, escrito por Santo Ambrósio (séc. IV), Bispo e Doutor da Igreja, a partir da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 12,13-21).

“Já que todas as coisas que são do mundo permanecem nele, e nos abandona tudo aquilo que entesouramos para os nossos herdeiros; e, na realidade, deixar de ser nossas todas essas coisas que não podemos levar conosco.

Somente a virtude acompanha aos falecidos, somente a misericórdia nos serve de companheira, essa misericórdia que atua em nossa vida como norte e guia até as mansões celestiais, e busca conseguir para os falecidos, em troca do desprezível dinheiro, os tabernáculos eternos”. (1) 

Quando a morte de alguém que amamos acontece, sentimo-nos impotentes, tristes e com sentimentos de que esta tristeza será para sempre. Nada tem mais sentido, beleza, luminosidade.

Parece-nos terem roubando nosso chão e, como pássaros com as asas quebradas, não temos como voar, e mesmo que asas ainda tivéssemos, não conseguiríamos alçar voo.

Bem afirmou Santo Ambrósio: “somente a misericórdia nos serve de companheira” rumo à eternidade. De fato, exortados pelo Papa Francisco, na Bula da “Misericordiae Vultus”, vivamos as obras de misericórdia corporais e espirituais.

Nada levaremos, quando desta vida partirmos, a não ser a misericórdia vivida, que nos acompanhará para na passagem definitiva: nem dinheiro, nenhum bem, nem título, nem glória humana alguma alcançada, absolutamente nada que se possa tocar.

Sendo assim, que não sejamos tardios, morosos e jamais adiemos qualquer ação misericordiosa em favor de nossos irmãos.

Quantas vezes nos apegamos aos bens como se fossem capazes de nos eternizar e nos garantir a felicidade plena eterna. Ledo engano, no qual não podemos incorrer, sobretudo se professamos a fé no Deus que nos ama e quer que tão apenas usemos os bens que passam e abracemos os que não passam; aqueles que não se pode tocar, mas nos permitem tocar, um dia, o chão da eternidade, na glória da imortalidade.

Lá nada precisaremos. Aqui, por vezes, nos consumimos e nos devoramos com ambições desmedidas, cobiças que geram fome, miséria e tantos sofrimentos.

Que jamais nos enganemos com falsas ilusões de felicidade e eternidade: a salvação somente nos vem de Deus e na prática da misericórdia que nos acompanha até o último suspiro no tempo presente, para se prolongar na eternidade.


1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág. 686

O Senhor e o milagre do amor (XVIIIDTCA)


O Senhor e o milagre do amor

A Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos convida a refletir sobre a grandiosidade do amor providente de Deus para com Seu povo.

Deus nos convida a nos assentarmos à Sua mesa, e nos oferece o Alimento, Pão de Eternidade que é Seu próprio Filho na Eucaristia, que sacia nossa fome de vida, de amor e felicidade.

Na passagem da primeira Leitura do Profeta Isaías (Is 55, 1-3), tem como mensagem um convite de Deus para que o povo deixe a terra da escravidão e se dirija para a terra da liberdade, a Jerusalém, na qual reinará a justiça, o amor e a paz.

Deus intervém na história de seu povo que vive o tempo do exílio, desolação e sofrimento, para que viva uma nova página marcada pelo regresso, consolação e reconstrução de uma nova história:

“O profeta adverte: é preciso ter a coragem de arriscar, de se desinstalar, de partir ao encontro do sonho. Àqueles que forem capazes de sair dos seus esquemas para abrirem o coração ao seu dom, Deus vai oferecer, de forma gratuita e incondicional, a vida em abundância, a felicidade infinita.” (1)

Deste modo, não podemos nos deixar seduzir por falsas miragens de felicidade (bens materiais, ilusão do poder, aplausos e a consideração dos outros), procurando saciar a nossa sede de vida plena e verdadeira tão somente nos bens que não passam, e a fonte por excelência é o próprio Deus.

Reflitamos:

- Quais são as fontes sedutoras que nos afastam da verdadeira felicidade?

- Quais são as falsas ilusões e miragens que nos desviam do Projeto de vida e felicidade que Deus tem para todos nós?

Na passagem da segunda leitura, o Apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos (Rm  8,35.37-39), apresenta-nos um hino de amor a ser vivido para com Jesus Cristo: – “Quem nos separará do amor de Cristo?".

Absolutamente nada pode nos afastar deste amor e afastar a felicidade dos que creem em Deus, na fidelidade ao Espírito, confiantes na ação do Espírito Santo: nem a tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e a espada.

Nisto consiste viver segundo o Espírito, contando com Ele que vem em socorro de nossa fraqueza (Rm 8,26), porque nos ama com um amor profundo, total, radical. Sendo assim, nada nem ninguém poderá apagá-lo.

Quando descobrimos este amor, temos coragem para viver a vida com serenidade, tranquilidade e na verdadeira paz desejada.

Reflitamos:

- Qual é a intensidade e profundidade de nosso amor a Deus?

- Estamos, verdadeiramente, unidos a Jesus, haja o que houver?

- Quais são as dificuldades e provações que encontramos em nosso discipulado no seguimento do Senhor?

Com a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 14, 13-21), refletimos sobre a multiplicação dos pães realizada por Jesus Cristo, em um lugar deserto:

“O deserto é para Israel, o tempo e o espaço do encontro com Deus; aí Israel aprendeu a despir-se de suas seguranças humanas, das suas certezas, da sua autossuficiência... O deserto é ainda o lugar e o tempo da partilha, da igualdade, em que cada membro do Povo conta com a solidariedade do resto da comunidade, onde não há egoísmo, injustiça, prepotência, açambarcamento dos bens que pertencem a todos, e em que todos dão as mãos para superar as dificuldades da caminhada (no deserto, quem é egoísta, autossuficiente e não aceita contar com os outros está condenado à morte).” (2)

Com o sinal realizado, Jesus, o “o novo Moisés”, nos ensina que é preciso que acolhamos o Pão de Deus, e reparti-Lo entre todos, em alegre partilha e solidariedade, como um sinal do Reino de Deus.

Refletimos sobre o amor de Deus: um amor providente, dedicado e preocupado, no sentido de que nada nos falte.

De fato, o fogo tem a propriedade de dilatar as coisas, assim também a caridade é uma virtude cálida e fervente, que cria novas possibilidades de amor, partilha e solidariedade.

O discípulo missionário do Senhor, portanto deve ser alguém que ama e tem um coração quente e pronto para se solidarizar; sentindo-se amado pelo Senhor, passeia no íntimo do coração daquele a quem ama, sobretudo os empobrecidos, os preferidos de Deus.

Com Jesus, que nos amou e nos amou até o fim, dando Sua vida por nós, somos mais que vencedores, na luta somos supervitoriosos, e temos sempre algo a oferecer e muito a agradecer pelas maravilhas que Deus, por meio do Filho, no Espírito fez, faz e sempre fará por nós. 

Reflitamos:

- Que “peixe” e que “pão” temos para oferecer a Jesus para que ele faça o grande sinal da multiplicação?

- A Eucaristia que celebramos leva-nos à compromissos de amor e partilha com os que mais precisam?

Saciados pelo amor de Deus, no Pão da Palavra e da Eucaristia, aprendemos que somente a partilha é que nos sacia.

Urge superar toda forma de indiferença, egoísmo e acomodação para que entremos na lógica do Reino, como prolongamento da Eucaristia celebrada e vivida no cotidiano: “Vinde, escutai, comei! Ide, partilhai e vivei”.



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